Contexto da Poesia Tecendo a Manha

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E assim começa mais uma manhã cinzenta e fria, de uma quinta-feira qualquer do mês de dezembro, agora são 07:26 hs.
Ainda estou dentro do carro, e o único som que domina é o do silêncio. Ainda dói muito, e provavelmente vai doer por um longo período.
Mais um dia para juntar os pedaços do meu coração. Ainda sinto suas pétalas caindo e se murchando...

NEOQEAV ⁠

Inserida por heliofrancozo

⁠**Amor que Transcende**

O amor, suave como a brisa da manhã,
Aquece a alma, desfaz todo afã.
É o laço invisível que o tempo não apaga,
Uma chama eterna que o destino afaga.
Nasce no olhar, como estrela a brilhar,
Floresce no peito, difícil de calar.
Em palavras doces ou em gestos sutis,
É o encontro mágico que nos faz tão felizes.
Amor é colo em dias sombrios,
É abraço quente em noites de frio.
É rir sem motivo, chorar de emoção,
É dar sem medida, sem pedir razão.
Por vezes é tempestade, outras calmaria,
Mas sempre é força, é pura alquimia.
Transcende barreiras, desfaz a razão,
É o ritmo eterno que move o coração.
Amor é a essência que nos faz viver,
É o poema divino que aprendemos a ler.
E mesmo que o tempo nos tente afastar,
O amor verdadeiro sempre vai nos encontrar.

Inserida por ari_j_timoteo_paz

⁠Tenha bons pensamentos, acorde pela manhã com ares positivos.
Quando algo negativo rondar durante o dia, ignore e seja mais você.
Nosso dia depende de nós.
Não queremos ouvir conversas negativas, que nos deixa pra baixo. Seremos acolhedores e solidarios com todos que de nós precisarem. Seremos acolhedores de positividades que nos fará termos um dia bom.

Inserida por DevanirSilva

NOS BRAÇOS DE HERA

Do sono profundo
Acordar da manhã
Em aroma fecundo
Frescor de hortelã

Anseia pela semente
Plantada bem fundo
És fértil e abundante
Flui a vida no mundo

Na sua pele macia
Esqueço o amanhã
Seu beijo que vicia
Tem sabor de romã

Seu olhar ardente
Uma loba em fúria
Hipnótica serpente
Enlaçar em luxúria

Dois corpos suados
Seu exalar de avelã
Desejos extenuados
Da minha deusa pagã

Claudio Broliani

Inserida por ClaudioBroliani

⁠Deus está comigo em cada traço da vida,
revelando Seu amor a cada nova manhã.
Reconheço minhas falhas, mas busco Sua luz, nas cores do pôr do sol, nas ondas que dançam no mar, na chuva que renova a terra e o coração.
Em cada detalhe, sinto o toque do divino,
Seu poder, Sua graça, Sua infinita misericórdia.
Sou grata pelos livramentos que me guardam, pelos ensinamentos que me moldam, e por esta dádiva preciosa de simplesmente existir.

Inserida por Kettysilva

⁠O Lirismo do Poeta

Manhã ensolarada,
O céu com nuvens coloridas;
O vento balança as folhas dos coqueiros,
A alegria na inocência das crianças.

O azul anil da piscina
Transforma a beleza de um dia de domingo.
Minha musa se apresenta,
Como deusa da beleza.

O sobrevoo dos pássaros em chilreio
Anuncia o encanto do verão.
A inspiração do menestrel do Mucuri
Rasga o coração para jorrar
O sangue da ternura e do amor.

O verde das árvores guarda resquícios
De primavera.
Os arranha-céus colorem a exuberância
Do espaço de encanto e prazer,
Aflorando o lirismo do poeta,
Com suspiros e saudades.

A paz cultuada na essência
Da bela ária que ecoa nos ouvidos
Daqueles que apreciam
O néctar da vida.

Inserida por JBP2023

O sol da manhã.

A luz dourada escorre pela janela, aquecendo a ponta do meu nariz e abrindo um sorriso em meu rosto. O mundo parece um pouco mais alegre.

A brisa suave acaricia meu cabelo e me faz dançar. O canto dos pássaros me faz querer voar. A xícara de café quente me deixa aconchegante, mas o gosto amargo me faz lembrar da vida. Meu coração bate em ritmo de alegria.

O tempo parece se estender, a pressa se dissipa, a mente se acalma, e a paz se instala em mim. Sinto uma leveza tomar conta de mim, a alma se abre para um novo dia, o mundo se torna um palco de encantamento, e a vida se revela em sua beleza.

Inserida por SAFIRASOUZA123

⁠que saudade da tapioca com goiabada e queijo, suco venenim de groselha, no café da manhã!

que saudade do bom dia com geleia de pitanga, suco de goiaba e pão com manteiga na sanduicheira!

que saudade do beijinho de tchaw, do me avise quando chegar lá, porque o suco de manga e os ovos com bacon estavam deliciosos!

Inserida por rosa_brasil

Manhã de outono

A chuva que cai suavemente molhando as almas que carecem de purificação
lentamente buscam as almas perdidas para inundar seu coração
Nessa doce e suave manhã de outono
Umedecem as árvores antes tão mortas
Agora tão verdes e firmes
Se regozijam de alegria
As folhas velhas se perdem no chão e buscam seu próprio caminho
Enquanto as novas vão brotando gradativamente no intenso, leve e sutil desencadear dos anos
Pouco a pouco
Anjos cantam um cântico bucólico no coração da floresta secretamente envolvendo com ternura o cativante ar desse momento
Ao passo que durante tudo isso,
Observo melancolicamente pela janela do quarto a solidão que atinge os nossos seres paulatinamente
sem roubar a paz que um momento como esse traz aos nossos íntimos
Resguardando e guardando a saudade do que ficou
O ar frio e clima seco que percorre todo o ambiente vai invadindo esse espaço vazio nas ruas que ninguém preenche, mas todos passam por ele, silenciosamente
Sem dizer nada
Como se não existisse
Mas ele sempre esteve ali
E a beleza do céu nublado, o canto dos pássaros é o que enfeita e ressalta ainda mais a beleza dos dias tristes
Que sofrem por eles mesmos serem assim
Mas que fazem parte e às vezes tomam toda a tarde,
a sala de estar que habitam
Sem fazer alarde
Melancolia também é vida
Melancolia também é arte

Inserida por bittencourtlarissa

⁠Manhã

Que...

A quietude da manhã
Serene o seu pensar

O canto dos pássaros
Alegre o seu coração

O nascer do sol
Traga esperança

A brisa da manhã
Embale o seu dia

O colorido das flores no jardim
Traga cores para as suas escolhas

O céu azul
Oriente as decisões

O perfume das flores
Acalente a sua jornada

Que a paixão
Te traga a paz

Inserida por SoniaFranczak

⁠afirmação positiva: repetir isso todos os dias; Três vezes ao dia. Manhã, tarde e a noite!

" eu estou recebendo coisas boas. Eu sou feliz. eu sou próspero. eu estou saudável. eu sou amado. Eu sou pontual. Eu sou para sempre jovem. Eu estou cheio de energia todos os dias.

Amém! Amém! Amém!

Obrigado! Obrigado! Obrigado!

Sempre! Sempre! Sempre! 🙌💡👏

Inserida por irineu_magalhaes

Lucaia eu te amo.

Hoje nessa manhã de sol radiantes, meu peito palpita te de tanta felicidade só pelo falto de te amar você.
Como te amar e bom melhor ainda e pode te ver saber que está bem, escutar sua voz como a mais bela sinfonia já composta por um maestro.
Só sei te dizer que eu amo você.⁠

Inserida por Moa89reis

o futuro chegou, veio quebrado
o carteiro parece deprimido
meu café da manhã é um comprimido
e o jornal atual do mês passado

você escolheu o marinheiro errado
estou cheio de cera nos ouvidos
toda canção é feita de ruídos
em breve atracaremos do outro lado

o vento é doce, os animais, divinos
você lamenta, eu lamento também
sua analista acha que eu não presto

amanhã vou comprar um violino
libertar o penúltimo refém
rasgar as cartas e queimar o resto

Fabrício Corsaletti
Engenheiro fantasma. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
Inserida por pensador

⁠CRÔNICA DO HIPOCONDRÍACO

Eduardo teve uma leve dor de cabeça naquela manhã de sábado. Correu até a caixa de remédios, tomou um analgésico, e pensou:

- "só pra garantir".

Após o almoço, foi cochilar, mas se sentiu um pouco esquentado. Correu até a caixa de remédios, tomou um antitérmico, e pensou:

- "só pra garantir".

À tarde, vendo Tv, tossiu por um momento. Correu até a caixa de remédios, tomou um xarope antitussígeno, e pensou:

- "só pra garantir".

À noite, foi se arrumar para um encontro com uma garota que conhecera num aplicativo de paquera. Correu até a caixa de remédios, tomou um viagra, e pensou:

- "só pra garantir".

Inserida por RomuloBourbon

⁠Oração da Manhã

Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força. Quero olhar o mundo com olhos cheios de amor: ser paciente, compreensivo, justo, calmo e alegre. Quero ver teus filhos como o Senhor mesmo os vê, e ver somente o bem em cada pessoa que passar pelo meu caminho.

Inserida por Patricia47

*Aquela manhã de domingo*

Meu corpo junto ao teu,
o toque íntimo de nossas almas;
que, por um momento,
juravam estar entrelaçadas.

Naquela mesma manhã,
o toque, o abuso;
o sentimento de incapacidade,
e a voracidade para pôr um fim naquilo.

Porque, afinal,
era apenas uma manhã de domingo.

Mas por que, em uma manhã de domingo?

Justamente naquele dia,
naquela mesma hora, tudo poderia ter sido diferente.

Aquele toque não era desejado,
aquele contato nunca foi necessário;

Nossas almas nunca estiveram ligadas,
elas apenas se sentiam amadas e atraídas uma pela outra.

Você realmente era o que eu precisava?

E se sim, por que decidiu aparecer naquele domingo?

Queria te esquecer,
espairecer a minha mente;
que aparenta te desejar como nunca
e te ter como sempre.

Agora, os domingos são frios,
não calorosos como um dia já foram;
são manhãs vazias,
em uma simples terra baldia.

Inserida por clarwy

⁠ A

A chuva caindo numa manhã de primavera fria

Acordo com o alarido dos pássaros.

Depois de uma noite nada dormida, ainda remoendo o sonho que tive com você.

Ainda aturdido pelo seu fantasma, preparo me para a vida que me espera fora de meus sonhos. Ponho te em um féretro para que eu, agora livre do sonho, possa enterrar de vez a sua imagem.

Na vitrola, saem sons melancólicos de gymnopedie n°1.
A cada martelar nas cordas, uma nota profunda me abraça.

No café da manhã, deparo me com a dualidade do amargor do café, com o doce açúcar, em que juntos formam um belo casal.

Para contrastar com o negro amor, com o cinza do céu chuvoso, vejo a beleza radiante de uma única flor solitária no quintal.

Não à plantei, não reguei… a natureza e seu esplendor; sempre mostrando que, mesmo só, cercado por muros altos, sem outras plantas como amiga, ela ainda tem a si próprio, com sua majestade em cor… o amarelo da flor, da pequena flor, lutou e venceu bravamente os muros e o céu cinza.!

Inserida por thiago_biscarde_nunes

Kéfera

Quanto o primeiro raio de sol da manhã se fizer presente no teu dia, agradeça por mais esta dádiva. Ao sentir em teus olhos o brilho da primeira estrela, tenha certeza, esta será dada para a noite. E com estas especiais características se nota o seu potencial e o seu brilho próprio. Perceba que você é capaz de criar o que desejar. Mas lembre-se, ao desejar deverás cuidar destes desejos. E, cuidar daquilo que realmente deseja exige esforços e muita entrega. Se estiveres em um dia ruim e a sua energia estiver pequena, lembre-se que existirão sempre dois caminhos, desistir e deixar-se derrotar ou brilhar com sua luz que lhe é própria. A sua luz tem um grande brilho. Cuide do que você realmente deseja. Viva o que você está criando. Percebas que "Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você consiga.”
E eu acredito que sempre em sua vida o
Seu primeiro raio de sol será sempre o mais belo de todos.

Inserida por eduardojrleite

O sol a cada manhã é a maior de todas as mensagens.
Não só do ciclo da infinitude, mas como ela é bela justamente pelas transformações do caminho que nos fazem orbitar pelos seios emocionais, nos ensinando o poder da sintonia com a serenidade e o amor.
Consentir a condição de aprendiz nos coloca no lugar de humildes alunos da criação, com livre-arbítrio exato de também fazer parte da edificação de um novo mundo.

Inserida por diegoferrariterapia

⁠DEUS E O DIABO
Era manhã de setembro, o ano, dois mil e dezoito, a cidadezinha Aroeiras, lá no semiárido paraibano aonde o urbano, de maneira ainda tímida e conveniente, se mistura ao rural. No entanto, acolhedora e de clima ameno, com suas casinhas simples e modelo arquitetônico antigo em sua maioria. Permite-nos sentir o frio brando que surge das colinas, e traz consigo o cheiro orvalhado das aroeiras, árvore nativa da região - em situação de quase extinção pela racionalidade desta vida líquida, que insiste mesmo nos mais longínquos rincões, plasmar seus caracteres de modernidade. Subvertendo a solidez de uma vida ingênua e autêntica que nos faz fluir muita saudade.
Portanto, foi neste cenário de auspiciosa beleza que estava ali, eu, naquela manhã de setembro, de fronte à pequenina e graciosa igreja matriz, pintada em cores de azul celeste e decorada com luzes natalinas. Sobre ela, destacava-se um grande relógio frontal em algarismos romano, no qual podia se ver a hora (06h00) e edificada, quiçá, a propósito, sob arquitetura neoclássica do século XIX.
Ao horizonte, contemplavam-se suas lindas colinas emolduradas por frondosos ipês que, por sua vez, entapetavam suas serras deixando-as parecer uma aquarela e, poucas viçosas aroeiras quase extintas pela ação irracional do homem. Seus casebres multicoloridos, ao pé da serra, lembravam com alegria as pinturas de Tarsila do Amaral, ali, permanecia eu à espera da condução. Logo chegara, aos poucos, outros indivíduos entre eles, algumas mulheres, quase todas acompanhadas de crianças de colo, alguns rapazolas, um que apresentava sintomas de embriaguez alcoólica e trazia consigo um cão magro e aparentemente faminto, amarrado ao cós de sua calça e que não fora rechaçada sua entrada naquela condução pelo jovem condutor - como se aquilo fosse uma ordem corriqueira - por fim, dois senhores não bem vestidos, ou em trajes campesino, de idade mais avançada, que como eu também pretendia imprimir viagem a seus respectivos destinos.
E, talvez, por um proposito místico, só ali se encontrava todos os dias apenas àquele horário. Era domingo, manhã de primavera e após alguns minutos dava pra ver a chegada do tão esperado transporte, um ônibus de aparência um pouco antiga, que trazia as cores da bandeira brasileira como pintura e, o sugestivo ou irônico nome de “Novo Horizonte”. Ao adentrar na condução - veículo coletivo de passageiros -, éramos recebidos por um jovem condutor de boas feições e que nos recebe cordialmente nos desejando um bom dia sorridentemente. Ali começo a deixar para trás um quadro de múltipla beleza, que logo se perde ao horizonte e que viajou comigo para a vida.
Todavia, quase que de maneira abrupta, sentam-se nas poltronas à minha esquerda, aqueles dois últimos personagens que viriam marcar presença nesta narrativa que proponho encetar. O primeiro, talvez mais velho, de fala frouxa e carisma aflorado. O segundo, um pouco mais novo, franzino, contido e um pouco recluso, ambos de pele negra. E apresentavam possuir idade bastante avançada, cabelos grisalhos, barba por fazer e olhos embaciados, seus rostos ressequidos, enrugados, talvez nem possuíssem a idade a demostrar.
Se não fosse a paga pela insensatez desta vida líquida na qual vivemos, para citar o sociólogo Zygmunt Bauman. No âmbito da viagem, eu observava ligeiramente que os demais sujeitos no interior daquele ambiente pareciam alheios àquela narrativa que iria se iniciar, porém, mesmo que involuntariamente, eram parte integrante da história, uma vez que se dispunham a dialogar com a bela paisagem que ligeiramente passávamos por ela sem despercebe-la haja vista estarmos em uma manhã de primavera, o que tornava a aridez do lugar mais sútil e deixava aflorar a beleza dos campos e de seus ipês e flamboaiã, que mitigavam o sofrimento daqueles atores. E por ser um bioma propício à criação do gado caprino, meus olhos também brilhavam ao ver os rebanhos que se integravam ao verde dos campos e que fazia o nosso protagonista se orgulhar em mostrar, lhe absolvendo do espectro de sua dolosa infância.
A priori, meu olhar se reporta apenas a observar a presença daqueles sujeitos, que se juntam aos poucos passageiros existentes naquele humilde veículo, que corriqueiramente faz aquele percurso todos os dias, e volto a navegar pela internet como se aqueles atores não estivessem mais ali.
O barulho que se ouvia era apenas do motor. Momento em que é rompido o silêncio para dar início a um diálogo fantástico, homérico. Ao qual nem mesmo a minha atenção à modernidade patente, que consome a humanidade, navegando pela internet, me fez desviar a atenção àqueles dois personagens cativantes que se faziam presentes ali em minha frente.
Doravante, passei a ser mero espectador de um novo cenário. Ou de uma das mais românticas e tênues narrativas de vida de um ser vivente. Aquele que eu entendia naquele momento, ser ele, o principal personagem dessa mágica história, dessa odisseia tupiniquim.
Concomitantemente, inicia-se a narrativa àquela que segundo ele, seria a maior aventura de sua vida. Não obstante, inicia sua fala dizendo que, quando criança, queria ser cangaceiro rompendo o silêncio de seu amigo ao lado que aparentemente atônito, lhe indagou:
- Cangaceiro?!
E com uma larga gargalhada, Biu, que a essa atura já havia propagado sua graça para que todos ouvissem no ambiente, respondeu:
- Cangaceiro sim!
Neste instante dediquei toda minha atenção àquela conversa, embora os demais passageiros apenas imprimissem um brando riso, eu estava encantado porque queria intensamente saber a razão daquela vocação.
Sem pestanejar, Biu tira de dentro de uma sacola de pano, que conduzia a tira colo, alguns cordéis alusivos a Lampião e ao cangaço, logo começa a declamar para seu par, por assim dizer. Em dado momento ele começa a ler um folhetim intitulado “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, para lembrar o filme de Glauber Rocha, aquilo cada vez mais me desperta curiosidade em saber quem era aquele senhor e aonde ele queria chegar com aquela prosa.
A essa altura a viagem já havia se estendido por quase uma hora, e eu começo a manifestar o medo de não poder assistir ou participar do desfecho daquela imensurável narrativa, uma vez que eu, ou aqueles atores sociais, chegaria a seu destino final e, talvez, nunca mais nos víssemos.
Sem querer me tornar um intruso, ergo a cabeça em sua direção e quebro meu silêncio, com todo cuidado peço licença.
- Seu Biu!
Logo ele refuta:
- Como sabe meu nome? - sorrindo brandamente eu respondo: - Ora, o senhor falou para todo mundo ouvir.
Também com um breve sorriso ele diz:
- Foi mesmo, qual é a vossa graça?
Ele pergunta e lhes digo meu nome.
- E vosmecê quer saber o que?
Neste momento, a prosa deixa a direção do seu amigo ao lado que visivelmente se recolhe à sua timidez, e se direciona a mim que lhe respondo:
- Bom, eu já ouvi o senhor declamar e aclamar Lampião e o cangaço, e mais, falou para seu amigo que queria ser cangaceiro quando era menino. Por quê?
- Ah, meu fie! É cumprida essa história, meu fie! - olha para mim com olhar de desconfiança, quase assustado e diz:
- Vosmecê também gosta dele? E por que quer saber? É da puliça ou da reportage?
- Não senhor, nenhum desses, mas fiquei muito curioso com sua prosa. Não se preocupe eu sou de paz.
- E o que faz aqui por essas bandas e de onde vem? - pergunta ele.
- Sou brejeiro de Esperança e trabalho aqui na cidade!
- Meu rapaz, - em tom mais ameno -, essa história é muito enfadonha e vou ficar logo aí na frente, não vai dá tempo de contar até o final.
Fiquei meio desolado e ele percebeu.
- Mas vamos lá! - disse ele -, desde que eu era pequeno que eu gosto de ler cordel, aprendi quase sozinho, foi minha mãe que ensinou a cartilha, aí eu aprendi o resto sozinho. Eu ia com meu pai para a feira de Arco Verde, no sertão do Moxotó, e via os cantadores declamar a história de Lampião, que ele era justiceiro pela morte da família matada pelos senhores.
Já me sentindo familiarizado pergunto:
- E foi só por isso que você queria ser como ele?
- Não! - e deixou transparecer em seu rosto sofrido um sentimento de muita angustia e revolta -, quando eu era pequenino meu falecido pai...
E um breve silêncio ecoa. Baixa a cabeça e com a voz embargada e os olhos lacrimejantes, por um instante levanta a cabeça e respira fundo...
- Quando menino morava com meus pais e irmãos, três homens e duas mulheres, papai trabalhava na roça de cana de açúcar no sertão de Pernambuco e nosso patrão era muito ruim, papai trabalhava como um burro e ganhava quase nada, só dava para a gente mal comer, eu era o mais velho dos meus irmãos e ele me explorava como escravo me humilhava muito, só me chamava de caboclo feio, dizia que nós éramos abandonados de Deus porque Deus só existia para ele, que Deus dava riqueza só aos escolhidos, e a nós sobrava apenas serem seus servos. E meu pai, talvez por medo dele, dizia que tudo isso era verdade quando eu lhe perguntava. Teve um tempo, moço, que eu até achei que Deus não era bom como se dizia, só depois que eu fiquei grande é que eu vi que Deus não mandava maltratar a gente, e que tudo aquilo que ele tinha era roubado do meu pai e dos outros trabalhadores que ele explorava. E que o mundo e as coisas boas do mundo, que estavam nas mãos dele não eram dele dada por Deus, e que ele não era escolhido de Deus por que assim Deus não era justo nem piedoso. Foi por isso que eu, ainda criança, comecei a imaginar em ser como Lampião e fazer justiça pela minha família e de todos que eram explorados naquele sertão. Mas eu vou ter que descer aí na frente vou passar o dia no meu pedacinho de terra, onde eu passo o dia todo, toda semana.
- Seu Biu, mas o senhor não falou do senhor, sua família hoje?
Com uma boa gargalhada finalizou me convidando para conhecer seu sítio e prosear melhor. muito da sua prosa! Mas tem muito mais coisas sobre meu sertão, sobre minha vida, meu caminho até aqui, como nós saímos daquele sofrimento para uma vida menos sofrida, mas que eu sei, não é isso o que Deus quer para seus filhos.
E eu, quase em êxtase, por estar fazendo parte daquela narrativa, alimentava o sentimento de que começava ali o caminho para pedras e eu ia ser conhecedor de toda a história daquele Rei, rei do cangaço, rei da resistência contra-hegemônica.
Por fim, grandiosa e cintilante era minha frustração, aqueles atores pedem parada e se embrenham mata adentro e nunca mais os verei para concluir sua saga. Ao voltar nesta busca descobri que Biu havia falecido acometido da Covd-19 em dois mil e vinte, e seu amigo, que fiquei sem saber sua graça, encontra-se em lugar incerto e não sabido. Mesmo assim, não desistirei jamais de procurar por seus filhos que são três, segundo pessoas da comunidade, duas mulheres e um homem, mas que não moram mais no mesmo lugar e que após a morte do Biu de Nicola, como passei a chamá-lo, construíram suas vidas e trilharam caminhos distintos.

Inserida por NICOLAVITAL