Morro
É um teatro. Eu choro e grito, mas ele não vê, e quando finge que não vê, eu morro e a história acaba.
Ela me faz pulsar no compasso de um belo samba, na cadência da melodia que desce suavemente do morro e deságua num lago de poesia enfeitado com pétalas de tamborim. Ela me faz balançar as cadeiras e bailar sobre o asfalto em chamas, remexendo meus desejos guardados de jamais ser o Pierrô, mas sim, o Arlequim.
Sim, eu quero! Quero devolver-lhe a alegria que recebo simplesmente por vê-la gingando ao largo da passarela. Quero entregar-lhe pessoalmente o calor dos meus abraços e fitar-lhe bem no fundo dos olhos, com meus olhos de quem quer ver muito mais do que se pode.
Por ela eu clamo por infinitas noites de folia! Eu a vejo enquanto durmo como se a vida fosse muito mais do que ter o dom de tocar as coisas e as pessoas. Ela me faz flutuar como confete de carnaval. Ela mutila as razões de qualquer enredo e torna volátil tudo aquilo que se dizia concreto.
O físico e o irreal se transformam num só elemento quando ela se mistura aos adereços das alas em festa. A ela ofereço uma valsa de pandeiros e agogôs sob a luz do luar. A ela dedico uma ópera de pastorinhas cantando do alto da minha ribalta. Ao contrário do que diz, ela é virtuosa passista a girar sem cansaço no meu pensamento.
Ela é a cabrocha mais linda da avenida. Ela é a luz que ilumina a minha escola de samba. Eu fico mudo quando ela passa. Não há no mundo do samba quem mais bem me faça. Quero infinitos carnavais ao lado dela e caminhar sobre um felpudo tapete tecido com glitter e serpentinas. Quero ser um folião pulando em seus braços, sem jamais conhecer o limiar onde repousam as cinzas de outras quartas-feiras.
ANIMAL FERIDO
Sou o improvável por detrás da cortina da neblina que me sublima. Distraída morro nos versos desconexos que me alucinam e que devoram as minhas horas sem rima. Corro em disparada em direção ao infinito, carregando, no meu dorso, a minha carga e soltando talvez o meu último grito de animal ferido. A luz do sol queima a minha pele e abre os meus poros. Banho-me no sal do meu suor na tentativa de aliviar a dor de minhas feridas expostas. A minha boca está seca, a língua rachada, tenho fome, sede e febre alta. Estou exausta. Antropofágica, devoro a minha própria carne e sacio a minha sede bebendo no oásis de minhas próprias lágrimas, com furor. Como uma corredora, no deserto de minhas fragilidades, vou em frente. A brisa que sopra acaricia o meu corpo quente e o deixa dormente, abstraído de sua condição. Neste exato momento, sou toda coração e para cumprir mais essa etapa, cuja única meta é conseguir chegar ao final da estrada, libero o que sobrou de mim para vibrar no ritmo de sua pulsação.
Saudade: Odeio, tolero, amo, me importo, choro, morro por dentro, sorrio, olho pra trás e vejo o quanto essa saudade tem seu ponto positivo, o quanto existe amor nessa palavra insignificativa para alguns.
Distantes de ternos e barbas feitas, lá (na natureza) o Doutor é outro: O morro, o rio, o passáro, alheios a meras convicções tolas.
Morro de medo do tempo. Tempo que tudo destrói, tempo que muda as coisas de lugar. O que era encantador e belo, com o tempo se transforma tudo em clichê e sem graça. Tenho medo de amar e com o tempo tudo mudar, tudo se acabar. Deveria ser o oposto, com o tempo, as coisas deveriam ficar mais sólidas, mais fortes. Os relacionamentos deverim amadurecer ao invés de envelhecer. Na verdade, eu menti. Eu não morro de medo, eu fico apavorada, desesperada só de pensar nesse tal de “tempo”. Se alguém encontrou um veneno anti-monotonia me digam por favor, porque não consigo mais crer em nada. Se me disserem que me amam ou que gostam de mim, eu vou rir, porque exatamente nesse momento, vou pensar: por enquanto, pois quando o tempo passar esse conceito vai mudar. Pareço carregar um elefante nas costas, tô cansada, atemorizada. Só espero que um dia, tudo isto não tenha mais espaço em meu coração.
Eu morro...eu morro
A matutina brisa ja naum me arranca um sorriso.
A fresca tarde ja não me doura as descoradas faces que gélidas se encovam.
Penso querer e não quero. Digo não desejar e morro de sede.
Quero um SIM delicioso e digo um NÃO que amarga a boca (e sofro).
Cortaram minhas asas, se eu me jogar eu morro. Mas o bom de se estar morta é que ninguém vai me matar de novo.
Tudo tem seu tempo
Há tempo de nascer e morrer,
Eu morro de vontade de você.
Tempo de amar e tempo de crer,
Acredito no tempo do revés.
Ficar triste em todo tempo,
Leva sempre o coração a chorar.
É um maravilhoso gasta tempo,
Brincar, sorrir e muito dançar.
Existe um tempo para espalhar,
Não gosto nada desse período,
Mas também há tempo de ajuntar.
O tempo que se procura economizar,
São momentos difíceis pra danar,
Melhor é ter dinheiro para gastar.
Morro por dentro
ao sentir ciumes de ti
e nem me perguntes o por que.
Inquieto-me toda vez que penso
que alguém atreva-se a lhe querer .
Quisera ser um mar revolto
ou tão somente um vento intenso
Só para agarrar-te com toda força
e sugar só pra mim todos teus silêncios.
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