Quase Namoro
MATULÃO
Vivo das lembranças
De levantar do chão meus pés andarilhos.
Nessas investidas, quase muito eu vi...
A florada no seu tempo certo,
E vi errado o argumento dos homens
Duvidosos das chuvas, de língua seca.
Morro das lembranças
Eu apanhando do chão
Meu matulão cansado da estrada
E eu um homem desertificado,
Orado, rezado, benzido pelas sombras boas.
Cacho de alecrim, pra espantar mutuca,
E deixar um cheirinho
Que a gente logo abusa.
E de noitinha ouvir a sinfonia mais desencontrada
Da saparia escondida nas locas.
Arengas na estrada de cobra e lagarta,
Araras no topo jogando migalhas,
Que até eu, com a fome no estômago, alimentada,
Pegava e comia, essas lembranças do chão.
Adoeço só de ver essas estradas raspadas,
E um céu descoberto, nem uma nuvem que se pise
Quanto mais me disto desses lugares meus.
Ando desmemoriada. Vejo-te agora como quem vê um fantasma. Sua figura é clarinha, quase transparente. Quase posse te sentir. Faço força – luto – reluto e não sinto nada. Tua imagem está apagadinha, pontilhada, desintonizada
Não é tristeza, é saudade. É a constante lembrança do que não tem retorno, do quase-morto, do fim, do que não deveria mais ser falado. Mas eu insisto. Eu relembro, eu me mato.
DESAFORTUNADO
Eu conheci a casa de um desafortunado
Nela vivi quase toda minha vida,
Apanhei gravetos para os invernados,
Puxei gavetas e guardei retratos,
Um arquivo morto de mim retirado.
Eu andei por dentro da casa cumeada
Tropecei pelos atalhos, cadafalsos
Troquei uma vida, que me dera, inventada
Por uma que eu vi de perto, andando enfalço.
Fui o primeiro desordeiro do motim.
Não tive nunca uma gota de raiva,
E foi assim, andando dentro e fora dos pântanos
Que hoje dou graças à sorte fora de mim.
A imaculada virgem, mãe da Conceição
O meu amparo, de quem mais eu vi nos olhos,
A minha amada, o tempo todo cortando a rota
Dos desamados, sempre me trouxe por sua mão.
Fiz pisoteio até o cultivo dos desgarrados,
E vi a festa da colheita das formigas,
E disso eu disse, com o coração e alma aflitos,
Não me descanso, mesmo quando estou sentado.
E da lavoura que os cupinzeiros demarcavam,
Umas espigas de milho bem debulhadas,
Pus o sabugo como mastro da bravata,
E lutei só, com Conceição, nela amparado.
Olha-me Deus, no que escrevi,
Eu relatei a minha vida e Vos traí,
Era um segredo até à outra por vir,
Até cansar, e cansado, aqui cair.
Preserve seu baú
Revirar um baú é quase como entrar em uma máquina capaz de te fazer voltar no tempo.
Árdua a decisão do que deve continuar lá e o que já não nos faz falta e devemos jogar fora.
Cada coisa - por menor que seja - ganha um forte simbolismo depois que o tempo passa. Ah, e ele faz questão de passar rápido.
O baú (ou estante, cômoda, gaveta) é o objeto que nos faz nos sentirmos bem, relaxar enquanto o reviramos.
Se deus me concedesse um desejo que solucionasse quase todos os problemas da humanidade,eu desejaria que todas as pessoas se respeitassem.
O insucesso, o fazer errado, dá "quase" o mesmo trabalho que fazer certo, Com sucesso/eficácia não tem que repetir...
Penso que o que move as pessoas é a incessante e insensata necessidade de buscar, embora quase nunca saibam o quê e nunca saibam pra quê.
Se você soubesse quem você é, saberia também que até hoje não fez quase nada do que poderia fazer...
Quantas vezes você perdeu ás esperanças e fugiu? Quantas vezes você ficou no quase e não concluiu por medo ou simplesmente por falta de vontade? Quantas vezes você já pensou como seria e não correu atrás? Quantas vezes você já chorou por alguém e essa pessoa nem se importou? E então, quantas vezes mais você vai ficar pela metade?
A luz fraca que quase ilumina o quarto, salienta a sensação da poesia que habita em seus olhos. Seu coração suga apenas o que lhe convêm. Desenha mentiras sinceras do mais profundo arrependimento.
