Fui
E de toda a vida que me resta, dos dias em que fui o que não escolhi ser, em que a liberdade se me impôs como uma condenação, percebo agora, no fim de tudo, que não vivi. Fui, apenas fui – e o ser que fui não foi senão um vagabundo, como um trapo sujo em que o mendigo dorme. O que me resta, afinal, senão um nome e um sobrenome na certidão de nascimento, e uma data e uma hora no obituário? Talvez a cova rasa seja mais profunda do que a minha miserável vida, que agora, afortunadamente, encontra seu único propósito: ser adubo. A terra, fria e indiferente, me receberá calorosamente como alimento para os vermes, que se banquetearão de minha carne, sem julgar o que sou, o que fui. E os vermes, esses mesmos que consomem minha decadência, não saberão, porque nada sabem, da angústia de ser.
Depoimento do Abismo – Parte II
Às vezes penso se algum dia fui algo.
Um nome. Um corpo. Um gesto de humanidade.
Mas essas memórias, se existiram, apodreceram sob o peso das águas.
O tempo aqui não passa — ele apodrece.
É um tempo imóvel, estagnado, onde tudo que respira morre em silêncio.
O que resta são vestígios de pensamentos,
ecos de uma razão que tenta sobreviver ao esvaziamento de si mesma.
Pergunto-me: o que é a dor quando não há mais corpo?
E descubro que ela sobrevive mesmo assim,
porque a dor é anterior à carne —
ela é a lembrança do que fomos,
a cicatriz deixada pela ausência de sentido.
Aqui, a consciência não se extingue.
Ela se estilhaça,
se parte em fragmentos que flutuam sem direção,
como restos de naufrágio num mar sem horizonte.
Eu os observo, esses fragmentos.
E cada um carrega uma versão de mim que não reconheço.
O que sou agora é um silêncio que pensa.
Um vazio que filosofa sua própria forma.
Compreendo, enfim, que o verdadeiro castigo
não é o fogo, nem o tormento físico.
É o excesso de lucidez num lugar sem realidade.
É saber demais num espaço onde nada tem nome.
Aqui, a única certeza que tenho
é que nunca sairei.
Não por estar preso —
mas porque já não há um "eu" que possa partir.
O rio Aqueronte não aprisiona.
Ele dissolve.
Ele absorve o que resta da alma até que a alma se torne ele.
E eu… já não sei se sou aquele que caiu,
ou apenas mais uma corrente fria
a arrastar outros para o mesmo fim.
Depoimento do abismo
Fui lançado — não nasci.
Arrancado do seio do Olimpo e cuspido no ventre escuro do submundo.
Como Michael, caí.
Mas não houve batalha. Não houve glória.
Só a queda.
Afundei nas águas estagnadas do Aqueronte,
onde o tempo não corre, onde a existência apodrece em silêncio.
Ali, não se morre — tampouco se vive.
Ali, a única sobrevivente é a dor.
E mesmo ela, cansa.
O amor é uma lembrança malformada.
A paz, um conceito sem tradução neste idioma feito de gritos mudos.
A esperança... uma piada cruel, contada em ecos por almas vazias.
Tentei respirar.
Mas as águas negras não são feitas de matéria,
são feitas de ausência — ausência de tudo.
São a substância daquilo que não deveria ser.
E nelas, minha alma se desfaz, lentamente.
Não há carne.
Não há forma.
Não há identidade.
O "eu" é um sussurro perdido na margem da consciência.
Sou e não sou.
E, nesse estado, compreendo o que é a antítese da vida:
não a morte, mas a permanência involuntária no não-ser.
O sofrimento aqui não grita.
Ele murmura, ele sussurra, ele escava.
É uma erosão constante da alma,
um delírio sem sonho.
Sou parte do rio agora.
Sou sua densidade, sua ausência de luz.
E quanto mais fundo me torno,
mais compreendo:
O inferno não é fogo.
É o esquecimento de si mesmo.
É saber que se sente dor,
mas não lembrar por quê.
meu cérebro queima, meus olhos se corrompem, eu nasci corrompido e destinado a ser a perdição, fui declardo por derrota, não entendo nada e estou perdido em abissal angústia, não há ninguém que me ajude, estou com vergonha e com ódio.
Radiante fui feliz.
Sempre estive por um triz.
Eu não quero olhar você.
Não vou viver só por viver.
Julgar e apontar o verbo.
Lúdico, inconstante.
Viagei o mundo em uma roda gigante.
Também fui pro espaço.
Meia lua de compasso.
Poeira de estrela, asfalto, concreto e aço.
Coração atropelado, embriagado tem.
Tenho passaporte, mas não sou ninguém.
Tive mil motivos pra embarcar no trem.
A vida continua e a gente também.
A gente continua nessa estrada.
Há pouco me lembrei de um pequeno caderno onde eu fui orientado a anotar as coisas boas que eu tinha vivido no dia...
Isso tem uns 20 anos...
O caderno se perdeu, não as memórias de lá...
Hoje lembro do caderno com um sorriso e das histórias vividas lá escritas com gratidão...
Não esqueça que antes de ser gelo frio, fui água natural; lembre-se que entrar no “congelador”, nunca foi minha escolha!
Hoje acordei com um vazio, achei que fosse fome; comi e não passou.
Uma solidão que permeava, fui pra multidão e mesmo assim me sentia só.
Aquele aperto que pressiona meu peito, coloquei uma música pra distrair, mas não adiantou.
A saudade apertou mais forte hoje, tentei ocupar a cabeça, porém só conseguia pensar em você.
O nó na garganta veio, mas decidi não chorar; preferi celebrar, escolhi relembrar dos nossos momentos felizes.
Este é o meu primeiro ano longe de você, queria te abraçar, queria te beijar; mas eu preciso aprender que para ter você comigo, eu não preciso te ver, basta te sentir.
fui escrava da sua loucura
fiz da palavra minha arma secreta
a fina poeta de pouca estatura
agora decreta que o amor finda
acabada de solidão e amargura
enquanto existir minha obsessão
tentarei resistir nessa armadura
até que a Lua me beije sem demora
pois o Sol também já vai embora
“Hoje comi esfirras feitas por cozinheiros libaneses. Fiquei com a sensação de que fui enganado a vida inteira comendo uma coisa e era outra coisa. E essa sensação se espalhou dentro de mim. Fiquei pensando: será que essa sensação vai ficar somente nas esfirras?”.
Vou ensinar o que você precisa saber baseado no que me mandaram e fui treinado para ensinar. Utilizando o meu conhecimento e a minha memória vou responder às perguntas que me fizerem, do jeito que as fizerem e nada mais. Se perguntarem errado, responderei da melhor maneira possível, educadamente, positivamente e incentivando.
Para pensar é mais caro.
Seria esse o Espírito humano?
Eu não vivo de trabalho.
Vivo do dinheiro.
O meu trabalho já passou.
Fui roubado.
O meu trabalho de hoje é de outra pessoa.
Cidadão do infinito
Certa vez me perguntaram
Se eu sou de algum local
E eu fui e respondi
Que eu sou universal
Pois onde quer que eu esteja
Eu me sinto bem normal.
Santo Antônio do Salto da Onça/RN
23/11/2023
Imutável
Um dia pensando em ser
Eu não fui, quis recuar
E fico sempre calado
Sem querer me revelar.
Eu sei que nunca serei
Aquilo que imaginei
Pois meu “Eu” não quer mudar.
Santo Antônio do Salto da Onça/RN
23/11/2023
Eu tento fazer o certo
Pra não decepcionar
Um menino que eu fui
Querendo nunca enganar
A nenhum dos semelhantes
Com quem fosse me encontrar.
Santo Antônio do Salto da Onça RN
05/04/2024
Me chamaram pra eu ir declamar
Fui ao palco sem demora declamei
Fui falar do Cordel que é cultura
E no mundo da Poesia viajei
Alguém disse que eu sabia de tudo
Eu confesso num momento eu fiquei mudo
Mas eu disse que de tudo eu não sei.
Santo Antônio do Salto da Onça RN
Terra dos Cordelistas
11 Janeiro 2025
Prenúncio
Fui na frente do espelho
E lá eu vi um menino
Era um portal pro futuro
Que mostrava meu destino
Eu não entrei, só olhei
Pois se eu entrasse, eu sei
Que eu seria clandestino.
Santo Antônio do Salto da Onça RN
Terra dos Cordelistas
21 Maio 2018
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