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⁠A culpa é da palavra.

Não há nada mais apocalíptico do que o nascimento de uma palavra, para determinar possíveis males.
Me recordo quando na infância, carinhosamente era chamado aos berros pelos meus amigos por alguma alcunha ( Japão, japonês preto, índio) e, da mesma forma, retribuía aos apelidos, distribuindo outros.
Era comum, piadas sobre os diversos gêneros, raças, credos, nacionalidades, enfim.
Qual brasileiro nunca ouviu uma piada de português? Como também era comum, entre os meninos, a guerra de mamonas, o troca-tapas em algumas brincadeiras infantis como um tal de "garrafão". Era tapa para todo lado.
Mas, em determinado momento desta maravilhosa modernidade e evolução social, pessoas se sentindo ofendidas e, achando que esse comportamento era inadequado, fez gestar as palavras: bullying, estresse, depressão.
A partir daí, tudo ficou ofensivo e todos ficaram horrorizados com essas práticas. Destaca-se a hipocrisia do comportamento humano em detrimento a esses temas, como a mais pura qualidade do ser humano. Jornais, revistas, meios de comunicação. Denúncias das mais diversas saltaram ao alvorecer.
Bullyinólogos, estressólogos, depressólogos, mimissólogos. Todos empunhando uma bandeira contra essas ações, agora horrendas. Doentes gerando doença. 
Que depressão, estresse, bullying podem levar a uma doença, tendo como resultado a morte, isso pode ocorrer. A exemplo, descobri a pouco tempo que o ovo, que também é um uma pequena parte, produto de amor dos galináceos, faz mal a saúde, parei de comer ovo, depois vi uma pesquisa na qual afirmava que o ovo faz bem, fiquei em dúvida, a dúvida gerou estresse, com medo de comer ou não, o ovo, se necessário ou não à minha saúde, fui parar no psicólogo, e após várias sessões, me encaminhou ao psiquiatra, que disse que eu estava depressivo, e me deu remédios. Graças a Deus, descobriram minha doença.
Falando em doença, que saudade de ouvir a simples palavra: "Virose, é só uma virose". Ou seja, toca o carro, se estragar a gente tenta consertar.
Hoje queremos ter um diagnóstico, um nome. Saímos felizes quando temos um nome de qualquer enfermidade. Eureka, #seiminhadoença.
E falando em eureka, descobriram a pouco que tem um vírus no Brasil desde novembro do ano passado. E que talvez, ele esteja há mais tempo aqui é há mais tempo ainda em outros países. Mas, aí veio alguém, o batizou e disse, você se chamará CORONA VIRUS, ou COVID-19, pronto, armou-se o caos. 
Embora Deus no Velho Testamento condene a estultícia, a ignorância as vezes pode ser uma benção.
Pense e reflita.
Paz e bem.
Ilumine seu dia.

Inserida por Massako

⁠Não me conheça

Eu sempre busquei ser mais reservado. Calado. Quieto. Sempre gostei da minha companhia. Gosto de autoconhecer-me.
Nunca fui um cara de pedir para que as pessoas me compreendam. Nunca fui de ter que me explicar quando alguém acha que me conhece, mas mostra-se equivocado quanto a isso.
Não quero que ninguém busque me entender sem antes entender-se. Sem antes entender as suas próprias emoções, sentimentos e desejos.
Não gosto que alguém chegue a mim julgando-me por eu ser assim (…). Não gosto de moldes, não gosto de molduras, não gosto de formas definidas que tentam me encaixar em padrões.
Eu gosto da minha liberdade. Gosto de fluir em mim. Gosto da minha intimidade. E eu vou lutar sempre para ser assim (…)
Entre reticências, eu posso caber sem fim em mim.

— Ruan Guimar

Inserida por userpensador

⁠IMPOSTO EMBUTIDO NAS CALCINHAS
Juvenal era um cara que só trabalhava duro. O coitado tinha mulher, quatro filhos, um cachorro e um papagaio. O dinheiro não dava para nada. Para complicar tinha o raio do imposto no meio do caminho. Era como um pedregulho! Tomava o café da manhã já pagando imposto. Já não passava manteiga no pão. Pra quê? Vinha recheado de imposto!
Um dia a mulher falou:
- Preciso comprar umas calcinhas, as minhas estão puro trapos. Não dá para viver assim homem!
Ele respondeu:
- Mulher, calcinhas pra quê? Anda sem calcinhas! Andar sem elas não paga imposto, agora se você comprá-las elas virão etiquetadas com impostos, e você nem vai perceber. Não aguento mais pagar impostos. Comida tem imposto, diversão tem imposto, assistir televisão tem imposto... Para onde vai esse bendito imposto. Já sei. Vai para o Senhor Impostor! Ele deve ser o mais rico do mundo. O Senhor Impostor pega todos os impostos e ri da cara da gente! Ele come pão recheado de caviar.
E continuou o homem a falar:
- Já estou pensando até no imposto da funerária quando você morrer.
A mulher olhou espantada para o marido! Ela iria completar cinquenta anos, mas ainda era jovem e vistosa. Como pensar em morte? Gozava de boa saúde. O raio de homem! Estava doido! Só porque precisava de umas míseras calcinhas?
Pensou:
Juvenal está ficando maluco! Ou quer que eu morra. Vou ter que andar sem calcinhas só para economizar impostos para pagar o meu funeral? O homem enlouqueceu de vez!
Muito braba chamou o marido e falou:
- Escuta aqui Juvenal, que história doida é essa? Quer que eu morra logo? Assim paga logo o imposto do funeral e fica livre?
O homem respondeu:
- Mulher pare de falar e pense. Na vida são impostos para tudo! Tudo vai para o Senhor Impostor. Dizem que ele faz melhorias para a população, mas é mentira! Fica com tudo para ele. Eu já não uso cuecas e qualquer dia vou andar nu. Assim, não pago o imposto embutido na roupa. Que mal tem andar sem calcinhas? Ninguém vai saber. Só se contar.
O homem estava tão revoltado de dar dinheiro para o Senhor Impostor que havia uma completa recessão em casa. Todos estavam tendo que se abster de algo. Agora chegou a vez das calcinhas, ora!
Gritava com todos:
- Economizem água, economizem luz, comam menos, não comprem roupas novas, nada de celular aqui, só duas horas de televisão por dia, nada de ventilador ligado!
Juvenal estava tão estressado que teve um piripaque.
Foi parar em um hospital público, é claro, não tinha plano saúde. Será que o Senhor Impostor fazia alguma melhoria no hospital? Que nada!
Juvenal morreu por falta de medicação! E a mulher teve que se virar para pagar o funeral. Lá foi o imposto embutido no que tanto o homem já estava preocupado.
E assim, a mulher teve que se virar com uma magra pensão. Os cortes em casa pioraram ainda mais.
Coitada! Passou a andar sem calcinhas.

Dia do Escritor

[...] A gente começa a escrever por que não pode ou não consegue falar, continua escrevendo por que não quer se calar, daí se percebe escrevendo por que internamente os monstros estão grandes demais, incontroláveis e impassíveis, eles se tornam verdadeiros devoradores de silêncios que nos consomem dia após dia vorazmente.

Inserida por JWPapa

“O Caos na Avenida Central”

No principio era um dia como outro qualquer; um dia de folga.
Aproveitei então para resolver questões pessoais de rotina.
Já não era mais cedo, também ainda não era tão tarde. Afinal era uma tarde.
Enquanto eu caminhava pela avenida central, percebi que algo além do normal pairava pelos ares. Pressenti que o clima era tenso. Observei a reação das pessoas que ali passavam; e de outras que ali permaneciam.
Uma criança chorava no colo da mãe, que se apressava em atravessar a rua. Outras maiores eram imediatamente puxadas pelo braço em companhia de seus pais. A senhora se ajeitava com sua sacola de compras.
Em instantes percebi que pessoas corriam pela calçada. A tensão era constante e progressiva.
Pessoas se refugiavam em algum canto, outras procuravam abrigo onde houvesse.
Seu Joaquim da padaria imediatamente tratou de baixar uma das portas.
O grupo de estudantes se aglomerava no ponto de ônibus, e logo se espremiam para entrar na condução.
O ciclista em desespero largou sua bicicleta e correu para o armazém.
Percebi então que a tensão aumentava e a reação das pessoas era cada vez mais freqüente e conturbada; O desespero era notório em meio a tamanha confusão.
Os ambulantes tratavam logo de recolher suas mercadorias, outros se apressavam em baixar suas barracas.
Moradores locais espiavam das sacadas, e logo davam jeito de fechar suas janelas.
Em meio a toda algazarra surgiam homens da guarda municipal que corriam em direção a marquise.
Mais adiante, militares com seus cães atravessaram a rua em direção ao ponto de ônibus; outros se adentravam na galeria comercial.
Um soldado fazia gestos para o restante da tropa que rodeava o quarteirão.
Os pombos assustados levantaram vôo.
Pardais rodeavam a torre da catedral e logo sumiam entre os prédios.
Ouviam-se barulhos. As vezes agudos, as vezes mais graves.
Logo as barracas eram aos poucos atingidas.
Os automóveis estacionados, nem mesmo os que estavam em movimento escaparam.
Pessoas que não se abrigavam, ou aquelas que andavam distraídas também eram atingidas. Alguns ainda tentavam correr para um lugar seguro.
Enquanto eu permanecia ali, imóvel, observando toda aquela algazarra...
Fui atingido no ombro direito, depois no esquerdo... Naquele momento fiquei sem reação.
Fui atingido novamente no ombro direito, depois no braço, no peito...
Ouviam-se vozes gritando: Saia logo daí!
Percebi então que a rua se embranquecia pelo granizo que caía do Céu.
A chuva era o de menos; molhava, mas inicialmente não fazia mal.
Mas o granizo quando batia na cabeça, incomodava bastante.
Fui imediatamente para a marquise e esperei que a chuva passasse.
Fiquei ali o resto da tarde observando o caos da tempestade inesperada que agitava a correria urbana.
(Carlos Figueredo)

Inserida por carlosfigueiredo

O tempo

Sou o tempo e tenho o meu papel a desenvolver, eu não paro nunca e jamais pararei.

Percebe-se que devo seguir o meu percurso.
Eu o tempo não faço perguntas.

Como também não o questiono, se vai, para onde, ou se vai ficar.

Eu sou o tempo logo, portanto não tenho começo, como também não tenho fim, De repente sou invisível aos olhos e coisas!

Logo o tempo não passa
O tempo deixa que passemos por ele.
O tempo não nós pergunta?
Ora já é tempo, tá no tempo
eis chegada a hora.
O tempo pode ser até calculado,
porém o tempo não tem medida certa.

O tempo é projetado
O tempo é invisível
O tempo é um estado
O tempo é o senhor tempo
O tempo não pede passagem
O tempo tem o seu tempo
O tempo segue o percurso
O tempo não define a hora
O tempo não estabelece momentos
O tempo não dar condição
O tempo não espera o amor
O tempo é perdão
O tempo não guarda rancor
O tempo é solidão
O tempo não descrimina
O tempo é solidário
O tempo não quer desilusão
O tempo é perseverante
O tempo não passa.

O tempo não passa!
O tempo deixa que passemos por ele.

O tempo não permite e não aceita, que daremos um tempo.
Como poderia se o tempo não é nosso!

Ora! Ora!
Oxente!
Más como poderei seguir senhor tempo, para mim ter tempo, dar um tempo, nesses tempos de isolamento e solidão, se faz necessário para que não apenas olhe pela janela e veja o senhor tempo passar.

Não!
Como poderei assim fazê-lo meu caro ser, eu nunca paro, o meu percurso deve ser contínuo, não há estação, muito menos paradas obrigatórias.
Vocês homens tem essa mania de querer me controlar.

Ora essa!
Como poderei lhe esperar se tenho que seguir, percebe que agora tá claro, e logo daqui a pouco tá escuro, pois bem, eu meu caro amigo tenho que seguir o meu curso. Se agora tá nítido e daqui a pouco nem tanto é porque eu não paro nunca, há ia me esquecendo vocês homens, inventam e inventam coisas, como exemplo as novas tecnologias, que causa o ilusório de aproximação, não percerbem portanto que sou eu o tempo, e que não tenho tempo para estar perto ou longe, eu o senhor tempo não estou nem longe nem perto, apenas estou passando de forma sincronizada, sem pressa e muito menos exageros, pois sei que sou contínuo e que tenho tempo para que o tempo exerça seu percurso no tempo hábil de deixar momentos de escuridão, más sabendo que como o senhor tempo darei luz e clariarei suas vidas, porém saibas que sou o tempo e o tempo não é muito e nem pouco apenas o tempo.

João Almir

Inserida por JoaoAlmir

A FIDELIDADE não pode ser
um sacrifício do seu corpo,
nem um esforço
do seu comportamento,
mas a manifestação
do sentimento que diz:
"o seu amor me basta".
Porque a FIDELIDADE é fruto do amor
e não a sua prova.

(Walmir Monteiro - Crônica Existencial)

Inserida por wmonteiro.walmir

Luzes e sombras nos caminhos da vida.

Os caminhos da vida têm trajetórias surpreendentes.

Quando somos jovens, acreditamos que a felicidade é uma questão de tempo. Durante a nossa vida, imaginamos que teremos várias amizades, seremos felizes, ficaremos velhos e teremos o amparado de familiares e amigos, sempre cumprindo tudo que pretendíamos fazer nesta vida. Mas não é bem assim. As luzes e as sombras dos caminhos da vida acontecem durante as trajetórias.

Nos trechos iluminados, tudo gira a seu favor. São os trechos da harmonia, onde surgem as parcerias, a admiração e a cumplicidade. São os trechos dos companheiros e dos interesses. A quantidade de companheiros aumenta ou diminui de acordo com a sua posição na sociedade. Chega um momento em que você confunde companheiros com amigos.

Mas há os trechos com sombras onde encontramos dificuldades para passar. São nesses trechos que os companheiros desaparecem e ficam apenas os amigos. E o quantitativo de amigos é medido pelas suas necessidades, ou seja, quanto mais necessidade, menos amigos.

Você descobre que poucas pessoas têm a capacidade de se doar e de ajudar você com as mudanças que surgem pelos caminhos. Muitos dividem as suas alegrias, mas poucos têm a habilidade de dividir suas tristezas.

São nesses trechos que ficamos mais maduros e passamos a administrar melhor nossas caminhadas. Descobrimos que temos menos trechos para caminhar do que o que caminhamos até agora. Já não escolhemos reuniões intermináveis, discussões, pois nosso tempo é curto e devemos aproveitá-lo ao máximo. Portanto, valorize quem está com você nas luzes, mas principalmente, valorize quem está com você nas sombras dos caminhos da vida.

Inserida por LUIZGMARTINS

Eu vejo...

Com meu pai no carro
Ele diz que quer passear .
Eu, como uma garota desse novo mundo
Não quero nem ligar.
Meu pai, dirige pela estrada de cimento
Que depois é tomado ,por terras e pedras .

Ao chegar no destino, nas serras
Abre-se as portas .
Não saiu nem um pouco , lá fora
Trancada, prefiro ficar
Até que, uma voz , chega ao meu lado
E me pergunta: "quer voar?"

Animada fiquei ; fui voar
Colocaram-se equipamentos de voo
Um moço me segura por trás, para ficar bem firme, no equipamento .
Houve alguns desentendimentos com o vento ,
Até que, enfim, fomos no ar.

No voo,pude ver pessoas , vaca, carro e estradas, tudo pequeno.
Mas, ao olhar , diretamente ao céu
Lá estava...aquela pequena esperança
Que havia nascido, mas já se ponha...
Aquele laranja, fogo ardente, sedo tomado
Pelo escuro, de pequenas estrelas.

Inserida por Yasmin_335

A CRÕNICA é um gênero de entretenimento. O romancista, o poeta e o contista não precisam e é bom que não precisem entreter o leitor. O cronista é um cara que aparece no século 19, com a imprensa, e a crônica surge para amaciar o jornal. Uma espécie de recreio do jornal, em que o leitor está lendo sobre absurdos, dá uma respirada. É uma brisa no jornal. Então, tenho essa consciência de que meu papel ali é de entreter o leitor. Entretenimento é visto, geralmente, com preconceito. Como se o entretenimento fosse inimigo da reflexão e da profundidade. Eu discordo. Você pode entreter pelo humor, pela comédia, pelo lirismo. Nosso maior cronista, Rubem Braga, não é um cronista que tinha o humor como sua principal característica. Ele era, principalmente, lírico. Muitas vezes, a crônica dele é triste e nos deixa tristes, mas a tristeza pode ser, de certa forma, uma maneira de entretenimento. Uma certa melancolia é uma maneira de saborear a vida e encará-la. Tenho isso em vista quando escrevo crônicas: chegar até meu público e tentar falar alguma coisa que seja prazerosa.

Inserida por EmOutrasPalavras

O roteiro é antípoda da crônica: você não tem narrador, o texto precisa de história. Não dá para fazer um filme em que nada acontece. Já a crônica é uma forma de você contar o incontável: sacar uma entrelinha numa atitude minúscula. Acho bacana trabalhar esses dois pontos tão distantes.

Inserida por EmOutrasPalavras

A crônica é uma forma de você contar o incontável: sacar uma entrelinha numa atitude minúscula.

Inserida por EmOutrasPalavras

VIA-LÁCTEA...

Lalala, é o único pensamento racional que me vem a mente, não saber nada da vasta expansão, sobre o que as pessoas pensam, o que querem dizer com seus gestos e olhares, que na verdade não revelam muita coisa. E como eu me sinto? Sim, agonia, talvez seja isso mesmo, como se meu fraco e lamentável cerebro pedisse por informações que jamais lhe seriam concedidas. Sabe, é engraçado pensar como um filósofo, que nunca terá a resposta da sua melhor pergunta respondida, envelhece e morre, com a agonia de desprover da mesma, qual sera a solução para esse lamento? Esse sentimento de angústia que me leva a pensar ~estaria minha impulsiva e questionadora mente errada?~ será que um simples "oi", ou um "tchau" poderiam ser interpretados como uma forma de acrasia ? E o amor, ah, o doce sentimento que muitas vezes é confundido com a artificial e momentânea dependência. É vivendo para ver que a vida não é como um filme ou um desenho animado no qual "a dama fica com o vagabundo, o excluido fica com a menina da escola (ou trabalho) a sinderela fica com o príncipe encantado, e a bela fica com a fera". Para a tristeza de muitos não, não é assim.
Se eu pudesse dizer tudo o que penso nesse papel seria quase como se tirasse o peso da via-láctea de minhas costas o que provavelmente não será possível...lalala.

Inserida por luiz_felipe_martins

Um ser em seu leito de conforto aguarda o final de mais um
corriqueiro dia. De repente, uma explosão acontece, um evento é
desencadeado, tornando todo o habitual em um repentino
revolucionário estado de comoção mundial.
Este ser, chamado ninguém mais ninguém menos que ninguém, age em
torno desta anomalia em sua rotina, toma providências na
resolução do tal.
Primeiro raciocina o que deve fazer, elabora um plano, redige
regras, passos, ações.
Logo em seguida, discorda de todo o pensado diante das mudanças
na mudança, então resolve tentar outra técnica, uma mais
arriscada e condizente com o seu oposto, o famoso e temido
improviso, o aleatório, ou popularmente, o que o coração mandar.
Por fim, faz o tal segundo pensar, resolve o problema, quer
dizer, meio que resolve.
De repente, ouve um bipe, um chamado talvez?. Não, era o micro-ondas avisando que a refeição estava pronta. Ele dá de ombros,
pega seu alimento, se senta na varanda e admira o sol que mais
um dia sobe em seu altar, nos contempla e depois nos deixa,
procrastinando minuto por minuto sua saída, para nos deixar aqui,
solitários, cegos, sem a sua luz iluminada e fadados a alienação
da compaixão mundial.

Inserida por edf404

Estar apaixonado é diferente. Um diferente bom, mas estranho.
Tudo parece ser uma indireta: um documentário no televisor; uma cena de um filme ou até seu próprio pensamento.
É estranho para um adolescente de poucos anos estar escrevendo sobre amor – O que ele sabe sobre amar? – E eu te respondo com toda a polidez possível; Estou mais perdido do que uma lágrima na chuva, um sopro numa ventania ou um adolescente num site de escritores e leitores.

Inserida por Jairo

⁠O Ouro Verde da Fronteira

Nas margens da Laguna Punta Porã, onde o Brasil e o Paraguai se tocam com as mãos entrelaçadas, a história da erva-mate floresceu como um elo entre povos, terras e destinos. 

Antes mesmo de as fronteiras serem traçadas no mapa, a planta nativa já era cultivada pelos guaranis, que a consideravam sagrada. Com a chegada dos colonizadores e das missões jesuíticas, a erva-mate passou a circular além dos limites da mata, tornando-se mercadoria e símbolo de riqueza.

No pós-Guerra do Paraguai, a economia local foi devastada, mas a erva-mate emergiu como um novo ciclo econômico. A Companhia Matte Laranjeira, fundada por Thomaz Larangeira, explorou o potencial da planta, estabelecendo-se em Porto Murtinho e expandindo suas operações. 

A produção e exportação de erva-mate impulsionaram o desenvolvimento da região, tornando Ponta Porã um centro produtor e exportador de destaque.

A erva-mate, conhecida como "ouro verde", desempenhou um papel crucial na formação da identidade cultural da região. O tereré, bebida típica feita com a planta, tornou-se símbolo de hospitalidade e convivência entre brasileiros e paraguaios. As rodas de tereré, compartilhadas em praças e ruas, representam a união e a amizade que transcendem fronteiras.

Com o tempo, a produção de erva-mate enfrentou desafios, incluindo crises econômicas e mudanças no mercado. No entanto, a planta continua a ser um elemento central na cultura da região, presente nas tradições, na culinária e no cotidiano das pessoas.

Assim, a erva-mate permanece como um testemunho vivo da história e da cultura da fronteira, conectando passado e presente, Brasil e Paraguai, em um laço verde que resiste ao tempo.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Voltar aos tempos de delicadeza sem ser fraco
O tempo da delicadeza não se perdeu, apenas se escondeu atrás da urgência, da dureza imposta pela vida. Há quem confunda gentileza com fragilidade, como se um gesto suave fosse um convite à dominação. Mas delicadeza não é sinônimo de fraqueza, é a força sutil de quem escolhe sentir, de quem encara o mundo sem blindagem, consciente do risco e, mesmo assim, segue tocando com suavidade os dias.
Houve um tempo em que a palavra dita sem pressa era um tesouro. Em que o olhar era mais que um gesto automático, era um reconhecimento verdadeiro do outro. As mãos, ao se tocarem, carregavam algo que ia além do contato físico, respeito, cuidado, afeto, a resposta delicada acalma o furor, mas a palavra dura aumenta a raiva e a arte de viver está na delicada mistura entre desistir e insistir.
Hoje, atropelamos uns aos outros no corre-corre de uma existência onde firmeza virou sinônimo de dureza, e a proteção, muitas vezes, se transforma em insensibilidade. Quem ousa ser delicado corre o risco de ser visto como ingênuo. Mas é justamente nessa escolha que reside um poder raro: a coragem de permanecer sensível em um mundo que tenta nos endurecer.
É possível voltar aos tempos de delicadeza sem cair na armadilha da submissão. Escolher a ternura sem abdicar da força. Ser gentil sem ser permissivo. Afinal, o mundo não precisa de mais rigidez—precisa de firmeza aliada ao cuidado, de resistência que não exclui afeto.
Porque em um mundo que premia a brutalidade disfarçada de eficiência, quem preserva a ternura desafia as regras. A gentileza se torna um ato de resistência, uma recusa a se tornar apenas mais um bloco endurecido por medos e desilusões. Quem volta aos tempos de delicadeza sem abrir mão da força constrói um espaço novo no mundo.
Um lugar onde é possível existir sem se embrutecer, amar sem se anular, proteger sem ferir. delicadeza, quando consciente, não nos enfraquece. Pelo contrário, nos torna impossíveis de ser quebrados. E, no entanto, há algo de revolucionário em ser delicado.

Inserida por IgiWiki

Calmaria

Eu não pensei em você naquele dia todo, e quando lembrei disso ao final da noite, sorri.
Tinha sido um dia de cão, mas o que importava no fundo,
era que decepção após decepção, eu conseguia te esquecer.

Inserida por valeria_rabello

⁠SAUDADE

Saudade é essa presença silenciosa que ocupa o espaço deixado por quem partiu, um vazio que não se desfaz, mas se preenche de memórias, como se fossem pedaços de luz que aquecem a escuridão. É uma palavra que, sozinha, carrega em si um mundo inteiro de lembranças, afetos e sorrisos guardados. Quando a saudade aperta o peito, não é só pela ausência de quem já não está; é também pelo amor que deixou, que se esconde e, ao mesmo tempo, nos abraça invisivelmente.

Ela tem o poder de transformar o vazio em conforto e a dor em um carinho delicado, feito vento suave que passa e sussurra as lembranças de tempos que foram belos e significativos. A saudade não é apenas dor; é, paradoxalmente, também a cura, porque cada pontada que sentimos no peito nos faz recordar momentos únicos, como uma música que toca só para nós, evocando risos, toques, conversas – tudo aquilo que, de algum modo, ainda vive e nos ensina o valor de amar e de sentir.

A saudade, que transborda em lágrimas, é como um rio que corre dos olhos para aliviar a dor silenciosa que a falta nos deixa. Essas lágrimas, ao caírem, são um jeito de libertar o peso do vazio, de esvaziar o peito da dor que, de outra forma, ficaria ali, abafada, apertando cada canto da alma. No silêncio das noites, a cama que antes acolhia aquele que amamos se torna um lugar sagrado, cheio de memórias; o lençol intocado e o espaço ao lado nos lembram que, embora o corpo se ausente, o amor permanece.

A mesa, com um lugar vago, conta histórias que só nós ouvimos, e até aquele sabor que nunca mais experimentaremos fica guardado na lembrança, como uma ferida que, embora não cicatrize, nos desafia a seguir adiante. Cada lembrança é como um bálsamo suave para essa ferida que carregamos, uma forma de cuidarmos dela, com ternura, em vez de sufocá-la. Porque, no fim, essa saudade é um tributo a quem amamos e à profundidade de tudo o que vivemos juntos. Ela nos ensina a acolher nossas dores e a perceber que, mesmo com a ausência, ainda carregamos aqueles que partiram em cada detalhe da vida, na esperança de que as lembranças, um dia, tragam mais conforto do que dor.

Assim, a saudade nos torna mais humanos, mais inteiros. É um abraço que damos em nossa própria história, aceitando que o que foi vivido jamais se perde. Ela transforma a falta em um legado que não se apaga, que atravessa o tempo e nos guia. A presença de quem se foi fica eternizada nos pequenos detalhes – em um perfume que passa, em uma canção ao acaso, em um pôr do sol que lembra outro tempo.

E, mesmo que a saudade traga uma pontada de dor, ela é o testemunho do quanto valeu a pena. É a marca de uma vida vivida em profundidade, onde quem amamos permanece para sempre guardado em nosso coração, como uma parte de nós mesmos.

Inserida por trombinibauru

⁠O Encontro no Ônibus 

Estava eu, mais uma vez, indo para a casa de minha avó. Para tanto, preciso pegar dois ônibus ou ir a pé até o ponto do segundo. Com muita cautela, vou. Passo atenciosamente de rua em rua, esquivando-me das esquinas como quem evita lembranças indesejadas.

Decido ir a pé. Chego ao segundo ponto um pouco cansado, o corpo denunciando a caminhada, e logo vejo meu ônibus se aproximar. Entro, pago e me assento. Como em qualquer outro dia, encaro a janela como uma tela em branco, onde os cenários passam rápido demais para serem compreendidos. Imagino tudo, porém nada de importância.

Um bairro se passou quando sinto um toque no braço, leve como o roçar de um galho ao vento. Vinha de alguém que se assentava do meu lado direito. Penso que foi apenas um esbarro casual e volto ao meu devaneio, mas novamente sinto. Dessa vez, decido me virar e entender o que estava acontecendo.

Era uma senhora, pequena e franzina, de mãos trêmulas e olhar perdido. Tentava, com delicadeza, chamar minha atenção. Algo havia de diferente em seu olhar — um brilho úmido que parecia conter todo o peso do mundo. O marejar de seus olhos já me inundava, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela segurou minha mão com firmeza, como quem busca âncora na tempestade.

Sem dizer uma palavra, ela apenas suspirou fundo, como se aquele gesto contivesse anos de histórias acumuladas. Seus dedos enrugados e frágeis envolviam minha mão como se segurassem um último pedaço de esperança. Por um instante, o mundo se reduziu àquele toque, e o barulho do ônibus se tornou um murmúrio distante.

Aos poucos, seus lábios se abriram, e num sussurro quase inaudível, ela disse:
— Você se parece com meu filho...

Houve um silêncio denso, como se o universo contivesse o fôlego. Não sabia o que responder, e talvez ela nem esperasse uma resposta. Apenas segurava minha mão, fixando o olhar num ponto indefinido do corredor.

— Ele partiu faz tanto tempo... — murmurou, com a voz quebrada pela saudade.
Um nó se formou na minha garganta. Respirei fundo, sentindo o peso daquele instante. Então, num gesto instintivo, apertei a mão dela com carinho e disse:
— Eu estou aqui... Pode me contar sobre ele, se quiser.

Ela pareceu surpresa, como se aquela simples oferta fosse um presente inesperado. Seus olhos marejados se voltaram para mim, e um sorriso tímido despontou, como um raio de sol por entre nuvens carregadas.
— Ele tinha esse jeito quieto... sempre olhava pela janela, pensativo. Gostava de imaginar histórias. E quando eu estava triste, ele só segurava minha mão, como você está fazendo agora.

Senti meu coração pulsar mais forte. Eu não era apenas eu — naquele instante, eu era um fragmento de memória viva. Ela continuou falando, e a cada palavra seu rosto se iluminava, como se a lembrança trouxesse o calor de um reencontro.

— Ele dizia que as nuvens eram mapas de terras mágicas — disse ela, sorrindo leve.
 — Sempre acreditava que, se prestássemos atenção, descobriríamos um caminho que só os sonhadores enxergam.

Sorri também, e sem perceber, comecei a compartilhar minhas próprias memórias de viagens e pensamentos perdidos olhando pela janela. Ela escutava atenta, como quem encontra companhia na dor e na saudade.

Quando o ônibus freou bruscamente, ela soltou minha mão com delicadeza, como se devolvesse à realidade o que fora apenas um breve consolo. Antes de descer, olhou para mim com um sorriso pequeno, mas sincero, carregado de um agradecimento mudo.
— Obrigada... Você me fez lembrar que o amor não morre... Só se transforma em saudade.

Olhei para ela e, com um sorriso sincero, respondi:
— Talvez ele ainda segure sua mão... de algum jeito, através de quem traz um pouco dele no olhar.

Ela desviou o olhar por um momento, tentando conter as lágrimas. Mas quando voltou a me encarar, havia uma serenidade nova ali, como se minhas palavras tivessem encontrado um canto acolhedor dentro dela.

Fiquei observando-a partir, pequena e delicada, desaparecendo na multidão. O ônibus seguiu viagem, mas aquela sensação permaneceu em mim — uma mistura de melancolia e gratidão por ter sido, ainda que por poucos minutos, um porto seguro para alguém que precisava ancorar suas lembranças.

No caminho até a casa de minha avó, pensei sobre a força que existe em simplesmente estar ali para alguém. Às vezes, somos chamados a ser companhia em meio ao tumulto da cidade, como se a vida nos empurrasse para encontros que não esperávamos, mas que, de alguma forma, precisávamos viver.

E ali, entre a dor e o alívio, aprendi que às vezes somos porto, outras vezes somos naufrágio — e, no intervalo entre os dois, a vida nos permite tocar o coração de um desconhecido, deixando nele um pouco de calma, e levando conosco a certeza de que a humanidade sobrevive nos detalhes.

Inserida por DanielAvancini

Crônica da Linha de Fronteira Seca: Ponta Porã e Pedro Juan Caballero

A linha de fronteira seca entre Ponta Porã, Brasil, e Pedro Juan Caballero, Paraguai, é uma região única, repleta de histórias antigas e memórias culturais. Este território, que hoje une dois países, já foi palco de inúmeras rotas e caminhos antigos, cruzados por povos indígenas, portugueses, espanhóis e missões jesuítas.

A Formação Histórica.

Desde tempos imemoriais, a vasta mata e as grandes áreas de erva-mate nativa atraíram colonizadores, migrantes e emigrantes de diversos lugares. Os tropeiros e comerciantes viajantes que por aqui passaram deixaram suas marcas, e muitos decidiram fixar-se, dando origem a estâncias e fazendas que, cada uma, conta sua própria trajetória e história.

Lendas e Memórias.

As lendas locais falam de quadrilheiros e bandoleiros que cruzaram a região, mas também das patrulhas volantes, formadas por valentes da região, que expulsaram os bandidos. Essas histórias são contadas através de crônicas locais, lendas e causos de outros tempos, memórias de um passado que deixou gravado na história contos para serem contados.

A Riqueza Cultural.

A riqueza cultural e histórica da linha de fronteira seca é inegável. Cada canto dessa região guarda memórias de um tempo em que a fauna e a flora exuberantes eram observadas com admiração pelos primeiros exploradores. As missões jesuítas, com seu legado de fé e conhecimento, também deixaram marcas profundas na cultura local.

Conclusão.

Hoje, Ponta Porã e Pedro Juan Caballero são cidades irmãs, unidas por uma fronteira que, mais do que dividir, une histórias e culturas. A linha de fronteira seca é um testemunho vivo de um passado rico e diversificado, que continua a inspirar crônicas e contos, mantendo viva a memória de uma região única e cheia de histórias para contar.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Crônica da Fronteira: Ponta Porã e Sua Diversidade histórica e Cultural.

Na linha tênue que separa Brasil e Paraguai, Ponta Porã emerge como um mosaico de histórias e culturas. 

A cidade, que já foi um vilarejo modesto, carrega em suas ruas e campos a memória de tempos de exploração da madeira e da erva mate e desenvolvimento.

No final do século XIX, os primeiros migrantes sulistas chegaram, atraídos pela promessa de terras férteis e pela riqueza da erva-mate.

Esses pioneiros, com suas famílias e sonhos, desbravaram a região, fixando morada e iniciando o comércio da erva que se tornaria símbolo da cultura local.

O Porongo a cuia de chimarrão e de tereré, hoje, representam essa fusão cultural entre brasileiros e paraguaios herança dos povos originais, nativos desta região que deixaram sua marca cultural para todas as gerações.

Com o passar dos anos, a exploração da madeira das matas e a criação de gado transformaram a paisagem. Viajantes e tropeiros cruzavam os campos, levando café e outros produtos agrícolas para mercados distantes. 

A agricultura floresceu, e Ponta Porã se tornou um centro de produção de soja, trigo e milho entre outros produtos aos poucos a erva mate foi esquecida, está que foi a mola mestra do desenvolvimento econômico da região nos tempos da exploração do ouro verde pelos ervateiros locais.

A emancipação do vilarejo em 1912 marcou o início de uma nova era. A cidade cresceu e se desenvolveu economicamente, atraindo novos moradores e investimentos. 

A construção do 11° Regimento de Cavalaria Independente, que mais tarde se tornaria o 11° RC MEC, foi um marco importante. Marechal Dutra, que comandou o regimento, viria a ser presidente do Brasil, deixando sua marca na história local.

Personagens históricos e eventos significativos moldaram a cidade de Ponta Porã. Revoluções e divisões territoriais, a proteção da fronteira e a visita do presidente Getúlio Vargas são apenas alguns dos capítulos dessa rica narrativa da formação histórica e cultural da fronteira.

A criação do Aero Clube de Aviação e do Centro de Tratamento de Zoonoses são exemplos do progresso contínuo da cidade em meados da década de 1940 e 1950

Entre 1943 e 1946, Ponta Porã foi elevada a Território Federal, destacando-se pela sua importância estratégica e econômica. Na década de 1950 chega a extensão do Ramal ferroviário Noroeste do Brasil ligando definitivamente Ponta Pora ao centro industrial do Brasil.

Esse período de autonomia dentro do estado de Mato Grosso, que posterior se dividiu criando o Estado de Mato Grosso do Sul reforçou seu papel na história nacional.

Hoje, Ponta Porã é um testemunho vivo da diversidade cultural varuos povos convivendo dentro de uma região unica. 

O espírito pioneiro 
que moldaram sua identidade. Cada esquina, cada praça, carrega consigo as histórias de um passado vibrante e de um futuro promissor.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Crônica: A Poeira na Varanda.

A poeira na varanda é testemunha silenciosa de um tempo que deixou saudades. 

Naquela época, a cidade era pequena, e a vizinhança era uma grande família. Todos se conheciam pelo nome e sobrenome, e os compadres e comadres se encontravam na missa de domingo. 

Era um ritual sagrado, onde as famílias se reuniam para uma boa conversa, um dedo de prosa, enquanto o sol se punha no horizonte.

A cidade, com suas poucas ruas, era um lugar onde tudo estava ao alcance. Da padaria ao bolicho, do pequeno mercado à farmácia, tudo era próximo. A vida rural era pacata e cheia de simplicidade. Nos sítios e chácaras, criava-se de tudo. 

O leite fresco chegava à porta, e as frutas e verduras eram colhidas no quintal, fresquinhas e saborosas.

As famílias eram grandes, compostas por avós, tios, tias, primos e padrinhos. Todos conviviam em harmonia, e aos finais de semana, a festa era certa. Sempre havia um motivo para comemorar, seja um aniversário, uma colheita farta ou simplesmente a alegria de estarem juntos. 

Era um tempo de vida calma, cercas baixas e muros que não escondiam os vizinhos. Todos se cumprimentavam com um bom dia, boa tarde ou boa noite.

Hoje, resta apenas a varanda empoeirada e as memórias de um tempo que deixou saudades. A poeira, que se acumula lentamente, é um lembrete constante de que, apesar das mudanças, as lembranças daqueles dias continuam vivas no coração de quem os viveu.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Crônica: Lendas da Fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

A fronteira entre Ponta Porã, no Brasil, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, é um lugar onde o passado e o presente se encontram, tecendo uma rica tapeçaria de histórias e lendas. Essas cidades-gêmeas, separadas apenas por uma linha imaginária, compartilham uma história que remonta aos tempos das primeiras migrações e das nações indígenas que habitavam essas matas.

Após a Guerra do Paraguai, a região viu um influxo de migrantes que buscavam novas oportunidades. Foi durante a produção de erva-mate que muitas das lendas locais começaram a tomar forma. 

Nas narrativas orais que e passada por geração, dizem que nas noites de lua cheia, os espíritos dos antigos habitantes ainda vagam pelas matas, protegendo os segredos da terra. A erva-mate, além de ter por décadas ser a principal fonte de renda, também é cercada de histórias de tropeiros e viajantes que, ao redor do fogo, contavam causos de encontros sobrenaturais e assombrações.

A Laguna Porã é um dos cenários mais emblemáticos da região. Ao redor desta lagoa as duas cidades surgiram e cresceram. 

Conta-se que, em noites de neblina, é possível ouvir os lamentos de uma mulher que perdeu seu amor nas águas escuras da lagoa. Essa lenda, passada de geração em geração, é um lembrete constante dos mistérios que envolvem a fronteira.

Os enterros do Lopes e os tesouros de Madame Lynch são outras histórias que alimentam o imaginário local. Dizem que, durante a Guerra do Paraguai, muitos tesouros foram enterrados na região, e até hoje, aventureiros buscam por essas riquezas escondidas. Madame Lynch, uma figura histórica controversa, é frequentemente mencionada em lendas sobre tesouros perdidos e batalhas épicas.

Os mitos indígenas também desempenham um papel crucial na formação da identidade local. As histórias dos Guarani, que habitavam a região antes da chegada dos europeus, falam de seres míticos que protegiam as florestas e rios. 

Essas lendas moldaram a relação da população local com a natureza, promovendo um profundo respeito pelos recursos naturais.

A fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero é um lugar onde o passado e o presente se encontram. Cada pessoa que passa por aqui leva consigo um pedaço dessa história rica e fascinante. As memórias dos causos e lendas são guardadas com carinho, perpetuando a identidade única dessa região fronteiriça.

Hoje, a neblina que cobre a cidade nas manhãs frias são testemunhas silenciosas de um tempo que continua vivo na memória de seus habitantes. 

A fronteira seca, cheia de mistérios, é parte indissociável da história de cada indivíduo que aqui vive, passa ou parte, levando consigo as histórias que ouviu e viveu nesta terra de histórias, causos e lendas.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Crônica da Fronteira: A Guavira, Joia do Cerrado Sul-Mato-Grossense.


Na região de fronteira entre Brasil e Paraguai, onde Ponta Porã e Pedro Juan Caballero se encontram, a guavira, também conhecida como gabiroba, reina como símbolo do Mato Grosso do Sul. 

Nos estudos científicos: Esta fruta nativa do cerrado, com seu sabor doce e refrescante, floresce de novembro a janeiro, trazendo consigo histórias e lendas que atravessam gerações.

Segundo pesquisadores em em seus estudos. A guavira não é apenas uma fruta; é um elo entre o passado e o presente, alimentando corpos e almas com seu frescor. Rica em vitamina C, ferro e outros nutrientes, ela é uma dádiva da natureza que fortalece a imunidade e previne doenças do corpo e da alma. 

Seu consumo é uma tradição herdada dos povos indígenas, que conheciam bem seus poderes curativos e a utilizavam em chás para tratar infecções urinárias e cistites.

Uma das lendas mais conhecidas sobre a guavira vem do Paraguai, narrada no livro “Leyendas y creencias populares del Paraguay”. Nos tempos da colonização, uma tribo indígena enfrentou colonizadores e, após uma vitória, levou um soldado prisioneiro para a aldeia. O inesperado aconteceu quando o prisioneiro branco conquistou o coração de Apykasu, a filha do grande chefe Jaguati. Esta história de amor e conflito é apenas uma das muitas que cercam a guavira, destacando seu papel não só como alimento, mas como parte do tecido cultural da região.

Durante a época da “Cata Guavira”, é comum ver grupos de pessoas colhendo a fruta nas estradas e fazendas da Serra da Bodoquena. Este evento festivo celebra a abundância da guavira e a conexão das pessoas com a terra e suas tradições.

Assim, a guavira continua a ser um símbolo de resistência e vitalidade, uma fruta que não só nutre, mas também conta histórias de um tempo em que a natureza e a cultura estavam profundamente entrelaçadas. 

Na fronteira sul de Mato Grosso do Sul, a guavira é mais do que uma fruta; é uma herança viva que continua a inspirar e alimentar inúmeras gerações.

Inserida por yhuldsbueno