Poema Maos de Semeadora Cora Coralina
Excesso de estímulos e cobranças apressam
um vazio que avança,
uma solidão que se lança,
um cansaço que não descansa.
Justiça é o limite, o freio e a razão, a ponte que separa o direito da opressão.
Sem ela, o poder se torna tirania, e o direito, apenas face da violência fria.
Frequentemente, no convívio conjugal, vão surgindo pequenas fissuras que, se não cuidadas, tornam-se abismos. Muitos casais se percebem enredados em rotinas que silenciam afetos e ampliam ressentimentos. É comum que, ao chegar em casa, um dos parceiros busque refúgio nas telas e distrações que anestesiam o cansaço, enquanto o outro se ressente da ausência de diálogo e atenção.
De um lado, há quem se sinta relegado ao segundo plano, como se a presença fosse apenas tolerada, e não desejada. Gestos simples de aproximação — perguntar sobre o dia, trocar carinhos, compartilhar planos — vão se rarefazendo, deixando no ar a sensação de solidão mesmo em companhia. As saídas a dois se tornam exceção, e os momentos de convivência espontânea acabam cedendo espaço à indiferença.
De outro lado, há quem perceba o lar como um espaço tomado por cobranças e comparações. Após um dia de trabalho, alguns sentem que encontram apenas um inventário de críticas e expectativas que não conseguem cumprir. As comparações com outros casais ou modelos de perfeição alimentam sentimentos de inadequação e distanciamento.
Muitas vezes, os mesmos comportamentos criticados se repetem de maneira recíproca, criando um ciclo em que ambos se veem, em diferentes momentos, como vítimas e responsáveis. Não há inocentes absolutos, apenas duas pessoas que carregam frustrações, desejos de serem escutadas e compreendidas, e o receio constante de não encontrar acolhimento.
Para interromper esse movimento, é essencial que cada um possa expor suas percepções com respeito e clareza, sem acusações. Um diálogo paciente, sustentado pelo interesse genuíno de compreender o outro, pode devolver sentido ao vínculo que se fragiliza. Quando a conversa se mostra insuficiente, a busca por apoio profissional, como a terapia de casal, pode oferecer o espaço seguro onde a história comum seja recontada de maneira mais generosa.
Posso vestir a forma sem vestir a alma, ceder no corpo, dobrar a vida, mas manter a chama.
A mente que aceita nem sempre se curva, o gesto que adapta nem sempre concorda, o ato que obedece nem sempre abraça.
A sabedoria de aceitar sem se dobrar,
saber ceder, sem jamais apagar,
viver no mundo, sem se anular.
Abraçar o vento, mas não o desatino,
seguir firme no próprio caminho,
resistindo ao destino sem nunca perder o tino.
O lado bom da vida que hoje anima e encanta, amanhã cansa e desencanta.
Assim é a vida: um ciclo de brilho e sombra, onde o novo e o velho se encontram
Não há virtude em teoria; só na prática do dia a dia.
Ética não vive em ideia, mas no agir que a alma irradia.
Virtudes florescem em caminhos turvos e inseguros
Menos vozes, mais certeza;
mais vozes, mais incerteza.
Menos vozes, mais decisão;
mais vozes, mais indecisão.
Menos vozes, mais atenção;
mais vozes, mais desatenção.
Menos vozes, mais noção;
mais vozes, mais distorção.
Menos vozes, mais solução;
mais vozes, mais discussão.
Menos vozes, mais razão;
mais vozes, mais tensão.
Menos vozes, mais união;
mais vozes, mais divisão.
Menos vozes, mais concentração;
mais vozes, mais distração.
Reconhecer contextos não é sinônimo de absolvição, mas de compreensão.
A recusa em ponderar nos torna prisioneiros do ódio, da pressa e da incapacidade de enxergar nuances.
A cultura humana parece uma tapeçaria viva, nunca pronta.
Convenções e consensos construídos historicamente e socialmente se entrelaçam, se cristalizam e depois se desfiam, em processos constantes de construção, desconstrução e reconstrução.
Nada é absolutamente fixo, porque a realidade muda e nos convida a repensar.
Moral, costumes, leis — tudo parece provisório; tudo é relativizado, nada é absoluto.
Quando pensamos ter tecido um consenso duradouro, ele se transforma nos dedos inquietos de novas gerações e nas várias queixas que alimentam um ciclo sem fim.
A crítica constante é também força criadora, que renova mesmo diante do desgaste. Para uns, esse incessante desfiar é desesperador; para outros, libertador.
Cultura: consensos tecidos, em teia entrelaçada entre passados e presentes.
Nada é fixo, tudo oscila e se desfaz, moral, ética e lei, fios que se fazem e refazem.
Várias queixas num ciclo sem fim, desfiar constante, dor e alívio, enfim.
Para alguns, pranto, trabalho e desespero, para outros, renasce o sonho verdadeiro.
Antes favela, hoje comunidade, trocaram o letreiro, mantiveram o roteiro.
Mais glamour que transformação, mais fachada que solução.
Favela passou a ser comunidade, marketing comercial, pobreza com nova identidade, gourmetização, cosmética social.
Enquanto isso, o hiato da desigualdade só faz aumentar
Você está bem, agora?
Continua assim.
Pensar, antes de falar.
Buscar sabedoria,
que é a melhor coisa.
Ter, o bom comportamento.
Fortalecer agora;
não esperar a fraqueza,
para fortificar.
"Chama na Encruzilhada"
Não é só força que habita o fogo da encruzilhada,
Nem só segredo guardado na gargalhada.
É o Pai Criador que me molda na argila bruta, ofício de Oxalá
Manifestador da estrada que em sombras se dilata.
Seu amor por mim é o primeiro sopro na vereda escura,
É o dendê que acende a lâmpada mais pura.
Meu amor por Ti, Esú, não é só oferenda na pedreira, na encruzilhada
É raiz fincada na terra, é chama verdadeira.
É o olhar que reconhece, no caos, a mão que guia,
É a voz que Te chama, antes do amanhecer do dia.
É confiança de filho que sabe: o caminho aberto,
Por mais que doa, é por Ti, Pai, descoberto e certo.
Tua justiça não é espada fria, não é vingança cega,
É a balança do mercado que o egoísmo nega.
É o falo que corta o laço da mentira enleada,
É o "firme ponto" na estrada sacudida, na jornada.
É o lembrete severo: toda ação tem seu retorno,
Na medida exata do ferro, no forno mais interno.
Minha justiça por mim
é espelho que Tua lei me entrega:
Honrar a vida que criaste, com a força que me nega
A fraqueza que desvia, o medo que paralisa.
É lutar, com Tua garra, contra a própria covardia.
É erguer, com Teu exemplo, minha própria fronte erguida,
Fazendo de cada passo um ato de justa vida.
Ah, Pai de todas Encruzilhadas! Nosso amor é movimento:
Tu me crias a cada instante, no teu fogo, no teu vento.
Eu Te amo na travessia, no respeito ao teu poder,
Na aceitação do teu veredito, sem temer.
Tua justiça é meu alicerce, minha bússola na noite,
Minha justiça é a resposta, no meu peito, a Tua voz!
Juntos, na dança do destino, somos fogo e somos chão, choro sangue, gargalhada criação.
Tu és a Criação em marcha, eu sou o eterno aprendiz,
Numa só força, um só caminho, uma energia, um só amor, uma só raiz.
Laroyê
Ofício Solar
A noite é fria, e o frio fustiga o vão
Onde o coração, sem eco, jaz no chão:
Um cálix sem licor, um braseiro apagado,
Um árido silêncio, desolado.
Mas eis que a pálida aurora, em seu labor,
Fende a mortalha do noturno horror.
O Sol — cíclope eterno, forja em chamas —
Tecendo o dia com douradas tramas.
Não mero fulgor que apenas vela a dor,
Mas alquimia sutil, um ato maior:
Transmuta o gelo em seiva, o vazio em vaso,
Onde a esperança, planta de tenro laço,
Desabrocha — não em júbilo feroz,
Mas em quieta alegria, como a voz
Da fonte que retorna ao seu leito antigo,
Da estrela que persiste no perigo.
Nasce o dia. Não como um grito vão,
Mas como o lume que a razão acende
Na escuridão. É o gesto que desfende
A vida do seu próprio abandono:
O sol, Vênus, a alba... É o eterno dom
De um novo tempo, um compassado som
Que diz: Em ti, a luz se refaz agora."
E o coração — vaso, crisol, forja ignora
O frio da memória, e aprende, enfim,
O ofício de ser luz, de ser jardim...
Tardes com Teu Nome
Há um instante no crepúsculo que cai,
Quando a luz, já cansada de ser sol,
Se derrama nos vidros a cantar
Um segredo que o mundo não sabe ouvir.
É nessa hora branda, quase parada,
Que teu rosto se forma no ar morno:
Não é lembrança, é presença delicada,
Um refúgio de sombra no fim do dia.
Penso em ti — e o tempo se dobra:
O vento traz tua voz nas folhas secas,
A poeira dourada dança devagar
Como gestos teus pela sala vazia.
Ah, que ofício simples e profundo
Deixar que a saudade, lenta, se instale: Pois ainda não vivi.
Não dói, aquece. É um fogo brando
Que a tarde carrega em seu manto largo.
O mundo lá fora se tinge de mel,
As nuvens desfiam algodão doce,
E eu — apenas navego sem pressa
Nesse mar calmo onde teu nome é porto.
Porque pensar em ti à tarde não é fuga:
É encontrar, no meio do dia que finda,
A quieta certeza de que existes,
E que essa luz, por um instante,
É tua mão acariciando o horizonte...
Pequena Resistência
Era um grão no chão duro,
Pisada pela pressa do mundo.
Vozes grossas, vento cortante,
Vida apertada, mas não tanto.
Sob o peso do inverno longo,
Guardou calor no punho fechado.
Cada passo era montanha,
Mas seu sonho, semente teimosa.
Um dia a raiz furou o cimento,
Broto verde ergueu o dia.
Na altura do joelho alheio, foi quando eu conheci.
Floresceu sua quieta ousadia.
Hoje carrega o sol na palma,
Pequenina nave mestre
De si mesma —
Flor de asfalto.
Nem natureza fixa, nem construção fluida;
Nem substância rígida, nem folha vazia: semente que varia, DNA que fica, cria e recria;
Nem pura essência, nem pura aparência: é mistura, é experiência, é vivência, é existência.
Somos síntese viva, cultura e biologia,
união dinâmica em constante interação, transformação e evolução.
O capitalismo tem como vertente principal a propriedade privada e o mercado livre. Apoia-se nas contradições e ambivalências humanas, celebrando o individualismo.
O socialismo, assentado no coletivismo e composto por múltiplas correntes que oscilam entre o ideal igualitário e o controle rígido, ainda busca sua aplicação plena.
Essa abordagem pragmática — focada no real, sem idealizações, lidando com a vida como ela é — fez do capitalismo o sistema predominante globalmente, enquanto o socialismo permanece marcado por utopias e controvérsias.
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