Liberdade que Escraviza

Cerca de 632 frases e pensamentos: Liberdade que Escraviza

Fazer algo para ser admirado pelos outros te torna um escravo, mas fazer o que queres somente pelo desejo de fazer te torna livre.

Inserida por Mario11

⁠14 de Maio

No 14 de maio de 1888, o Brasil amanheceu livre. Ou ao menos, livre o suficiente para se parabenizar diante do espelho.

A escravidão fora abolida na véspera, por um gesto régio, breve e elegante, como convinha à pena de uma princesa. A tinta mal havia secado, e já se cochichavam loas nos salões. O Império, enfim, provara sua humanidade — ainda que com duzentos e tantos anos de atraso. Diziam-se modernos. Civilizados. Cristãos.

Mas, nas ruas, não houve fanfarra. Nem pão. Nem terra. Nem nome.

Os que saíram das senzalas na véspera encontraram, no dia seguinte, o mesmo chão duro, as mesmas mãos vazias, e o mesmo olhar de soslaio da cidade que os libertara com uma assinatura, mas não com dignidade.

Alguns acreditavam que o trabalho viria como recompensa. Outros, que a caridade cristã desceria dos púlpitos e dos palácios como chuva mansa. Mas a chuva não veio. Nem a caridade. Nem o trabalho. A liberdade, como os santos nos altares, era bonita de se ver, mas inerte ao toque.

Os senhores — agora ex-senhores — mostraram-se melancólicos. Alegaram prejuízos, saudades das "boas relações" com seus cativos, e passaram a vestir ares de vítimas. Alguns, mais práticos, converteram antigos escravos em serviçais por salário algum, chamando isso de transição. Outros apenas viraram o rosto, como quem se desobriga de um cão abandonado ao portão.

O Estado, por sua vez, considerou missão cumprida. E foi descansar.

No dia 14 de maio, portanto, nasceu no Brasil uma nova classe: a dos livres-sem-lugar. Cidadãos sem cidadania. Homens, mulheres e crianças com a dignidade estampada na Constituição e negada na calçada.

Seguimos livres no papel, presos na realidade. As correntes caíram, é verdade — mas com elas não caiu o silêncio, nem a desigualdade. Só mudou a forma da prisão.

Inserida por Epifaniasurbanas

Mentalidade revolucionária é fábrica de escravos, a mentalidade contra-revolucionária é fábrica de homens livres.

Inserida por marianneangela

O ter nos escravisa e o ser nos liberta.

Inserida por pauloacras

⁠Quando os filhos da escrava, Hagar, deixarem de existir como o monte Sinai na Arábia, pode ser que, pelo arrependimento, se tornem os descendentes da mãe livre, Sara, para alcançarem a sua eternidade em Cristo, a nova Jerusalém lá de cima.

Inserida por HelgirGirodo

⁠Alguém sem filtro é alguém livre, alguém livre de si, é alguém preso ao externo.

Inserida por bbs03

⁠Eu sou livre e de bons costumes. Me sinto confortável para mudar de opinião, posição e interpretação a qualquer momento, sempre. Nenhuma falsa verdade me prende.

Inserida por ricardovbarradas

" Cite ao menos um país na face da terra que há comunismo com progresso, sem que tenha qualquer tipo de capital investido, escravidão e tenha livre expressão. Apenas UM."

"E vós, nuvens, adeus! Dantes, assustava-me com as vossas audácias impetuosas mas agora sei que é o vento que vos conduz e que ele próprio é conduzido por qualquer outra coisa, e que o Destino reia sobre todas as coisas, e decerto também ele é escravo de alguém, talvez da Morte que me quer levar... E possivelmente também a própria Morte não é livre"

Inserida por dia_marti

Possuo, mas não sou possuído.

Inserida por DavidFrancisco

Se você é um ser que ainda depende das normas estabelecidas pela sociedade. Sinto muito: mas, você é um escravo. Um ser livre é aquele que traz em si as próprias regras de conduta para conviver em sociedade.

Inserida por DamiaoMaximino

O dia 14 de maio

Acordei, no dia 14 de maio, esperançoso de auroras resplandecentes. Liberto, sim, mas ainda preso. Meu nome, outrora oculto nas sombras da escravidão, ansiava por um reconhecimento que jamais parecia chegar. Caminhei pelas ruas, indiferentes à minha nova condição de homem livre. A liberdade, dizem, é a mais preciosa das conquistas; todavia, ela se apresentava como uma dama esquiva, vestida de promessas que não se cumpriam.

Eu, que trazia a senzala na alma, vi-me entre o cortiço e a favela. Estes novos lares eram apenas novas formas de cativeiro, onde as correntes invisíveis da miséria continuavam a me atar à dura realidade. Subi as encostas na esperança de um dia descer, mas a promessa de descida era tão ilusória quanto a liberdade conquistada na véspera. Sem nome, sem identidade, sem retrato, eu era um espectro vivo; do lema da bandeira, conheci apenas as vielas do progresso.

No dia 14 de maio, ninguém me deu bola. Tornei-me mestre na arte da sobrevivência, fazendo do trabalho árduo meu sustento em um campo onde o futuro se mostrava tão incerto quanto o destino dos muitos que, como eu, foram libertos na letra, mas não na vida. A escola, um sonho distante, fechava suas portas, negando-me a instrução necessária para ascender aos degraus da dignidade.

Minha alma, contudo, resistia. Meu corpo, acostumado à luta, sabia que o bom, o justo, também deveriam ser meus. A certeza de minha própria existência, de minha identidade, tornou-se a âncora que me impedia de sucumbir às tempestades da indiferença. Mudanças só nos anos; sinto que ainda vivo no dia seguinte à abolição.

Inserida por Epifaniasurbanas

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