Coleção pessoal de Eliot

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À hora do Silêncio -

À hora do Silêncio,
num vago entardecer,
permaneço estático e indiferente,
tudo é vago e monótono,
o vento passa frio,
tocando-me no rosto,
a rua está deserta,
tudo está cansado de existir!

Não me metam em formas apertadas
porque eu não caibo nas formas deste
Mundo ...

Eu sou à conta, à justa, das palavras
que penso, digo e escrevo!
Só caibo na forma dos meus sonhos
que é não ter sonhos nenhuns ...

Que me Amarrem ao poste dos condenados!

Sombras mudas -

Vim ao mundo p'ra estar só!
Sou o primeiro e último poeta depois
de mim ...
Diluido como estou no ser e nas coisas
sou resto de mim mesmo!
Mordo as palavras como quem as beija,
abraço os versos como quem os ama.
Palavras, gestos, olhares impolutos,
infinitamente longos, eternamente
tristes.
Lançado ao fogo, sou figueira estéril,
Alma descarnada e nua sem brilho
no olhar ...
A noite cobriu-me o ser de um mar de
trevas.
Estou farto de sombras mudas
encostadas ao destino ...

Mãe entre Ciprestes -

Mãe que vives entre ciprestes e ventos
intacta como o silêncio ...

Mãe-terra, na terra serena,
adornada de mim,
feita de noites e Sóis
beijada pela Lua!

Mãe das pálpebras caídas
que não arde nem fala ...

Mãe do azul que nos legou
sob um mar de ventanias,
agreste e verde,
com vontade de ficar!

Mãe pura sobre os sonhos
com passos de andorinhas
cansadas de voar ...

Mãe! Intacta e casta como a água
que cai de todos os silêncios
sob as lousas frias, brancas,
que se fecham em saudades ...

Ó minha mãe ... minha Mãe ...

(Dedicando à tia Maria Eduarda Salgueiro estes versos, neste novo estar, da sua vida ... agora!)

Dispersão -

Vivo num dissolver-me constante
dos Versos que escrevo ...
Pássaro cansado de voar,
parado a meio do tempo
sem vontade de ficar!

Cai a tarde ...
A noite não dempra ...
Vem a madrugada ...
Chega outro dia ...

A vida é mentira!
Uma roda cruel sem
desejos de infinito ...

E a jeito de nos ultrapassar,
tudo chega ao fim,
pois vivemos cada dia
de mão dada com a morte.

Quero dormir ...
Não quero pensar ...
Quero escrever ...
Não quero chorar ...
Só quero morrer ...

Mistério Vulnerável -

Trago uma vaga saudade
Um queixume abandonado
Um mistério vulnerável
Uma pequena ondulação,
cheia de vento e de maré,
que me invade o corpo
que me acorrenta a Alma!

Trago o luar na minha mão
Trago o Sol e trago a chuva
Todos os sonhos do mundo
Todas as esperanças perdidas
Uma vida transformada em morte
Uma morte que se faz vida
num silêncio absurdo e impreciso!

Trago tanta coisa em mim
que não sei bem o que sou
nem o que faço neste mundo!

⁠Dos Silêncios e das Grades -

Às vezes tenho pena dos versos
que escrevo!
Não porque os escrevo mas como
os sinto ...
Meus versos são eu continuando-me
em silêncio ...
Porque faço eco de vozes passadas e
gestos cortantes que se espraiam nas
madrugadas dos meus sonhos.
Há rios de luz no meu olhar!
De tanto sonhar perdi-me no tempo
sem perder-me de mim!
Versos trago-os aos molhos ...
E os meus dias nascem, desde então,
dos silêncios e das grades!

Como estou triste -

Como estou triste na indiferença deste amor,
Na alegria desta dor que me fez por ti sofrer,
Na lonjura das Marés, num turpor
Tão imenso que me faz anoitecer ...

Como estou triste por não ver o teu olhar
A passear-se no silêncio das manhãs,
Por não saber se algum dia irás voltar
Ou por sentir que a minha esperança é coisa vã.

Como estou triste, ó Deus, como estou triste,
Por tudo o que vivi, por tudo a que me dei ...
E porque teimas coração, porque insistes
Que continue a passar por aquilo que passei?!

Como estou triste p'la aurora que não chega,
P'la noite que não finda, por este mar
Que nos separa , p'lo amor que não sobeja ...
Como estou triste por não saber se irás chegar!

Passaste por aqui -

Passaste por aqui! Sei que passaste ...
Pelo aroma que ficou espalhado pela rua ...
As casas, os caminhos, as pedras que pisaste,
tudo mais intenso, transparente, à luz da lua.

Eras tu! Por certo que eras tu!
O amor das madrugadas por viver,
com aquele olhar que, por instantes, me deixava nú,
sem respirar, sem que eu consseguisse perceber.

Até as Primaveras acabadas de chegar reclinavam
ante o paladar da tua boca
e as flores, ao vento, até bailavam ...

Bailavam os olivais das pradarias,
as brisas eram feitas da voz roca
de um só vento, e tu, meu amor, a cada gesto renascias!

Entre a noite e a madrugada -

Entre a noite e a madrugada
Foste embora como um louco
Eu segui por outra estrada
E despedi-me do teu corpo.

Disse adeus à nossa história
Toda feita de jasmim
Hei-de tê-la na memória
Num compasso que há em mim.

Há em mim tanta saudade
Do que fomos um p'ro outro
Na madrugada da cidade
Despedi-me do teu corpo.

Vesti dias de saudade
Vesti noites sem passado
No silêncio e na verdade
Minha vida é cor do fado.

Guardo em mim aquele olhar
A nossa vida já passada
E p'ra sempre hei-de cantar
Entre a noite e a madrugada.

⁠Foi assim que nasceu -

Tão estranho sentir o que sinto desde quando te vi
Mas o amor sempre chega quando a gente não espera
Talvez seja a vontade de amar que um dia perdi
Quem sabe se és tu o luar da minha quimera
Foi assim que nasceu este amor que eu sinto por ti!

E Vi nos teus olhos o destino que tanto pedi
E tu nos meus olhos o amor que tanto esperaste
Nem mar, nem silêncio, nem vendavais que vivi
Não voltarei a chorar porque tu já chegaste
Foi assim que nasceu este amor que eu sinto por ti!

Disse Adeus -

Disse adeus, vi-te passar
Disse adeus ao teu olhar
Disse adeus, talvez p'ra sempre,
Nosso amor é como o vento
Um olhar, um pensamento
Que nasceu dentro da gente!

Dá-me um cravo de saudade
Uma rosa sem vaidade
Dá-me a mais bonita flor,
Que eu em troca dou-te o mundo
Um olhar triste e profundo
Dou-te um lirio, meu amor!

Já não quero a solidão
Esta agonia sem razão
Já não quero chorar tanto,
Muito sofre quem não ama
Mas quem ama é dor tamanha
Amargura, dor e pranto!

Até Depois -

Não partas, meu amor, que eu fico num tormento
Sou pedra de silêncio, sozinha no caminho
Sou chuva que se alteia ao sabor do vento
Um pobre sem saber qual é o seu destino.

Um cálice, um lamento, gemer de solidão
São horas que te espero, são horas que não chegas
A raiva que me aperta, que esmaga o coração
São flores, meu amor, que a vida leva secas.

Trago na voz solidão, o ser na vida um triste
O grito d'uma noite, teu corpo que não chega
E a ânsia que me escorre, que dói e que persiste
Minha taça, meu veneno, de loucura e d'incerteza.

Nao sei porque te espero, se quero ou não te quero
A vida é uma roda, tudo volta ao que já foi
Eu amo o teu olhar, mentiras não tolero
Adeus, digo-te adeus, adeus e até depois.

Não procures a solidão -

Não procures a solidão
Sem saber d'onde ela vem
Deixa-a ficar pela estrada
Solidão é dor errada
No peito de quem a tem.

Não procures a solidão
Que ela vai atrás de ti
Solidão é dor sem nada
Traz a vida tão cansada
A solidão não é daqui.

Não procures a solidão
Na saudade ou no amor
Na tristeza ou na loucura
A solidão é dor sem cura
Travo amargo sem sabor.

Não procures a solidão
Como alguém que não tem fé
A solidão é dor parada
É palavra mal-amada
Vive a vida como ela é.

Nossa Senhora da Saúde de Évora -

Há festa em Santo Antão
Festa antiga, com virtude,
Sai à rua a procissão
Da Senhora da Saúde.

Senhora das mãos benditas
Senhora d'olhar profundo
Dá paz às Almas aflitas
E a quem padece pelo mundo.

Neste fado Virgem Santa
Trago a Ti esta oração
Nosso olhar nem se levanta
Vai aos tombos pelo chão.

Horas tristes que passaram
Tanta vida mal vivida
Nossos olhos enchugaram,
No Teu manto, Virgem Maria.

Aos Teus pés meu coração
Muito canta com virtude ...
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.

Observa sempre em silêncio o que te
rodeia, mas fá-lo com um sorriso nos lábios, facilmente saberás quem é quem e o que é o quê! Depois ri-te! Porque quem ri por último, diz o povo e muito bem, ri sempre melhor ...

Não há Sol!
A Lua perdeu-se nos seus poentes ...
Quem me deu a consciência?
Onde está quem ma deu?
Para onde foi?
Do meu caminho se perdeu ...
Eu bem senti mas não parei ... que pena
... que vazio!
Porque dela me perdi eu não sei!
Não sei!


(Para Maria Flávia de Monsaraz)

Amar sem Medo da Idade -

A manhã está suja de saudade!
E há lá coisa mais bonita
Do que amar sem medo da idade,
Viver, conforme o vento agita?! ...

Pois conforme o vento agita
Também se agita a saudade
E há lá coisa mais bonita
Do que amar sem medo da idade?!

A vida é feita de ansiedades,
Tantas vezes, de sonhos por cumprir,
Mesmo assim, nas dificuldades,
Ela ensina a nunca desistir.

Não importa de onde vimos
Nem tampouco com quem estamos
Só importa o que sentimos
E o lugar onde chegamos.

Não te sintas tão sozinho -

Não te sintas tão sozinho
Porque eu estou aqui
E tenho tanto carinho
Desde o dia em que te vi.

Teus olhos cor das mágoas
Dos silêncios do Senhor
São dois peixes, duas águas
Por onde baila o meu amor.

Entre esperança e tempestade
Baila a nossa união
Em momentos de saudade
Há que aprender a dar a mão.

Porque a vida vai passando!
E abraçados à luz da Lua
Assim vamos caminhando
De mãos dadas pela rua.

- Ó Senhora -
(para Nossa Senhora do Rosário de Fátima)

Ó Senhora dos olhos iluminados
que ao longe estais posta em sossego,
fazei que os meus, por Vós, fiquem marcados,
até naquela hora em que adormeço!

Ó Senhora do semblante enevoado,
dos cabelos que esvoaçam para o Sul
ouvi este pedido tão pesado
sob um mar bravo em Céu azul!

Ó Senhora com dedos cor de Lua
que agitais os destinos de cada um
conduzi nossos passos pela rua
e nossas tristes vidas de jejum!

Ó Senhora com o Manto das Auroras,
feitas de jasmim, em dias brancos,
intercede junto ao Filho a quem Adoras
p'ra que os nossos sofrimentos sejam brandos!


(O poeta com os olhos da Alma postos naquela Senhora mais brilhante do que o Sol)

Pura Ausência -

Afinal é pura ausência
O teu retrato não tem rosto
E o vazio e a demência
Invadiram o meu corpo.

E invadiu a minha Alma
Uma saudade sem ter fim
Uma dor que não tem calma
Que se aninha dentro em mim.

E aninha-se uma angustia
Que me atravessa o pensamento
Um achar, é ousadia,
Que findará o sofrimento.

Mas nesta busca de quem somos
O que acaba por faltar
É deixar de ser quem fomos
E aprendermos a amar ...