Ricardo Maria Louro

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Pintura de Lisboa

É cedo, o Sol disponta no horizonte,
lá longe a madrugada adormece,
de braços bem abertos, por traz da ponte,
vejo o Cristo como estando numa prece.

E vejo o Tejo carregado de saudade
vejo a Graça que descansa na colina
é tal a magia em torno da cidade
que até Cristo num gesto se reclina.

E vejo as ameias do Castelo
essas que recortam o horizonte,
no Chiado oiço um Fado tão singelo
que vai de Santa Justa até à ponte.

São os poetas que gritam no peito
de quem vai passando p'las vielas,
há gente que se encontra a sós no leito
há tanta melancolia nas janelas.

É assim esta pintura de encantar
que tanto me encanta e enternece!
Minh' Alma como o Tejo vai pro mar
Canta, chora , dança, escreve e adormece ...

Inserida por Eliot

- SENTIDAS CONDOLÊNCIAS -
(más-caras)

Há pessoas que ao morrer
nada deixam pra lembrar,
só a certeza de saber:
nunca mais nos farão mal!

O mal que aqui fizeram
fez mudar tantos destinos
tanto ódio lhes tiveram
agora dizem ... coitadinhos!

Tantos pêsames pelo ar!
Tantas fotos ... condolências!
Venham todos sepultar
estas grandes excelências...

Não sei se pense nestes mortos
não sei se ria destes vivos
pois adoram velar corpos
dizerem que são amigos!

Nunca mais nos farão mal!
Grande certeza pra saber
nada deixam em Portugal
só lhes resta é morrer!

Uma coisa dou por certo
nesta minha reflexão
escreve Deus e é correcto
nas linhas da podridão!

P.S./ Todos colhemos o que plantámos ...

Inserida por Eliot

- AMAR SEM MEDO DA IDADE -

A manhã está suja de saudade!
E há lá coisa mais bonita
do que amar sem medo da idade,
viver, conforme o vento agita?!...

A vida é feita de ansiedades,
tantas vezes, de sonhos por cumprir,
mesmo assim, nas dificuldades,
ela ensina a nunca desistir.

Não importa de onde vimos
nem tampouco com quem estamos
só importa o que sentimos
e o lugar onde chegamos.

Pois conforme o vento agita
também se agita a saudade
e há lá coisa mais bonita
do que amar sem medo da idade?!

Inserida por Eliot

- SAUDADE DO CHIADO -

Que saudade do chiado
Dos seus dias solarengos
Da alegria d'um passado
Que dentro de mim tenho.

Das esplanadas ao vento
E Da beleza dessas ruas
Que saudade desse tempo
Dos poetas, das estatuas.

Da calçada portuguesa
Das igrejas em solidao
Trago a grande singeleza
Do bairro alto no coraÇao.

Trago os dias bem passados
Tantas horas de poesia
Tantos gritos arrancados
À ganância dos meus dias.

Da loucura dos meus sonhos
Tanta coisa foi perdida
Houve dias tão risonhos
Tanta mágoa apetecida.

E Tanta gente que passou
Pela sombra do meu fado
Foi-se embora e não levou
Esta saudade do chiado.

Ricardo Maria Louro
No Chiado em Lisboa

Inserida por Eliot

MINHA PÁTRIA

Tenho orgulho no meu Pais,
tanto orgulho, mal sabia,
corri mundo, nunca vi,
como a Gente, tal Poesia!

Até mesmo o Pôr-do-Sol
ou o nascer de cada dia,
entra o mar como um lençol
por esta Terra de Melancolia.

Tantos montes, tantos vales,
tudo em mim, vivo, à arder ...
Minha Terra não me abale
esta vontade de to dizer!

E mesmo até quando eu morrer,
não me importa de que mal,
oiçam todos o que vou dizer
que me enterrem em Portugal!

Inserida por Eliot

FOI-SE AO MAR

Ainda agora, é constante,
pela luz do meu olhar
que juro ver por um instante
o meu amor que foi ao mar.

Foi-se ao mar e não voltou
foi-se embora sem razão
tanta mágoa em mim deixou
dor, silêncio e solidão.

E deixou sonhos vividos
outros tantos p'ra morrer
os meus olhos tão despidos
sem vontade de viver.

Dei-lhe a vida que me deram
dei-lhe o mundo d'onde eu venho
todos pensam, não souberam,
que lhe dei tudo quanto tenho.

TENHO UM VAZIO

Tenho um vazio dentro de mim
que se enleia ao meu sangue!
É tão meu, tão ao meu jeito,
que comigo dorme no meu leito ...
Que ninguém fale ... ninguém se espante.

Trago-o desde o dia em que nasci!
Foi no ventre de minha mãe
que cedo, nas águas, o senti.
Imerso em silêncio logo vi,
a solidão vivia em mim também ...

E dei um grito de carmesim
porque o vazio é um abismo
para o qual nunca se vê fim.
E a dor faz nascer o egoismo
como flores secas num jardim!

Contudo, a vida vai passando,
e mesmo assim, nada é diferente,
os meus olhos vão chorando
o vazio vai-se aninhando,
e eu, morrendo lentamente!

Inserida por Eliot

HÁ PESSOAS QUE NOS MARCAM

Há pessoas que nos marcam bem na alma
pela força de serem baluartes!
Quando partem, quando Deus os chama,
fica algo deles em toda a parte ...

Fica o modo de sorrir e de falar,
as palavras cheias de silêncio e avidez
fica aquela arte tão profunda de ensinar,
não se pode amar a Deus de quando em vez.

E fica o cheiro de um perfume pelo ar
fica a tristeza cheia de saudade
as leves contas de um rosário a passar
e nós, impotentes, cheios de ansiedade.

E quando a morte enfim chegou para a levar
depois de tanto sofrimento, tanta luta,
a Fé apenas nos pede para rezar
num ultimo adeus à Dona Justa.

(Querida Justa Teles Rocha, siga esse Caminho tão bonito de que sempre nos falou: para Deus, com Deus e em Deus. )

Inserida por Eliot

- No Silêncio de um Depois -
(Fado Varela)

Talvez, um dia amor, voltes p'ra mim
no mar da madrugada de nós dois
talvez, tu tenhas pena de nos pôr fim
e voltes no silêncio de um depois.

Não sei se onde estás pensas em nós
se pensas nessa vida que tivemos
mas como um rio que corre para a foz
eu sei, não esquecerás o que dissémos.

Às vezes, sinto ainda o teu perfume
na cama, nos lençóis onde me deito
às vezes eu sinto ainda tanto ciume
se penso em ti sem mim, que dor no peito!

E visto em cada dia de solidão
o peso da saudade que trago aos molhos
e à deriva neste mar do coração
eu levo nos meus olhos os teus olhos.

Inserida por Eliot

- De um Espelho a outro Espelho -

Já não sou o que fui outrora
e é a vida quem o diz
passa uma e outra hora
e eu nem sei o que de mim fiz!

Vou d'um espelho a outro espelho
não é essa a minha idade
mas em todos sou mais velho
essa é toda a verdade!

Vou então viver a vida
como se me dissesse adeus a mim
não se marca a despedida
pr'a quem já tem marcado o fim!

Mas os dias vão deixando
uma coisa no sentido
que esta vida vai passando
mas nem tudo está perdido ...

Inserida por Eliot

- OLHOS DE PEDRA -

Trouxe comigo, ao nascer,
Olhos de pedra, não me via,
E o meu corpo de saudade
Já nem tinha claridade
P'ra decidir o que fazer!

Acreditei que ia passar
Mas a pedra aumentou
E o peso dos meus passos
O frio dos meus abraços
Parecia não parar!

Vi sorrir quando chorava
Em momentos de solidão
E o meu corpo só tremia
Por sentir a nostalgia
De não verem que eu amava!

Olhos de pedra, fechados,
Sem coragem de os abrir
E das coisas por dizer
Tantas feridas, triste ser,
Nos meus olhos embaciados!

Morreram sonhos um a um
Nas veias grita o sangue
Tantos passos pelo chão
Tantas dores, solidão,
Pois d' amor estou em jejum!

Não podendo ser mais nada
Inventei sonhos suspensos
E das tardes de Setembro
O que fiz já não me lembro
Só vivi de madrugada!

E pensava, só pensava
E sofria, só sofria
E quando a vida em vão passava
Olhos de pedra, mal a via,
Pobre criança rejeitada!

Inserida por Eliot

- AMOR DAS HORAS VÃS -

Meu amor das horas vãs
Acorda, não tenhas medo
Vem dar cor ao meu segredo
Como a aurora às manhãs.

Vem dormir no meu regaço
Vem dar luz ao meu olhar
Faz de mim o teu lugar
Do meu corpo o teu abraço.

Mas ao vires não te apresses
Deixa os medos no caminho
Passo a passo há um destino
Fado a fado há tantas preces.

Ao meu peito irás voltar
Como a aurora às manhãs
Não te importes de acordar
Meu amor das horas vãs.

Inserida por Eliot

- Um Amor que já foi quente -

É tão triste sentir frio
aquele amor que já foi quente
como pedra junto ao rio
que não lhe fala nem o sente.

É vê-lo tão distante
embrenhado em fantasia
numa angústia que é constante
seja noite ou seja dia.

E há vazio, há impotência,
não saber o que falar
pois perdeu-se da essência
da pessoa a quem amar.

Nunca prendas quem quer voar
dizia sempre a minha avó
porque o amor não faz chorar
não dá pena nem faz dó.

Pois que siga à vontade
quem te quis e já não quer
ninguém morre de saudade
Venha sempre o que vier!

Inserida por Eliot

- O que é isto Senhor?! -

Há um misto de silêncio e de saudade
que dança no peito de todos nós,
tão profundo, sem tempo nem idade,
que muitas vezes nos põe connosco a sós!

Tão quente como o Sol de cada amanhecer
tão frio como a água que cai do Céu
tão escuro como o negro de cada anoitecer
tão forte como Aquele que um dia padeceu!

O que é isto Senhor que sentimos a horas mortas
que nos corroi e esventra o coração?! ...
Tanta gente que passa p'las nossas portas
e nós, tão sós, à mesa com a solidão!

O que é isto Senhor que não nos deixa descansar
e nos arremata a Alma como num leilão?!
Será , talvez, condição ao incarnar
ter que aprender a pacificar o coração ...

Inserida por Eliot

- À Senhora dos Astros -

Senhora, ao entregar em vossas mãos de neve,
meu destino, meu pobre Coração,
sinto entregar-vos, hoje, aqui, frente ao Tejo,
o que resta de minha amarga, dolorosa solidão.
E se assim é, Senhora,
quando ouvirdes declamados estes versos,
ornada desse olhar fecundo de ideais,
imensos ideais, tão intensos, tão profundos,
sabei que vossos olhos me salvaram desses "AIS"!
Quero dizer, Senhora-dos-Astros,
quero deixar, Senhora-dos-Ciclos,
uma imensa, tão profunda gratidão ...
Sou hoje um Novo-Ser,
sinto em mim outro pulsar,
tenho um Novo-Coração!

- Poema para Maria Flávia de Monsaraz -

Inserida por Eliot

Portugal só está completo quando a Familia Real está presente, à parte isso, somos elos dispersos de uma poderosa Linhagem que não formam cadeia!

Inserida por Eliot

Movimento -

Dos Astros o movimento
é a força do meu andar
um andar sem pensamento
na alegria de só estar.

Estar todo, por inteiro,
no instante, no momento
dar à vida voz, primeiro,
só depois ao sentimento.

Na verdade é ser destino
dando vida a cada ser
e ir errando p'lo caminho
até faz parte de aprender.

Talvez tenha muito errado
não me arrependo do que fiz
o passado é só passado
o que importa é ser feliz.

Inserida por Eliot

A saudade é indiscreta -

A saudade é indiscreta
Porque chega sem convite
E age sempre como seta
Que atravessa sem limite.

Ela invade o coração
E se espalha pelo corpo
Traz tristeza, desilusão,
Ansiedade e desconforto.

E dos olhos caem sombras
Caem dores, caem lutas
Mas mais tarde voam pombas
Pelo Céu das nossas culpas.

Chega o tempo, passa a vida
Vai passando a nossa idade
Só não passa a despedida
De quem deixou essa saudade.

Inserida por Eliot

Vontade de Chorar -

Nunca pensei como seria chegar aqui.
Que momento infame,
que hora vil e cruel ...
Ter que te dizer adeus!
Que Astros há no firmamento do
teu dia?!
Para onde está direccionada a Cabeça
do Dragão?!
Quem de longe te chama?!
Já nem ouves quem te cerca!!!
Que voz é essa?! Tão forte, tão intensa,
tão profunda?!
Quem são esses que se aproximam do
teu leito e te envolvem em lençois de Luar?!
Só tenho vontadede te ver ...
Só tenho vontade de chorar ...


R.I.P. Maria Flávia de Monsaraz

A Noite dos teus olhos -

A noite dos teus olhos
veio cobrir-me o corpo de
silêncio,
as trevas invadiram os
horizontes,
o dia não voltou,
passaram sombras,
secaram fontes!

Inserida por Eliot

Paira sobre mim -

Paira sobre mim
a tua voz de silêncio
naquela casa d'onde vim
caiada de Sol e Madrugada !

Visto a dor em meu corpo ...

Algo há de oculto,
meu barco, meu porto,
minha noite sem esperança!

Nada vejo ... nada escuto ...

Há vazio e nada em meu redor,
o eco do silêncio que deixaste
na voz muda das Estrelas.

Aquela casa abandonada
grita por dentro, sem fim,
e a tua voz, cansada,
chama de longe, por mim.

Como tudo entre nós está mudado ...
Tenho frio ... estou gelado!

Inserida por Eliot

Egrégios Silêncios -

Nos egrégios silêncios de um adeus
tantos sentimentos ainda por viver
tantos sonhos que alguém disse serem seus
perdidos num amanhã por conhecer.

Há nos olhos evasivos de um mendigo
qualquer coisa de verdade e de cansado
e às vezes, na vida, somos sem-abrigo
embalando nos braços um passado.

E os egrégios silêncios são os gritos
das gaivotas enganadas pela vida,
que se partem com o vento, como vidros,
em horas de dolorosa despedida.

Talvez haja p'ra lá daqui outro amanhã,
mais inteiro, mais aberto que este mundo,
pois a esperança no silêncio não é vã
só nos resta adormecer lá bem no fundo.

Inserida por Eliot

3 Espinhos ao Nascer -

Trouxe 3 espinhos ao nascer:
dor, silêncio e solidão
e quem haveria de dizer
que me ficariam no coração?!

No lado esquerdo da vida
levei a dor por companheira
e foi em cada despedida
que a senti ser mais inteira.

Do silêncio, a horas mortas,
fiz a cama dos meus dias
mudei coisas, fechei portas,
sempre triste, mas sorria.

Do Poeta trouxe a Alma
no meu punho, em minha mão
nunca soube o que é ter calma
nasci filho da solidão.

Inserida por Eliot

Saudade em vão sentida -

Saudade em vão sentida
num adeus sem despedida
quando alguém parte p'ra sempre
e há qualquer coisa de espanto
na voz, no olhar, no canto
na Alma de quem o sente!

Quando alguém nos diz adeus
num momento, a sós, com Deus,
passam noites pela gente,
passa tudo o que fizémos
tanta coisa que dissémos
tudo acaba para sempre!

Só não morre a nossa história
feita de sombras e memória
à luz do sonho e do luar,
as manhãs ficam cansadas
as fontes amarguradas
e nós sozinhos junto ao mar.

E é no cais da despedida
que ao dizer adeus à vida
nos sentimos sem destino
e há um fado e outro fado
um lamento em vão cantado
que deixamos no caminho.

Inserida por Eliot

É preciso aprender a definir quando nos encotramos nos tempos de coruja ou nos tempos de falcão. Saber esperar quando estamos na mó de baixo e saber atacar quando temos todos os trunfos na mão!

Inserida por Eliot