Soneto da Mulher Perfeita
O AMOR
Fui um dia, mais que um diverso instante
Devaneei e nem se quer por ele eu tinha
Inspiração ou na estrofe qualquer linha
Para mergulhar na poesia emocionante
Por ele sem sequer saber, sofrer eu vinha
Nas estórias de imensa angústia cruciante
E seria envolvido em trama vil e delirante
Na inquieta nuance da desventura minha
Andei correto e fiel sem ser redundante
Me inspirou versos de dia e de noitinha
E mesmo assim, a solidão foi triunfante
No poetar espalhou como erva daninha
Contaminou as rimas, se fez importante
Ah! O amor, tê-lo é tal cigana adivinha
Luciano Spagnol
Junho de 2016
Cerrado goiano
DOLOROSA VIA
O tempo me fez velho e derreado
Já não respondo aos vários limites
A vida agastada perdeu os convites
Os sonhos de mourejar hão curvado
O corpo na ação perdeu o apetite
E assim vou num choroso estado
De lamúria triste e olhar cansado
Enfraquecido na força sem rebite
E o insistente querer, ainda espera
Da vitalidade, poesia e viva quimera
Para velejar nas nuvens da ventura
Nestes trilhos deixo o carril da sorte
Até que eu baste no portão da morte
E vá estar na paz lúgubre da sepultura
Luciano Spagnol
Junho de 2016
Cerrado goiano
Parodiando Pe. Antônio Tomás
Amor eterno
No saber, eu quero, és quem eu quero
Não é algum engano, nem do coração
Se é preciso terei calma nesta paixão
E com paciência, assim, eu te espero
Até quando te aguardar? Sem noção!
Pois o meu amor por ti é muito sincero
E quando se sonha, tudo é próspero
E no afeto de verdade, nada é em vão
Se o tempo deixar, se não for austero
Aqui vou estar, irei além de ser razão
Neste ou noutro plano serei só seu
Nesta vida, eu, neste amar te venero
Se houver eternidade, com permissão
Pra poder dizer: amo você! Tudo valeu!
Luciano Spagnol
29/06/2016, 10'22"
Cerrado goiano
Mutação
Retratar o cerrado em vão eu cismo
Pois dele tento pintar o que se sente
Nem sempre sobra vestígio contente
Hão de surgir outros sem ser egoísmo
Porém eu, triste, cá tento ser presente
E o mínimo prazer me é eufemismo
Tentando me convencer no ceticismo
Que sopra desventura a mim somente
Sinto um misto de um cruel racionalismo
Também, pesares de um pesar diferente
E a solidão que sinto, não é radicalismo
Se ter saudade do mar não é prudente
Me condenam. Aqui tento mecanismo
Pra ficar no cerrado com olhar ardente
Luciano Spagnol
01/07/2016
Cerrado goiano
ERROS
Meus erros, o fado e seus enganos
Má ventura, estão no meu legado
Numa perdição, no destino calado
Onde a sorte, bastava, ser planos
E na dor, as lágrimas, estive culpado
Tentei no querer, ter bons atos ufanos
Mas a vida, no acaso, teve olhos tiranos
E neste infortúnio cascalhou o passado
Errei todo o traçado dos meus anos
Cosi do avesso ao invés de adornado
Os valimentos os concederei profanos
Na admiração não tive o tal agrado
Os amores, sobejaram os insanos
E agora na rudeza eu sou castigado
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
PAIXÃO E AMOR
A paixão arde, assim, nos inflama
O coração acelera, sem correr
Os dias viram nosso bom viver
No amor, arauto que proclama
Se é apaixonado, tudo é só prazer
O tempo conspira pra quem ama
A harmonia na alma se derrama
É querer ser, e o sentir é querer
O silêncio fala, espanta o drama
E renovo é sempre o amanhecer
A paixão no amor torna-se dama
Nos porquês, desenredar é acolher
Pois a satisfação torna-se panorama
Paixão e amor, é sempre bom ter...
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
CARRO DE BOIS
A lembrar do amor, nesta tarde invernada
numa longa distância de mim, está você
que faz o poetar vazio, sem te esquecer
no dia cinzento, no cerrado, sem nada
Vindo na estrada, o carro de bois, a ranger
tal plangor em harmoniosa lenta jornada
rangendo suspiros, gritando saraivada
ao coração, que põe a recordação a doer
E nestes uivos gementes, nesta cruzada
meu pesar sente, tua falta no meu viver
na tarde poente, com magoa adornada
O carreiro segui, aqui eu vou permanecer
lamuriando a solidão na saudade sediada
na alma, qual carro de bois, no seu gemer
Luciano Spagnol
07 de julho, 2016
Cerrado goiano
SONETOS PERVERSOS
Enquanto escrevo meus silêncios, mastigo
as angústias que esmoam os meus versos
desnudando cada face dos meus anversos
em espavento diversos e um tanto ambíguo
Traz paz e inquietação, e alguns reversos
camuflando a escuridão num manto amigo
criando uma solidão que conversa comigo
dos penares e ledices no viver dispersos
A poesia enflora e a ela o prazer bendigo
no ermo do âmago, dos sonhos submersos
e assim, vou metamorfoseado num abrigo
E nesta tal plenitude dos meus universos
a quietude em constância como castigo
feri a lira do poeta em sonetos perversos
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
FELIZ DIA DOS PAIS
LEMBRANÇAS DE MEU PAI
Pai, o herói de nossa infância
Conflito na rebelde juventude
Amigo em nossa inconstância
Na ausência, saudade amiúde
Você foi mais que tolerância
No sim e no não, foi atitude
Ao seu lado conheci virtude
Hoje na lembrança, radiância
Estava lá na minha vicissitude
Foi presença na minha distância
Nobre paladino na uma solicitude
Exalto o sentido da exuberância
Dum amor acanhado, diria rude
Que define: PAI, vital importância...
(Minha gratidão, nesta lassitude.)
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
EXILADO
Quem jogou na minh'alma essa solidão
Que brada angústia com gosto amargo
E à ardente boa ventura causa embargo
Encarcerando está ânsia no meu coração
Quem com mãos frementes teve encargo
De incinerar com silêncio toda a emoção
Se o amor no viver necessita de sedução
E o fado no ter sorte quer este desencargo
Assim, como então sair duma maldição
Oh! Doce e pura felicidade, de olhar argo
Observe, e neste exílio me traga solução
Ah! Desventurado e vil desígnio letargo
Que me vê nesta temerosa e fria prisão
E me algema sem qualquer desembargo
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
DEVOÇÃO
Tenho na parede do quarto, em devoção
O Sagrado Coração, numa oval moldura
Antiga e familiar, que eleva a estrutura
Expondo a minha fé em beata oração
Ali deposito e abriga a crença em brandura
Onde as mágoas são postas em redenção
E o bem e a paz invadem todo o coração
Em louvores, em confiança e eterna jura
E neste afeto sensato, exato é a paixão
Por quem por nós trouxe amor e ternura
Na simplicidade e na grandeza do perdão
E na diária cura, quem é de Deus criatura
Feliz permanece, no destino, na comunhão
Pois, nesta verdade, habita a real ventura
Luciano Spagnol
Início de julho, 2016
Cerrado goiano
CASCALHOS
Pelos cascalhos do cerrado
Caminhei pela sequiosa luz
Hoje me resta temor calado
Na saudade que me conduz
Pelas tronqueiras de ser feliz
Passei por vagalume alado
Quis ser sábio e nunca juiz
Do amor por mim poetado
E no que me resta, vou além
Porém, o afeto levo também
Pois, ele no peito me seduz
Como não querer a mudança?
Se as dores são de esperança
E na alma se é um aprendiz...
Luciano Spagnol
Agosto, 2016
Cerrado goiano
CORTEJO
De que vale evitar a morte, indesejada
Se para o silêncio do chão é o fado
Pois, o que parte, no óbito é calçado
E com solidão a personagem é levada
Com que cortejo desfilar no cerrado
Se o culto deveria estar na jornada
No forrar o cascalho da árida estrada
E não suspiros ao morto derramado
Que importância terá a vida finalizada
Se o elo no amor, então, não foi selado
E tão pouco, a vida, daquele, foi amada
Pra nada adianta ter tarde vazio agrado
Se de volta ao pó, a alma é consagrada
Deixe as rosas de lado, e avance calado
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
TOLICES
Não se atenhas nas vãs tolices
onde o valor é de mero acaso
e que no fado imprime atraso
e na lucidez pascácias burrices
Não tenhas pelo juízo descaso
só bons intuitos trazem ledices
pois futilidades são só sonsices
e na vida se tem um curto prazo
Sê sensato, saia das mesmices
não gaste o tempo criando caso
nem tão pouco com tagarelices
Tudo é precioso, e o mérito é raso
pra desperdiçar com parlapatices
pois o banal pode virar compraso
Luciano Spagnol
agosto, 2016
Cerrado goiano
AS LÁGRIMAS DA ALMA
Ontem despertei de madrugada
Com as lágrimas caindo dentro de mim
Era a minh’alma que em meu corpo chorava calada
Porque meu Deus eu tenho de sofrer tanto assim?
Quando eu despertei perplexo e sem saber de nada
Com uma tristeza maciça e sem fim
Senti a minha alma vazia e abandonada
Debruçando-se numa mesa de marfim
Ás vezes saio a esmo contemplando o vago
E deparo-me contigo tentando acender as chamas que apago
Sem razões para sorri peço socorro imploro...
Pois as tristes lágrimas que choro
Continuam perturbando a minha calma
Continuam inundando a minha alma.
Ela
O amor sofre de amor,
eu sofro dela.
O amor sofre de dor,
dor da espera.
Chaguei a amar o amor,
mas deixei de amá-lo por ela.
O amor no fogo não queima,
eu queimo de amores por ela.
O amor não tem rosto
como o rosto dela.
O amor e o vento se amaram
e eu amei o vento nos cabelos dela.
Dizem que o amor é tudo,
mas eu encontro tudo no olhar dela.
Dizem que deus é amor,
mas só encontro amor nos braços dela.
O amo não pode me dar
o que eu recebo dos lábios dela.
O amor permeia todo o universo,
eu me satisfaço do riso dela.
No juízo final, dirão: Nós vivemos por Cristo!
No juízo final, direi: Eu vivi por ela.
O vazio, o infinito, o piano
O vento, teu sorriso, teu pranto
Teu olhar, teu sonhar, uma noite de luar
As árvores a balançar
Um nó, uma dor, sem dó
A água, a alma, a calma
As folhas, o ar, a solidão
O silêncio, as luzes, aqui dentro
Aqui, assim, sem fim
Esse vazio que preenche-me
Depois de um acordar
Nessa noite de luar
A lua a me chamar
E eu em ti pensar
SERÁ QUE IMPORTA
Minha sina é estar
Não importa onde
Não interessa fazendo o quê
Não queria existir
Só queria morrer
Seria de mais me concederem essa regalia?
Morrer cedo e não estragar a vida de ninguém
Mas será que morrer daria certo?
Seria minha solução?
Acho que não
Ou sê-lo-ia, talvez!
Pode até ser
Como eu não sei
Sei lá, então!
QUANDO O SONHO...
Quando o sonho que sonhei na mocidade
de mudança deste mundo em desatino,
for sonhado pelo campo e a cidade
cumprirá aqui na terra o seu destino.
Quando o sonho que sonhei de liberdade
for sonhado pelo o povo nordestino,
então meu sonho será realidade...
- u'a bandeira de vitória, um novo hino!
Muito embora alguns digam - "que quimera!
esse sonho que é sonhado nesta era,
não será concretizado um segundo!"...
O que importa se alguns pensam assim?
Se esse sonho que nasceu dentro de mim
se multiplica a cada dia p'lo mundo!...
Três Fantasmas
Três fantasmas que não me deixam esquecer,
A única amada de meu coração.
Consternam-me o intelecto e toda razão.
E vejo em meus sonhos o primeiro aparecer.
Esse é o qual me faz sempre sonhar.
Lembrar mesmo inconsciente o maldito beijo.
Maior-pior que a razão é esse desejo.
Mesmo sem consciência não cesso de lembrar.
O último me vem estando eu desperto.
Melhor ao ser humano é não te-lo por perto.
E novamente me vem com surreal dança.
Três fantasmas que não me deixam esquecer.
O nome dos três pra que possas crer,
O sonho, o desejo e a maldita esperança.
