Fundo
A espera pode ser insuportável para o que está no fundo do poço ou
em agravo de doença física, porém, para quem está de fora sem empatia e suportável, é até divertido.
Para meu conceito não existe o novo na arte. Existem sim novas maneiras de ver o que em submersão, submissão, coexistia, fazia parte mas não era notado como valor e referencia, que de repente por uma nova leitura emerge.
Tenho por sanidade a grata felicidade de não saber exatamente o que fui e o que sou, pois me adapto, re-invento me e me transformo todos os dias.
Tudo fica pra trás, a vida vai se acabando pois os que ligavam de vez em quando não ligam mais. Lembranças vazias que a vida nos trai. Não existem saudades afinal nunca foi tão generoso e bom assim se não dependesse de mim.
A poesia é como o peixe
Limpa-fundo de aquário,
Com poesia nesta vida
não há sujeira que
permaneça na mente
e no coração por muito tempo,
É só você começar a ler
sem esmorecer que os efeitos
indesejados irão desaparecer.
Ninguém pode prometer a qualquer direção de forma lucida e verdadeira o eterno amor, o tênue carinho, o central interesse para sempre e a completa atenção. A figura e o cenário se alternam de lugares a cada nova percepção e emoção. A vida em plenitude só é justificada em um constante imprevisível movimento. Ser e não ser, entender e ter o desconhecimento.
A boa obra de arte em preto, cinza e branco é por si a mais difícil, exige uma técnica apurada do artista entre o traço forte do desenho e o vazio, a perspectiva da figura e do fundo pelo acinzentado, com maestria para não chapar o movimento.
A cada aniversario não envelhecemos. Os beijos voam cada vez mais alto a nossa volta, ouvimos menos conselhos importantes e falamos bem menos. Cada vez menos nos sentindo figura e sendo pelas sombras e pelas sobras, o fundo.
A única vingança justa de um prisioneiro e condenado, quando em liberdade é por meio de processos injurio, cercear a liberdade de todos que no passado próximo, lhe foram opressores.
Ainda existe um lugar...
Onde não há mais risco de queda,
Onde não é preciso concorrer com ninguém,
Onde luz e treva estarão sempre em locais fixos.
Este lugar se chama... FUNDO DO POÇO!
É lá que você quer estar?
"Por favor, não imagine que ele esconde um fundo de benevolência e afeto sob uma aparência severa! Ele não é um diamante bruto, uma ostra contendo, no seu interior, uma pérola. . . é um homem feroz e impiedoso."
Respirei fundo e mergulhei de ponta, salto mortal, circunferência pontuada ao centro, fui reto, direto, pro fundo, tão fundo… E ao meu redor, apenas vultos, penumbras, e apesar da minha bagagem pesada não desisti, nem sequer mesmo olhei para trás, abandonei meu corpo no escuro, só sentia o fluxo do tempo ao meu redor. Eu precisava me arriscar, viver, sentir sem medo, sem amarras. Então, arranquei todos os rótulos que cobriam meus olhos, desafiei todas as regras… não por rebeldia e sim por ânsia de viver. Eu sei, me iludi, me estrepei, me confundi, amei, chorei, me entreguei, sofri, me entristeci, mas conheci um lado livre da vida que jamais imaginaria. E foi nesse mergulho, bem nas profundezas do meu eu, que te conheci. Foi simplesmente mágico! Sabe todas aquelas criaturas que parecem que são feitas de neon e que vivem no mar só em extrema profundidade? Pois então, de repente elas estavam lá ao meu redor, cheias de luz, de cores, de vida. Foi assim que você surgiu em meu caminho, feito luz na escuridão. Pegou a minha mão e me puxou pra mais fundo ainda… confiei em ti e fui. Foi quando vi que o mergulho podia parecer incerto, inseguro mas não era, era mágico assim como você. E fomos tão fundo que varamos o mundo de pernas pro alto, feito pássaros, pro céu, em direção as nuvens, e sentimos o frio da neblina, o desdobrar do amanhecer no horizonte, parecia que Deus estava ali bem ao nosso lado! Quero lhe agradecer amor, por você existir e ter feito da minha vida esse espetáculo.
E lá, bem no fundo, eu sempre fui aquele medo infantil de errar, de perder as coisas por um descuido. E, talvez por ironia, eu sempre acabo perdendo mesmo, quem sabe por excesso de zelo. Olhando pra trás eu só consigo contemplar ruínas de sonhos gigantes, que nunca consegui tirar do meu sono e trazer pro mundo dos acordados.
O mais intrigante nisso tudo, é que aqueles destroços e cacos ainda brilham, como se pudessem voltar à vida em um simples estralar de dedos, e eu sorrio, um sorriso meio que triste, admito, mas sincero, e por instantes eu imagino como seria se tudo voltasse a se erguer, aí eu paro por um momento, e concluo que o que passou, passou.
Nada volta, por mais que ressuscite por alguns minutos, não pertence mais ao presente. Se passou tem que ficar no passado. Naquele cemitério lúdico de sonhos intermináveis, bonitos e felizes, mas que sempre serão sonhos, e nada mais.
