Passarinho Assustado
No pain, no gain
Te encontrei quando cheguei
Mas você não era minha
Assustado, estrebuchei
Sem saber logo o que vinha
Não demorou até que alguém
lhe apresentasse enfim a mim
Quer saber, nem lembro bem
se falou grego ou latim
Desde então, vira e mexe
Não importa onde esteja,
Você sempre aparece
Como taça na bandeja
Por uma noite apenas
Ou por dias a fio
Umas vezes, só acenas
Outras, pareces no cio
Vai chegando devagar
Como quem nada pretende
Cá estou a ofegar...
Quem me ouve não entende
Tudo fica tão intenso
Nem respeita minha pressa
Mesmo frágil, sempre penso
Quem tão ágil que lhe impeça?
Sempre me tira do sério
Faz-me suar e até gemer
Dos meus lábios, impropérios
Sem juízo, sem querer
Em busca de alívio
Xingo, uivo, esperneio
Não lhe quero em meu convívio
Nem mesmo que a passeio
Pra perdê-la de uma vez
Hei de perder meus sentidos
Sem a minha lucidez
Meus botões são iludidos
Fora isso, só um jeito
Livrar-me do que lhe provoca
Assim sendo, dito e feito
Ou ser comida de minhoca
Certas vezes você vem
muito bem acompanhada
mas humilde, fica aquém
sua presença é ofuscada
Tô pra ver quem lhe detém
Quem lhe ganha na jogada
Sim, já sei: No pain, no gain!
Indolor é fazer nada
Cê dedura o que há escondido
Que me devora sem alarde
Não sei nem o que teria sido
Se me contasse bem mais tarde
Sinto ter lhe desprezado
Não ter lhe dado ouvido
De quanta coisa fui poupado
Sem nem ter me apercebido
Que ingrato sei que fui,
toda vez que me atingiu
Pois sensato é quem conclui:
Coisa pior de mim fugiu
Não me julgue por ciumento
Mas detesto lhe ver com alguém
Ao ouvir o seu justo lamento
Por respeito minha voz se detém
O que pra mim é insuportável
É ser a causa de você estar ali
Por mais que incomparável
Seja a alegria ainda por vir.
Posso até lhe suportar
Com você ir mais além
Mas me recuso lhe causar
Nem por mal, nem para o bem
CHUVA DE GRANITO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Fiquei confuso e assustado ao obter de um amigo informação de que houvera uma forte chuva de granito em sua cidade. Se uma chuva de granizo já é capaz de causar estragos, e a depender da intensidade ou do tamanho das pedras até mesmo tragédias, imagine o que não faria uma chuva de granito, ardósia ou mármore.
Confesso, entretanto, que a informação de meu amigo também me levou a fantasiar. Sou mesmo assim, em razão de meu espírito gravemente poeta... e sem cura. Imaginem vocês, que de muito fantasiar durante o dia, tive um sonho inusitado, à noite. Tudo por culpa da informação fantástica de meu amigo.
No sonho, meu quintal bastante arborizado, até bucólico, foi presenteado por uma chuva fina, inofensiva e bela, não de granizo, granito, ardósia nem mármore, mas de rubi. Rubi em grãos delicados que pousavam suavemente sobre as folhas das árvores e deslisavam ao chão, onde pude colhê-los, feliz da vida.
A ferida
Lá vem o meu cachorro!
Não entendo por que parece assustado...
Toco-lhe as costas,
Minha mão se suja de sangue!
Meu cãozinho quer colo!
Está ferido! Mas, onde?! Abraço-lhe!
Não paro de ver sangue
Desespero-me! Mas ele nem chora!
Onde está seu ferimento?!
Todo o meu braço já está vermelho!
Sento para procurar. Não acho a ferida!
De repente sinto fraqueza,
A minha vista se embaça e desmaio...
Summer Bittencourt
Menino De Rua
Cai a fruta
No pé do moleque
Ele todo assustado
Já corre pra gruta
E lá faz seu ninho
Com medo que seu vizinho
Seja algum recruta
E te obriga depois
Á cobrir o cheque
Ganha a rua
O menino sem dono
Vivendo de migalhas
Muitas vezes crua
Em total e cruel abandono
Morando em barracos
Cobertos de palhas
Hoje menino bom
Amanhã é marginal
Porque camuflaram o seu dom
E não trataram ele por igual
A sociedade escondeu
As oportunidades
E só mostraram á ele
O caos nos becos
Das grandes cidades
O menino já nasce assustado
Com medo do seu futuro
Ser o mesmo daquele
Que por aqui tem passado
Tão cheio de rupturas
Que por vezes tem marcado
A vida e o destino
De muitas criaturas.
Eu te vi de novo
Num sorriso sincero
Aquele abraço apertado
O jeito manhoso e assustado
Te vi de relance
Naquela morena linda
Com cachos ao vento
E sorriso tão tímido
Aqueceu meu coração
Feito abraço forte, edredom
Nem precisou sorrir pra mim
Cativou minha emoção
Mas Amor, espere um pouco
Sinto sua falta e te quero todo
Agora só não é o tempo certo
Venha mais tarde em outra hora
Por favor, não vá embora
Estou aqui dentro, você aí fora
Quando tiver a casa em ordem
Só um minuto que abro a porta.
ENCANTADO ASSUSTADO
As pessoas me encantam..
Tanto quanto me espanta.
Atino: São seres humanos!
Surpreendentes, instáveis...
Não se pode contar nos contos.
Como as crianças me assustam;
Encantam-me enquanto crescem.
Crescem do dia para a noite...
Crescem na cabeça, na mente,
Crescem no corpo, físico.
E observam tudo e mexem...
O ser humano encanta...
Assusta a gente, que é gente
Ontem, hoje e sempre.
Tenho minha maneira própria de morrer.
Depois acordo assustado
e volto a espalhar meu canto.
Meu canto.
O canto é meu.
É meu esse canto!
Um jacu entrou na minha casa
Pobre jacu,
Assustado gritava como alma condenada
Via ali o seu trágico fim
Perdido, não encontra a saída que existia
Grande, indicando a liberdade
Mas o bicho desesperado não percebia
Até que,
Atirando-se como se suicida fosse
Rompe asas nivelando o voo,
Veloz e retesado
Rompendo os fios da cerca do jardim
E,
"Salvo por um triz"
Deve ter pensado.
"Depois de alguns minutos fazendo um teste de visão, um médico assustado pergunta para o seu paciente: Você acertou todas as letras que apontei mesmo nas distâncias mais improváveis para o teste, como fez isso? Resposta: Simples, eu trabalho na gráfica que confecciona o seu letreiro. Moral da história: Avalia-se melhor a capacidade de uma pessoa quando a mesma desconhece o seu obstáculo".
Da aparência, um disfarce que esconde tudo;
Quem somos diz a aparência, assustado fica o interior
E até mesmo um boa noite pode ser indesejado ao desprovido da educação;
Sentado sobre elogios em pé não lhe ergue a mão.
Um dia acordei ASSUSTADO...
Tinha tomado umas pingas FORTE...
Estranhei quem dormia ao meu LADO...
Mas era a minha mulher mesmo, por SORTE.
Não tem como tentar dimensionar o universo e não ficar assustado ao tirar a conclusão do raciocínio...
Em um ventre assustado, bate um coração.
Minúsculo ser, nas entranhas de um organismo ...
A magnifica transformação da vida, um verdadeiro espetáculo!!!
Um corpo se deforma, e se torna a mais sublime arte.
A sensibilidade à flor da pele,
Modificações estruturais em dois corpos simultaneamente...
Momentos de sonhos, planos e projetos...
Do nascimento, a plenitude divina !!!
De um mero "eu" uma nova vida !!!
Vidas estas, entregue á Deus !!!
"-A este Criador, que provê todas as coisas, cuide de nós !!!"
Um bebê, um menino, um homem.
De caráter íntegro, Amável, Bondoso...
Assim é a plenitude da vida !!!
Quando assim, a permitimos existir !!!
Pobre geração do vidro fechado, geração do ar condicionado, pobre geração de ar assustado, geração de um tempo quase encantado.
Os anos vão se passando, e confesso já ter me assustado com a idade, mas hoje, quando converso comigo mesma, quando tento compreender a minha mente, só consigo desejar envelhecer mais e mais.
