Reflexo no Espelho
Se as suas palavras fossem ditas em um espelho, para o reflexo delas voltarem para você, e lhe causar uma reação de acordo com o que você diz. Como você iria ficar?
Alegre? Edificado? Triste? Assustado? Pasmo? Sensação de impunidade e injustiça? Repugnado?
(DVS)
Inflexão de reflexos
Como ondulações causadas em um espelho d'água, a imaginação flui a partir do desejo.
Essas ondulações refletem infinitas possibilidades de existência, de criação e destruição.
Ondas carregadas do mais puro desejo de criar, transbordam realidades até que, no ponto de inflexão, um novo desejo surge, o de viver o que foi imaginado.
Neste momento, a consciência que pairava por sobre as águas do seu fluído imaginar, imagina-se no início do seu pensar, com vontade de vivenciar tudo o que sonhou e ainda assim, continuar sonhando.
Um paradoxo entre liberdade e auto-contenção, uma nova luz que brilha em meio as trevas, deixadas pelo vazio das memórias ainda não vividas e então um intenso desejo começa a ganhar forma através de fractais de matéria luminosa, atraídos pela intenção de experienciar uma possibilidade.
O mesmo e ainda assim, diferente. Novas memórias criadas através da experimentação de memórias realizadas. A coexistência entre o eu e o não-eu.
Os céus da imaginação continuam a se ondular infinitamente, enquanto que a matéria, ainda um puro desejo informe, unifica-se formando uma sutil projeção mental, uma ilusão, que quando confrontada ao limite, deixa de existir.
Insatisfeito com o não pertencimento em sua própria ilusão, escolhe vivenciar sua própria criação, desencadeando caos e ordem, decide elevar a criação ao ápice do conhecimento a fim de deleitar-se do prazer de uma companhia.
Com muita astúcia, desenha um ser semelhante a si e dentro dele define a existência de um paradoxo.
O masculino e o feminino, a atração e a repulsão, a construção e destruição. Mas assim como em si, em sua mais perfeita criação, também residia a solidão.
Então um se tornou dois, um espelho pra um reflexo, um todo complementar.
E assim a ilusão criada vivenciou o perfeito prazer, a não-solidão, até que as suas existências são postas a prova: deixar de ser quem somos pra nos tornar uma ideia de quem podemos ser.
A imaginação, agora inserida na criação, gera camadas infinitas de possibilidades e escolhas que podem ser materializadas através do desejo.
Uma ondulação que permeia a ilusão da existência, refletindo a infinita onda exterior de possibilidades.
A união entre a matéria ilusória e o divino.
Eis então a primeira escolha: ser mais!
E, ao almejar o infinito, reconhece então sua própria finitude. Paredes de ilusão que antes representavam liberdade, agora representam grades para sua percepção. Ao ser questionado sobre sua escolha, escolhe a amargura como resposta, semente que imaginou ao ressentir seus limites.
Um plano, regado a suor e sangue, começa a se desenrolar. Dois se tornam três, quatro, milhares, milhões, até que o criador desta ilusão decide vivenciar a ilusão que criara e assim, por um breve período, coexistem apenas as ondulações dos céus da imaginação, a ilusão da existência de possibilidades escolhidas e uma consciência singular que agora possui fractais de lembranças do futuro, do passado e do presente.
Novamente uma nova existência, nomeada, ilusória, mas tangível pela própria ilusão, percebe o amor, a fúria, a dor, a tristeza, a alegria e o silêncio.
Até que, desperto novamente no início, compreende o sentir e sente-se verdadeiramente vivo, vivo de tudo.
Ele então começa a compor, não mais um plano, mas uma música. Uma música capaz de tocar todas as possibilidades simultaneamente, onde cada existência representa suas próprias escolhas como vibrações melódicas do concerto cósmico.
Infinitas realidades vivas coexistindo, ainda sem interagir, até que o maestro, dotado de reflexos, diga: fim.
Como um espelho que distorce a imagem, o falso amigo cria reflexos distorcidos de nossa verdadeira essência, desencadeando mal-entendidos.
Reflexo interior
Diante do espelho não me reconheci
Quando viajei para dentro de mim
Lá então pode ver
Que eu não era quem pensava ser
Vagando nos pensamentos eu fico
Uma vida sem rumo eu vivo
Queria saber aonde ir
Tantas dúvidas parar de sentir
Olhei para o relógio
Os ponteiros se mexiam
Mas meu corpo parado permanecia
Então levantei e falei para mim
Que não iria mais viver assim
Alan Alves Borges
Livro No Olhar Mergulhei
MINHAS PERSONALIDADES
Em frente ao espelho, reflexos se desdobram,
Dois Nyckollas no mundo, dualidade que encantam.
Um rebelde audaz, na sombra ele caminha,
Enquanto o exemplar, na luz, reluz e brilha.
O trabalhador incansável, dedicação sem par,
Enquanto o covarde, receios a superar.
O romântico sonhador, coração a palpitar,
O realista pragmático, a realidade a encarar.
Nessa dança de opostos, na vida a navegar,
Dois Nyckollas se entrelaçam, sem se separar.
Numa poesia que tece os fios do destino,
A dualidade se revela, um enigma divino.
Na encruzilhada do destino, mais Nyckollas se desvelam,
Um aventureiro destemido, pelas estradas que revelam.
Explorando o desconhecido, sem medo do que há por vir,
Enquanto o cauteloso pondera, a decidir e refletir.
O Nyckollas artista, pintor de sonhos com cores mil,
Dando asas à imaginação, criatividade sem fim.
Enquanto o cientista, com método e precisão,
Desvenda os segredos da natureza, com dedicação.
Nessa constante metamorfose, na vida a dançar,
Nyckollas múltiplos se entrelaçam, sem se separar.
E na poesia que é a vida, a dualidade a encantar,
Um mosaico de experiências, a se desenrolar.
Reflexos do amor
Na elegância do amor, o reflexo da alma,
A projeção do ser, o espelho que acalma.
Mais sobre si, revela quem ama,
Que sobre a pessoa que no coração chama.
O outro, recipiente de nossas esperanças,
Reflete desejos, medos e lembranças.
Em infância, primeiros laços se formaram,
Modelando os amores que mais tarde clamaram.
A coragem de amar, vulnerabilidade exposta,
Enfrentando medos, fragilidade que aposta.
Quem confia, entrega-se sem hesitação,
Abraça a coragem, em íntima conexão.
Escolhas amorosas, desejos e conflitos revelam,
Parceiros distantes, padrões que se desvelam.
A alma repete o que na infância aprendeu,
Mostrando na dança, o que o amor o que perdeu.
Amar, janela para o profundo ser,
Oportunidade de crescer e aprender.
Lembranças do passado no presente ressoa,
Complexidade dos desejos humanos entoa.
No amor, a psique revela sua jornada,
Entre consciente e inconsciente, dança orquestrada.
Quem ama, a própria história conta,
Na conexão com o outro, sua essência aponta.
Meu reflexo naquele espelho, trouxe pensamentos de quando, com garra, me segurei fortemente naquilo que achava que eu era. Mas aquela imagem se foi, como quando lançamos uma pedra no rio e as águas criam uma onda distorcendo toda imagem ali refletida. Quem eu era, quem eu fui, quem eu sou, seria tudo uma distorcida perspectiva que eu mesmo criei? Mas eu ainda sou eu, com uma percepção mais ampla sobre o mundo, mas ainda um grande sonhador.
Não reflita sobre isso, mas a mais pura das reflexões é, na verdade, o espelho da perfeição, capturando a essência imaculada do ser em sua luz mais verdadeira.
SOBRE MIM...
Hoje eu me olhei no espelho... não só para o meu reflexo, mas olhei profundamente para mim mesmo... e sabem o que eu vi? Eu vi um homem... não mais um menino, um garoto ou um cara. O reflexo não é mais o mesmo de um tempo atrás, algumas marcas apareceram, logico... o corpo também não tem mais a mesma performance. Envelheci sim, mas mais do que isso, amadureci.
Tempos atrás eu via, mas não enxergava como o tempo passou. Hoje sou mais maduro, tenho mais responsabilidades, cresci como ser humano. Consigo olhar o reflexo no espelho e ver que o tempo passou de todas as formas possíveis. E sou grato a isso, pois muitos que conheci não conseguiram chegar tão longe.
Já errei muito na vida, superei alguns obstáculos, mas hoje sinto que como ser humano, evolui bastante, apesar de ter muito a evoluir ainda. Traumas foram abandonados, medos foram esquecidos, pessoas entraram e saíram da minha vida... e a vida continuou.
Aprendi a pedir perdão, mais do que isso, aprendi a me perdoar. E é interessante olhar para o meu reflexo e lembrar todo o percurso percorrido, relembrar os bons momentos, falar dos problemas superados sem mágoas e entender como cheguei até aqui.
Seguir adiante é entender que as coisas nunca voltam a ser como foram um dia, é aprender que coisas boas e ruins acontecem com todos o tempo todo, vitórias e derrotas. É aceitar que o tempo traz sabedoria e conhecimento, mas cobra um preço, que é a juventude, que quando somos jovens, achamos ser eterna... Viver não é apenas sobreviver, é aprender, é evoluir, é vivenciar o dia a dia sem ter uma certeza de como será o futuro, pois o mundo gira e estamos em constante mudança.
Espero poder viver muitas coisas boas ainda, espero ter o privilégio de poder um dia contar com orgulho as minhas histórias, compartilhar as experiências boas da vida com as gerações futuras e continuar aprendendo coisas novas, evoluindo como ser humano.
Acredito ser essa a nossa missão na Terra.
Obrigado!
O que diabos está acontecendo comigo? Enquanto fito meu reflexo no espelho, sorrio, tentando esconder a agonia que me consome por dentro. Meu coração parece uma âncora, mas meu rosto é um disfarce perfeito, uma máscara de felicidade falsa. Eu continuo fingindo, mesmo quando a tristeza me sufoca, um espetáculo de hipocrisia, um sorriso de fachada. Às vezes, é mais cômodo fingir alegria do que explicar o porquê da minha alma dilacerada, o porquê dessa dor insuportável.
Na superfície dura e fria do espelho, o reflexo embaçado de um rosto me encara de volta.
É uma visão turva de uma expressão duramente composta, criada com o propósito de aparentar uma natureza distante daquela que atormenta o meu íntimo.
Uma caricatura do eu, imagem vendida por mim e aceita pelos outros.
Mandíbula cerrada, sorriso composto, postura altiva e determinada. É o suficiente. Embalagem perfeita para a vitrine da vida, mais uma na prateleira de objetos inanimados esperando receber qualquer estímulo externo, ou ganhar vida.
Encaro os meus olhos no reflexo penetrante no espelho. Vejo o rosto em brilho que dizem ser belo, mas o que vejo de verdade são as cicatrizes que ficam por baixo dele. As grossas, as mais profundas. As que revelam o monstro que modelaram com mãos ensanguentadas. Aquele que tento matar, mas que permanece por trás da bonita pele que agrada aos que olham. Prefiro deixar as cicatrizes que me revelam monstro escondidas, afinal é assim que insistem para que eu ainda exista. Para que ainda me sinta amada. Porque ninguém quer olhar profundamente nos olhos e enxergar não só apenas a capa que cobre para proteger de cair e quebrar ainda mais. Ninguém quer ver as cicatrizes monstruosas por trás da face que faz de mim ser quem também sou. Querem o bom, o belo apenas. Sem saber que todos de algum jeito também estão marcados pelas mãos ensanguentadas. Eles se afastam, eu os afasto. Afinal, ando me perdendo dentro do monstro que existe dentro de mim porque ando cansada de viver pela metade. Cansada de viver me escondendo.
Eu sou o reflexo de mim mesmo...
Fragmentos de sonhos...
Um espelho quebrado...
O que fui, o que não fui, tudo isso sou...
Um mosaico de erros e acertos, em movimento...
A vida me moldou, com mãos de vento...
E eu me dei conta, de que sou frágil e flexível...
Aceito as curvas, os altos e baixos...
E aprendo a dançar, com os pés descalços...
No alento da existência, eu me encontro...
Alma flutuante, entre engano e desengano...
Mas ainda assim, eu sinto,
Que há uma luz, que me guia e me sustenta...
A rir, desnudo de sonhos não realizados...
No cais de onde nunca parto...
Sandro Paschoal Nogueira
O iniciado que atravessa a câmara das reflexões não encontra respostas, mas um espelho onde a verdade brilha em sua forma mais crua e eterna.
