Poema da Geladeira Elisa Lucinda

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Pegada

Meu peito é nada mais nada menos
Que um mar de ondas.
- Vai e vem pelas areias
Sem fim. Meninos pequenos

A construir castelos, e a criar
Em suas imaginações, dragões
E eu com a minha amada, a beijar
O tempo... E peixes por entre rufões

Águas marinhas a fazer o encanto,
Conchas a espalhar-se pelo chão,
E o vento a fazer do meu peito lamento

Minha amada partindo, vai paixão,
Nada posso dizer vai, deixando pranto
E assim acordei do sonho, presas no coração.

Injustiça

Vem em forma de bicho feroz,
Dirigido por um ser subordinado.
Por que devoras sonhos
realizados
Se a minha vida é o meu trabalho
Agora destruído?
Joga meus esforços
Por água abaixo,
Injustiça!
Nessa vida me sinto perdido,
A maré me sufoca,
Os pássaros me beliscam,
Os meus olhos já não brilham...
O que me resta,
O que me falta
Nesses duros e cansados dias?

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

Monólogo

Gostoso é o nosso
Expressar:
Íntimo, quente, prazeroso, suave...
Nos lastimáveis momentos
Subitamente nos afastaremos
Para não fustigar as flores
Para não romper as rosas...
Quero enfatizar o amor,
Fantasiar a nossa vida.
Rapidamente não te avisto
Bato-me com os dentes
Faz-me derreter os olhos,
Não conseguindo
Avistar beleza.
E faço a minha vida
Um monólogo
Sombrio sem respostas.

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

Sede

Quero uma poesia que penetre em minh’alma,
E me faça por entre lágrimas
Sentir o gosto do riso:
– Nada foi perdido!
Quero mais que uma poesia,
De amor, – não quero poesia
Sem lâmina, sem sabor,
Sem cheiro, sem sangue,
Sem o pulsar de coração,
Sem elementos de vida,
De esperança. (Quem sabe apenas
Um ponto – o silêncio,
Menos suspiro e reticência
– ataque fulminante).
Quero mais do que palavras,
Quero o abraço que faça-me
Perder o fôlego, me sentir ofegante.
Quero licença poética,
E quebrar a censura, e ser livre
Para poder mandar alguém
Para onde eu quiser,
E também ser mandado
Ao bel prazer.
Quero o “vá ser livre”,
E “vamos sermos livres juntos”
(E que a liberdade não nos separe),
Quero a vírgula fora do lugar,
Só para confundir
E ser confundido.
Quero poder falar na forma
Que eu quero e bem entender,
E dizer que a gramática
Não me contaminou
Por inteiro,
– Quero ser critico
Da minha própria pessoa!
Quero uma poesia
Que sinta a minha dor,
E chore comigo,
Como se hoje fosse
O último dia,
– Hoje já passou…
Amanhã quero um conhaque,
Um cigarro qualquer,
E uma mulher,
Que não viva me fazendo
Juras de amor,
E minta todos os dias
Me amar.
Quero sentir o perigo da rua,
Da curva da poesia,
E da amada.
Embriagado, quero
Mais que poesia,
Muito mais do que poesia.
– Hoje vamos nos divertir!
– Até chegar no espaço!
– Fecha os olhos.
– Esquece esse mundo.
Palavras soltas,
Sem dono,
Em busca de serem encontradas.

Valter Bitencourt Júnior
Você Pode: Antologia, 2018

Beleza

Mulheres que se apaixonam
Por flores,
É mulher
Que se semeia,
E nasce a cantar!
Mulheres de vários amores,
Mulheres sem se apaixonar!

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

A sua boca

Quem sou eu
Para escarrar a sua boca,
Se sou, fascinado
Por ela!

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

Acontecimento da vida

Nunca vi
Nada tão escuro
Como hoje.
Talvez entrara
Em uma ilusão,
E os acontecimentos
Da vida
Ajudaram.

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

Das sete faces do desprezo
A Carlos Drummond de Andrade

Quando eu nasci, não teve sequer um anjo torto
Que me dissesse que a vida não é
Tão fácil o quanto parece ser
Disse: Vai, Valter, ser baiano na vida.

Ladeiras faz bem ao coração
Jovens apaixonados na esquina
Dizendo que não se apega a ninguém.
A tarde de puro sol, o perigo
É imprevisível mesmo que o dia
Seja azul.

O ser vestido de uniforme
Vai trabalhar no ônibus lotado
Sequer sabe se vai ser assaltado,
Acha que tem muitos amigos
No fim de semana.
O ser vestido de uniforme,
Mal sabe quando vai quebrar a cara.

Meu Deus, que sociedade de muita fé,
Que muito chama pelo Senhor,
Pessoas de muita fé e pouco amor.

Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Carlos,
Eu seria outro poeta (?)
Nesse mundo vasto
Que maltrata meu coração.
Mundo mundo vasto mundo
Chega de ilusão?

Eu bem que vou dizer,
Esse mundo cheio de gente eu solitário
Em meu ego e vaidade
Vou me afogando
Sem sequer um abraço!

Valter Bitencourt Júnior
LiteraLivre, São Paulo, v. 4, n. 21, p. 215, mai./jun. 2020.

Fugirei dos seus braços
Ao perceber que, diante do gatilho,
Estou completamente perdido por você

(Trecho da poesia Fuga)

Valter Bitencourt Júnior
Toque de Acalanto: Poesias, 2017.

Eu pensador
Eu crítico
Nos meus rompantes
Nos momentos excitantes
Penso e crio
Vivo e fantasio
Falo não só de mim, mas também de ti
Poesia é suor
Poesia é descrever um momento maior

MATURIDADE

Maturidade é você reconhecer o que não está dando certo…
Maturidade é você não procurar quem errou depois de uma decepção…
Maturidade é você não cobrar e nem pagar na mesma moeda…
Maturidade é você saber a hora certa de se afastar…
Maturidade é você se permitir a recomeçar…
Maturidade é você entender e compreender com quem você está perdendo o seu tempo…
Maturidade é você ser feliz com o que te faz feliz.

Procura-se uma prenda..
Pra viver comigo num rancho feito de amor e de madeira.
Que queira ouvir milongas pra se amar a noite inteira.
Tomar chima, comer pipoca, contar causos em volta do fogão.
Ter um cusco, um baio e uns filhos pra alegrar ainda mais a nossa junção.
Jogar truco, comer pinhão, viver juntinhos pra sempre aqui no rincão.
— Procura-se uma prenda que queira esse tipo de peão,
pois a quero amar a vida inteira, e entregar o meu coração.

Moisés
Rio, doce manancial de água purificadas.
Berço de suave esperança.
Entoando cantos de niná, tráz a criança.
Num lindo e açucarado cestinho.
À tua margem se teceu um ninho.
Onde, ansiosamente aguarda,
dois braços abertos que mais parecem asas.
Berço guardião terra...desembocadouro Mar!

☆ Haredita Angel

⁠No Processo
No processo há dor,
há medo que cala,
choro que inunda,
e luta que rala.
Vontade de ir embora,
sumir, desistir,
deitar no escuro
e parar de insistir.
Mas entre os espinhos
há mãos invisíveis,
tocando teu peito
com forças incríveis.
Mesmo quando o chão
parece ruir,
há graça do alto
pra te conduzir.
O amparo divino
não falha jamais,
Ele chega em silêncio,
mas traz muita paz.
Na hora mais dura,
no vale mais frio,
Deus sopra esperança
e traz o alívio.
Então não desista,
o céu te sustenta.
Cada lágrima rola,
mas a fé te aumenta.
Você não está só
na trilha a seguir:
há um Deus que te abraça
e te faz resistir.

Vou fazer de conta que já me esqueci
dos dias mais quentes, das noites mais frias;
mas no fim de contas, o que faço aqui,
neste catavento cheio de avarias...?

Sopram na aragem ventos duma sorte
que tanto dominam laços corrompidos;
e vindos do nada, passam com desnorte
pelo catavento, junto aos meus ouvidos..

Faço que não oiço, porque fiz de conta
que já não sou eu, nem me reconheço;
oiço esses zunidos, com a cabeça tonta,
dou-me ao manifesto, dão-me qualquer preço...

Porém, contrafeito, tão-pouco me valho,
nesta condição, com um ar cinzento;
sou mais um andrajo, pareço um bandalho,
junto ao velho eixo deste catavento.

DIZEM QUE A MULHER...


DIZEM QUE MULHER NUNCA SABE O QUE QUER
UÉ, MULHER FAZ O QUE ELA QUER
DIZEM QUE MULHER FAZ MUITA CONFUSÃO
UÉ, A CULPA NÃO É SUA, NÃO?

DIZEM QUE MULHER É SÓ PRA REPRODUÇÃO
UÉ, CÊ VIVE EM QUE MUNDO, IRMÃO?
DIZEM QUE MULHER NAO PRESTA PRA ESCREVER
UÉ, VC NÃO CONHECE A SUSANNA HELLER?

DIZEM QUE MULHER NÃO FILÓSOFA SÓ PRESTA PRA RIR
UÉ, TU TÁ SONHANDO, ZÉ! TEM A SIMONE DE BEAUVOIR
DIZEM QUE BRASILEIRA SÓ PRESTA PRA ESTAR NO FOGÃO
UÉ, CÊ NÃO CONHECE A LEI MARIA DA PENHA, NÃO?

DIZEM QUE MULHER NÃO FAZ RIMA NÃO
UÉ, TÁ LIGADO NA CARDI B, NÃO, MEU IRMÃO?
DIZEM QUE MULHER É FRÁGIL, MEU IRMÃO
UÉ, TA LIGADO NA MALALA YOUSAFZAI LÁ DO PAQUISTÃO?

DENTRO DA TARDE

A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
Cheia de melancolia, deita o fim do dia
Sobre cabelos de fogo tão encarnado
Do horizonte, numa impetuosa poesia
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado

O mistério, o silêncio partido pelo vento
No seu recolhimento de um entardecer
Sonolento no enturvar que desce lento
Do céu imenso, aveludado a esbater
No entardecer, seco, frio e, sedento

Perfumado de cheiro e encantamento
Numa carícia afogueada e de desejo
Seca e fria, a tarde, tal um sacramento
Se põe numa cadência de um realejo
Numa unção de vida, farto de portento

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano

BALADA DO TEMPO (soneto)

... e o tempo passa, indiferente
apático, indo embora sem saber
poente na saudade, o alvorecer
mais um, outro, apressadamente

... dono dos gestos e do prazer
tristemente, tal uma flor dolente
que traga o frescor vorazmente
no ato da ação do envelhecer

e o tempo passa, inteiramente
sem que escolhamos perceber
e na lembrança, assim, assente

passa o tempo, e é para valer
sem que nada dele ausente...
Presente! Pois vale a pena viver!

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano

A JANELA E A LUA (soneto)

Já de ti - dizia a lua - me despeço
Pra janela, no cerrado com sorriso
Deixo-te com os sonhos. Preciso
ir... O sol já está no seu ingresso

No horizonte me embaço no paraíso
De tua fresta vê-me no meu avesso
Diz a lua no clarão no céu disperso
E eu, noturna, indecisa, me diviso

E, escancarada, alegre, a ti expresso
Até mais logo! Vá com lotado juízo
Diz a janela pra lua, breve regresso!

E está, que já dormia, de sobreaviso
Inteirou a janela deste seu recesso
Até a noite, quando volta no improviso

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano

NA PELE DO CERRADO (soneto)

Pulsa mais do que se pode ouvir
Vário mais do que deve imaginar
Mas, não se pode nele se banhar
Sem nele o teu chão os pés sentir

Aqui, pois, o céu é do azul do mar
Teu horizonte na vastidão a reluzir
Num encarnado que nós faz ouvir
Tons no vento no buriti a ressonar

O contraste é somente pra iludir
Hibernando e, encantado o olhar
No árido inverno dos ipês a florir

Num espetáculo que vai embalar
Do marrom ao virente a se colorir
Pele do cerrado, agridoce poetar

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

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