Fernando Pessoa agradecimentos

Cerca de 1097 agradecimentos Fernando Pessoa

A alma humana é um manicômio de caricaturas.

Inserida por mathlino

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.
Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Inserida por rapha777

Falaram-me em homens, em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si,
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.

Inserida por Annelies

A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamo-
nos. como se houvéssemos aparecido às nossas almas
depois de uma viagem através de sonhos. . .
Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-
se-nos na atenção. Fora daquelas árvores próximas,
daquelas latadas afastadas, daqueles montes últimos no horizonte
haveria alguma cousa de real, de merecedor do olhar aberto
que se dá às cousas que existem?. . .
Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho
marcavam horas irreais. . . Nada vale a pena, ó meu amor longínquo,
senão o saber como é suave saber que nada vale a pena. . .

Inserida por yasminmb

E nós não nos perguntávamos para que
era aquilo que não era para nada.
Nós sabíamos ali. por uma intuição que por certo não tínhamos.
que este dolorido mundo onde seríamos dois, se existia,
era para além da linha externa onde as montanhas são hábitos
de formas, e para além dessa não havia nada. E era por causa
da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura
como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la
era estranho como um perfil de cidade mourisca contra um céu
de crepúsculo outonal.

Inserida por yasminmb

SEGUNDA. - Talvez por não se sonhar bastante. . .
PRIMEIRA. - É possível. . . Não valeria então a pena fecharmo-
nos no sonho e esquecer a vida, para que a morte nos esquecesse?
. . .
SEGUNDA. - Não, minha irmã, nada vale a pena. . .

Inserida por yasminmb

Não sei o que é isto, mas é o que sinto. . . Preciso dizer frases
confusas, um pouco longas, que custem a dizer. . . Não sentis
tudo isto como uma aranha enorme que nos tece de alma a
alma uma teia negra que nos prende?
SEGUNDA. - Não sinto nada... Sinto as minhas sensações
como uma coisa que se sente. . . Quem é que eu estou sendo?
. . . Quem é que está falando com a minha voz?. . . Ah.
escutai. ..

Inserida por yasminmb

Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi...
Eu próprio sou aquilo que perdi...

Inserida por melloncollie

VI

Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu actual recorte humano e vil.

Outrora fui talvez, não Boabdil,
Mas o seu mero último olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil...

Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi...
Eu próprio sou aquilo que perdi...

E nesta estrada para Desigual
Florem em esguia glória marginal
Os girassóis do império que morri...

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Passos da Cruz in Poesias. Lisboa: Ática. 1942 (15ª ed. 1995). p. 43
Inserida por pensador

⁠XIII - Emissário de um rei desconhecido
Emissário de um rei desconhecido
Eu cumpro informes instruções de além,
E as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me a um outro e anómalo sentido...
Inconscientemente me divido
Entre mim e a missão que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei dá-me o desdém
Por este humano povo entre quem lido...
Não sei se existe o Rei que me mandou
Minha missão será eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou...
Mas há! Eu sinto-me altas tradições
De antes de tempo e espaço e vida e ser...
Já viram Deus as minhas sensações...

Inserida por laurenmatta

Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego. Lisboa: Presença, 1990.
Inserida por CassiaRufino

Sol nulo dos dias vãos,
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe
Com externo calor brando
O frio da alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por laurenmatta

Como um vento na floresta,
Como um vento na floresta,

Minha emoção não tem fim.

Nada sou, nada me resta.

Não sei quem sou para mim.

E como entre os arvoredos

Há grandes sons de folhagem,

Também agito segredos

No fundo da minha imagem.

E o grande ruído do vento

Que as folhas cobrem de som

Despe-me do pensamento:

Sou ninguém, temo ser bom.

Inserida por Danielsiuch

Não haja medo que a sociedade se desmorone sob um excesso de altruísmo. Não há perigo desse excesso.

Inserida por portalraizes

Prouvera aos deuses, meu coração triste, que o Destino tivesse um sentido! Prouvera antes ao Destino que os deuses o tivessem!

Inserida por FrancisIacona

Desde o momento em que nos sentimos consciência-criadora-do-universo, sentimo-nos Deus.

Inserida por FrancisIacona

A arte é a expressão de si mesmo lutando por ser absoluto.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

A arte pela arte é, na realidade, apenas a arte em proveito do artista.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Não há pior que a arte dos que morrem, a não ser o pensamento dos que não existem.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Um artista forte mata em si próprio não só o amor e a piedade, mas as próprias sementes do amor e da piedade. Torna-se desumano devido ao seu grande amor pela humanidade — esse amor que o impele a criar a arte para o homem. O gênio é a maior maldição com que Deus pode abençoar um homem. Deve ser sofrido com o mínimo possível de gemidos e queixumes, com uma consciência tão grande quanto possível da sua divina tristeza.
(Aforismos e Afins)

Inserida por EmOutrasPalavras