Poemas a um Poeta Olavo Bilac
Nunca afirmei que o mal do Brasil fosse "a esquerda", tomada assim genericamente, mas sim ESTA esquerda que temos nos últimos quarenta anos. Essas coisas não podem ser julgadas adequadamente sem pontos de comparação históricos. Que mal fez a esquerda à cultura brasileira entre os anos 30 e 50 do século passado? Mal nenhum. Só fez o bem. Inspirou, estimulou e promoveu os melhores talentos, produziu literatura de primeira qualidade, abriu o ambiente da capital aos escritores e artistas de todas as regiões do país. A esquerda que faz mal ao Brasil é a que surgiu desde os anos 70, tão pobre de inspiração, de talento, de cultura e de boas intenções quanto ávida de dominação hegemônica a todo preço. A esquerda do "Imbecil Coletivo" e do "Mínimo". Uma esquerda que, esta sim, jamais deveria ter existido e que não tem direito NENHUM de existir.
Eu também nunca disse que havia uma esquerda boa e uma esquerda má. Disse que dos anos 30 a 50 a esquerda foi uma força positiva a favor da nossa CULTURA -- o que não significa que sua POLÍTICA, enquanto tal, fosse coisa boa. Brasileiro nunca perde a oportunidade áurea de não entender alguma coisa.
Sem segurança não há progresso, educação, saúde, nem coisa nenhuma. Todo mundo sabe disto e faz de conta que não sabe. [...]
A taxa anual de homicídios no Brasil significa, pura e simplesmente, que não há ordem pública, não há lei nem direito, não há Estado, não há administração, há apenas um esquema estatal de dar emprego para vagabundos, sanguessugas, farsantes. O Estado brasileiro é uma instituição de autoajuda dos incapazes. E você, brasileiro, paga. Paga a pantomima toda. [...]
O Brasil, na verdade, só tem dois problemas: a insegurança geral e a inépcia da classe dirigente. O primeiro não deixa ninguém viver e o segundo anestesia a galera para que não ligue e trate de pensar em outra coisa. Desaparecidos esses dois problemas, a sociedade encontraria sozinha as soluções dos demais, sem precisar da ajuda de governo nenhum.
A sociedade pode perfeitamente criar e distribuir riqueza, dar educação às crianças, encontrar meios de que todos tenham uma renda decente, moradia, saúde, assistência na velhice. O que a sociedade não pode é garantir a ordem pública pela força das armas e educar os governantes para que governem. Isso tem de vir do Estado. Mas o Estado, justamente para não ter de fazer o que lhe compete, prefere se meter em todo o mais. [...] É o Estado que tem cada vez mais poder sobre os cidadãos e menos poder contra os inimigos do cidadão.
Quem disse que a História é a História dos vencedores não conhecia o Brasil. Neste país a História é eminentemente a arma dos perdedores, que por meio dela instilam entre os estudantes universitários — futura liderança política — o desejo de vingança e a estratégia da revanche. Foi assim em 1964 e já está sendo de novo com a derrubada da Dilma. Tão logo votado o impeachment, a esquerda já convocou seus historiadores de aluguel para bloquear o acesso à verdade dos fatos e consagrar a versão 'golpe' como a explicação oficial a ser adotada em todas as universidades brasileiras.
Paulo Moreira Leite, André Singer, Hebe Matos, Jessé Souza, Palmério Dória são apenas alguns dos autores envolvidos na operação. Se os vencedores de hoje, como os militares de 1964, não reagirem em tempo — o que dificilmente acontecerá, dada a proverbial indolência intelectual da 'direita' — seu lugar na lata de lixo da História estará garantido.
Chamei o Seminário de Filosofia de seminário porque se trata justamente disso: espalhar sementes. Sementes são o começo da história, não o fim.
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Minha maior ambição na vida: criar a melhor geração de cientistas sociais que já houve neste país. E já estou perto de alcançá-la.
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Quando digo que minha ambição é criar uma geração de bons cientistas sociais, esta expressão não entra aí como nome de uma profissão ou disciplina acadêmica, mas no sentido da compreensão efetiva do momento histórico-social vivido e da sua posição no quadro abrangente da existência humana -- pouco importando o meio de expressão do qual esse conhecimento venha a se revestir. Grandes cientistas sociais como Eric Voegelin e Pitirim N. Sorokin admitiam que havia ciência social de alto nível nos romances 'Os Demônios' de Dostoiévski e 'O Estrangeiro' de Albert Camus, por exemplo, ou no poema de T. S. Eliot, 'The Waste Land'.
(14 de agosto de 2017)
Hegemonia intelectual é o monopólio das idéias circulantes. Hegemonia cultural é o controle dos canais de difusão, educação e cultura.
A hegemonia intelectual da esquerda foi quebrada, e eu a quebrei sozinho, entre 1993 e 2005. A hegemonia cultural continua intacta.
Quantas universidades a direita tomou? Nenhuma. Quantas redações de jornais? Nenhuma. Quantos canais de TV? Nenhum.
''Entre os poucos atores de Hollywood que honram a tradição dos Coopers, Holdens e Taylors estão Russel Crowe e Leonardo Di Caprio.''
--Facebook, 21 de fevereiro de 2016
Nunca pretendi ser o espertalhão a quem ninguém engana. Ser feito de trouxa é o destino de todo ser humano desde Adão e Eva.
Julgamento de caráter não é uma ciência exata. E já expliquei que não me incomoda que alguém me faça de trouxa UMA vez.
"'Instituições' são estruturas, formas estáticas. Democracia só pode existir no plano do tempo, da ação.
A apologia das 'instituições democráticas' só revela desconhecimento do que é democracia ou sério desejo de sufocá-la sob toneladas de louvores fingidos.
A democracia não está nas 'instituições', mas na existência de um efetivo controle popular sobre o funcionamento delas. Ou seja: só começou a haver um pinguinho de democracia no Brasil a partir de 2013, e as incelenças -- guardiãs das tais 'instituições democráticas' -- já acharam que foi excessivo."
A função do governo não é resolver problemas. É renunciar aos meios de criá-los.
Nenhum governo jamais educou a população. Quando se mete na área, é só para reduzir a educação à propaganda.
As universidades surgiram como associações de estudantes, que livremente escolhiam e contratavam seus professores.
As grandes forças educadoras da humanidade são:
(a) as mães;
(b) as igrejas;
(c) os intelectuais criativos;
(d) a livre associação dos interessados em educar-se.
O resto é comedeira e manipulação.
Não basta apreender a verdade pelo pensamento, é preciso transformá-la num hábito ou posse permanente, e que só se obtêm pela remoção das distrações e pela concentração do intelecto. A concentração, como é óbvio, intensifica a atividade do intelecto, e nunca a suprime a pretexto de desenvolver supostas ‘faculdades superiores’. O termo ‘visão interior’ utilizado por todos os místicos, refere-se ao estado de evidência permanente que é alcançado pelo intelecto, e que nunca poderia ser alcançado pelo seu mero exercício esporádico e intermitente, e sim somente pela prática voluntária e regular.
Por outro lado, a possibilidade da corrupção não decorre de alguma falha constitutiva do próprio intelecto, mas do simples fato de que pensar é simultaneamente um ato lógico (portanto ontológico) e um ato psicológico (portanto biológico), respondendo simultaneamente, de uma parte, às exigências constitutivas da verdade e, de outra parte, às contingências e demandas do corpo em sua instabilidade e flutuação cíclica. Quando o pensamento é fiel à sua missão, quando ele se atém à universalidade lógica que reflete a permanência e a universalidade do ser, ele é o ‘intelecto são’ que conduz o homem à verdade. Quando, ao contrário, ele se deixa envolver pelas funções inferiores e se torna escravo da imaginação e dos desejos, ele mergulha na obscuridade subjetiva dos impulsos biológicos, e é o ‘intelecto doente’ que encerra o homem na prisão da mentira e da ilusão.
"Nenhum intelectual pode estar realmente próximo do seu povo quando sua definição de 'povo' provém de um estereótipo sociológico -- quando não ideológico -- e não de uma elaboração abstrativa feita a partir dos dados da vivência pessoal. A vivência pessoal, por sua vez, não liga o indivíduo ao 'povo', assim genericamente, mas se dá através da família, do bairro, da cidade, das raízes pessoais enfim. Por isto, dentre os intelectuais, aqueles que melhor expressaram o sentimento do povo brasileiro chegaram até ele por meio de suas recordações pessoais, como o fizeram José Lins do Rego, Ariano Suassuna, Antônio de Alcântara Machado e Gilberto Freyre.
Já se você aborda o povo por meio de idéias como 'classe', 'revolução' ou 'cidadania' etc., você só enxerga as partes dele que se encaixam, mais ou menos, por mera coincidência, em esquemas produzidos pela casta intelectual, condutora das revoluções. Um povo, em si, não é nunca revolucionário, não é nem sequer progressista. Um povo é sempre conservador, apegado a recordações e tradições. Quem não valoriza o passado e as tradições não pode conhecer o povo, porque não sente como ele. A vida popular é feita de emoções simples e milenares. A vida de família, por exemplo, é o coração da vivência popular. Que não ama essas coisas não pode compreender o povo."
(Revista Mundo Multicultural, ano 1, edição nº 12, de dezembro de 2001)
Não entendo qual a vantagem de 'pensar com os próprios miolos'. Quando vejo todos os livros bons que li desde a juventude, sei que eu jamais conseguiria descobrir por mim mesmo um milésimo do que ali aprendi.
As coisas mais originais que acredito ter descoberto -- a teoria dos quatro discursos, o intuicionismo radical, as camadas da personalidade, o trauma de emergência da razão, a teoria da mentalidade revolucionária etc. -- não são senão a expressão formal de coisas que os filósofos dos séculos passados já haviam insinuado compactadamente. Não há nada de novo sob o sol, mesmo o topless já está um pouco antiquado.
A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos, não só por ser o mais desprezível mas porque se compõe, em essência, de um conflito insolúvel entre a aversão a si mesmo e o anseio de autovalorização, de tal modo que a alma, dividida, fala para fora com a voz do orgulho e para dentro com a do desprezo, não logrando jamais aquela unidade de intenção e de tom que evidencia a sinceridade.
[...] A gente confessa ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.
O homem torna-se invejoso quando desiste intimamente dos bens que cobiçava, por acreditar, em segredo, que não os merece. O que lhe dói não é a falta dos bens, mas do mérito. Daí sua compulsão de depreciar esses bens, de destruí-los ou de substituí-los por simulacros miseráveis, fingindo julgá-los mais valiosos que os originais. É precisamente nas dissimulações que a inveja se revela da maneira mais clara.
As formas de dissimulação são muitas, mas a inveja essencial, primordial, tem por objeto os bens espirituais, porque são mais abstratos e impalpáveis, mais aptos a despertar no invejoso aquele sentimento de exclusão irremediável que faz dele, em vida, um condenado do inferno. Riqueza material e poder mundano nunca são tão distantes, tão incompreensíveis, quanto a amizade de Abel com Deus, que leva Caim ao desespero, ou o misterioso dom do gênio criador, que humilha as inteligências medíocres mesmo quando bem sucedidas social e economicamente.
Desde a Revolução Francesa, os movimentos ideológicos de massa sempre recrutaram o grosso de seus líderes da multidão dos semi-intelectuais ressentidos. Afastados do trabalho manual pela instrução que receberam, separados da realização nas letras e nas artes pela sua mediocridade endêmica, que lhes restava? A revolta. Mas uma revolta em nome da inépcia se autodesmoralizaria no ato. O único que a confessou, com candura suicida, foi justamente o 'sobrinho de Rameau'. Como que advertidos por essa cruel caricatura, os demais notaram que era preciso a camuflagem de um pretexto nobre. Para isso serviram os pobres e oprimidos. A facilidade com que todo revolucionário derrama lágrimas de piedade por eles enquanto luta contra o establishment, passando a oprimi-los tão logo sobe ao poder, só se explica pelo fato de que não era o sofrimento material deles que o comovia, mas apenas o seu próprio sofrimento psíquico. O direito dos pobres é a poção alucinógena com que o intelectual ativista se inebria de ilusões quanto aos motivos da sua conduta.
[...] Se esses movimentos fossem autenticamente de pobres, eles se contentariam com o atendimento de suas reivindicações nominais: um pedaço de terra, uma casa, ferramentas de trabalho. Mas o vazio no coração do intelectual ativista, o buraco negro da inveja espiritual, é tão profundo quanto o abismo do inferno. Nem o mundo inteiro pode preenchê-lo. Por isso a demanda razoável dos bens mais simples da vida, esperança inicial da massa dos liderados, acaba sempre se ampliando, por iniciativa dos líderes, na exigência louca de uma transformação total da realidade, de uma mutação revolucionária do mundo. E, no caos da revolução, as esperanças dos pobres acabam sempre sacrificadas à glória dos intelectuais ativistas.
Se a alma fosse uma substância separada do corpo, seria impossível compreender qualquer coisa da psicologia de um ser humano pela sua expressão corporal.
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Corpo e alma não podem estar 'unidos', porque são apenas a mesma coisa vista em duas escalas: quando a matéria se extingue, a forma que a modelava permanece na mente de Deus. Quanto ao 'espírito', também não é uma substância distinta (só os gnósticos acreditam nisso), é apenas a faixa superior da alma.
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O dualismo está tão impregnado na cultura moderna, que a maioria das pessoas continua interpretando nesse sentido a afirmação de que 'a alma é a forma do corpo'. Entende forma no sentido de formato externo, ou no sentido da distinção entre o espacial e o inespacial. Alguém diz, por exemplo, 'A alma não tem glândulas'. É claro que tem. A alma não é o formato, é a fórmula, o algorítimo, o princípio articulador, a lei de proporcionalidade intrínseca do corpo. Nada está no corpo que não esteja antes — e depois — na alma.
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O algoritmo contém todas as mutações que a individualidade corporalizada pode sofrer ao longo da sua existência terrestre, separadas daquelas que não pode. Por exemplo, você pode ficar gordo ou magro, pode vir a ser um santo ou um genocida, mas não se transformará jamais numa vaca ou num trombone.
Se você quer me ofender gravemente, me diga coisas como: 'Admiro muito você e a véia dos gatos', 'Admiro muito você e o Marco Antonio Vil', 'Admiro muito você e o Arruinaldo Azevedo', 'Admiro muito você e o Rodrigo Cocô', 'Admiro muito você e o hominho dos dois dedos.'
Se você quer me ofender mais ainda, diga que o meu problema com essas pessoas é divergência de opiniões.
Quando falamos, uma subcorrente de imagens, evocações, associações e sentimentos acompanha, no fundo da nossa consciência, o fluxo verbal. É no intercâmbio entre duas subcorrentes, quando fluem em harmonia, que se dá a verdadeira conversação. O resto é papagaiada.
Com um pouco de prática, você apreende o que o seu interlocutor está vislumbrando por dentro quando vocês conversam. E aí a diferença entre a conversa substantiva e o falatório vazio aparece com uma nitidez contundente.
"Os 'universais do espírito humano', como os chamava Edgar Morin, são a base de toda inteligência.
Entre eles, o senso instintivo das proporções e certos simbolismos básicos, como as cores, as direções do espaço ou a forma do corpo humano.
Quando esses elementos são removidos da memória pelo artificialismo educacional sufocante, as verdades mais óbvias, patentes e intuitivas se tornam segredos esotéricos dificilmente acessíveis."
Suprimir as metáforas e metonímias, as analogias e as hipérboles, impor universalmente uma linguagem inteiramente exata, definida, 'científica', como chegaram a ambicionar os filósofos da escola analítica, seria sufocar a capacidade humana de investigar e conjeturar. Seria matar a própria inventividade científica sob a desculpa de dar à ciência plenos poderes sobre as modalidades 'pré-científicas' de conhecimento.
Mas, inversamente, encarcerar a mente humana numa trama indeslindável de figuras de linguagem rebeldes a toda análise, impor o jogo de impressões emotivas como substituto da discussão racional e fazer de simbolismos nebulosos a base de decisões práticas que afetarão milhões de pessoas é um crime ainda mais grave contra a inteligência humana; é escravizar toda uma sociedade — ou várias — à confusão interior de um grupo de psicopatas megalômanos.
As figuras de linguagem são instrumentos indispensáveis não só na comunicação como na aquisição de conhecimento. Quando não sabemos declarar exatamente o que é uma coisa, dizemos a impressão que ela nos causa.
Todo conhecimento começa assim. Benedetto Croce definia a poesia como 'expressão de impressões'. Toda incursão da mente humana num domínio novo e inexplorado é, nesse sentido, 'poética'. Começamos dizendo o que sentimos e imaginamos. É do confronto de muitas fantasias diversas, incongruentes e opostas que a realidade da coisa, do objeto, um dia chega a se desenhar diante dos nossos olhos, clara e distinta, como que aprisionada numa malha de fios imaginários — como a tridimensionalidade do espaço que emerge das linhas traçadas numa superfície plana.
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