O Poeta e o Passarinho
Ponteiros que giram no incessante tempo da espera.
Sonho que dorme com a aurora.
Vozes que me buscam sem trégua.
Saudades sem fim.
O seu grito é o eco do seu destempero.
Assim como o seu silêncio é a acústica da sua falta de atitude.
Ajuntei um tanto de letras da minha alma...pingadas sílabas cosidas no desabafo deste alforje incontido semearam lucidez ilúcida...amor descrevendo a vida ida.
Contemporizo-me num estreito espaço de sôfregas e sofríveis lembranças.
Enleio-me numa mistura torturante de saudades.
Vento soprando a tez desenhada com sinais de irrecuperável tempo.
Aceno o modo da penúria que faz brotar acidez face abaixo.
No retórico retoque não há maneira exata.
A inexatidão é fato.
Absorvo os meus ais para absolver o meu sussurro.
Inexorável confidência que me impõe sentir a alma ausente e perdida dentro do seu mundo.
Deixa o mundo girar.
O porto de partida sempre é o porto da chegada.
Sempre ando mirando o horizonte!
Não singrarei meu barco com o peso de agora,
não levarei culpa e nem culparei...
fui o que pude, mas a essência não fora capaz de suprir
a beleza do frasco que é o alvo pretendido!
Deixei o que pude e com o exalar do cheiro... o vento expandiu-me e volátil e sem imagem não signifiquei!
Enfim... enfim.
Fim.
Ninguém está obrigado a se obrigar!
Fazemos o que queremos receber,
mas nem sempre recebemos o que fizemos!
Abordei com muito jeito o meu coração para falar sobre o amor.
Não foi possível manter o diálogo.
Ele estava cheio das falas vazias que lhe foram oferecidas como dedicação e,
por isso, não crê, agora, em nada além do que vê.
Não vou dizer sobre o que sinto.
Faço a ilógica tentativa de usar o silêncio para silenciar o meu grito.
Não consigo calar os meus gestos.
Quero não querer o que eu quero neste querer absurdo de continuar querendo não querer o que me alimenta.
Não presumo resgatar nada.
Tempo não se recupera e, tampouco, sentimentos sentidos.
Vivemos o que podemos viver.
Vivi a minha entrega
e o que me resta é viver o agora.
Não ouso tentar não ser.
Quero pouco ou até nada.
Vou seguindo sem avisos.
Precisando de muito pouco ou quase nada...que é o meu tudo.
Aceno com um suspiro a falta sentida dos seus olhos.
Abraço a saudade envolvendo-a com uma declaração de amor.
Ela não acredita e não credita esperança na fala desta hora.
Noite vazia.
Luxúria de solidão.
Se não puder fechar a porta... Deixe-a como sempre esteve.
Faltou-me coragem para sair quando as minhas asas tinham apenas as suas próprias penas.
Muitas vezes dizemos o que não queremos e deixamos as nossas vontades silenciadas pela suposição de sermos entendidos.
Lamentavelmente esperamos muito mais da pessoa amada do que ela pode nos dar.
