Meninos de Rua
" Nesta longa...ou curta jornada...na rua da vida...iluminada...florida...vamos caminhar....sorrir e chorar...e a única certeza...e que num dia qualquer...numa hora...em algum momento...perdido no tempo...nossa rua vai acabar...e uma nova jornada...na rua da morte...vamos continuar...ou não...eis a questão...quem resolve a equação?"💖
O Roto e o Rasgado
O roto e o rasgado, cheios de pompa,
desfilaram na rua, vestindo ilusão,
juravam ser linho, juravam ser seda,
mas eram chita, sem cor, sem botão.
A casinha escancarada, um vento levava,
nem tranca, nem fecho, nem nó que parava,
mas na prepotência se achavam reis,
de um trono de trapo, sem lei e sem vez.
O poliéster? Bah, que vergonha!
Coisa de pobre, de gente sem luxo!
Mas enquanto a seda rasgava sozinha,
o tal do poliéster seguia no uso.
Fofoqueiros de esquina, juízes do nada,
sentinelas da vida alheia, sem falha,
apontam os dedos, gritam sem medo,
mas escondem a casa caindo na vala.
Seus tetos de vidro já trincam sozinhos,
suas falas são ecos de um grande vazio,
mas seguem no palco, de rostos finíssimos,
fantoches do nada, num circo sombrio.
Naquela manhã de bons ventos eu tinha ainda seis anos de idade.
A rua não era asfaltada e eu me gabava por conseguir correr descalço naquele lugar.
Minha paixão sempre foi o céu, olhava pro alto e tentava entender seus encantos.
A cor do céu é linda e as nuvens sempre me preparavam formas que até pareciam quadrinhos contando uma história.
Na outra quadra havia uma praça, onde, naquele dia especial, crianças em alvoroço corriam atrás de uma novidade.
Avistei a fileira da meninada que ia e voltava da praça contando, uns para os outros, o que estava acontecendo por lá.
Corri para ver e não acreditei. Meu passaporte para entender melhor o céu estava nas mãos de um homem.
Um homem que vendia aviõezinhos coloridos feitos de isopor!
A criançada em volta daquele nobre homem que segurando por uma linha fazia os jatinhos levantar vôo e irem até o alto no céu.
Entrei pelo meio da garotada, empurrando e garantindo meu espaço perto daquele encantador de crianças.
Quando num flash o seu olhar eu consegui, perguntei logo a ele o quanto custava a pequena maravilha que me levaria as alturas.
Como relâmpago corri para casa, onde minha mãe preparava já o almoço.
Naquela época nós não tínhamos muito, meu pai trabalhava duro, nossa televisão era uma Colorado preto e branco, por onde eu enxergava o mundo que não conhecia.
Tinha eu um cofrinho, estampado com os quadrinhos do SUPER-MAN!
Pois eu era fã daquele herói que dominava o céu e voava de verdade.
Pensei que meu cofrinho poderia ajudar!
Minha mãe me deu a tão almejada autorização para que rasgasse o cofrinho de papelão.
Contei as moedinhas debaixo dos olhos atentos da minha querida mãe! Que logo viu minha tristeza por não ter a quantidade necessária para pagar o sonho de voar.
No entanto, minha mãe tinha também um trocado, e com um belo sorriso maternal me olhou e mandou abrir a mão.
Da mão dela caíram as pratinhas que iriam garantir o meu sonho.
Corri, novamente, como um relâmpago e o homem ainda tinha um aviãozinho!
Feliz da vida peguei a maravilha! A máquina feita de isopor e cola que agora conduziria minhas fantasias e me fariam entender o céu.
Passei de frente de casa gritando minha mãe para que ela olhasse o quanto eu estava feliz manejando aquela máquina voadora.
Fiquei por alguns minutos me divertindo e aproveitando o vento que soprava diferente. Soprava como se estivesse também contente com o menino que corria imaginando estar dentro da máquina que voava tão alto e bem perto do céu.
As nuvens estavam próximas e o chão tão pequeno!
Mas o vento se descuidou por um instante e soprou o galho de uma grande árvore que chegava até o céu do meu aviãozinho!
O pequeno jato entrou por entre os galhos da árvore que insistia em atrapalhar o vôo tão sonhado do menino que agora olhando para o alto ficou a pensar!
Mas com todo o carinho comecei a puxar a linha, bem devagar!
Por longas "horas" insisti lutando com aquela árvore.
Ela tão forte e eu me sentindo tão fraco!
No entanto, não desisti, com mais cuidado ainda fui persistente para que minha máquina voadora não se quebrasse com o solavanco da árvore que desejava tomar para si o meu brinquedo, o meu direito de sonhar.
Ouvi um estalo! A asa da aeronave caiu ao chão! Pronto estava quebrado, estava acabado o Sonho de Ícaro, o sonho de chegar até o céu.
Aos choros fui para casa onde minha mãe me consolou.
Não havia mais dinheiro e mesmo se houvesse o mágico homem, que me vendera a aeronave, já tinha ido embora.
Agora adulto noto que minhas lágrimas, naquele dia de bons ventos, de certa forma mudaram minha sorte.
Talvez por que a minha persistência foi lapidada com a dificuldade daquela manhã e a partir daí, quando eu quero algo sou muito persistente.
No mais, o TODO PODEROSO se comoveu ao me ver chorar e decidiu soberanamente preparar meu futuro. Um futuro onde eu não paro de voar.
Ao menos as nuvens e o céu agora eu posso ver, como adulto, do alto em minhas viagens por este Brasil tão belo e grande! E que ainda me tem muito a oferecer.
Ouço um barulho estremecedor, entre gritos e gargalhadas de crianças, volto no tempo... Na mesma rua,onde brincava e andava de patins na minha infância, encontro com o futuro, livre e feliz, com, e como uma criança deve ser.
Numa rua deserta com a chuva fjna caindo sobre ela,
vejo um misto de tranquilidade e abandono,
duas sensações distintas com emoções diferentes,
como se estranhamente alívio e tristeza estivessem presentes na mesma cena, representados respectivamente
pela vida de árvores frondosas e por uma ausência inconveniente.
A solitude e a solidão atipicamente ficaram entrelaçadas causando uma sensação simultânea de amor e lamentação nesta madrugada chuvosa que deixou a emoção tão à vontade que se expressou desta forma confusa, por isso que a mente ainda está inquieta e acordada nesta hora inoportuna, falando em voz alta.
Às vezes, durante a quietude, a alma sente a necessidade de chover lágrimas para desabafar e ninguém está perto para ver e nem precisa, o que importa é que ela chova para não se afogar por dentro por reter suas angústias ou contentamentos, então, graças a Deus que há este momento de purificação ao externar seus profundos sentimentos, uma contínua e necessária libertação.
Gente Cometa
É aquela pessoa que passa pela nossa rua da vida com uma luz tão forte , que deixa em nós, um rastro profundo e bem marcante de sentimento e saudade !
Quantas vezes você pechinchou para um vendedor de rua que talvez não demonstrasse mas poderia estar desesperado para vender algo para comprar o almoço ou pagar uma conta de luz, água, aluguel ou comprar comida para levar pra casa para matar a fome da própria família?
Hoje vi no sinal de trânsito um casal muito bem vestido em uma Amarok comprando balas de goma de uma senhora que estava vendendo a unidade com dez balas de goma a R$ 1,50,
Pechincharam teimosamente para que ela fizesse 10 unidades por R$ 10 e ela fez. Detalhe... (adivinhem o que eles estavam ostentando na caminhonete? Sim, a bandeira do Brasil.
Ei, jovem, escute bem! Vai chegar um tempo em que você vai olhar para uma casa, uma rua, uma estrada… e tudo o que vai restar é a lembrança. Talvez nem tenha a chance de voltar lá, talvez só sobre a memória na sua mente. E sabe de uma coisa? Isso não é só sobre lugares, é sobre pessoas! Valorize hoje, agora, quem você tem por perto. Porque um dia, tudo isso será apenas lembrança. E quando esse dia chegar, que seja sem arrependimentos.
Devo estar com uma aparência péssima mesmo. Fui dar uma volta na rua de chinelo, e meu pé ficou igual do menino carvoeiro. Mas é porque transpiro muito no pé e ele começa a sambar na borracha do chinelo e fica todo cagado...Fui entrar na agência do Itaú pra sacar dinheiro, e uma senhorinha correu da porta com medo de entrar sozinha comigo, achando que eu fosse assaltá-la. Tudo bem, não estava com meus melhores trajes... Mas, quando fui ao seu encontro para dizer que ela poderia ir no banco, que eu não era bandido, sem me dar qualquer chance, ela gritou o rapaz da Cet-Rio que estava em frente a capela do colégio Zaccarias, no Catete, dizendo que estava sendo assaltada O cara me abordou enquanto chamou um carro da guarda municipal, que, estava exatamente parado em frente ao restaurante de frutos do mar Berbigão, certamente esperando o arrego do dia embrulhado numa quentinha, enquanto tinha gente na rua gritando que ia me bater... Só fui liberado porque, graças a Deus, com a chegada da Guarda, por sorte, eu estava com o crachá do globo no bolso... Me pediram desculpas, e eu respondi que eles poderiam ficar com o carro parado na porta do banco, em vez de vegetarem esperando comida em frente ao restaurante. Antes que eles me dessem um fora, Dona Lurdes concordou e perguntou porque o carro estava em cima da calçada em frente ao restaurante, e não em frente a agência bancária, do outro lado da rua... eles ficaram sem graça de contrapor a velha e calaram a boca...Ali, estava estabelecido uma primeira relação de afeto e reciprocidade entre eu e minha nova "vovó". Inclusive, a dona Maria de Lurdes, muito sem graça, não sabia o que fazer para se desculpar... Eu, claro, perdoei...Talvez ela tenha razão em julgar e achar que, a qualquer momento, possa ser esfaqueada na rua... Que triste, vivemos um momento horrível na cidade onde todos se sentem ameaçados até mesmo por pessoas de bem....Consegui, pelo menos, dar um beijo carinhoso na bochecha da dona Lurdes antes de ir embora, pois ela começou a chorar por ter sido injusta comigo, e reconheci que era de coração. Descobri também que a Dona Lurdes mora aqui no Catete desde quando Getúlio presidia o Brasil aqui do palácio. Já aceitei o convite e amanhã vou comer uma broa de milho na casa da dona Lurdes, que mora hoje aqui na Bento Lisboa. Segundo ela, está acesa como se fosse ontem as passagens de Getúlio pelo bairro. e ela quer me contar tudo o que lembra... Quero escutar suas histórias e ver as fotos que ela diz ter pra me mostrar dessa época, "ao jornalista desleixado"..., já tomei esporro da Dona Lurdes por ser jornalista e estar andando com os pés sujos na rua... então, acho que, no meio dessa violência toda, nasceu uma nova e bonita amizade, onde a diferença de idade de dezenas de anos é um mero detalhe superficial...Já lavei os pés... Agora, depois do primeiro plano executado com sucesso, preciso colocar a cabeça no lugar e pensar direitinho como roubarei a casa inteira dela, nessa oportunidade única, e de que maneira vou assassiná-la, em seguida, para que tudo pareça um acidente, depois de três dias, pois já descobri que ela não tem parentes aqui no Rio ...
Por você me transformo num cara de rua, ou num homem de botiquim, me faco de amante, suportando seus amantes, só pra sua companhia poder ao meu lado ter,
A CAMINHADA
Caminho no vento, na brisa, na chuva.
Na minha vida sou caminhar.
Caminho na rua, tropeço na guia.
Minha caminhada ninguem vai parar.
Caminho em busca de um vale encantado.
Com flores e frutos pra me saciar.
Caminho na rima, por cima do muro.
Gritando e cantando, vou a caminhar. ,
Em passos curtinhos, e passos gigantes,
tu tens que ter folego pra me acompanhar.
Caminho no canto da rua de noite,
caminho de dia quando o sol raiar.
Caminho na praia, ponho os pés na areia
caminho num barco em alto mar.
Caminho sózinho, caminho contigo,
caminho, caminho, caminho, caminho...
TRAVESSIA
Do outro lado da rua a vida se acaba...
É uma travessia rápida,
Mas antes das flores, das folhas, das chuvas,
Antes dos verões...
Sonhamos com todas as belezas,
Fazemos planos com todas as incertezas;
Somos tão românticos que os nossos olhares passeiam,
As confusões permeiam, as paixões incendeiam...
Então estamos do outro lado da rua
E não temos mais retorno;
Só temos os ocasos e as estações
E a certeza que do mesmo jeito, faríamos tudo de novo
TRAVESSIA
A primeira vez que atravessei a rua
A rua era um rio, o rio solimões...
E do outro lado do rio
Eu era outra pessoa
A pessoa que atravessara o rio...
E do outro lado do rio
Tinha outros caminhos
Com todos as seus destinos e travessias
E todos os destinos e travessias
São cheios de histórias e aventuras
Assim eu aprendi a atravessar
Meus medos e inseguranças
Que desaguam como uma correnteza
Na imensidão do mar
A vida é essa imensidão
Nenhum movimento
Eu não quero o meu nome
Em nenhuma rua,
Eu não quero ir a lua ou a marte,
Eu não quero ir a nenhuma parte,
Não quero fazer nenhuma revolução,
Não quero fazer parte
De nenhum movimento,
Não quero saber de sem terra,
Apartheid, klu, klux, klan...
Eu não quero saber de greve,
Da queda da bolsa, do islã,
Ou do afã de qualquer religião ou mito
Maomé já foi pra montanha,
Jesus Cristo mostrou seu amor
E os filhos de Gandhi não ficarão órfãos
John deu a chance que a paz pedia...
E eu só quero fazer poesia...
Tadeu Memória
Sem neura, mas uma constatação: ao sair de casa nas megalópoles do Brasil, a sensação de que as ruas se tornaram as savanas africanas, onde os munícipes são a caça e, do nada, surgem os leões, famintos, vorazes e soberanos.
Coisas do passado, hoje distantes: era o encontro dos blocos de rua das Petequinhas e dos Piu-Piu, das meninas com os meninos. Um momento de alegria geral, lúdico, com todos a caráter e, no final, o bônus do amor espontâneo, com cheiro de cerveja e licor de anis.
RUA MORTA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Minha poça me diz que se tem o momento,
que o passado está fora da linha dos olhos,
pois o vento não volta; só abre caminho
para ventos futuros; eventos recentes...
É de praxe avançar, concluir fase a fase
ou teremos crateras por todo o percurso;
voltaremos do quase pra ponto nenhum
do luar esquecido numa rua morta...
Foi preciso crescer, alcançar minha idade
sobre cada saudade; lembrança; memória ;
cada glória e tropeço que tive até já...
Esta hora se mostra como agora e só;
há um nó que se fecha no retrovisor;
fui criança na infância; não serei agora...
