Cronicas de Luiz Fernando Verissimo Pneu Furado
Resolvi calcular o mundo para ver o seu valor. Ao adicionar pessoas, coisas, lugares e situações, a soma foi zero. Quando incluí o ponto de vista de cada um, obtive uma variável. Mas ao acrescentar amor, beleza, liberdade, felicidade, perdão e sabedoria, o resultado ficou incalculável. Não haviam números suficientes.
De que modo entender sua posição no tabuleiro se ele não fosse todo dividido equitativamente entre casas pretas e brancas? E como imaginar o jogo sem se ter definidas as dimensões das casas que o compõem, se cada peça as desenhasse buscando supremacia no espaço sobre as outras ao longo de toda a disputa?
Preocupante não é ver “a instituição da família ser destruída por gays”, nem praticantes serem tolhidos no seu direito legítimo de professar livremente a sua fé. Assustador é como ambos podem fazer uso do direito que possuem para pregar o ódio uns contra os outros... mas, sobretudo como podem usar seu direito à liberdade para demonizar o que se mostre diferente; ou tentar antes ser-lhe indiferente, caso não consiga entendê-lo.
Existem pessoas tão egoístas que, mesmo quando lhes oferecemos desinteressada e generosamente tudo o que precisam, elas tratam de impor regras sobre aquilo de que indevidamente se apropriam de forma a exercer controle sobre nossa própria contribuição. São capazes, inclusive, de arrogar para si direito indiscutível sobre quaisquer ganhos presentes ou futuros que possam fugir-lhes ao controle, e dos quais pretendem extrair todas as vantagens possíveis sem dividi-las com quem lhas proporcionou
Para quem traz uma natureza generosa pode ser extremamente doloroso mostrar-se duro e impessoal, mas a generosidade passa pela promoção do crescimento alheio, e muitas vezes esse crescimento pede um comportamento oposto ao que se possui, e do quão doído se mostre, para que o outro possa perceber o sofrimento que produz. Relevá-lo não apenas se mostraria ineficaz quanto injusto em relação aos que exercem sua generosidade como recíproca natural.
Sabem qual a principal diferença entre um bandido oportunista – que entrou no esquema por uma vantagem imediata – e o pulha de carteirinha, contumaz e consciente? É que o primeiro treme nas bases quando é apanhado, morre de vergonha de ter sua foto nos jornais e depois entrega o jogo todo em que foi envolvido. O segundo jamais! Vai subir na tribuna, desafiar todo mundo a apresentar as provas, aparecer na TV, dar entrevistas e continuar segurando seu cargo até o último instante, e mesmo quando já estiver na cadeia com tudo provado, vai erguer o punho triunfante e se posicionar perante a sua gangue como um paladino da coragem frente à corja de "justiceiros" que "armaram" para o deixarem fora do front de batalha! De admirável mesmo, só possuem o cinismo inabalável e a obstinação para sustentar o insustentável!
Sempre se disse, e não há como desmenti-lo, que a criatividade é uma das mais importantes qualidades do ser humano. Mas seu excesso produz como efeito colateral um impacto paralisante sobre as rotinas obrigatórias, que lhe é contrária, mas que se prestam a garantir a estrutura onde a criatividade floresce. Se abrirmos espaço somente para o novo trazido por esta, a rotina que a sustenta entra em arriscada paralisia que acaba por inviabilizar a ambas. Há que encontrar tempo, portanto, para não tratar a uma como tortura e a outra como compulsão.
Ainda que passe tal impressão, arrogante é quem se arroga uma competência que não possui, ou esteja imbuído da pretensão de mostrar o que não consegue se impor como verdadeiro. Quem possui o conteúdo que exibe pode não agradar os desprovidos dele, mas nunca poderá ser taxado de impostor, ou ter subtraído o seu legítimo valor.
Não só se mostra desgastante quanto absolutamente improdutivo dispender energia medindo forças com quem se ocupe em esvaziar o valor de que te sabes detentor. Concentra-te apenas em deixar patente que tua inteligência é bem mais eficaz para defender-te do que a usada pelo oponente com o intuito de te sobrepujar.
O risco de não se dar tratamento digno e justo às pessoas é que, a partir da hora em que um primeiro se rebela, estabelece-se um referencial para que outros o imitem ao se perceberem na mesma situação de subserviência. No momento seguinte o agente dominante terá em todos os demais uma potencial ameaça de desmantelamento em cascata de sua estrutura de poder, tendo então que conviver com uma espada pendendo sobre sua cabeça durante todo o tempo em que permanecer repetindo com os que ficam os mesmos erros cometidos com o rebelado. Se for inteligente, restar-lhe-á então usar a experiência para mudar o rumo ou caminhar inexorável e seguramente para sua tragédia anunciada.
Em alguns momentos nos descobrimos adotando medidas tão rudes que chegam a doer-nos no peito. Tal sentimento, entretanto, passa mensagens importantes sobre nós mesmos: a primeira permite que tenhamos a exata dimensão da agressão sofrida, grande o bastante para acordar nossos demônios; a segunda é a de que, se doem em nós, provam que produzir danos não é inerente à nossa essência; e a terceira é a de que fomos despertados para o irrenunciável sentido de renovação que estivera adormecido – e do quão tardia se fez a decisão – apenas pelo tamanho da alegria frente à vastidão do horizonte que se descortina. Mas o ápice do prazer ocorre quando, lá de dentro de nós, eclode o vulcão que expele a pergunta que, como lava fervente, nos atinge em cheio a consciência: “Meu Deus!... Por que precisei demorar tanto?”
Como se enganam os que acreditam que nossos castigos provenham de Deus. Desde o início dos tempos a Infinita Inteligência delegou à consciência esse papel de juiz quando fazemos sofrer os que nos amam para que o Amor Supremo cuidasse apenas de coisas mais nobres. E como esse juiz me encontra onde quer que busque esconder-me, ah...como ele sabe se mostrar implacável!
Mostra-se injusta e inaceitável a rejeição a alguém “apenas” por ser ignorante, inculto ou pouco inteligente. Explico as aspas: não é o fato de ser assim que a torna inferior aos demais. Pode ser dessa forma por possuir deficiência tanto congênita quanto adquirida, ou simplesmente por não ter tido acesso às formas de obter conhecimento e cultura. A questão não está no efeito percebido, mas na sua causa. Serão passíveis de crítica somente os que, mesmo com todas as oportunidades a seu alcance, recusaram-se a mudar tal realidade, tornando-se merecedores de tratamento compatível com sua ignorância, já que tais pessoas fazem-se imbecis por opção.
As maiores ameaças no mundo não partem das grandes inteligências usadas para o mal, mas dos ignorantes – inclusive os bem intencionados – que se mostram facilmente manipuláveis em seus objetivos. No confronto entre inteligentes ocorre um medição de forças em condições semelhantes, com chance de vitória para qualquer dos lados. Já com ignorantes a distribuição de forças é desigual e o resultado 100% imprevisível, pois que depende de quem os usa como meros braços executores, enquanto o cérebro pensante se mantém atuante e protegido. É como cortar tentáculos de um polvo que tenha o poder de regenerá-los continuamente por ação de uma cabeça invisível. Dessa forma, faz uso de estratégias e ataques que não podemos igualar, pois não se sabe de onde irão partir, quando irão ocorrer, e qual seu real poder de destruição.
Ainda que se mostre inteligente para definir objetivos e montar seus planos, o aético é um ignorante funcional, uma vez que não consegue distinguir certo de errado. Daí porque se mostra potencialmente mais perigoso que o antiético, que pelo menos é consciente o bastante para não colocar a mão num vespeiro com maior potencial agressivo do que o dele próprio.
Tem coisas que, de tão imensas, nos passam aquela proporcional mas imprecisa consciência de nossa pequenez para minimamente compreender um pouco do que ela realmente é. Shakespeare é uma dessas obras que me passam a estranha sensação de estar diante de uma jóia tão além da minha capacidade de absorver – devido à descomunal dicotomia entre nossas dimensões – que minha ignorância jamais me permitirá usufruir dela como deveria, ou ainda chegar perto da riqueza que representa.
Os que defendem seus postulados doutrinários como caminho único acreditam-se humildes por se mostrarem inteiramente submetidos à sua fé, imputando aos que não o fazem a pecha de prepotência e presunção. Pode haver, no entanto, maior soberba do que a daqueles que se arrogam possuir a única verdade possível, em oposição a quem se mostra receptivo o bastante para ouvir e tentar entender as de todos?
O livro, assim como o homem, tem alma. Entretanto, a dele não está destinada ao céu ou inferno, como a nossa. A dele, simplesmente, será o céu ou o inferno da alma daquele que lhe imputar seu devido valor ou negar seu propósito. Outrossim, o homem poderá fazer dele uma semente de sabedoria ou uma arma de mortíferos efeitos.
Descobrir o caminho das ondas é condição satisfatória quando se percebe o movimento rotacional da embarcações. Aproveitar esse contexto para testar se o nível está no mesmo trilho da trena é relembrar que o trajeto até a batida do ponto é reduzido pelo uso do Home Office. Se adequar a rotina tem suas vantagens mas evita o contato com a maquiagem daquele que busca uma nova namorada.
A Existência visível ou invisível de um ser se eleva a categoria máxima quando há, em toda protuberância, uma liberação dos mecanismos genéticos causadores da formação da herança. Assim como, o Incêndio mental dos distúrbios propulsores, que no reino vegetal se equivale ao cheiro de mato ou às árvores queimadas, é a prova inexequível de que estamos vivendo uma atmosfera de lucidez oportuna e intransferível.
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