No pain, no gain Te encontrei quando... Hermes Fernandes

No pain, no gain

Te encontrei quando cheguei
Mas você não era minha
Assustado, estrebuchei
Sem saber logo o que vinha

Não demorou até que alguém
lhe apresentasse enfim a mim
Quer saber, nem lembro bem
se falou grego ou latim

Desde então, vira e mexe
Não importa onde esteja,
Você sempre aparece
Como taça na bandeja

Por uma noite apenas
Ou por dias a fio
Umas vezes, só acenas
Outras, pareces no cio

Vai chegando devagar
Como quem nada pretende
Cá estou a ofegar...
Quem me ouve não entende

Tudo fica tão intenso
Nem respeita minha pressa
Mesmo frágil, sempre penso
Quem tão ágil que lhe impeça?

Sempre me tira do sério
Faz-me suar e até gemer
Dos meus lábios, impropérios
Sem juízo, sem querer

Em busca de alívio
Xingo, uivo, esperneio
Não lhe quero em meu convívio
Nem mesmo que a passeio

Pra perdê-la de uma vez
Hei de perder meus sentidos
Sem a minha lucidez
Meus botões são iludidos

Fora isso, só um jeito
Livrar-me do que lhe provoca
Assim sendo, dito e feito
Ou ser comida de minhoca

Certas vezes você vem
muito bem acompanhada
mas humilde, fica aquém
sua presença é ofuscada

Tô pra ver quem lhe detém
Quem lhe ganha na jogada
Sim, já sei: No pain, no gain!
Indolor é fazer nada

Cê dedura o que há escondido
Que me devora sem alarde
Não sei nem o que teria sido
Se me contasse bem mais tarde

Sinto ter lhe desprezado
Não ter lhe dado ouvido
De quanta coisa fui poupado
Sem nem ter me apercebido

Que ingrato sei que fui,
toda vez que me atingiu
Pois sensato é quem conclui:
Coisa pior de mim fugiu

Não me julgue por ciumento
Mas detesto lhe ver com alguém
Ao ouvir o seu justo lamento
Por respeito minha voz se detém

O que pra mim é insuportável
É ser a causa de você estar ali
Por mais que incomparável
Seja a alegria ainda por vir.

Posso até lhe suportar
Com você ir mais além
Mas me recuso lhe causar
Nem por mal, nem para o bem