Crônicas de Clarice Lispector
Estou absolutamente cansado de literatura; só a mudez me faz companhia. Se ainda escrevo é porque nada mais tenho a fazer no mundo enquanto espero a morte. A procura da palavra no escuro. O pequeno sucesso me invade e me põe no olho da rua. Eu queria chafurdar no lodo, minha necessidade de baixeza eu mal controlo, a necessidade da orgia e do pior gozo absoluto. O pecado me atrai, o que é proibido me fascina.
Visão de Clarice Lispector
Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.
Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.
O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.
De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.
Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice.
Clarice Lispector
(homenagem)
Clarice é a clareira
Que meu dia ilumina
Sua escrita hermética
É paixão e fascina
Lispector nem sempre
Compreende-se tão fácil
Pois instiga o pensamento
A não pensar o pensado
Clarice que é Lispector
Nos convida à dança
Muitas vezes inventada
Com amor e esperança
Dizer de Clarice
É desafio na certa
Pois Lispector não brinca
Quando o assunto é desperta
Desperta... Desperta... Desperta...
Desperta...Desperta...
Desperta...
...
olhos da alma
Trecho de um texto de Clarice Lispector
"Os dois mais murmuravam que conversavam : havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos , era o amor . Amor com o que vem junto : ciume . "
O texto a seguir foi formado a partir desse trecho acima escrito de Clarice Lispector , texto feito por uma jovem de 13 para seus 14 anos
Olhos da alma
Era uma bela noite de lua cheia , em uma cidade pacata , como toda cidade de interior é , um casal de namorados , que se mostravam muito apaixonado , caminhavam e trocavam carinhos , chegam a uma praça , sentam - se num banco , e começam a conversar:
- Amor , já que você me ama , não olharia pra outra pessoa não , olharia ? Lhe pergunta a moça com jeito envergonhado .
- Sim eu olharia e não teria problema algum . Lhe responde o rapaz , olhando - a no fundo dos olhos .
- Como você pode me dizer isso nesse momento , tão lindo nessa noite tão perfeita , você ainda consegue me dizer isso olhando nos meus olhos , depois de todas as declarações que fizemos um ao outro . Lhe disse a moça com tristeza nos olhos e face baixa .
- Sim amor , posso olhar pra qualquer uma e não haverá problema , e sabe por que ? É porque as outras eu olho com os olhos e você eu olho com o coração por isso não haverá problema se eu olhar pra alguém . Responde o rapaz com um sorriso no rosto e segurando a face a moça com delicadeza .
Os dois se levantam , ela o abraça e lhe dar um beijo , eles saem abraçados e mais apaixonados do que quando chegaram.
PAISAJE DE SUEÑOS
A Clarice Lispector, maestra y amiga.
Allá lejos, el crespo horizonte
nos señala un rumbo que creemos cierto,
un rumbo que aprendemos cada día
caminando descalzos por la vida.
Ilusiones que acuñamos cada noche
En el mundo imaginario de los sueños.
Ilusiones que se vuelven lejanos horizontes
Cada vez más lejos, más grises en la bruma,
como ilusorios e inaccesibles peñascos
que no son metas verdaderas
sino ideas brumosas que nacen el la mente
imágenes calcadas de la realidad
reflejos de los sueños anhelados.
Sueños pensados, imaginados sin descanso
en la oscura bruma de la noche.
Sueños e ilusiones que huyen y se evaden,
ilusiones como aves que escapan a la vista.
Ilusiones que se evaden sin remedio
como altos pájaros que vuelan
en la rotunda inmensidad del cielo.
Ilusiones de barro modelado en sueños
Alumbre de un silencio cruel y extraño
Un silencio hostil que nos trae cada día
al marasmo de la cruda realidad.
Un silencio vano que nos muestra
La extraña senda nocturna de la mente
Senda que transitamos cada noche
Y nos invita a cruzar la vida soñando
La música de la poesía
lengua que habla el mundo sin hablar
que comprende sin decir
manantial de las ideas
brocal profundo de la mente
hondos sentimientos
ahuyentas las salvajes espinas del silencio
con el sonido de los versos
se funde con la brisa
con la pasión de las ideas
el rumor del agua
crisol de sueños que duermen
en lo profundo de la mente
Erráticos sueños, inmaduros deseos
Que no están y sin embargo habitan
En la memoria consciente
Vivir sin vivir, querer, amar…
Modelar ese montón de sueños
Que son harina leve
Luz del fuego de la vida
Que consume nuestros sueños
Y nos brinda el pan recién horneado
En el rosario puro de la mente.
Espirito Santo, Brasil, 15 de agosto de 1959.
Clarice Lispector faz isso com as pessoas,
principalmente com as mulheres,
plageia nossa vida de tal forma,
mesmo antes que tenhamos vida,
que nos parece que cada frase,
cada estrofe, foi feita para nós,
encaixa em nossa vida,
tal qual um par de luvas,
sob medida.
Creio que ela falou por quase todas nós,
para nos poupar tempo,
para podermos fazer outras coisas,
pois que o dela ela dividiu entre o pensar,
apenas dela, e o nosso próprio pensar.
by Mel
Desejo que um dia me vejam como veem Clarice Lispector, tão humana e igualmente etérea, unindo em si o sensível e o inteligível, como se não houvesse sangue correndo em suas veias. Espero muito que me descrevam como outrora a descreveram, com os mesmos adjetivos ambíguos: seu olhar aparentemente triste, porém sempre atento e sábio, de quem não espera nada de ninguém, nem mesmo do mundo. Entretanto, o próprio mundo parecia se desdobrar diante de suas palavras, tão difícil é defini-la, pois ela não se encerra em si mesma, continua em mim e em tantos outros filhos. O verbo de Clarice, tão celeste, materializou em texto palpável os sentimentos mais indecifráveis; ela escrevia com a destreza de um anjo os mistérios que só o divino conhece.
Como desejo a sombra daquele olhar de quem consegue enxergar além das cortinas, desvendando o próprio e perverso cosmo, que recaia sobre mim o mesmo dom dos céus, a mesma intimidade com o pensamento e a palavra. Como pode ter existido um olhar tão efemeramente fatal quanto o dela? Como seu grande pupilo, só posso esperar que um dia conquiste sua beleza, pouco compreendida por olhos despreparados. Poucos são os que compreenderam sua verdade. E te coloco em devoção, pois fui salvo por tudo o que desaguou de teu ser.
Não me tome como um usurpador, mas, ao me tornar à tua imagem, quem sabe eu encontre o acalento de um coração que lamenta não ter te encontrado, que cesse a saudade e a culpa de não ter te encontrado em vida. Pois não haverá no mundo ninguém com seus olhos hipnóticos e demoníacos.
Oração de Agradecimento a Clarice Lispector, Minha Mentora Espiritual
Querida Clarice Lispector,
Com o coração cheio de gratidão, elevo minha voz para agradecer pela tua presença espiritual em minha vida. Tu, que foste uma guia amorosa e sábia, ajudaste-me a navegar pelos desafios da existência com uma luz inigualável.
Agradeço-te por cada momento de orientação, por cada palavra de sabedoria sussurrada ao meu espírito. Teu apoio e teu amor foram fundamentais para o meu crescimento pessoal e espiritual. Sob tua mentoria, descobri a força interior e a coragem para enfrentar meus medos e incertezas.
Clarice, tua presença espiritual foi um farol que iluminou os caminhos mais escuros, mostrando-me a beleza e a profundidade de cada experiência. Sou eternamente grata pelo carinho com que me guiastes, pela paciência e pela sabedoria compartilhada.
Que teu espírito continue a irradiar amor e luz, inspirando e guiando não apenas a mim, mas a todos que buscam a verdade e a compreensão. Tua influência é uma dádiva imensurável, e meu coração está repleto de gratidão por tudo que me ofereceste.
Com amor e reverência, agradeço-te, Clarice Lispector, minha querida mentora espiritual. Por tua gentileza e sabedoria, por fazer de mim tudo o que sou, serei eternamente grata.
Que assim seja!
Já disse Clarice Lispector; " Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir sempre o meu coração! Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente! "
É preciso amar ao outro, por mais diferente que ele seja e aceitar isso por mais dificil que pareça.. Ninguém nunca precisou de motivos para amar, e sim de razões parta continuar amando. Afinal, o amor é feito flor.. nasce quando menos se espera e morre quanto menos se cuida. Então, como se canta por aí;
" Cuide bem do seu amor, seja quem for.. "
Beijos!
Prefácio do livro Helen Palmer - Uma Sombra De Clarice Lispector. (Marcus Deminco)
Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977 – dez e meia da manhã. Quando – em decorrência de um câncer e apenas um dia antes de completar o seu quinquagésimo sétimo aniversário – a prodigiosa escritora Clarice Lispector partia do transitório universo dos humanos, para perpetuar sua existência através das preciosas letras que transbordavam da sua complexa alma feminina, os inúmeros apreciadores daquela intrépida força de natureza sensível e pulsante ficavam órfãos das suas epifânicas palavras, enquanto o mundo literário, embora enriquecido pelos imorredouros legados que permaneceriam em seus contos, crônicas e romances, ficaria incompleto por não mais partilhar – nem mesmo através das obras póstumas – das histórias inéditas que desvaneciam junto com ela.
Entretanto, tempos depois da sua morte, inúmeras polêmicas concernentes a sua vida privada vieram ao conhecimento público. Sobretudo, após ter sido inaugurado o Arquivo Clarice Lispector do Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) – constituído por diversos documentos pessoais da escritora – doados por um de seus filhos. E diante de correspondências trocadas com amigos e parentes, trechos rabiscados de produções literárias, e algumas declarações escritas sobre fatos e acontecimentos, a confirmação de que entre agosto de 1959 a fevereiro de 1961, era ela quem assinava uma coluna no jornal Correio da Manhã sob o pseudônimo de Helen Palmer.
Decerto aquilo não seria um dos seus maiores segredos. Aliás, nem era algo tão ignoto assim. Muitos – principalmente os mais próximos – sabiam até mesmo que, no período de maio a outubro de 1952, a convite do cronista Rubem Braga ela havia usado a identidade falsa de Tereza Quadros para assinar uma coluna no tabloide Comício. Assim como já se conscientizavam também, que a partir de abril de 1960, a coluna intitulada Só para Mulheres, do Diário da Noite, era escrita por ela como ghost writer da modelo e atriz Ilka Soares. Mas, indubitavelmente, Clarice guardava algo bem mais adiante do que o seu lirismo introspectivo. Algo que fugiria da interpretação dos seus textos herméticos, e da revelação de seus pseudos. Um mistério que a própria lógica desconheceria. Um enigma que persistiria afora dos seus oblíquos olhos melancólicos.
Dizem, inclusive, que em agosto de 1975, ela somente aceitou participar do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria – em Bogotá, Colômbia – porque já estava convencida de que aquela cíclica capacidade de renovação que lhe acompanhava, viria de um poder supremo ao seu domínio e bem mais intricado que os seus conflitos religiosos. Talvez seja mesmo verdade. Talvez não. Quem sabe descobriríamos mais a respeito, se nessa mesma ocasião, sob o pretexto de súbito um mal-estar ela não tivesse, inexplicavelmente, desistido de ler o verdadeiro texto sobre magia que havia preparado cuidadosamente para o instante da sua apresentação.
Em deferência aos costumes judaicos quanto ao Shabat, Clarice só pode ser sepultada no dia 11, domingo. Sabe-se hoje que o seu corpo repousa no túmulo 123 da fila G do Cemitério Comunal Israelita no bairro do Caju, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Coincidentemente, próximo ao local onde a sua personagem Macabéa gastava as horas vagas. No entanto, como quase todos os extraordinários que fazem da vida um passeio de aprendizado, deduz-se que Clarice tenha mesmo levado consigo uma fração de ensinamentos irreveláveis. Certamente, os casos mais obscuros, tais como os episódios mais sigilosos, partiram pegados ao seu acervo incriado, e sem dúvida alguma, muita coisa envolta às suas sombras não seriam confidenciadas. Como por exemplo, o verdadeiro motivo que lhe inspirou a adotar um daqueles pseudônimos (...)
Prefácio do livro Helen Palmer - Uma Sombra De Clarice Lispector. (do escritor Marcus Deminco)
Helen Palmer - uma Sombra de Clarice Lispector (PREFÁCIO)
Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977 – dez e meia da manhã. Quando – em decorrência de um câncer e apenas um dia antes de completar o seu quinquagésimo sétimo aniversário – a prodigiosa escritora Clarice Lispector partia do transitório universo dos humanos, para perpetuar sua existência através das preciosas letras que transbordavam da sua complexa alma feminina, os inúmeros apreciadores daquela intrépida força de natureza sensível e pulsante ficavam órfãos das suas epifânicas palavras, enquanto o mundo literário, embora enriquecido pelos imorredouros legados que permaneceriam em seus contos, crônicas e romances, ficaria incompleto por não mais partilhar – nem mesmo através das obras póstumas – das histórias inéditas que desvaneciam junto com ela.
Entretanto, tempos depois da sua morte, inúmeras polêmicas concernentes a sua vida privada vieram ao conhecimento público. Sobretudo, após ter sido inaugurado o Arquivo Clarice Lispector do Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) – constituído por diversos documentos pessoais da escritora – doados por um de seus filhos. E diante de correspondências trocadas com amigos e parentes, trechos rabiscados de produções literárias, e algumas declarações escritas sobre fatos e acontecimentos, a confirmação de que entre agosto de 1959 a fevereiro de 1961, era ela quem assinava uma coluna no jornal Correio da Manhã sob o pseudônimo de Helen Palmer.
Decerto aquilo não seria um dos seus maiores segredos. Aliás, nem era algo tão ignoto assim. Muitos – principalmente os mais próximos – sabiam até mesmo que, no período de maio a outubro de 1952, a convite do cronista Rubem Braga ela havia usado a identidade falsa de Tereza Quadros para assinar uma coluna no tabloide Comício. Assim como já se conscientizavam também, que a partir de abril de 1960, a coluna intitulada Só para Mulheres, do Diário da Noite, era escrita por ela como Ghost writer da modelo e atriz Ilka Soares. Mas, indubitavelmente, Clarice guardava algo bem mais adiante do que o seu lirismo introspectivo. Algo que fugiria da interpretação dos seus textos herméticos, e da revelação de seus pseudos. Um mistério que a própria lógica desconheceria. Um enigma que persistiria afora dos seus oblíquos olhos melancólicos.
Dizem, inclusive, que em agosto de 1975, ela somente aceitou participar do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria – em Bogotá, Colômbia – porque já estava convencida de que aquela cíclica capacidade de renovação que lhe acompanhava, viria de um poder supremo ao seu domínio e bem mais intricado que os seus conflitos religiosos. Talvez seja mesmo verdade. Talvez não. Quem sabe descobriríamos mais a respeito, se nessa mesma ocasião, sob o pretexto de súbito um mal-estar ela não tivesse, inexplicavelmente, desistido de ler o verdadeiro texto sobre magia que havia preparado cuidadosamente para o instante da sua apresentação.
Em deferência aos costumes judaicos quanto ao Shabat, Clarice só pode ser sepultada no dia 11, domingo. Sabe-se hoje que o seu corpo repousa no túmulo 123 da fila G do Cemitério Comunal Israelita no bairro do Caju, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Coincidentemente, próximo ao local onde a sua personagem Macabéa gastava as horas vagas. No entanto, como quase todos os extraordinários que fazem da vida um passeio de aprendizado, deduz-se que Clarice tenha mesmo levado consigo uma fração de ensinamentos irreveláveis. Certamente, os casos mais obscuros, tais como os episódios mais sigilosos, partiram pegados ao seu acervo incriado, e sem dúvida alguma, muita coisa envolta às suas sombras não seriam confidenciadas. Como por exemplo, o verdadeiro motivo que lhe inspirou a adotar um daqueles pseudônimos (...)
– Em que medida o trabalho de Clarice Lispector no caso específico de Mineirinho pode alterar a ordem das coisas?
– Não altera em nada. Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
– Então por que continuar escrevendo, Clarice?
– E eu sei? Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas, está querendo desabrochar de um modo ou de outro, né?
"Não caio na tolice de ser sincera" - Clarice Lispector
Haaa Clarice, quisera eu não ser tão tola
Dizem por aí que a verdade é relativa
A minha é grosseria, presunção e, às vezes, acham que é mentira
Pensando bem, realmente tudo é relativo
Uma mentira altruísta é boa
Seria melhor uma verdade avassaladora?
Te dou a felicidade da mentira?
Ou a dor da verdade?
E fazendo isso, o que eu me dou?
A mentira é penosa para mim
Já a verdade trás leveza
Algumas doem de modo doce
Como um descuido ao tomar uma xícara de café
Quando está muito quente
Perde o paladar por alguns minutos
Mas não deixo de tomar o doce café amargo
A Gente Morre, O Vinho Fica
De repente me dei conta de que a gente morre. Clarice Lispector jogou isso na tela do meu smartphone e eu reagi com sobressaltado coração. Imaginei Deus fazendo "Psiu, vem cá!" Grave. Sisudo. Eu com minhas filhas sou menos pai para tentar ser amigo e deixar com que elas confiem em mim toda hora que quiserem, e se não quiserem, posso dar de ombros e curtir meu vinho em paz. Inez levou -me a um lugar excelente, em Curitiba, trouxe três garrafas de vinho de lá. Uma tomei no mesmo dia, deliciei-me devagar, tenso, ansioso pelo sabor, pelo cheiro, pelo ambiente que pairava sobre a taça, corpo de mulher, à minha disposição, vinho maravilhoso. Outra garrafa estourou em minhas mãos. Nao me feri, chorei. O vinho não se derramou, mas os cacos da garrafa entraram e não pude beber. Ponto final. Vi a vida indo embora pelo ralo da pia. Deus não queria, naquele momento, aquele vinho, naquele ambiente, com aquele petisco, naquela taça, aquele queijo, naquele momento trágico; tragédia! A terceira garrafa está guardada. É, o mundo está acabando e a vida acaba. Uma coisa ou outra, ou o mundo acaba ou nós acabamos de sair do mundo. A gente morre , o vinho fica. Por enquanto, assisto mais um espetáculo de música popular, com lembrete de não esquecer de pedir "Mais um! Mais um! Mais um!"
" Amizade é matéria de salvaçao", já dizia Clarice Lispector... E é justamente isso que eu amo em nossa amizade (e que pouca gente entende)...
Essa cumplicidade, esse querer bem, esse trocar de papéis, esse brincar gostoso, esse respeitar de tempo e espaço, esse invadir sem constranger...
Essa magia de fazer sorrir em meio a dor e dar gargalhadas mesmo com o mundo desabando em nós...
Esse falar com os olhos e tocar com o coração... Esse preocupar-se sem interesse e esse fazer de poucas horas ou minutos os melhores vividos....É aprendizado constante... É amizade pra toda vida...
Decididamente me dou conta de que não saberia mais, não mesmo, viver sem vocês aqui no meu coração."
Feliz dia das crianças!
Não é por saudosismo mas a citação de Clarice Lispector hoje me foi reavivada: “queria voltar a ser criança porque os joelhos ralados curam bem mais rápido que os corações partidos.”
Eita vontade que tenho de voltar à infância e reencontrar nos pequenos a bondade, a sinceridade, a lealdade, a cumplicidade e o desprendimento das coisas que não são importantes comparado ao relacionamento que possuem.
Vendo Maria luiza brincar com seus primos e amigos me encanto com este relacionamento de trocas de sinceridade (ainda que não afetuosas), farpas, explosões e impulsos de harmonia (ou não). Mas passam uns minutos, pedem desculpas, voltam a brincar e esquecem o que passou.
Admiro estes pequeninos de grandes corações. Eles cuidam um do outro e desde cedo veem que na vida as adversidades e divergências acontecerão, mas acima de tudo há o sentimento de carinho e de amizade e isso sim deve superar as diferenças.
Não foi à toa que no evangelho de Mateus há a descrição dos bem aventurados - nos quais se incluem os pequeninos - e Jesus os chama “vinde a mim...”
São esses pequenos seres que nos ensinam o que é ser feliz, através de Carlos Drummond de Andrade “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.
Nesse dia desejo “feliz dia das crianças” para homens grandes e pequenos e que todos sejamos bem aventurados e, independente de qualquer coisa, sejamos simplesmente felizes.
O ato gratuito
Muitas vezes o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem consequências, são imprevisíveis.
O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim – que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço.
Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina – quando alguma coisa em mim aconteceu.
Era o profundo cansaço da luta.
E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordaria. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar ideias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava – precisava com urgência – de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu secretamente era. E necessitava de um ato pelo qual eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.
Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. "Que rua?", perguntou ele. "O senhor não está entendendo", expliquei-lhe, "não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro." Não sei por que olhou-me um instante com atenção.
Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade.
Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.
O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escuro, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível e que é vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo.
De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom – como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.
Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim.
O chão estava às vezes coberto de bolinhas de aroeira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisávamos, não sei por quê, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom.
Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.
Voltarei num dia de muita chuva – só para ver o gotejante jardim submerso.
Nota: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não veem.
Querida C.L,
Venho aqui através de minhas escritas digitais, te oferecer a minha pergunta: posso te entender mais?
Você está sendo a única autora a me colocar no escuro e recomeçar desde o começo, no instante-já. Não peça para me entender, sendo que nem eu consegui me entender ainda... Acho que achei a resposta agora. Você ainda continua sendo misteriosa, incógnita, ao mesmo tempo explícita nos seus sentimentos (eu acho). Você provavelmente não vá ler, mas eu gostaria demasiadamente que você soubesse, tu continuas viva em mim, e sempre vai ser "It".
Eu estava seguro e maduro.
Havia acabado de construir o meu muro.
Me escondi, na sombra, no escuro.
Pois dá muito trabalho limpar o entulho.
Aí você apareceu assim, tão de repente.
E eu, que fazia um esforço para não ver gente.
Fui puxado para fora e fiquei contigo frente a frente.
Senti o teu calor, teu ânimo, sua alegria.
Deu vontade de correr, como de hábito eu fazia.
E você, sem fazer nada, fez eu querer sua companhia.
Eu estou surpreso e não sei o que fazer, pensar ou dizer.
Esse mundo onde as palavras faltam e o fôlego tremula.
É medicação para a alma, que nunca tomei nem li a bula.
E o pior é que eu, antes tão comunicativo, fico tímido quando você aparece.
A expectativa de encontrar amanhã, a cada noite cresce.
Meus lábios querem os seus e a sua alma já te contou.
Nessa linguagem silenciosa que o amor é doutor.
Esse seu silêncio que parece que não quer ou que não me entendeu.
Me deixa apreensivo e lembrando das vezes, que o meu coração já doeu.
O que eu faço agora, me diga como você entrou?
Pois esse coração que antes era valente, flechado por você se acovardou...
QUE SEGREDOS TEM O OLHAR DE CLARICE?
Clarice, numa cadeira de balanço, acende o seu cigarro, e em paz medita na sua solidão na área de casa, num domingo sem receber telefonemas de ninguém, nemvisitas,muito menos cartas de amor ou preocupação, ela sente a paz que muitos quenão vivem a verdadeira solitude, não entendem o verdadeiro significado desse estado.Ela não quer guerra com ninguém, pois no mundo já basta a guerra interior e mentalque viemos corridos, a guerra do seu país de origem, a Ucrânia. Clarice é a roseiraucraniana sobrevivente, pois seu oxigênio, são as boas palavras intimistas faladas emsua doce prosa nessas terras brasileiras. Com o seu lindo cachorro do seu lado, Claricenos prova que o carinho não vem só dos seres humanos que pensam, que se dizemromânticos, os únicos que tem coração e alma, que são racionais, diferente dos animaisque por mais que não pensam, mas sentem mesmo agindo pelo extinto, são carinhososmesmo perigosos, selvagens ou domésticos são afetuosos com os cafunés querecebem.Clarice, que mistérios tem o seu lindo olhar, quando tira os óculos escuros em diasde sol? Teu olhar, olhos verdes do leste europeu, nos leva a meditar que a velha Chayaque veio para o Brasil ainda pequena, correu descalça nas pedras, peos os espinhosda alma, ralou os pés, mas cicatrizou, e foi essas cicatrizes que a fizeram ser umapersonagem dúbia com os demais parceiros de cena nessa longa metragem chamadavida real, sem intuito de fama, nessa brincadeira de relatar seus sentimentos ilegíveisde interpretar no seu subconsciente, se tornou um marco atemporal na literaturabrasileira e até mesmo ultrapassou fronteiras mundiais com seu sentimentalismointimista sincero. Clarice que tentou aprender o português com sua língua europeia,morou em tantos países que em cada lugar dominou um sotaque que fez da sua línguaum charme, dominava bem o português e outros idiomas essenciais para a diplomacia,engolia os rs que falava, mal de todo estrangeiro, mas escrevia bem discreto e culto obom e velho português camoniano tupi guarani.A água regava suas lindas plantas no hall do seu apartamento, mas a água queClarice bebia era a sua eterna água viva, que dominava o séu coração selvagem,semgrau de vaidade e sem horas para ser uma estrela literária, o reconhecimento, só veioapós a sua morte, infelizmente, é preciso morrermos um dia para nossas palavras ter ovalor devido na leitura, mesmo com um cigarro ferindo em chamas no rosto e pulmão,as cartas não foramn queimadas, e estão aí como literaturá obrigatória se um jovemquiser passar no vestibular. Temos que ler Clarice e tentar compreender seuspensamentos prodígios, quando viva, infelizmente não téve todo o valor, e méritoreconhecido que merecia, era séria, tímida, achavam a que era fraça por retratar tantoe desabafar a sua alma luz intimista em suas prosas, mas era uma dama da boa everdadeira escrita psicológica, entendia muito bem o ser humano e suas patologias.O peso da máquina de escrever, não define o peso que é 'a alma luz e as palavras deClarice, sincera, sem nenhum grau de vaidade, se vai haver rugas, ou se os cabelosloiros vão ficar grisalhos, sagitariana de não emendar muita conversa, mas em escreverpalavras. A companhia de seus dois filhos, seu cachorro eseu inúmeros livros na suaestante, os livros emocionantes em cima da máquina de escrever, seus filhos de capae ISBN,foram nascidos com muito esforço e pensamentos que se aproximassem damente humana confusa, coisas atemporais que muitos se identificam, Clarice nãomedia, nem amaldiçoava as palavras, fazia da sua solitude, um livro de cores e palavras,sentido que a mente fraca não encontra, Clarice achou um meio com seus gestos de se tornar imune a qualquer tipo de abalo, que as lágrimas da sua infância e do seu passado,tenham se tornado chuva fértil de esperança e prosperidade. Se todos fossem no mundoigual a você, existiria menos debate pejorativo, existiria a verdade sutil, mais liberdadeinterior e inspirações em tanta solidão nesse meio fatídico material, onde o ser humanosó ver com sua vista o carnal, sem saber que o espiritual dar continuidade após a morteque é apenas uma viagem. Amar não acaba, se dermos amor sem receber nada emtroca, vamos continuar sentindo o amor em nosso coração, convertendo o para o bemnuma deliciosa morada nessa descoberta cotidiana do mundo, admirável mundo novoclariciano que adverte para não termos medo de amar e nunca desistir do amor,pois oamor é a resposta para solucionar tudo, tenha muito cuidado com o amor que as vezespode ser exigente, viva o amor, porque o amor nasceu para ser vivido intensamente,por amor, fazemos tudo, mas devemos ter cuidado com o amor excessivo que apagatudo. O amor retratado por Clarice é coisa simples, uma sensação de nunca esquecero primeiro amor, o amor próprio da solitude, o amor pode vim com pontadas, mas podeser um amor vacinado, não romântico, um amor de quem já sofreu por amor. Sabemoscomo disse Clarice, resumindo, o amor não tem que ser algo difícil, deve ser entendido,se fores diffcil, calce teus sapatos e parta para outro amor secundário sem perder o seuamor próprio. A clássica definição é que o amor é rela e fatal ao mesmo tempo.Vocêama porque tem medo de estar sozinho? Amaremos de encontro com o amor, dezembrovai, janeiro vem, sigamos nos amando para poder amar alguém com certeza e confiancatotal, pois o amor pode ter mil faces, amar é a única forma de viver bem. Não tenhamedo de amar, mesmo o amor sendo um sistema de trocas, Clarice nos ensina que oamor sempre será um sentimento essencial para a sobrevivência. É preciso estarpreparado para o amor, amor é riqueza, mas é pobreza, é água da fonte, mas tambémé poeira. Amor é suportar o fardo do outro, pois amar é tudo, seja bom ou seja ruim,siga amando nesse combustível.
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somandoas compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é quese ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil".
(Clarice Lispector)
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