Perdemos o que Deveria ser nosso
Todo autor de livro de autoajuda deveria colocar na última página um laudo psicológico. É preciso ter certeza do que ele vive antes de seguir qualquer ensinamento. Buscamos intimidade com Deus para depositar nossa fé nEle, quanto mais no homem...
Quando Darwin disse que eramos a evolução do macaco, certamente deveria está apaixonado por uma chimpanzé...
Relembrar a infância. Isso deveria ser maravilhoso se não nos deparássemos com os adultos que somos hoje.
Somente o amor poderia -- e deveria - agradar a todos.
Deveria? Sim: deveria porque o julgamento e aplicação de pena para os corruptos em todas as suas forma é forma de amor, nas não os agrada.
Um bom conselho: Não se preocupe com mais coisas do que deveria. Dê prioridade apenas para certas coisas, as outras poderão ser feitas em momentos oportunos. Poucas coisas são realmente necessárias e úteis.
Nosso alvo deveria ser ter cada vez menos razão para nos arrepender. E para tal, temos que acertar mais, errar menos.
Você mais do que ninguém deveria saber a dor de uma perda, mesmo estando viva, continuo longe de ti.
Chegar à plenitude da maturidade ou da terceira idade, ou ainda à idade dos veteranos, deveria exigir um curso de admissão, com propósito de reconhecer e administrar a inevitável fadiga do material mas, também, jamais admitir a obsolescência.
Não fiz o que queria,
porque nunca soube o que queria.
Não amei o que deveria,
porque nunca soube se deveria.
E, entre esse "dever" e esse "querer",
perdi-me.
Perdi-me entre o ser e o parecer,
onde se estendia um campo de batalha,
onde todas as minhas vontades desertavam
antes mesmo do primeiro tiro, deixando apenas as bandeiras plantadas
em território nenhum.
As pessoas vivem.
Eu assisto ao filme mudo da existência alheia,
da poltrona desconfortável da minha consciência —
esta cadeira de espinhos
que chamo de "eu".
Elas vivem de migalhas e festas,
de segundas-feiras sem graça,
de desejos medíocres,
de pecados sem culpa.
E eu tenho mais sonhos que noites,
mas nenhuma janela para voar.
Ah, se ao menos me dessem
um riso emprestado,
um amor qualquer,
uma vida sem importância —
eu a aceitaria como um mendigo
aceita a última moeda que não compra nada,
mas faz tilintar no bolso.
Mas não me deram.
E agora,
o que me resta
é escrever versos, poesia que ninguém lerá
num caderno que ninguém encontrará.
Talvez eu mesmo tenha sido
apenas um rascunho de homem, aquela primeira página arrancada
e amassada no cesto de papel,
onde Deus joga os projetos inacabados.
Há todo um universo que não me pertence,
todo um dolorido e quieto
não-viver.
As pessoas passam — não como rios, mas como garrafas vazias
rolando no asfalto.
Não tive paixões — tive asterismos.
Constelações de desejos que nunca se tocaram.
Quando a noite aperta o cerco como um credor implacável,
e os últimos faróis se apagam como velas num bolo de aniversário não comemorado,
eu desenterro meus mortos
e faço-lhes dançar ao som de um órgão de rua.
Tenho mais sonhos que o céu tem estrelas,
mas nenhum chão onde plantá-los.
Ter todos os apetites e nenhum dente,
todas as fomes e nenhuma boca.
Eu, notário do amor não consumado,
registrava em ata o que nunca aconteceu —
protocolos de beijos não dados,
autos de carícias não realizadas,
processos de encontros
que permaneceram eternamente
na sala de espera do destino.
Enquanto, lá fora, implacável como um metrô noturno,
a Realidade segue, indiferente,
passando sem parar pela minha estação.
O jornalista deveria ter ética. No Brasil essa é uma qualidade rara.
Deveria ser de conhecimento geral – mas não é – que o destino das relações interpessoais é decidido no início, de uma vez por todas, sempre, e que, para saber antecipadamente como as coisas vão terminar, basta olhar para como começaram.
Por que o mundo pobre deveria ser mais feio do que o mundo rico? A luz aqui é a mesma que lá. A dignidade aqui é a mesma que lá.
