Escrita
Estávamos assim, frente a frente,
Eu e o meu eu lírico,
foi um intrigante discussão...
Há tempos que ele me cobra,
me intimida, incomoda.
Sua primeira pergunta...
Que tal transformar a dor em flor?
Eu cego, no meu ego, franzi a testa e respondi...
Não consigo falar, sem a mim observar.
Só sei falar de mim,
da minha própria dor, do meu desamor...
Meu eu lírico, triste, decepcionado,
Colocou-me contra a parede e propôs-me um desafio...
Tente, ao menos tente, seja o que vier na mente.
Aprenda a flutuar, ao escrever sejas tudo. Permita-se.
Antes que eu lhe perguntasse, nem mesmo deixou que eu falasse,
Transportou-me de mim mesma, a ser outras coisas,
a ter outros olhares. Olhe em volta! Veja os versos!
Dos poetas que admiras. Eu, o eu lírico, sempre estou.
Num poema sejas flor, no outro, um gato
ou qualquer outro bicho…
Seja uma dama recatada…
Em outro uma amante debochada…
Fale como se fosses um nobre Cavalheiro,
ou quem sabe sejas, um bêbado na estrada…
Criança, adulto ou idade avançada,
liberte-se e escreva sobre tudo!
Seja o que desejares, o que na escrita te inspirares!
Na natureza sejas tudo!
Fogo, água, ar, tempestade!
Sinta e seja todos os sentimentos,
para uma escrita intensa, fundamentada.
Fale de fé, com cuidado e respeito,
fale do bem e fale do mal.
Eu já sem fôlego, entusiasmada e o eu lírico?
Não parava, pois, era infinito o seu ser,
e queria a minha escrita ampliada!
Enquanto ele falava, eu fechava os olhos
e tudo imaginava.
Desejando que ele nunca mais se calasse.
E segui caminhado na imaginação da minha estrada,
passando por eles, todos os personagens,
que na caminho me esperavam.
À medida que eu andava, percebi,
eu e o eu lírico éramos um,
ele era tudoo que eu internamente desejava.
E todos os meus futuros poemas,
há tempos moravam em mim.
Eu não escreveria nada autobiográfico. Se você viveu uma vida como Laurence da Arábia, pode ser uma hipótese, mas, de outro modo, me parece um pouco vaidoso.
Os problemas são como estrelas, ao amanhecer nos não conseguimos mais as enxergá-las, mas elas ainda estão ali.
Poeta sincero
Já li que poeta não escreve para agradar
Eu também não o faço, hei de confessar
Escrevo sobre aquilo que sinto
Prefiro dizer minhas verdades, não minto
Mas para dizer o que penso não preciso de ofensas
Dou a opinião e os motivos, quem quiser se convença
Respeito o direito alheio de pensar diferente
Mas que fale com respeito
Que trate gente como gente
E aprendi não me importar se alguém quiser me ofender
A ofensa fica com ele, não vou receber.
Estrondo
Caro leitor, que ouve sua própria voz
Ressoando na cabeça,
Te explico
Implicitamente abaixo:
O início do processo criativo
Não chegou ao meu conhecimento
Seu local talvez seja privativo
Nem passou por meu pensamento;
Me debruço sobre o nada
Como se fosse num parapeito
De cabeça eu mergulho
Mas o que sai, está feito;
Disso não me orgulho
O mérito não é meu
Terminado o barulho
O crédito é todo seu.
Tenho inveja, por exemplo, de pessoas que são obcecadas pela Guerra Civil, que transborda de detalhes, mas é circunscrita. No meu caso, os monstros recuam, mas nunca desaparecem. Estão mortos há muito tempo e nascem enquanto escrevo.
Eu não consigo escrever de modo forçado, sob pressão e a curto prazo.
Bato palmas para as pessoas que conseguem.
A vida é dolorosa e desapontante. Não tem qualquer utilidade, por isso, escrever romances realistas. Nós em geral sabemos onde estamos em relação à realidade e não queremos saber mais nada sobre ela.
Algumas coisas
quando se quebram
são fáceis de consertar:
uma xícara lascada
uma estatueta de gesso
um sapato velho
uma receita que desanda
ou uma amizade arruinada.
Ainda que guardem
as marcas do remendo,
é possível que essas marcas
tenham um certo charme
como algumas cicatrizes.
Mas experimente consertar
um poema que estragou.
A poesia é tudo que nos rodeia e captamos com o coração, não é aquilo que está escrito e sim o que foi sentido.
A poesia não é forçada, ela nasce sozinha e flui sem entraves. Poesia é arte, é canção cujo coração é a clave.
A razão para quererem me ver é que sou uma célebre assassina. Ou pelo menos foi o que escreveram. Quando li isso pela primeira vez, fiquei surpresa, porque costumam dizer cantor célebre, poeta célebre, espiritualista célebre e atriz célebre, mas o que existe de célebre em assassinato?
O álibi da inspiração é entender o porquê de você ter começado algo. Acredite em mim, ela sempre ganha.
Gosto muito de não registrar os acontecimentos da minha vida (não escrevo diários, não tiro muitas fotos) para poder recriá-los mais tarde nas minhas ficções com toda a liberdade, sem me preocupar com como realmente aconteceram, mas como me lembro deles. Eu realmente não me importo com a realidade dos eventos, mas como os vivi ou os senti.
Gatafunhos
Escrever
é viver
de certo modo
e no entanto tudo
na sua aflição infinita
nos conduz a intuir
que a vida jamais estará escrita.
Escrevo
só
em último caso
ou como quem alcança
o último carro
como quem
por um triz
por um fio
não fica
no fim da linha
de uma estação sem flores
a ver navios.
Se o escritor for Cristão, ele tem a opção de orar nos momentos de bloqueio criativo ou quando lhe falta inspiração para seguir escrevendo quando tem vontade. E Deus ajuda. Ele me ajudou nesse sentido, após eu ter pedido inspiração em oração para escrever e assim eu consegui terminar o meu primeiro livro.
É uma vantagem. Nós, escritores Cristãos, estamos a salvo.
