Nós dois

Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa.

A riqueza influencia-nos como a água do mar. Quanto mais bebemos, mais sede temos.

A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.

Não prestamos para nada se só formos bons para nós próprios.

As vivências terríveis fazem-nos pensar se o seu protagonista não é, ele próprio, algo de terrível.

Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual.

As coisas não mudam; nós é que mudamos.

A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação.

O passado serve para evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro.

Deveríamos olhar demoradamente para nós próprios antes de pensarmos em julgar os outros.

Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós.

Ocupados em descobrir os defeitos alheios, esquecemo-nos de investigar os próprios.

Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade.

Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras.

Levar insidiosamente o próximo a uma boa opinião de nós e, depois, acreditar piamente nessa boa opinião: quem consegue imitar nesta habilidade as mulheres?

A preocupação deveria levar-nos à ação e não à depressão.

O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios.

As paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos.

Interessando-nos pelos outros, conseguimos fazer mais amigos em dois meses do que em dois anos a tentar que eles se interessem por nós.

A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.