Um dia Vamos nos Conhecer

Flor de cerejeira,
cuco, lua e neve:
já lá se vai um ano!

DO MAR

Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.

A autoridade é necessária para tutelar a liberdade de cada um contra a invasão de todos, e a liberdade de todos contra os atentados de cada um.

A recordação é activa. Não é um objecto perdido que se encontrou. Ela faz crescer a massa do presente e do futuro.

Cada um só porque fala, julga também saber falar da linguagem.

O jogo é um corpo-a-corpo com o destino.

O objetivo é sermos felizes. Só lá chegamos lentamente. Isso exige um trabalho quotidiano.

Há, sim, um direito do mais sábio, mas não um direito do mais forte.

É muito mais contrário ao pudor ir para a cama com um homem que se viu apenas duas vezes, depois de três palavras em latim na igreja, do que ceder, mesmo contra a própria vontade, a um homem que se adora há dois anos.

Um amoroso é um homem que se empenha em ter mais amor do que lhe é possível ter, e essa é a razão por que todos os homens amorosos parecem ridículos.

O que é terrível na culpa é que ela atribui ao medo, o maior mal que existe no mundo, um enorme direito.

Um dos grandes segredos da sabedoria económica é saber aquilo que se não sabe.

Um só desejo basta para povoar um mundo.

Um bom conselho a tempo e em certas conjecturas é um benefício precioso.

Um favor pago envilece aquele que o recebe e desonra aquele que o concede.

A gula é um vício que nunca acaba, e é aquele vício que cresce sempre, quanto mais o homem envelhece.

Se dois homens no mesmo emprego concordam sempre entre si, então um é inútil. Se discordam sempre, então ambos são inúteis.

Um passo a mais para nos perdermos e reencontramo-nos.

Um versificador não considera ninguém digno de ser juiz dos seus versos; se alguém não faz versos, não sabe nada do assunto; se faz, é seu rival.

A civilização é um progresso de homogeneidade indefinida e incoerente rumo a uma heterogeneidade definida e coerente.