Poemas a um Poeta Olavo Bilac
ENVELHECENDO
Frauda o sono na madrugada. Sem apreço
Tropeço em tropeço, corpo e vigor, se vão
É pulsação na emoção, é a conta, é o preço
À dimensão do tempo, do tempo à dimensão
Um espesso sentimento: agrado e padeço
Ao chão, cada suspiro de uma sensação
Vida, palpitação, de arremesso e arrefeço
E, bem sei que curto ou longo nos levarão
A cada verso, reverso do fim e do começo
O início, o término, no meio, se misturarão
Do berço ao regresso, diverso, eu confesso!
Se tive insatisfação, também, mais gratidão
Tristeza ou não, apenas um outro endereço
Envelhecendo, a oblação dos que sorte são!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2021, setembro, 12, 04’27” – Araguari, MG
SUCUPIRA
Florir no cerrado ou no ressecado recanto
Ou mesmo em chão cascalhado, de feitio
Sedutor, nobre no sertão, dum lilás manto
Que se destaca dentre outras. Bela e sutil
Quando desabrocha ao olhar, um espanto
Entre a profusão mil, e as passifloras mil
Ela, singela, que nascida é pra o encanto
Adorna as planícies do planalto do Brasil
É de vê-la ímpar, de tal graça, ao vento
Tocando a alma, dum magnetismo total
Sucupira, árvore cheia de encantamento
E, de vê-la arroxeada copa tão colossal
Que aviva cada canto do árido cinzento
Aprazia, sacia, numa poética sem igual...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/09/2021, 19’41” – Araguari, MG
Canção Musicada Pra Velhice
Dizes-te tempo, entretanto
Em ti andejando, cada dia
Mais e tais, mais um canto
Mais algo, e mais ousadia
E a cada novo ano, passa
Indo a carcaça abarrotada
Aparência baça, com graça
Peleja, e generosa morada
Cada passo, renovo, brilho
A vida num prélio deveras
A juventude um trocadilho
E o desejo das primaveras
Sigo da vida a doce poesia
Se ventura eu fosse poeta
Dele apanharia mais magia
Velho, mas de alma repleta
Cada fio do cabelo já prata
E a saudade no peito forte
No olhar luz, a sina pacata
E, que o coração se importe
Porém, antes, porém, sorte
Caro tempo, aqui me esforço
É bem que se vai pra morte
Mas, que seja sem remorso...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/09/2021, 15’40” – Araguari, MG
ENVELHECEU COMIGO
Quando, à primeira vez, me vi na poesia
Que foi lá pros tempos da longe meninice
E quedei-me à paixão de quem sentisse
Sede n’alma, emoção e razão na grafia
E depois, fantasia e ilusão, a vê-la, disse:
É moço o poeta é enroupar-se de ousadia
O sentimento aceso, estro, sedução e cria
Hoje a sinto entre as sensações da velhice
Cá de caneta e papel, trancos e solavancos
Vejo-a idear as mãos em prosa, terno abrigo
De venturas e os hostis versos saltimbancos
E ao apreciá-lo assim, inteiramente, digo,
Vendo-a poetar com meus cabelos brancos
A poesia, realmente, envelheceu comigo...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14 setembro, 2021, 17’07” – Araguari, MG
GOSTAR…
É doar por gostar, desejar e querer
Receber por dar, por apenas amar
Para mais amor, amar, e assim, ter
E nesse saber, o crer para confiar
Ah! como é agrado, suspiros ao ar
Aquele doce olhar e o beijo suado
Nesse existir tão curto no caminhar
Então, gratidão e flor ao enamorado
E, ao coração, aquele enrabichado
Amor, afinal se é bom, é pra estar
Se caído, que seja então pro viver
Pois, como é querido estar ao lado
Do amor apaixonado a nos embalar
- E, afim amor de mim, pode haver...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15 setembro, 2021, 15’07” – Araguari, MG
DIVINA COMÉDIA
Lágrima sussurrando na face sofrida
Sensação erguendo os braços ao céu
A sorte dentro do silêncio escondida
A quem serve sentido perdido ao leu
Se o desejo causa martírio no papel
Pecado, ilusão, e a dor infinda ferida
Corre o fado e só gera direção cruel
Porque estar delirante por toda vida?
Não é melhor na prosa ser clemente
Paz, harmonia, poesia no que insiste
Em não ser, sendo feliz com a gente
Razão: deixo a poética n’alma haver
E o triste deixo apoucado, se existe
Vivo o amor, do que meramente ter...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15 setembro, 2021, 20’23” – Araguari, MG
AMOR, PAIXÃO, SEDUÇÃO EM CORTEJO
Invadindo a vastidão do sentir profundo
Sulcando a sensação, incitando o desejo
O amor e a paixão, a sedução em cortejo
Velam o prazer, que surge num segundo
Na esteira sem fim duma severa espera
Ei-lo embalado na amplidão de um laço
Em ritmo lento ou acelerado compasso
Eclode e floresce a cada uma primavera
Andeja, e vai em busca de um infinito
Agrado, tal o romper dum díspar mito
Apurando a humano maneira de supor
E tão cheio de luz do fulgir dum astro
Brilha a alma, deixando poético rastro
Da trajetória augusta: quando é amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16 setembro, 2021, 09’42” – Araguari, MG
MANACÁ de cheiro
Para cantar o Manacá numa verdade
Não basta a prosa, tem de ter beleza
No olhar, sensibilidade n’alma acesa
Saber degustar do encanto que brade
Duma flor, duma graça e delicadeza
Do lilás a alva... tão pura na vaidade
Uma quimera envolvente, majestade
O Manacá de cheiro, orna a natureza
Invejo o vento que no seu movimento
Acaricia, beija, e se envolve no cheiro
De essências robustas, doce momento
És formosa que qualquer outra vontade
Pois, abrenha o sentimento por inteiro
Odor que trescala, um cheiro de saudade!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16 setembro, 2021, 17’20” – Araguari, MG
AMOROSO VIVER
Que eu cante bem, e tal modo o cante
Que o amor saiba o quanto é proveito
Na poética cheia de graça e abundante
De agrado, de desejo e o fiel respeito
Que satisfaça e não seja mero instante
E se, na aflição, então, que seja feito
O mais importante, e o mais confiante
Afinal, aquele amor, no peito, é eleito
Que o querer tenha não um qualquer
Sentimento, que seja a ventura nossa
Pro desejado sonhado amor que vier
Que, então, se transponha os embaraços
Que se tenha no fado o fado que possa
E amoroso viver, com beijos, e abraços...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17 setembro, 2021, 07’33” – Araguari, MG
POESIA ETERNA
Poesia és dona de mim, prosa me pertence
E, nesse poético cativeiro, deliro por inteiro
Cá nos versos sinto sussurrar tão verdadeiro
Que nada me cabe no pensar, ou algo pense
Cada trovar meu, o versejar me convence
Que cada canto no seu canto é passageiro
E que num piscar o devaneio é tão ligeiro
E o destino, uma ilusão na arena circense
Mas, então, se tem sensação, então tem aba
Do desejo, a velha afeição, emoção sentida
Que em uma poesia, o poeta, então se gaba
Sonhos, as lágrimas, a chegada e a partida
Ah! se existe no coração fusão, nada acaba!
Pois, o amor que eterniza a poesia da vida...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17 setembro, 2021, 15’18” – Araguari, MG
DISTANTE
Tu, que estás remoto, ó tu, que estás distante
Pera, e, num gesto pouco, muito é o carinho
Não fui amado, e como amador, sou sozinho
E na condição sozinho, vagueio pelo instante
Meu coração, desocupado, do amor perante
Tem na poética o seu refúgio, doce caminho
Então, diga nada, e cá te digo bem baixinho
O que a exigência quer: uma história dante!
E, no alvorecer, quando a luz doirar radiosa
Uma sensação outra, se com emoção possa
Intuirás o quão fundamental foi aquela rosa
Ah! o sentimento não mais tão só, tão asinha
O tenho numa saudade, numa saudade nossa
E terás contigo uma qualquer saudade minha
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18 setembro, 2021, 06’18” – Araguari, MG
AMOR E VINHO
O amor é vinícola, é poesia
Degustação, prazer, carinho
E, não nos faz ficar sozinho
É buquê, o querer, harmonia
Embriaga de alegria, fantasia
Que transforma, um cantinho
Um eternamente enamorado
O sedutor cochichar baixinho...
Provar do amar e ser amado
Saboreando o vinho!
Como é bom o apaixonado! (Tim Tim)
Assim, branco, tinto, espumante
Total combinação, sentir alado
De ser poeticamente amante!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/09/2021, 10’34” – Araguari, MG
quarentena
eu, quando sofro
não sofre eu.
sofre o que pena
da pena que se tem
dá dó essa cena
da lágrima que vem...
fazendo da dor quarentena
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/09/2021, 15’27” – Araguari, MG
O MEU PROVEITO
Tenho desejo de tudo quanto for sensação
No sentimento, de tudo quanto for agrado
De uma emoção, daquele estar apaixonado
Do que pela vida tem sentido e útil afeição
Do carinho dado, a poética e poesia, razão
Frente a frente com a felicidade e apeado
Do não, pois, toda a gente tem o seu lado
Cândido, são, de pés descalços pelo chão
Então, piedade, piedade do nosso fender
Pois, cada qual tem a sua ilusão em curso
Sonhos e realização, e um amor para ter
E, por não ser apenas um mais um, tendo
Tento ser mais que apenas aquele a haver
Aprendiz por ter sido, proveito crescendo...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/09/2021, 15’28” – Araguari, MG
A MINHA MORTE
Eu quero, quando me for, ser enterrado
ao pé da saudade de tempos de outrora
que tinha poética de verso apaixonado
aí, então, possa ter uma festiva aurora
Há de cantar galardão a um cavalheiro
de quem o amor cantou no seu existir
valei um amador de um amor inteiro
imutável sensação, o coração a sentir
E a dor não há de lá ir, só sentimento
e que serena melodia venha me velar
sem aperto, choro, suspiro e lamento
E, assim, então, com a poesia minha
está, o adeus possa a casta encontrar
e lá a prosa não mais perecer sozinha....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/09/2021, 09’58” – Araguari, MG
A ESTE POEMA
A este poema padece a ternura
A este poema ranzinza a chorar
Tão triste, e aflitiva desventura
Suspira na prosa infeliz a poetar
Rima árdua, fria e a murmurar
Olhar em vão, amarga doçura
Que arde n’alma a despedaçar
Numa trova lastimosa e escura
Diz-me a onde estará este amor
Que tenho saudade e faz sofrer
Distante dos beijos, e teu fulgor
Esse vazio me faz solidão sentir
Diz-me onde está! Pra lhe falar
Do meu amor pro seu amor vir!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/09/2021, 16’58” – Araguari, MG
PASSANDO 2
Escrevo diante do cerrado pálido
É setembro, há pó nas venezianas
No pensamento, rubras filigranas
Orlando o sol no horizonte cálido
Na sensação, uma dor doidivanas
De melancolia, que tem hora certa
Misturando tons, emoção e oferta
Desenhando as ilusões cotidianas
Desponta ao longe aquela saudade
Que me faz esquecer do que fazer
Do que pensar. Da minha vontade
Vago inquieto, e vou devaneando
A poesia vazia, sem sabor, prazer
E nos minutos o destino passando
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 setembro, 2021 - 09’00” – Araguari, MG
Dizer Adeus
Existem momentos em que sabemos
Que não temos palavras para dizer
Tudo cala, emudece o que tivemos
Silencia o olhar e nos faz sofrer
Buscamos em reduzir no até breve
Nas justificativas de sobreviver
Onde o espírito só queria estar leve
Mas o peso das lembranças faz doer
Uma música, palavras soltas no papel
Tudo motiva lágrimas n’alma a verter
É a sombra da vida no seu carrossel
Nos enigmas que tentamos esquecer
Nestes retalhos nada é definitivo
Questão de tempo, vontade de Deus
Nosso alento, razão, nosso lenitivo
Quando a emoção tem que dizer adeus...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14 de mai. de 2015 – Cerrado Goiano
Primavera
Florescem os lírios com o branco da paz
Brotam gardênias com o seu colorido fugaz
Em cada rosa transfigura o perfume do beijo
No movimento das margaridas o aceno do desejo
É o romantismo brindado na tulipa vermelha do amor
São os caminhos tapetado com violetas, delicada flor
As camélias perfumando com seu aroma inebriador
Raro como a papoula a vida se faz com poético teor
É a natureza oferecendo sorrisos com boca de leão
São as horas marcadas pelos girassóis em posição
Com copos de leite branco, a pureza, doce perfeição
Um azul hortência que tinge a primaveril estação
É época primeira anunciada pelas trombetas de anjo
São sacadas e floreiras vestidas das cores do gerânio
Aveludada como as begônias amanhece cada aurora
A solitária vitória régia desfaz a nostalgia de outrora
Sempre vivas bradando a temporada em anunciação
De manacá em manacá se orna a serra em floração
Em cada pingo de ouro a densa natureza persevera
Assim, bela como a orquídea é toda a primavera...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/09/2008, domingo, 07’00” – Rio de Janeiro, RJ
MELANCOLIA
E passa o tempo, cabelos embranquecidos
Diversas outras, e mais diversa sensação
São como desejos sem vida e carcomidos
Nuns suspiros do destino soltos pelo chão
O dia se faz segundo, e a rapidez pousada
Enrijando as quimeras dos pobres mortais
Nem mesmo a tal imaginação é iluminada
E capaz de parar as frustrações enfermais
E o tempo implacável baila sem paragens
Enquanto o caimento avança impiedoso
E a ilusão, então, deita sobre as miragens
Passou, vai passando: do amor a poesia
Triste amador que não foi ser amoroso
Pois, lhe restará devaneios e melancolia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23 setembro, 2021 – Araguari, MG
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