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O estrangeiro vive na mira inquieta de todos nós, ele mora aqui, também aí. Habita nos sonhos e planos que atravessam as vigílias da desolação. Se refresca em qualquer entusiasmo que inicialmente contempla a incitação. Ele é o novo e o velho atraído pela ilusão, e que nos move pelas cadeias da pulsão. E é estando só que conhecemos essa intimidade que manifesta, esse estrangeiro, desconhecido, amigo, inimigo, audaz, atrevido que habita em nossas mansões.
E do tempo temos a dor, mas também o amor. E o estrangeiro zomba da própria decisão. Mas são as vãs repetições que florescem a vida na estação. E ao passar pelo caminho já percorrido, não é difícil perceber o vacilo dos passos repetidos e a força do estrangeiro movida em uma frustração.
Da cor ao amor tudo se repete, até o estranho em nós. Da amargura a cura, com giz de “cera” reescrevemos a solidão, e quem dirá que essa cera já não serviu de vela em outra ocasião. Nada pode ser acrescentado do ventre que nós fomos tirados. Estar só será sempre nossa distração.
O amor pode preencher o enredo de uma história, mas nem um, nem dois amores podem ocupar o coração. São três cubos de estranheza a habitação das emoções, e cada um que se eleve na possessão dessa proeza.
O estrangeiro é o que temos na saga da desilusão.É de imaginação que tudo sobrevive. E a fantasia é um guia que se rende a sublimação. A vida é esse bem absurdo e o estrangeiro é essa perfeição. Nenhuma mira é certa, toda ela é distorcida pela ilusão.
Bem verdade…Não há sossego para o coração!
Katiana Santiago
Para este, não adianta
passaporte, tampouco tradutor:
O mais estrangeiro dos homens
ainda é o sonhador.
Os artistas, escritores, cineastas e outros, descrevem e gostam de personagens que estejam na situação de estrangeiros,
porque o estrangeiro, por si só, guarda dentro dele personagens e personalidades com várias nacionalidades num único sujeito.
Para escrever sobre a terceira identidade do estrangeiro, o filme Terra Estrangeira foi a primeira percepção que veio à mente, justamente porque o filme fala do nosso país, vendo-o do lado externo da sua
costura idiossincrática
A terceira identidade do estrangeiro, portanto, é como a lâmina de uma gilete, afiada dos dois lados, pois consegue absorver
registros de ambas as nações
O casal tem como aliança afetiva a frustração da vida. Ela encontra em Paco a juventude perdida, sepultada pela solidão de tantos anos no estrangeiro. A trilha sonora Vapor Barato, composição de Macalé (década de 1970), na voz de Gal Costa, reforça e veste com harmonia a metáfora amorosa vivenciada pelo casal
para quem nada resta apenas o amor
A poesia pela qual o filme está embrulhado, dentro da cena do velho navio encalhado no mar (que vai de encontro com a letra da música Vapor Barato). A simbologia desta imagem leva-nos a pensar que ela representa a impossibilidade de seguir ou retroceder, tal como os dois personagens que permanecem estáticos dentro do
contexto da clandestinidade, numa vida reticente, sendo corroída pelo tempo, como uma matéria bruta, como o velho navio enferrujado que não chegou ao destino final.
O filme, todo em preto e branco, reforça a imagem de um clima de ausência de cores na vida das pessoas e do país, para melhor demarcar seu contexto histórico.
Terra Estrangeira na sua linguagem artística, conta de forma subliminar como o ‘herói’ Collor, que trocara seu cavalo branco por
um jet-sky, promovera a entrada do capital estrangeiro no Brasil e a retenção do próprio capital nacional aqui.
Em terra de sentimento, ninguém é estrangeiro, todas as pessoas olham, sorriem, abraçam e amam no mesmo idioma.
"Sumir-me-ei entra a névoa, como um estrangeiro a tudo, ilha humana desprendida do sonho do mar e navio com ser supérfluo à tona de tudo”.
(Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa (PDF))
Filho, notável brilho
Armadilha da falsa ilha
Viagem de bela imagem
Malabarista da conquista
Amado deste condado
Dom pra virar som
Alegria, que maestria
Memória conta vitória
Ao Mundo se diz profundo
Menino parte pro ensino
Estrangeiro com cara de brasileiro
Mágicas bolas finas estolas
Sonha seu sonho cegonha
Lona que traz a tona
Circo rico pobre mico
Fantasia pura doçura
Meu menino escuta o sino
Busca felicidade noutra cidade
Mais um ensaio cansaço baio
Dança das esferas, loucas quimeras!
Ao meu filho Marcelo , psicólogo dos Malabares, que procura um lugar num mundo ou procura o Mundo no seu próprio lugar!
Estrangeiro
Sou nada e nunca serei algo,
Este pobre eu não me convence,
O interior é o meu palco,
O exterior não me pertence.
Eu recuso-me a ser o que sou,
Eu insisto em ser o que sonho,
Este caminho para onde vou,
É o lugar no qual não me ponho.
Sou uma triste peça perdida
Neste puzzle, no qual não pertenço,
Pelo instinto, perduro a vida,
Mas acabo-a pelo que penso.
O fim duma pobre criatura,
É o pecado que me perdura,
Esta minha insignificância,
A minha falta de importância.
Vivo, vivendo dos meus sentidos,
Mesmo sem fazer sentido deles,
Eles, fazem sentido do que sentem,
Mas não sentem o que faz sentido.
Tenho sentido a luta interna,
Que vai dentro dos que são próximos,
Dizem-se fonte de luz externa,
Mas no perigo são anónimos.
Sou nada e nunca serei algo,
Este pobre eu não me convence,
Sou nada e nunca serei algo,
Mas sei que a tudo o amor vence.
A Língua falada no Brasil sofreu tanta influência de termos estrangeiros, que até o livro de definição de suas palavras, o ‘Aurélio’, é de ‘Holanda’.
Não sei ao certo porque o brasileiro cultua tanto os estrangeiros, devem achar os paus deles mais gostosos que os locais, para que isso aconteça.
PASSAGEIRO
Quem passou
É passageiro
Se demorou
Tornou-se estrangeiro
Ficou mais que devia
Tornou-se ultrapassado
Passou mais que ligeiro
Deixou-me engomado
Fez vinco
Dobrou e tudo
Deixou-me arcaico
Proprietário de lembranças
Cobrou aluguel por esperanças
A um passo
De por à venda
Calendários
Quase mofados
A vida é feita de escolhas, principalmente quando se é trabalhador de uma herança digna mas sem muitos recursos. Sendo assim, entre viajar o mundo e conhecer belos lugares estrangeiros, preferi desde cedo ficar por aqui e passear dentro de minha nação, mesmo que muitas vezes por coração, por toda diversidade artística e cultural brasileira.
