Matei Voce dentro de Mim
escrever é meu maior pecado
e meu melhor refúgio
escrevo de mim
sobre o eu que ainda desejo descobrir
O espelho gosta de mim
e quer esconder-me os meus próprios defeitos
Sou ele ou sou eu quem me vê através do reflexo?
Vivo distraída
Entre meus próprios lamentos
Entre meus próprios tormentos
O mundo precisa de mim?
Sou uma desconhecida
Sou uma nau naufragada
Dentro do meu mar
Dentro do medo de amar
Meus passos correm em busca de mim
Em busca de quem eu sou
Em busca de onde estou
Em busca do meu lugar no mundo
Do meu propósito
Da minha missão
Do meu ser
Do meu mais profundo
Encontrei vestígios de mim
Por aí
Não era seguro andar pelas ruas
Não era bom senso andar distraída
Mas eu deixei-me ir
O corpo levado pela alma acesa
Incandescendo
Puro furor e êxtase
Vontade à mesa
De percorrer entre ideias soltas
E malandras
Que me fizessem crer
Novamente
No poder da andança
Da temperança
Da esperança
Da dança
Ah, dona valsante
Que me abriu os olhos
E as vísceras inteiras!
Ah, escaldante sol
Sobre minhas têmporas
Cheias
De vistas
Revistas
Analistas
Alquimistas
São tudo o que tenho em mim
E eu ainda procuro
- Como ouso?
Eu ainda procuro
Vestígios de mim
… pelo chão.
Não aceito migalhas dos meus próprios pensamentos.
Posso aceitar migalhas dos outros
e até de mim mesma,
mas nunca aceitarei migalhas
do meu próprio pensamento.
Sou o revés de mim mesma
Sou a mão que açoita minha solidão
Sou o pesar do desespero
Sou a vida da morte em vão.
Sou a persona grata non here
Sou o pudor da vergonha em mim
Sou o estrago do próprio embaraço
Sou o nó que desfaz o laço...
Metade do tempo
sou eu!
Metade de mim
é o tempo!
Eu sou esta corda bamba
Sou o equilíbrio entre a pilha
de coisas da vida
e a queda desmedida!
Sou a espiritualidade e o tormento
Sou a doença e o unguento
Sou a leveza e a vazão
Sou a subida e o escorregão!
Eu sou metade do tempo
O tempo é metade de mim
Se isto é um sonho, eu digo:
- Os sonhos transformam a vida!
E eu vivo sempre assim!
Tão belo
Que minha vontade
É prendê-lo
E sorvê-lo
Só para mim!
Mas que egoísta sou!
Tanta beleza
Não deve ficar escondida
Não deve ser retida
Não deve ser sorvida
Nem ser de um dono só!
O tempo esquece do tempo e meio sem tempo distorce do tempo que há em mim
Sem tempo não temo o tempo e o tempo se ilude enquanto o tempo não chega ao fim
Se os próprios sonhos embotam a vida
o que será de mim
sem a possibilidade de criá-los?
Se as próprias asas tornam-se feridas
o que será de mim
sem a chance de usá-las?
Se os próprios dedos forjam a mentira
o que será de mim
sem a possibilidade de amá-los?
Se as próprias vozes ocultam a lida
o que será de mim
sem a possibilidade de encontrá-las?
tudo aquilo que ouvi pelos corredores
macabros
entrou em mim
primeiro nos ouvidos
poros
células
depois, a seiva vital corrompida
e eles
diziam ser aquele
o lugar de libertação:
libertar da ignorância
do mal
da opressão.
o que vi foi a morte
escrita em cada palavra dita
por seres tão perdidos
e desavisados
quanto eu!
fui forte
até não poder mais
fingir indiferença
– pessoas mornas podem morrer
por dentro
e, de tão geladas,
transformadas em fantasmas-vivos
talvez pensem mesmo que
é melhor não resistir – e não existir!
[embora eu tenha ido,
preferiria ficar
se tivesse, ao menos,
a sombra de um amigo que
pudesse me abrigar…]
eu não dou conta de mim
por isso deságuo em letras
nas minhas estranhas certezas
deixo o rio brotar
a água, fluida de grandezas,
devolve a alma à presa
até a dor passar…
límpida
serena
viva
renasço
[escrever é meu desaguar… ]
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