Naufrágio
Olho para nós dois e vejo apenas um naufrágio… tudo que construímos, os mares que navegamos, as rotas que traçamos… talvez eu aceite que eu deva deixar o vento te lavar e deixar o barco seguir o ritmo da maré, mas enquanto o redemoinho não me sugar pras profundezas do oceano, não posso deixar que a correnteza causada por mim arraste o meu tesouro mais precioso.
o meu amor é livre
ou liberalista?
sentencio meu naufrágio
por essas bandas do amor liberalista
desde quando me percebi
buscando encontrar o meu eu
em múltiplos pares
absorvida pelo mundo
das necessidades fragmentadas
o amor liberalista surge
de um pequeno ódio
revolta pitoresca
a dor dos acordos não respeitados
se encouraça
como uma desesperança desmedida
é demanda disfarçada de autonomia
é a liberdade dos desencorajados
a tomar um gole de si
debandada de quem come gente
como se come o mundo
urgente no desejo de se retratar
Ainda que sobreviventes de distintos naufrágios, quem dera fôssemos resgatados na mesma embarcação.
No meio do nada
Em naufrágio
Sem terra firme a vista
Sem você a me esperar
Estou perdendo o fôlego
Desisto de nadar
Quabdo você me deixou
Vivo em naufrágios
Tudo virou um temporal
E todos os nossos sonhos
Evaporaram, não vejo teu sinal
De que voltarás...
Tuas palavras foram falsas
E inseguras...
Com certeza sairei desta situação,
E breve este meu coração,
Achará um alívio com direito a calmaria
E tudo será dissipado e abminado...
***
Mas quando é pra ser, será mesmo. Não há: vento, tempestades, naufrágios, tsunamis; que impeça o amor chegar. Quando o amor chega é assim mesmo. Não tem hora pra avisar, e quando chega é pra durar e ficar. Com tantas desavenças, nossas vidas se encontraram, o destino nos uniu e permanecera... entrelaçado assim, nosso amor. Como um laço, onde nada o romperá.
NAUFRÁGIO
Quem me leva para Galiza?
Meu barco ficou atolado
Quase afundado
Na Boca do Inferno
De Cascais da Costa da Guia
Inda quase a noite era já de dia
Com o leme despedaçado
Quando eu apontava no caderno
O norte onde eu queria
Alcançar a terra do meu fado.
Quem me leva para Galiza?
Às minhas amadas ilhas de Cies e Ons
Mágicas de vidas de outros sons
E tantas saudades das Sisargas
E a amada de San Simon
Onde repousa o coração
Do amigo das costas largas
Que a onda arrebatou em Medal
Na trágica noite do temporal...
Quem me leva para Galiza?
A terra verdadeira dos meus astros...
Se lá não voltar em vida
Certinho será na muerte
Consorte
Requerida
E então abraçarei meus avoengos
Velhinhos mas solarengos
Os meus saudosos Castros.
(Carlos De Castro, in Boca do Inferno de Cascais, 02-07-2022)
Hoje é o reflexo do ontem, amanhã o espelho do hoje, e com todo naufrágio no mundo distorcido guia humanidade em rotação sem conhecer a verdade realidade.
'MAR... '
Nos extensos mares somos barcos naufrágios. As muitas correnteza [des]favoráveis sempre deixam ranhuras. As salinizadas águas com o tempo deixam cicatrizes. A dilaceração é perceptível com o tempo e o tempo é um desastre.
Vedar as fendas que surgem apenas prolonga o que de fato já se escreveu. Deixar o barco correr ou manter-se agitado? Há os que preferem a resistência, a mágoa de tentar subir as correntezas rumo às suas expectativas. Outros apenas flutuam. São levados pelo mar com aparente satisfação e ócio.
Mas sabe-se: todos querem um porto a qualquer valia. Chegar àquela luz que tanto brilha. Manter seguro a estrela que tanto se admira. Uma. Várias. O que vale é a energia. Flutuar sob as águas imensas. Belas. Delirantes. Mas com seus desafetos e sujeiras.
Com o tempo aprende-se a aceitar o extenso mar à nossa frente. Não importa como ele seja. Um dia nos levará para onde não queiramos. A tração que se tem é apenas temporada. Ajuda, mas não é duradouro.
A visão desse mar é fantástico. Inacreditável. Surpreendente. Nele todos movem-se sempre rumo ao desconhecido. E o tempo há de naufragar aquilo que tanto procuramos. Tempo? Não! O mar... essa coisa sombria e nefasta.
Não há náufragos no mar das idealidades porque os sonhadores são ótimos timoneiros, os naufrágios restringem-se ao mar da realidade no qual viajamos como passageiros.
