Poemas de Dostoiévski

Cerca de 150 poemas de Dostoiévski

As aparições são, por assim dizer, pedaços ou fragmentos de outros mundos, o seu princípio. É claro que o homem são não tem motivo para vê-las, porque o homem são é o homem mais terreno, e deve viver uma vida terrestre, atendendo à harmonia e à ordem. Mas quando adoece, ou quando a ordem terrena se altera no organismo, começa imediatamente a mostrar-se a possibilidade de outro mundo, e, quanto mais doente, tanto mais em contato se encontra com esse outro mundo, de maneira que, quando morre completamente, o homem vai direto para esse mundo.

Fiódor Dostoiévski

Nota: Trecho de Crime e Castigo

⁠"Os dias de hoje são a época da mediocridade e da insensibilidade, da paixão pela ignorância, pela preguiça, pela incapacidade de agir e pela necessidade do tudo pronto. Ninguém faz uma reflexão; seria raro alguém capaz de suportar uma ideia." (O Adolescente).

Não são os milagres que inclinam o realista para a fé. O verdadeiro realista, caso não creia, sempre encontrará em si força e capacidade para não acreditar no milagre, e se o milagre se apresenta diante dele como um fato irrefutável, é mais fácil ele descrer de seus sentidos que admitir o fato.

Os moradores saíram por onde entraram, um por um, com esse estranho sentimento de satisfação íntima que o homem mais compassivo não pode esconder diante do sofrimento alheio, seja até do amigo mais querido, do maior amigo.

A moderna sociedade burguesa, uma sociedade que desenvolveu gigantescos meios de troca e produção, é como o feiticeiro incapaz de controlar os poderes ocultos que desencadeou com suas fórmulas mágicas.

⁠Dor e sofrimento são sempre inevitáveis à grande inteligência e ao coração profundo.

⁠Os pobres e os desgraçados deviam viver longe uns dos outros, para que as suas misérias se não agravassem mutuamente.

⁠Como passam rápido os anos! E a gente volta a perguntar a si mesmo: Que fizeste de teus anos? Onde enterrastes o teu tempo? Viveste ao menos? Ou não?

Fiódor Dostoiévski
Noites brancas. São Paulo: Editora 34, 2009.

O homem suporta muita coisa terrível na face da terra, uma enormidade de infortúnios.

⁠Fuja da mentira, de toda e qualquer mentira. Particularmente de mentir para si mesma.

Fiódor Dostoiévski
Os irmãos Karamázov. São Paulo: Editora 34, 2019.

Sonhador
A força de sua imaginação voltou a reanimar-se e, como por encanto , eis que surge em seu redor um novo mundo, uma nova vida encantadora. Um novo sonho...uma nova felicidade. Novo,requintado e doce veneno. ..Oh,que lhe interessa esta vida real! Segundo a sua limitada maneira de ver, nós, os outros, (...) levamos uma vida lenta, monótona e vazia. Segundo ele pensa, estamos todos descontentes com nossa sorte e atormentados pela existência...E de fato é verdade :há de reparar como entre nós, os que não somos sonhadores, ao primeiro olhar tudo perece frio,árido e hostil, como se tudo fosse mal e inimigo..." Coitados"!, pensa o meu sonhador. E não é nada estranho ele pensar assim. (...) essas visões mágicas que surgem à sua frente, tão sedutoras,tão magníficas, tão sem limites, como que nascidas do próprio nada, visões em cujo primeiro plano aparece sempre, nem seria preciso dize-lo, o nosso sonhador com seu eu tão querido. Não pode ver que aventuras, que série inesperada de coisas lhe acontecem. (...)
Sonho simplesmente com tudo, com tudo.

(in Noites brancas)

A razão satisfaz apenas a faculdade de raciocinar do homem, enquanto que a vontade é a expressão da totalidade da vida, ou seja, da vida humana inteira, inclusive a razão e seus escrúpulos; e embora nessa vida, tal como se exprime assim, se torna às vezes má, nem por isso deixa de ser a vida, e não uma extração de raiz quadrada.

Fiódor Dostoiévski
F. Dostoiévski - Memórias do Subsolo, 1864

Um sonhador - para explicar-me mais concretamente- não é um homem, fique sabendo,mas uma criatura de sexo neutro. Geralmente o sonhador costuma viver fora do mundo, num refúgio, como se se escondesse da luz do dia,e, uma vez instalado no seu esconderijo,vive e cresce nele tal como um caracol na sua concha ,(...) animal e sua própria morada (...) tartaruga".
Dostoiévski in Noites Brancas

[...] Mentir a seu modo é quase melhor do que falar a verdade à moda alheia; no primeiro caso és um ser humano, no segundo, não passas de um pássaro! A verdade não foge e a vida a gente pode segurar com pregos; exemplos houve. E hoje, o que nós fazemos? Todos nós, todos sem exceção, no que se refere à ciência, ao desenvolvimento, ao pensamento, aos inventos, aos ideais, aos desejos, ao liberalismo, à razão, à experiência e tudo, tudo, tudo, tudo, ainda estamos na primeira classe preparatória do colégio! Nós nos contetamos em viver da inteligência alheia dos outros - Não é verdade? Não é verdade o que estou falando - gritava Razumíkhin, sacudindo e apertando as mãos de ambas as senhoras - Não é verdade?

Fiódor Dostoiévski
Crime Castigo, pág: 214

De um modo geral os russos são um povo de vista ampla, como sua terra, com uma extrema inclinação para o fantástico, para o desordenado.

Eu, dizia, viro inimigo das pessoas mal elas roçam em mim. Em compensação, sempre acontecia que quanto mais eu odiava os homens em particular, mais ardente se tornava meu amor pela humanidade em geral.

⁠A verdade verdadeira é sempre inverossímil, você sabia? Para tornar a verdade mais verossímil precisamos necessariamente adicionar-lhe a mentira.

Fiódor Dostoiévski
Os demônios. São Paulo: Editora 34, 2013.

⁠Acontece às vezes encontrarmos pessoas desconhecidas por quem nos interessamos à primeira vista, antes mesmo de termos trocado com elas uma palavra.

Fiódor Dostoiévski
Crime e Castigo. São Paulo: Martin Claret, 2007.

Tudo aquilo aconteceu como costumam acontecer as coisas nos sonhos, ultrapassando as lei da razão, o espaço e o tempo, e ficando tudo limitado àquilo que o nosso coração sonha. (Crime e Castigo)

Inserida por valdantas

Confesso que sou uma criança mesmo com minha idade, uma criança da descrença e do ceticismo e, provavelmente (no fundo, sei disso), serei assim até o fim da minha vida. Quando tudo isso tem me atormentado (e até hoje perturba) – essa nostalgia da fé, que é ainda maior por conta das provas que tenho contra ela; ainda assim, Deus me dá por vezes momentos de perfeita paz. Nesses momentos, tenho construído meu credo, no qual tudo é claro e sagrado para mim. Esse credo é extremamente simples: creio que não há nada mais adorável, profundo, compassivo, racional, viril e perfeito que o Salvador; digo a mim mesmo, com amor enciumado, que não só não há ninguém como Ele, mas que não poderia haver ninguém. Diria até mais: se alguém pudesse me provar que o Cristo está fora da verdade, e se a verdade realmente excluísse o Cristo, eu preferiria estar com o Cristo e não com a verdade.

Fiódor Dostoiévski
Dostoiévski Correspondências 1838 -1880. Porto Alegre: 8Inverso, 2009.

Nota: Trecho de carta a Natália Fonvizina, escrita em fevereiro de 1854.

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Inserida por pensador