Pano
Ao amanhecer num sábado suave, deitado numa gostosa redinha de pano, regozijando o conforto da manhã, a saudade veio inesperadamente.
Ela foi trazida pelo sonho da noite, fazendo minar no canto do olho uma lágrima que feliz escorrera pelo rosto, carregada das lembranças de um tempo vivido, adormecido, nunca esquecido.
Um tempo vivo, tão vivo, que faz sentir no peito um aperto e na garganta um nó.
É o nó da vida feito pelo laço do encontro, laço que amarra na alma a memória de um sentimento.
Sentimento mágico, longe e ao mesmo tempo perto, salvo na cabeça e guardado no coração.
Então, dei a volta por cima.
E consegui te esquecer.
Fiz das suas saudades pano de chão.
E agora, com liberdade vou viver.
Disseminar
O pano que usava não escondia a máscara que seu rosto criava sem discrição.
Fundiu à escrita, com tolerância só contos e danças que não sabia como chamar.
Deitado enrolado no mundo acabado se pois a chorar, com medo das gotas acabar, fez um rio salgado para se banhar.
Jorrava e pulava sem compaixão, nas ondas mortais que seriam sua destruição...
Num tempo qualquer, a menina
fingiu que espigas de milho enroladas num pano
fossem as mais lindas bonecas...
Os olhos tristes da mãe deixavam transparecer
que ela merecia bem mais... No entanto, era o que havia
e não se permitiam lamentações, apenas, esperança em dias melhores e mais felizes.
Cika Parolin
Do que adiantar ser só mais um rosto bonito, um corpo bem desenhado e um pedaço de pano caro cobrindo sua pele se quando o que realmente tem valor, o verdadeiramente bonito você esconde ou simplesmente não tem, ou se tem não da valor a si mesmo?! Como podemos pensar que felicidade é algo negociável? Como podemos dormir pensando que todos nossos erros foram por um ''bom motivo''? Se o sol, algo tão distante nos faz brilhar, nos conforta, quem sabe o que está ao nosso lado, na nossa frente, dentro de nós também não possa fazer o mesmo
___"Vai menina, se anima vai... se ajeita, fica linda de bonita, passa um pano na auto estima, tira toda a poeira e vai se embelezar. Quando tudo estiver limpinho, floresça e volte a brilhar..!"
"...A natureza, em seus aspectos mais estupendos ou fascinantes, é mero pano de fundo e teatro da tragédia humana...!"
do
Uma tarde fria,ali estava você em uma mesa coberta com um pano fino, uma xícara de café quente e seus olhos focados em cada palavra daquele livro, parecia romântico, um cachecol vermelho que chegava ate suas pernas e uma touca que te deixava ainda mais linda. A cada minuto olhava para ver se vinha alguém, resolvi comprar flores, sem saber suas favoritas, arrisquei.. estava indo te encontrar, um brilho nos olhos e o medo do azar. Então, sentou se do teu lado alguém, vocês conversaram e num breve tempo se beijaram..
Acabei de acordar
BONECA DE SONHOS
Boneca de pano
com todos esses anos
perdeu-se nas linhas
dos planos que fiz.
Você embreou-se
na maquina do mundo
se desfez em engano
como risco de giz.
Boneca de pano
em maquina de mão
cutucada com dedal
e pesponta coração.
Com linhas dobradas
e pontos do passado
a vida dourada
perdeu-se no fado.
Boneca de pano
sem planos de sonhos
deixou-me sem sono
com seu abandono.
Antonio Montes
Das coisas que nunca vou entender:
Gente que tanto fala de Fé e Luz
Mas vive por debaixo do pano infernizando os outros.
Falsos e hipócritas !
Inda bem que Deus tudo vê !
PENEIRA SOPRADA
De pano de saco,
um bordado... Ponto cruz
no bastidor, ponto de marca!
Feitos perdido no tempo...
Um fim no convivo das matriarcas.
Uma casa beira chão,
no terreiro...
Galinha cheiro-verde pimenta
... Home, homem... Soque pilão!
Mas não sopre a peneira,
com a sua venta.
Antonio Montes
PIRAMBÓIA
Atira! Há tira-de-pano, tipóia
... Atira bala, tramóia,
pirambóia engole, bole...
Cobra jibóia, outras cobras...
Cobra o dia o mês a vida
cobra a hora da partida.
Escorrega, cai na chuva, molha
passa fome, o fila-bóia bóia.
Atire, atira... Atire a pedra que se integra
... Segue siga, segrede...
Segreda a sua vida cega.
Segrede o seu pavio esguio
desça manso pelo rio e vá!
Vá se afogar no Mar.
Antonio Montes
Ê, crioula, acorda e vai tecer a tua renda. Só ela rende o que tu bordas. O resto é só pano pra manga, é conversa fiada, história pra boi dormir.
SOLIDÃO - IV.
- Reviver.
- Solidão.
No pano desta cama,
Nesta alcova negra...
Lençóis de semana
Toalhas de meses
Trincos de anos...
- Mágoas eternas.
À direita... Ilusões
À esquerda... Fantasia
Às costas... Decepções
À frente... Incertezas.
Acordado nesta cama
Neste quarto triste...
Ilusões de semana
Fantasias de meses
Decepções de anos
...dores eternas [?]
À direita extinguirei
À esquerda riscarei
As costas olvidarei
À frente... Seguirei.
Deitado nesta cama,
Nesta alcova escura
... Ó Deus!
Dormirei e Ansiarei,
E, amanhã...
Terei versado viver:
... Solidão.
[RJ- 25/12/98]
- Relacionados
- Boneca de Pano