Ela me faz pulsar no compasso de um belo... Renée Venâncio

Ela me faz pulsar no compasso de um belo samba, na cadência da melodia que desce suavemente do morro e deságua num lago de poesia enfeitado com pétalas de tamborim. Ela me faz balançar as cadeiras e bailar sobre o asfalto em chamas, remexendo meus desejos guardados de jamais ser o Pierrô, mas sim, o Arlequim.

Sim, eu quero! Quero devolver-lhe a alegria que recebo simplesmente por vê-la gingando ao largo da passarela. Quero entregar-lhe pessoalmente o calor dos meus abraços e fitar-lhe bem no fundo dos olhos, com meus olhos de quem quer ver muito mais do que se pode.

Por ela eu clamo por infinitas noites de folia! Eu a vejo enquanto durmo como se a vida fosse muito mais do que ter o dom de tocar as coisas e as pessoas. Ela me faz flutuar como confete de carnaval. Ela mutila as razões de qualquer enredo e torna volátil tudo aquilo que se dizia concreto.

O físico e o irreal se transformam num só elemento quando ela se mistura aos adereços das alas em festa. A ela ofereço uma valsa de pandeiros e agogôs sob a luz do luar. A ela dedico uma ópera de pastorinhas cantando do alto da minha ribalta. Ao contrário do que diz, ela é virtuosa passista a girar sem cansaço no meu pensamento.

Ela é a cabrocha mais linda da avenida. Ela é a luz que ilumina a minha escola de samba. Eu fico mudo quando ela passa. Não há no mundo do samba quem mais bem me faça. Quero infinitos carnavais ao lado dela e caminhar sobre um felpudo tapete tecido com glitter e serpentinas. Quero ser um folião pulando em seus braços, sem jamais conhecer o limiar onde repousam as cinzas de outras quartas-feiras.