Um Texto sobre a Mulher Maravilhosa

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Se eu fosse poesia, valeria mais do que parece. Se eu fosse um ato bom, valia muito mais que uma prece. Se eu fosse a vida, era a essência de tudo. Se eu fosse a mentira, preferiria nascer mudo. Se eu fosse um baseado, não seria droga e nem paz. Se eu fosse a parte de cima, não pisaria na de baixo. Se eu fosse algo além do que eu sou, se eu fosse mais do que um sonhador, ainda seria eu!

Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz. Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver. Não o sabes. Se não sais de ti, não chegas a saber quem és. O filósofo do rei, quando não tinha o que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, ao ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós.

Como um jovem com grande parte de minha vida ainda pela frente eu decidi bem cedo dar minha vida por algo absoluto e eterno. Eu não vou colocar minha a base de minha fé nos pequenos deuses que podem estar conosco em poucos momentos de prosperidade, mas no Deus que caminha conosco através do vale da sombra da morte, e nos motiva a não temer mal algum. Este é o Deus.

Me entristeceu um pouco você não gostar do título, O lustre. Exatamente pelo que você não gostou, pela pobreza dele, é que eu gosto. Nunca consegui mesmo convencer você de que eu sou pobre [...]; infelizmente, quanto mais pobre, com mais enfeites me enfeito. No dia em que eu conseguir uma forma tão pobre quanto eu o sou por dentro, em vez de carta, parece que já lhe disse, você recebe uma caixinha cheia de pó de Clarice.

Clarice Lispector
Gotlib, Nádia B. Clarice: uma vida que se conta. São Paulo: Ática, 1995.

Nota: Trecho de carta para Lúcio Cardoso, de novembro de 1944.

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Sim, ando sempre com um sorriso estampado no rosto. Mas isso não quer dizer que eu não passe por momentos difíceis. Às vezes, mesmo com um nó no peito decido sorrir. Não por hipocrisia, apenas acho que é melhor semear sorrisos e estar aparentemente feliz do que triste. E tristeza não combina com Deus, ele me consola, abraça, refaz, e ele deseja me ver sorrindo, aparentando ser forte mesmo com todas as coisas ruins que acontecem em minha vida, e só de saber que ele se dedica pra me ver feliz, já é um motivo pra realmente me sentir assim.

Não sei o que posso parecer para o mundo, para mim mesmo, porém, parece ter sido somente como um menino que brinca à beira do mar, tendo me distraído me encontrar vez por outra um seixo mais liso ou mais bonito que o comum, enquanto o imenso oceano da verdade se estende à minha frente, inteiramente desconhecido.

"Se eu manejasse um arado, pastoreasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse uma veste, ninguém me daria atenção, poucos me observariam, raras pessoas me censurariam e eu poderia facilmente agradar a todos. Mas, por ser eu delineador do campo da natureza, por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos."

E sou rancorosa. Um dia um casal me convidou para almoçar no domingo. E no sábado de tarde, assim, à última hora, me avisaram que o almoço não podia ser porque tinham que almoçar com um homem estrangeiro muito importante. Por que não me convidaram também? por que me deixaram sozinha no domingo? Então me vinguei. Não sou boazinha. Não os procurei mais. E não aceitarei mais convite deles. Pão pão, queijo queijo.

Clarice Lispector
Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.

Nota: Trecho do conto Dia após dia.

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Eu sou tarada por poá branco e preto. Fundo preto, bolinhas brancas. Cada bolinha é um elemento, um tempero, uma parte do conjunto, uma peça, um passo, uma evolução, um aprendizado. Cada bolinha é um símbolo. Cada símbolo é uma conquista. Cada conquista é suada, batalhada. Porque o amor é não querer desistir, pelo contrário, é resistir, não arredar o pé, querer ficar, querer tentar. O amor é uma eterna tentativa. É a busca por mais uma bolinha. É querer preencher os espaços, o vazio, o fundo de uma só cor. O amor é poá. E a gente completa ele do jeito que quiser.

Muito bem. Agora sou um homem sem comida, com dois dedos a menos na mão e um a menos no pé do que tinha quando nasci; sou um pistoleiro com balas que não podem disparar; estou passando mal por causa da mordida de um monstro e não tenho medicamentos; tenho água para um dia com sorte; posso conseguir andar talvez uns vinte quilômetros se puser em ação minhas últimas forças. Sou, em suma, um homem à beira de qualquer coisa.

altam palavras, descrições, canções. Falta tanta coisa para sentir o que um dia sentimos. Falta coragem de assumir, coragem de esquecer, coragem de fazer diferente mesmo quando o que se sente continua igual. E hoje, ao pensar no que escrever eu só consigo me lembrar de uma frase: “Te amo tanto, tanto, tanto que te deixo em paz.” E sei que você vai ler, e vai me dizer que leu e vai me perguntar se era pra você. E mais uma vez vai me dizer que não quer me machucar. E eu vou entender. Não vou cobrar nada porque já fomos longe demais. E no fundo eu só quero que você guarde um pouco mais. E que daqui a muitos e muitos anos nossa memória consiga se lembrar dos nossos jeitos, sorrisos e momentos. Que o tempo nos permita alguns reencontros sem culpas porque é bom sentir sempre mais uma vez. Porque mesmo a gente voltando para outros abraços só o nosso valerá a pena. —

Não quero um amor de cinema. Quero um amor de arrepiar os dentes, de gelar a barriga, de perder o controle, de tremer as pernas. Quero alguém que me mande sms as 3 da madrugada dizendo que sentiu minha falta, quero um bilhete escrito meu nome achado por engano no meio do seu caderno. Quero amar sabe? Quero amar hoje e amanhã, quero fechar os olhos e entender que sou sua maior fã Não quero um amor de filme, quero um amor de verdade, mas além disso, quero que esse amor seja pra sempre você.

Não espere um bom motivo para ser feliz. Não espere um dia perfeito, muitos amigos e muito dinheiro pra ser feliz. Seja feliz pelo simples motivo de poder esperar um dia perfeito, de ter voz para dizer coisas boas ao amigos quando eles existirem e saúde para trabalhar e conquistar seu próprio dinheiro. Não espere o sol se você tem a chuva, não espere o dia se você tem a noite. Não espere o amanhã pra ser feliz… Seja feliz hoje, agora... sempre!

A paixão é um pânico das emoções, e como o pânico — que nisto se distingue do medo — estilhaça a inibição, desorienta o espírito, vira o indivíduo contra as suas próprias aquisições mentais superiores, e muitas vezes o conduz a fazer o que mal sabe que faz, ou que a própria paixão se fosse menor, como o pânico se não fosse mais que medo, o levaria ou aconselharia a não fazer.

Fernando Pessoa
Pessoa inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

O cristianismo nos afirma que há um homem invisível, que vive no céu e vigia tudo o que fazemos, o tempo todo. O homem invisível tem uma lista de 10 coisas que ele não quer que a gente faça. Se você fizer qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você!

George Carlin

Nota: Trecho adaptado de um texto do autor.

Conta a história de uma jovem que tinha um relacionamento difícil com o pai. Quase nunca conversavam, mas surgiu a oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria um bom momento para se aproximarem. Durante o trajeto, o pai, que estava na direção, comentou sobre a sujeira e degradação de um córrego que acompanhava a estrada. A garota olhou para o córrego a seu lado e viu águas límpidas, um cenário de paraiso. E teve a certeza de que ela e o pai realmente não tinham a mesma visão da vida. Seguiram a viagem sem trocar mais palavras." Muitos anos depois, esta mulher fez a mesma viagem, pela mesma estrada, desta vez com uma amiga. Estando agora ao volante, ela surpreendeu-se: do lado esquerdo, o córrego era realmente feio e poluído, como seu pai havia descrito, ao contrário do belo córrego que ficava do lado direito da pista. E uma tristeza profunda se abateu sobre ela por não ter levado em consideração o então comentário de seu pai, que a esta altura já havia falecido.Parece uma parábola, mas acontece todo dia: a gente só tem olhos para o que mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que a gente vê é o que vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente.A mesma estrada, para uns, é infinita, e para outros, curta. Para uns, o pedágio sai caro; para outros, não pesa no bolso. Boa parte dos brasileiros acredita que o país está melhorando, enquanto que a outra perdeu totalmente a esperança. Alguns celebram a tecnologia como um fator evolutivo da sociedade, outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias. Uns enxergam nossa cultura estagnada, outros aplaudem a crescente diversidade. Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua própria paisagem.Eu costumo dar uma espiada no ângulo de visão do vizinho. Me deixa menos enclausurada nos meus próprios pontos de vista, mas, em contrapartida, me tira a certeza de tudo. Dependendo de onde se esteja posicionado, a razão pode estar do nosso lado, mas a perderemos assim que trocarmos de lugar. Só possuindo uma visão de 360 graus para nos declararmos sábios. E a sabedoria recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos enfáticos, pois todos estão certos e todos estão errados em algum aspecto da análise. É o triunfo da dúvida.

Nesse momento minha inspiração dói em todo o meu corpo. Mais um instante e ela precisará ser mais do que uma inspiração. E em vez dessa felicidade asfixiante, como um excesso de ar, sentirei nítida a impotência de ter mais do que uma inspiração, de ultrapassá-la, de possuir a própria coisa – e ser realmente uma estrela. Aonde leva a loucura, a loucura.

Clarice Lispector
Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quando toca uma música bonita, minha ironia assovia mais alto. Um assovio sem melodia. Um assovio mecânico mas cuidadoso, como tomar banho ou colocar meias. Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos do que isso que sinto.

Como pode o Estado – isto é, um delegado de polícia, um promotor de justiça ou um juiz de direito – impor a uma mulher, nas semanas iniciais da gestação, que a leve a termo, como se tratasse de um útero a serviço da sociedade, e não de uma pessoa autônoma, no gozo de plena capacidade de ser, pensar e viver a própria vida?

De algum modo cada um de nós oferecia sua vida a uma impossibilidade. Mas era verdade também que a impossibilidade terminava por ficar mais perto de nossos dedos que nós mesmos, pois a realidade pertence a Deus.” Martim pensou depois que temos um corpo e uma alma e um querer e os nossos filhos – e no entanto o que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Clarice Lispector
A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.