Ricardo Maria Louro

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Dor dos meus Jejuns -

No branco silêncio de um depois
fica sempre um cheiro de vazio
porque esse alguém, p'ra onde foi,
não levou a saudade nem o frio.

E lá na rua onde morava
oiço ainda o eco dos seus passos
o cheiro a rosas que deixava
quando nos envolvia nos seus braços.

Às vezes, fechando os olhos, vejo ainda
aquele olhar que nos trespassava
e oiço aquela voz que nunca finda
dizendo o quanto nos amava.

Eram gestos, palavras incomuns
que ao fundo da infância davam paz
e fiquei livre da dor dos meus jejuns
minha alada e adorada Monsaraz!

Inserida por Eliot

Dor Errada -

Fado Pinóia:

Já não quero solidões
nem tampouco sonhos falsos
eu não sei porque razões
me sinto amada nos teus braços!

Fado Lolita:

Disse adeus ao ver-te passar
disse adeus ao teu olhar
disse adeus talvez p'ra sempre,
nosso amor foi como o vento
um olhar, um pensamento
que nasceu dentro da gente.

Fado Alberto:

Como estou triste, óh Deus, como estou triste,
por tudo o que vivi, por tudo a que me dei ...
Porque teimas coração, porque insistes,
em que eu passe por aquilo que já passei ?!

Fado Calisto:

Já não quero uma paixão
sem saber d'onde ela vem
já não quero, estou cansada,
solidão é dor errada
no peito de quem a tem.

Fado Mouraria:

Mas em cada madrugada
já não dói o teu desdém
se eu p'ra ti não fui nada
tu p'ra mim não és ninguém!

O Fado como expressão maior da Alma Lusitana!

(Poema para a Rapsódia de Manuel de Almeida)

Inserida por Eliot

Dor Quadriculada -

Outra dor quadriculada ,
ordenada, posta em verso,
outra esperança queimada
que trago desde o berço.

Nova forma de doer
que eu já nem sei se presto
por não saber o que dizer
ou por não saber o resto.

Novas linhas a gemer
que gemem como as outras
e o que dizem sem dizer
vão dizendo como poucas.

Este não - saber - de - mim
dito em palavras sem estrada
são as pedradas sem - fim
desta dor quadriculada.


P.S./ ... ainda assim não podemos deixar de sorrir ...

Inserida por Eliot

É Natal -

É Natal nos sopés da madrugada!
É Natal na voz de cada Homem ...
Pelas ruas! Pelas casas! Há em mim,
como em todos, um apelo de ordem,
amemo-nos uns aos outros sem ter fim.

Tocam sinos na voz dos horizontes!
Há luzes que se acendem na escuridão ...
Há desejos que convergem para a Paz,
nasceu um Menino que esmaga a solidão,
e eu, ao longe, contemplando Monsaraz.

É Natal! E nós precisamos de Natais!
Precisamos que o Natal chegue aos Corações.
Que cada Homem saiba o que é o Bem ...
Que não viva apenas de paixões
e traga Amor no seu olhar também.

É Natal na Raiz do dia vão!
Aquele que nos esmaga sempre
que não sabemos por onde ir ou que fazer
ou que nos apetece regressar ao ventre
da nossa Mãe p'ra voltar a adormecer ...

É Natal nos vales da escuridão!
Aí onde a Luz precisa de brilhar.
Amemo-nos uns aos outros sem ter fim
porque nasceu um Menino p'ra nos salvar,
cultivemos o Amor como Rosas num jardim.

Inserida por Eliot

O Tempo Passa -

O tempo passa pela gente
sem pensar se passa ou não
e a tristeza que se sente
envelhece o coração.

Passa a vida e a saudade
passa tudo sem excepção
e é no tempo da idade
que se encontra a solidão.

O tempo passa como louco
tudo passa pelo tempo
passa a vida pouco a pouco
como passa a voz do vento.

Sabe-se lá porque passamos
se nascemos para amar
esse Fado a que nos damos
há -de fazer-nos cá ficar.

Quando o tempo não passar
não haverá Rosas no caminho
ninguém saberá o que é sonhar
nem terá nenhum destino.

Não havendo nenhum destino,
tudo acaba, é natural,
morre o Fado 'inda Menino
cala-se a Voz de Portugal.

Pois que o Tempo vá passando
e vá passando docemente,
p'ra que o Fado vá cantando
as mágoas de toda a gente.

Inserida por Eliot

Uma vida com mil vidas -

Esta noite tive um sonho!
Prisioneiro dos meus dias,
minha vida com mil vidas,
que eu vivi mas que não queria,
vi tão cheia de despedidas ...

Desencontrei-me dos teus olhos
cada vez que os procurei,
só vi dor e solidão
e aos versos que cantei
fechei as portas do coração!

Pus as mãos sobre o silêncio
fechei os olhos e rezei,
procurei no meu destino
nova esperança, nova lei,
p'ra seguir outro caminho.

Sobre mim caiu a noite,
dor, silêncio e solidão,
uma vida com mil vidas
tão completa de razão
tão cheia de despedidas.

Inserida por Eliot

Um Vencido -

Eis que ninguém ao certo me conhece!
Nem os campos, os vales e os arvoredos,
ninguém conhece os meus segredos,
ninguém ouviu a minha prece!

Se alguém sabe quem eu sou, diga, por favor,
que há tantos anos que me sinto só,
no horizonte da distância, sem amor,
que me apetece morrer, regressar ao pó ...

Misteriosamente sou louco e sem trilho,
sou talvez de satanás um filho,
de Deus um enteado ou de ninguém!

Sou um filho do silêncio, monstruoso,
na terra , um eremita tenebroso,
um órfão abandonado, sem pai nem mãe.

Inserida por Eliot

Controverso -

Percorremos um grande caminho,
suportamos muitas provações ...
Porquê de vivermos tão sozinhos
por andar às ordens dos corações?!

Porquê de envelhecermos sem razão?!
Só por estarmos à mercê do tempo?
O porquê de existir a solidão?!
Só por sermos frágeis como o vento?

Quem ataca a memória é o esquecimento,
quem acaba com a vida é a morte,
das duas, qual será maior tormento,
qual das duas trará a maior sorte?!

Só nos resta a condição que temos:
nunca nada ser o que desejamos,
d'onde vimos, onde vamos, não sabermos,
e perdermos tudo aquilo quanto amamos.

Inserida por Eliot

MATARAM O REI -

Mataram o Rei! Há sombras pelo ar ...
Há nevoeiro sobre as Quinas da Nação!
Mataram a Alma de Portugal!
A nossa Pátria perdeu-se do coração!

A Coroa dos Heróis desfez-se em pó!
Passámos a beber do mesmo graal:
o cálice de D. Amélia, tão só,
qu'inda assim perdoou a Portugal!

E de que fibra fora eleita tal Senhora,
que de lágrimas desfeita, sem destino,
tendo ao colo, amortalhado, o seu menino,

entregou o Coração a este povo,
sofreu calada, recomeçou de novo,
dia-a-dia, triste, só mas sonhadora?!

Ricardo Maria Louro
Em profunda Admiração a D. Carlos, a D. Luis Filipe e a D. Amélia de Orleães.

D. Amelia:
"A dor cobriu tudo. Esvaziou-me o Espírito. As recordações desapareceram. Estou incapaz de chorar. Inerte."

Inserida por Eliot

UM CRISTO ALUMIADO -

Ao canto, na cómoda do meu quarto,
há um Cristo que deixo alumiado,
para que, de um braço a outro braço,
me deixe, no seu peito, bem guardado!

Rezo àqueles cravos da nossa salvação
às suas antiquíssimas gangrenas, com fervor,
àquela lança que lhe perfurou o coração:
- Salva-nos da "peste" pedimos-te óh Senhor!

(...) pendem silêncios da cruz ao canto do meu quarto
mas um agitado fernezim toma-me por dentro
e da sombra dessa cruz, não quero, não me aparto!

Óh Senhor! Vê ... a humanidade está vencida,
já não há o que pensar, acabou-se o tempo,
desce dessa cruz e dá-nos outra vida!

Inserida por Eliot

Covid-19
"O Anjo da Morte"

Caiu a noite sobre o Mundo!
Dias vestidos de silêncio e solidão ...
O Anjo da Morte passeia pelas ruas;
invisivel, discreto, cauteloso;
predador astuto sem piedade.

E aonde vai?! O que deseja dos Homens?!
De onde os tira? Para onde os leva?! ...

Espalhou-se um vazio desolador ...
Caiu a noite sobre as ruas!
Há cadáveres no alto da madrugada ...
... abandonados ... sem familia.
Revemo-nos temerosos, perdidos, frágeis,
sem destino! Criaturas débeis!

Praças ... ruas ... cidades ... tudo suspenso ...
... em contratempo, num inesperado sopro de silêncio que veste a Humanidade de palavras
nunca ditas ou pensadas .
Porque a Morte espreita, sussura, gesticula
a cada esquina da vida teimando em separar-nos.

Então, põe os teus olhos na Cruz!
Sinaliza o umbral da tua casa para que o Anjo a não procure.
Abre os braços e abandona-te à verdade que um dia nos salvou.
Do Céu, descerá então uma Luz que fará brilhar o Dia sobre o Mundo , a vida renascerá e o Amor triunfará!


Em Évora no exílio de Casa

P.S./ Podemos perder tudo menos a Fé, a Esperança e a Caridade...

Inserida por Eliot

Na Mão de Deus -

Na Mão de Deus, na sua Mão Divina,
faço repousar a minha solidão,
e assim, as horas do meu pobre coração,
batem numa dor mais pequenina ...

E ai de ti, pobre mortal perdido
numa ignorância infantil,
ao dizeres por aí, com voz hostil,
que Deus é coisa vã e sem sentido!

Em Deus os sofrimentos que não saram
são correntes que desaparecem
na solidão dos rios que nunca param ...

Tudo o resto é apenas ousadia
entre tantos conceitos que se tecem
(num mundo triste) tão iguais em cada dia!

Inserida por Eliot

Sábado Santo -
(... de Aleluias)

Sábado Santo! Dia de silêncio ...
Jesus morreu por nós! Meditemos ...
Tudo está fechado em redor - ao redor
de cada um!
Foi traido pelo mundo.
Negaram-lhe uma estrela.
Mais longe foi seu grito d'infinito ...
Os tumulos estão fechados!
Os mortos em suspenso!
Tudo parado à meia luz ...
E onde está Jesus?! Onde?!
Eu não gosto de Sábados!
Sabem a despedida ...
Porque lhe chamam santo se nele
somos impotentes?!
Já não sei a quem rezar!
Não há gaivotas nem marés ...
Jesus mandou-nos esperar.
A espera é tranquila, porém, triste.
Não lhe vejo ter um fim ...
De que valia dizer-lhe que não fosse,
era seu, o destino de ter que ir ...
Não gosto deste Sábado!
Quero um amanhã mais cheio de poesia
sem morte nem silêncio.
Porque esta é a noite em que a vida gera
Vida!
A morte é decepada ...
O negro cortejo de sombras desvanece ...
Aleluia! Vai-se a noite, virá o dia ...

Inserida por Eliot

Saudades de Maria Flávia -

Que saudades do Estoril!
Do cheiro a mar e a madrugada
numa doce atmosfera subtil
onde a vida parecia consagrada.

Que saudades das Estrelas!
Da mistura do Branco e do Lilás
que pendia das janelas
feitas de ternura, amor e paz.

Que saudades desses dias,
daquelas horas cheias de jasmim
que o meu coração sentia
quando falávamos sem fim.

Que saudades de quem tanto amou
de forma doce, terna e sábia
mas que partiu como chegou ...
Que saudades de Maria Flávia!

(Volvidos seis meses da Partida de Maria Flávia de Monsaraz para a Casa do Pai - que Saudades ... muitas ...tantas ...)

Inserida por Eliot

GESTO BRANDO -

Por um momento, Senhor,
senti a Tua Voz descer por sobre
o meu coração magoado!
Era manhã rasgada sobre a névoa.
Foi-se a memória do passado,
o silêncio opaco e triste,
a noite cheia de mistério que
por sobre mim persiste ...
Havia ondas de Luz num horizonte qualquer!
Asas batiam no firmamento de um
Sol inútil.
E Tu, Senhor, 'inda assim,
desceste por sobre o meu coração
ferido e macio, cheio de bocados
de sonhos, caídos na noite sem fim ...

Inserida por Eliot

Trevas, Noite e Lume -

Passa o tempo devagar
por silêncios indiscretos
passa a dor que por te amar
vem do sangue de dois pregos.

Passa ao lado a ilusão
dessas trevas que deixaste
e no calvário do coração
um coração que tu pregaste.

Passam medos sem destino
passam gritos magoados
tantas pedras no caminho
que deixaste nos meus fados.

E até passa o meu ciume
e as mentiras que o fizeram
passam trevas, noite e lume
por tantas coisas que não eram.

Tudo passa, bem o sei,
por esta ausência sem razão
oh meu Deus porque deixei
que alguém pregasse meu coração?!

Inserida por Eliot

Carta aberta ao Senhor -

Vem Espirito de Deus, antiquíssimo e idêntico,
Igual por dentro ao silêncio ...
Vem, Senhor das coisas impossíveis que, desces no olhar, na voz de quem vive o teu Mistério!
Vem ... vaga e levemente com as Mãos estendidas para cada um de nós e beija-nos a fronte, enche-nos de infinito!
Funde o teu corpo aos nossos sonhos nos impasses calados que nos prendem a vida!
Vem embalar os nossos pensamentos, afagar-nos a tristeza, aumentar a nossa Fé!
Vem lá do fundo, de dentro de nós e para nós, das raizes da vida que nos correm nas veias do coração. Dá alento às coisas que dizemos, às que dizemos e não somos, às que somos e não damos. Talvez porque a vida seja curta demais para a Alma que trazemos, talvez, porque não possamos tocar mais além do que o nosso olhar pode tocar, ou, porque não pensemos mais do que o nosso pensamento pode alcançar! Perdoa a nossa frágil condição. Essa que conheces desde sempre ...
Aceita, porém, a nossa imensa gratidão por tantas vidas que nos envias indicando a direcção ...
Essas vidas que se dão aos Teus desígnios Grandiosos, à Glória do Teu Nome, à plenitude do Teu Espírito.
Obrigado, Senhor, pelo Dom do Sacerdócio! Esse Ministério tão cheio de Mistérios, esses Mistérios tão cheios de Grandeza ...
Obrigado, Senhor, por aqueles que nos envias a penetrar os Teus Segredos, p'los que curam as feridas, por aqueles que participam em cada sofrimento, p'los que vivem neste mundo de prazeres sem procurar o seu prazer, p'los que vão dos homens até Ti, Senhor, e vão de Ti até aos homens, levando-lhes a Esperança, a Fé e a Caridade num amanhã que há-de vir! ...
Por terem um coração de fogo e uma Alma de marfím onde se passeiam , de mãos dadas, a caridade e o amor, levando a cruz como bandeira.
Obrigado, Senhor, por lhes dares um pensamento de oiro num corpo de prata!
Derrama sobre nós a Tua bênção, mas, abençoa sempre, e em primeiro, quem nos guia, porque nos guia! Pois se não formos dignos de te falar, ao menos, podemos ouvir-te por intermédio desses que escolheste para nos ajudarem p'los caminhos pedregosos que a vida tem ...

Despeço-me, Senhor, de Ti, por Ti e em Ti.
Ricardo Maria Louro (Caminhando)

Inserida por Eliot

Até Amanhã -

Até amanhã ó meu amor
ou então até já
acredita, por favor,
que te amo mas não dá.

Guarda em ti esses momentos
que nós vivemos tão nossos
na raiz do pensamento
na raiz dos teus ossos.

Até amanhã ó meu amor
que vá eu aonde vá
deixa a vida ao sabor
deste simples até já.

Mas não houve um até já
fica a esperança que foi vã
este amor não voltará
diluiu no amanhã.

Tanta gente desonesta -

Tanta gente desonesta
Com olhar de quem não é
Tanta gente que não presta
Qu'inda assim diz que tem fé!

O mundo corre, o mundo gira,
Tudo passa em seguida
Quem levanta uma mentira
Pagará com a própria vida!

Vem trevas, agonias
P'ra quem fere um semelhante
Nada o salva desses dias
Condenado eternamente!

E a vida sempre segue
Ao lado dessa gente
Mas a morte que os persegue
Há-de calá-los para sempre!

Inserida por Eliot

Um Poema para Ti -

Foi de mim que nasceu
este poema para ti,
não tem principio nem fim
nem palavras que o sustentem
no passar da madrugada ...
E o silêncio é tão frio
mas o amor 'inda é maior!
E foi por ti, só por ti
que o embalei no meu seio
desde o ventre de minha mãe,
sim, tu já lá estavas também!
Não te via mas sentia que estavas
entre o ali e o agora,
estavas no meio ...
E o tempo passou
e todos passaram,
tu chegaste, o teu olhar veio.
E aqui estou
dividido mas inteiro
só por ti, só por ti
à espera que venhas
que me abraces
sem princípio nem fim
como o poema que escrevi
nestas linhas para ti ...

Inserida por Eliot

Ladainha dos Martyrios -

Bendita e louvada seja
A paixão do redentor
Que p'ra nos livrar das culpas
Padeceu por nosso amor!

Senhor tende piedade de nós!
Jesus Cristo tende piedade de nós!
Espirito Santo que sois Deus
tende piedade de nós !

P'las sete dores de Maria, rogai por nós!
P'las três quedas do Senhor, rogai por nós!
P'los Martyrios de Jesus, rogai por nós!
P'las moedas que o venderam, rogai por nós!
P'la corda que o maneetou, rogai por nós!
P'la corrente que o prendeu, rogai por nós!
P'los espinhos que o coroaram, rogai por nós!
P'la cana que lhe deram, rogai por nós!
P'lo caminho do Calvário, rogai por nós!
P'la toalha que o limpou, rogai por nós!
P'la cruz que o suspendeu, rogai por nós!
P'los cravos que o pregaram, rogai por nós!
P'lo martelo que o cravou, rogai por nós!
P'la torquês que o despregou, rogai por nós!
P'los dados que lançaram, rogai por nós!
P'la tunica que rasgaram, rogai por nós!
P'la esponja envinagrada, rogai por nós!
P'la lança que o trespassou, rogai por nós!
P'lo suspiro que lançou, rogai por nós!
P'la escada que o desceu, rogai por nós!
P'la Santa Mãe que o recebeu, rogai por nós!
P'lo Santo Sepulcro que o acolheu, rogai por nós!

E porque Jesus Ressuscitou,
Aleluia, renasceu!
E porque o Senhor vive p'ra sempre,
Aleluia, renasceu!
E porque o tumulo está vazio,
Aleluia, renasceu!
E porque a vida triunfou,
Aleluia, renasceu!
E porque o véu que nos separava para sempre se rasgou,
Aleluia, aleluia, aleluia, Renasceu!

Bendita e louvada seja
A paixão do redentor
Que p'ra nos livrar das culpas
Padeceu por nosso amor!

Inserida por Eliot

Vacilo -

Hoje que o corpo parece vacilar,
num acto de profunda contradição,
levanto os meus olhos para Deus,
para que jamais permita
que me penetre a solidão ...

A nossa arma é a oração!
É de Deus que nasce a cura
pois é da Fé que nasce a paz
que paira leve e docemente sobre
o coração ...

Oh Senhora da Saúde
venho falar dos meus medos
são teus os meus segredos
que partilho em confissão.
Pois não vejo o caminho
Nesta imensa escuridão.

Mãe do destino
dos pobres, sem nada,
estou cheio d'incertezas
que deixo em vosso altar
nestas velas acesas.

Inserida por Eliot

Nossa Senhora da Saúde de Évora -

Senhora das faces serenas
Alivia-me as penas
Neste passar pela vida;
Mãe dos tristes e dos crentes
Do nascer aos meus poentes
Sê meu porto de guarida!

Senhora dos mantos bordados
Dos olhos doces, brocados,
Das vestes d'oiro e de luz,
Alivia-me os pecados
E põe meus olhos caiados
Nas mãos doces de Jesus!

Oh Senhora do destino
Traz luz ao meu caminho
Quando me invade a solidão,
E como velas acesas
Leva as minhas tristezas
Salva o meu coração!

Oh Mãe dos desolados
Dos que choram cansados
Num penar que não tem fim,
Vovei, Senhora da Saúde
Vossos olhos p'ra quem lute
E não esqueçais também de mim!

Inserida por Eliot

Na Solidão das Marés -

Na Solidão das Marés de um dia pardo,
vislumbra-se um amor que vai embora!
Instante de solidão toldado
pelas águas da distância
em que um coração amargurado
se afunda lentamente.
E as horas vão passando ...
E aquele amor vai partindo ...
E eis que nada nos rodeia nessa hora!
Sozinhos como sempre,
nos braços do destino,
embalados pela vida.
Ao longe, seus olhos de cristal,
deixam saudades no horizonte!

Inserida por Eliot

Pura Ausência -

Paira sobre a vida um vazio
Uma sombra magoada sem destino ...
Porque ficas em silencio frente ao rio
E nos deixas à deriva no caminho?!

O teu jeito! O teu toque! O teu olhar!
A tua voz cristalina, eloquente,
Capaz de nos fazer sentir o que é amar,
Agora tão distante, tão ausente.

Porque tinha eu que aqui ficar
Se tu tinhas que partir?!
Aconteceu! Aquele medo de separar
O que o destino um dia quis unir ...

Arrancaram de mim toda a alegria
Só há ecos de saudade no meu peito
Transformou-se em noite cada dia
E cada hora fria no meu leito.

Adeus musa cristalina dos meus versos!
Teu olhar é como um passaro que voou,
Como um dia que acabou, sem gestos,
Adeus meu Vendaval de Sonhos que passou.

(Poema dedicado à Fadista Celeste Rodrigues, à sua partida e à intensa amizade que unia o Poeta e a Fadista)

Inserida por Eliot