Nao Chega aos meus Pes
Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito.
Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando.
No começo eu esperava, que viesse alguém, um dia.
Um avião, um navio, uma nave espacial.
Não veio nada, não veio ninguém.
Só este céu limpo, às vezes escuro, às vezes claro,
mas sempre limpo, uma limpeza que continua
além de qualquer coisa que esteja nele.
Talvez tudo já tenha terminado
e não exista ninguém mais para lá do mar mais longe que eu vejo.
O ontem do homem talvez jamais seja como o seu amanhã: nada perdura, a não ser a instabilidade.
- Meu pai costumava dizer que a vida não nos dá segundas oportunidades.
- Dá, mas somente para aqueles a quem não deu uma primeira. Na realidade, são oportunidades de segunda mão que alguém não soube aproveitar, mas são melhores que nada.
Pessoas não são únicas. Sentimentos não duram para sempre. Sorrisos nem sempre são bons. O mundo está longe de ser perfeito.
Mesmo votar em favor do direito não é fazer coisa alguma por ele.
Entenda, não é porque não gosto de você, que te considero inimiga. Mesmo porque até pra ser minha inimiga, tem que ter capacidade !
Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.
Mas para não sentir dor eu vou jurar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável. O quanto sua molecagem não permitiu nenhuma admiração de minha parte.
A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Em todas a vezes que eu neguei o que eu sentia, é porque não queria que você soubesse o quanto eu precisava de você aqui, todos os dias.
[...] Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo o que vivemos. Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida.
Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado, aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia. Mesmo assim, insisto...
Almocei ao lado de um casal. Ela dizia “você não tem atitude”. E ele ficava quieto. Ela dizia “custava ter se oferecido pra me levar, você sabia que eu tava nervosa”. Ele só coçava a testa. Ela dizia “cê pagou quanto”. Ele fazia com os dedos “três”. Ela gritava “três paus??? tá vendo, cê tem preguiça de procurar”. Ele enfiava a cabeça na palma da mão esquerda. Ela dizia “cê vai querer tentar?” Ele olhava o cardápio. Dai ficaram em silêncio uns vinte minutos. Até que ela falou “seu suco não veio, quer o meu?”. E ele quis. Amar um homem é, basicamente, desistir.
A culpa não foi sua por não ter dado certo, a culpa foi minha. Por achar que você ia dar conta do recado.