Melancólicas
Influenciado às vezes pelo meu lado melancólico, faço-me a seguinte indagação, se um dia experimentarei a sensação do amor correspondido, aquele que é raro e existe entre um casal que se ama verdadeiramente, descrito frequentemente em livros, mas sem o apego pela ilusão, sendo o mais racional e sadio possível.
Seria algo muito inusitado se eu encontrasse uma linda mulher que tivesse seu coração atrelado ao meu semelhantemente à arte e a inspiração, às estrelas e o céu numa exultação recíproca que superaria a imperfeição gerada por nossos defeitos e desafios, uma sinergia genuína seguindo por um mesmo caminho.
Tenho acreditado cada vez menos nesta possiblidade, talvez, não seja pra mim, entretanto, graças a Deus, não estou entregue à solidão, pois aprecio o lado bom da minha atual realidade, busco alimentar o meu próprio amor, ainda sou responsável por minha felicidade e Deus presente, não estarei só.
A parte melancólica e falha da minha natureza humana algumas vezes pede a sua vez de fala, logo me vem um sentimento de angústia que pouco a pouco vai tomando conta, causando-me um grande desânimo.
Nem sempre existe uma razão clara pra que eu fique neste estado, mas a sensação é tão angustiante que acaba camuflando os muitos motivos de gratidão, consequemente, um vazio inexplicável surge no meu coração.
Sei que chega a ser um absurdo, entretanto, é como se eu não fosse amado, então, fico no meu mundo, sozinho pra não ser um fardo, pra diminuir os riscos de estragar tudo,
sendo o único por mim incomodado.
Muito provável que seja por isso que graças a Deus valorizo tanto meus momentos de solitude, meus risos bobos, as frações de simplicidade que estão ao meu alcance, aqueles que me fazem bem, aquilo que é relevante de verdade.
Agradeço muito ao Senhor por nunca deixar de lembrar-me da presença do seu imenso amor, o qual faz eu continuar, traz-me sobriedade,
que permite amar a mim mesmo, que deixa sentir o sabor da felicidade, acertar apesar dos meus erros.
E no fim das contas, sou apenas um humano de carne, ossos, complexos e defeitos com alguns acertos de vez quando, que ri com facilidade, feliz e grato a Deus em boa parte do seu tempo, que apreendeu arduamente a ser resiliente contrariando suas instabilidades e alguns adversos.
As pessoas melancólicas e pessimistas pensam da vida o pior e francamente não desejam viver...
Todos os dias vemos pessoas que não somente são infelizes, senão que ademais e o que é pior– fazem também amarga a vida dos demais...
Pessoas assim não mudariam nem vivendo diariamente de festa em festa; levam a enfermidade psicológica em seu interior... tais pessoas possuem estados íntimos definitivamente perversos...
Contudo esses sujeitos se autoqualificam como justos, santos, virtuosos, nobres, prestativos, mártires, etc., etc., etc.
A mesma esquisitice de sempre:
Alegre, porém melancólica,
Triste, mas feliz.
Mistério exacerbado de sentimentos,
Sentidos turvos,
Uma tempestade de paradoxos.
Sou o patinho feio do mundo,
O mais bonito do qual já se ouviu falar,
Audaciosa,modesta.
Escrevo isto sem rir!
Conto piadas que não me afetam,
Mas fazem surtar quem as escuta.
Talvez psicopata,
Amante da luz boa —
A que cala o mal,
Abraça o bem
E retém a escuridão para si.
Fumada, bebida e comida —
Eu sou tudo e nada!
Só estouro com moderação
E pondero com demasias.
Gosto dos ruídos produzidos pelos flagelos do coração.
O CERRADO
Melancolicamente, árido, vibrando
com o seu vento aflado, ondeante
nos tortos galhos, assim, chiando
o céu amplo e o horizonte distante
De múltipla coloração inconstante
em uma diversidade, espadanando
ao olhar, em um encanto sonante
que cativa com graça, poetizando!
Meu cerrado goiano, afável alento
feiticeiro, tão cheio de cabimento
em seu planalto de cobiças plenas
Diverso, e de um variegado em flor
misterioso, chão de ventura e teor
na complexidade, o sertão apenas!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17, abril, 2022, 16’20” – Araguari, MG
DONDE
Cá, um poema incógnito e moroso
Fatigante, melancólico e sem vida
Que corta o verso no sentir caloso
Tal e qual uma sensação repartida
Penetra silente num sonho umbroso
Da imaginação, tal uma negra ferida
Fazendo do prosar pravo e doloroso
Numa poética carente e tão sofrida
Assim, nas margens do seu fadário
O trovador se vê inquieto e solitário
Em que a tal sofrência nele esconde
Ah, infortunado versar dorido e duro
De um desalento, latente, tão escuro
Que a gente sente, sem saber donde!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04 fevereiro, 2021, 10’53” – Araguari, MG
SONETO MELANCÓLICO
Chove, embrusca o céu do cerrado
o horizonte ribomba em trovoada
nuvens prenhas, parindo gota d'agua
"cachoeirando" o telhado poeirado
Tomba galhos, ventos na esplanada
um cárcere sombrio, espírito calado
a alma com os seus ais embrulhado
contempla os sonhos em disparada
E o tempo a ver, o chão ensopado
escorrendo devaneios pela fachada
dos sonhos, em rodopios atordoado
Salpica na janela, medos em pancada
melancolia, num espanto não desejado
dos meu olhos em pranto, numa cilada...
Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano
chororô
o cerrado chora
chororô
chove lá fora!
é chuvarada, sinhô
18horas: melancólica hora
e eu também tô:
- chorando...
pobre pecador!
que no peito vai gotejando
uma tempestade de amor
de chuva e choro infando
lá fora chove, e eu sofredor!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2019
Cerrado goiano
contraste
o cerrado é melancólico
no igual do seu irregular
o horizonte é eólico
no vento a lhe soprar
mas tão diverso e assistólico
que faz a admiração pulsar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro 2017
Cerrado goiano
MEUS VERSOS II (soneto)
Meus versos, assobio do vento no cerrado
A alma melancólica devaneando na rima
O sentimento escorrendo de sua enzima
Do grito do peito do sonho estrangulado
São mimos das mãos no verbo em esgrima
Ternura na agonia, voz, o lábio denodado
Galrando sensações num papel deslavado
Que há no silêncio do fado em sua estima
Os versos meus, são o olhar em um brado
O gesto grifado no vazio sem pantomina
Vagido da solidão parindo revés entalado
Meus versos, da alacridade me aproxima
Me anima, da coragem de haver poetado
Ter e ser amado, o telhado, riso e lágrima
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Abril de 2017
Cerrado goiano
ENFADA DANÇA
Oh, meu melancólico sofrimento
Por que no silêncio recomeças
Ritmando o árduo sentimento
Numa agitada dança, as pressas
Eu vago sozinho pelo lamento
Na solidão, que queres?... Peças!
No dia, na noite, és só firmamento
Assim, sem que nada te impeças
Tu danças ao amuo do vento
Ao relento, trazendo o medo
E o pranto. Oh doce fomento
Um enredo... sou desesperança
Vago só e errante neste lajedo
E tu me leva nesta enfada dança
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/12/2019, cerrado goiano
POETANDO O VENTO (soneto)
Melancólico, gemem os ventos, em secas lufadas
No cerrado do Goiás. É um sussurrar de ladainha
Em tal prece, murmurando em suas madrugadas
Do planalto, quando a noite, da alvorada avizinha
Sussurros, sobre os galhos e as folhas ressecadas
Sobre os buritis, as embaúbas, e a aroeira rainha
Que, em torpes redemoinhos, vão pelas estradas
Em uma romaria, lambendo a sequidão daninha
Bafejam, num holocausto de cataclísmica rudeza
Varrendo os telhados, o chão, por onde caminha
Em um cântico de misto de tristura e de euforia
E invade, o poema, empoeirado, com sua reza
Tal um servo, em súplica, pelo trovar se aninha
O vento, poetando e quebrando a monotonia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2020, 05’35” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CREPÚSCULO
Vê-se no silêncio, e vê, pela janela
O cerrado, eclodindo pra vespertina
Melancólico, perece o sol, e mofina
Outro fim de tarde, e a noite vela...
E ai! termina mais um dia, e revela
As horas, que a viveza se amotina
De sua rapidez, pérfida e assassina
Tão sem troco... - um atributo dela!
A melancolia no horizonte, é saudade
As sobras das lembranças, é desgosto
E o que se resta agora é outra idade...
Olhos rasos d’água narram o sol posto
Lúrido, duma emoção em calamidade
- de o crepúsculo do tempo no rosto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/03/2026, 17'00" - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
APENAS UM SUSPIRO
Na hora melancólica da luz poente
No cerrado, no ocaso do fim do dia
A voz de um desalento impaciente
Na sensação, um engano repetia
Na lembrança o lembrar ausente
Na dor, uma agonia que asfixia
O aperto em um tom crescente
Avivando o sentimento que jazia
E no entardecer o olhar morria
Nos perdemos de nós dois, fria
A saudade, no silêncio a cicatriz
Depois, sei lá depois, tudo calado
Vazio, sem vontade de ser amado
Pois, era apenas um suspiro, infeliz!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/12/ 2020, 08’59” – Araguari, MG
ALVORADA TRISTE
A alvorada rompeu melancolicamente
Carrancudo o dia, disperso no outrora
A alma vazia, a apertura o que sente
Pendente, onde a sensação é demora
O cortejo das horas, tão lerdo, agora,
Canta friamente um canto descontente
E na mente vozejos que dá vida chora
Desroscando a tristura à minha frente!
A manhã vem chegando, tudo um nada
A procura do que é vão, nem ninguém
Pois, tudo faz da situação tão delicada
A prostração onde a emoção é atada
Cutuca, cá no cerrado, não sei quem
Ou o que, vem, compassar está toada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
13 março, 2024, 13’55” – Araguari, MG
À Fernanda Beregeno pelo dia de hoje
O canto triste e melancólico
da sabiá-laranjeira
que reside aqui em frente,
invade minha solidão.
Formamos um belo par de solitários,
ambos fora de tom:
ela, com seu canto,
lamenta o amor que se foi,
eu, em meu canto,
lamento o amor que não veio.
Enquanto a cidade dorme sob o manto escuro da noite, a lua melancólica brilha na solidão da noite estrelada.
Sempre fui melancólico, como Chopin. Ele chorava em teclas, eu, em palavras. Sua dor virou partitura, a minha, tinta nos ossos.
Nesse espelho triste, reconheço a linhagem dos que sentem demais
e transformam a dor em arte.
Ser um poeta se nada sei ou tudo sei
Encontrar versos melancólicos para flores que murcham
Ouvir os cantos dos pássaros suavizando
Não ser sábio e buscar a sabedoria
Basta Compreendê-los
Você construiu um castelo só para mim
Que luxo diriam alguns
Porém...
A intenção não era me proteger
E sim me isolar
Nesse castelo eu não era um rei
Mas sim um mediocre servo
Todavia eu continuei acreditando em você e nesse seu amor
Amor que torceu cada centímetro do meu corpo e do meu ser
Amor que tirou a minha alma dessa e de todas as dimensões.
Mas eu acreditava nesse seu amor doentio
Porque eu não merecia algo melhor
Eu necessitava dessa dor
Porque eu tinha alguém comigo
E isso era melhor do que estar sozinho ou
Fora do castelo
Lá fora era assustador demais para um mediocre servo.
Você já teve aquela sensação de “era isso que eu precisava ouvir hoje”?
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