Contos Infanto Juvenis
“LEMBRANÇAS DA FAZENDA”
Hoje me lembrei da serra onde eu nasci,
Fez lembrar das histórias das visagens,
Causos a causos detalhados dos mais velhos,
Recordando desses contos que ouvia, me perdi;
Eita Dona “Matinta Pereira” mãe mata que mora ali,
Era uma tal de assombração que leva as crianças;
Sem piedade, raptadas de suas casas,
Só Deus sabe quão grande foi o medo que senti;
Não recebia gente em casa à noite, nem se podia partir,
A noite a mata era assombração para todo lado,
Cobra grande, boto d´água, saci Pererê,
O maior dentre eles era o gigante Mapinguari;
Eu pensava: Deus me livre se tudo isso se reunir?
Um sarau na floresta dos seres lendários apavorantes,
Festejando e assombrando as noites tão brilhantes,
Imaginando, coitado de povo que mora ali;
Mas no cantar do galo via a luz do sol surgir,
À medida que o dia clareava,
O desespero assim passava,
Sentindo o cheiro do que café que ia sair;
As galinhas chegando na varanda daqui,
É um corre-corre pra todo lado,
O galo que não cria os pintos vem apressado,
Para comer da quirela esparramada bem ali;
Incrível essas lendas, de dia não existiam por ali,
Só sobrava tempo para trabalhar o dia todo,
Planta, colhe, arranca, corta e roça o mato
Na cidade a comida não é melhor do a daqui;
Todo dia eu oro ao Pai do Céu grato a pedir,
Senhor meu Deus fui homem do campo,
Na cidade hoje tiro o meu sustento, mas eu ainda sonho,
Viver feliz do jeito matuto, como lá, na fazenda onde eu nasci!
Deutes Rocha Oliveira, 10-11-2021
Num reino onde o crepúsculo sussurra suavemente,
Lá mora uma alma, um andarilho no alto da montanha. Ele aventurou-se em terras da boêmia, onde as melodias dançavam, em euforia rítmica.
Foi pra boemia, com o coração em chamas, trovador de paixões, perdido num labirinto, pelas ruas de paralelepípedos.
Vagou com graça, procurando consolo no abraço da música.
Sob o céu enluarado encontrou seu palco,
Os salões sagrados de uma taverna, sua página sagrada, o toque do violão, uma serenata suave… Enquanto ele cantava seus versos, sua alma se manifestava.
Sua voz, um coro de apelo melancólico ecoando pela noite, em harmonia
Com cada nota, seu espírito ascendia, para os reinos desconhecidos, onde os sonhos transcendem. Ele foi pra boemia.
Amigo de poeta, onde o amor e a saudade se entrelaçam e se misturam,
Ele pintou quadros com palavras tão profundas, seus versos sussurravam com um som sincero. Ah, como as paredes da taverna ganhariam vida.
Com histórias de desejo e superação, ele cantou sobre o amor perdido e o amor ainda encontrado. De corações partidos e almas libertas. Através da névoa de fumaça e do tilintar de vidros.
Seus versos perfuravam, como o aperto de um amante. Ele revelou sua alma, com cada letra cantada, no abraço da boêmia, seu coração se apertou.
Foi pra boemia, um bom trovador.
Na Corda Bamba e de Sombrinha:
Dizem que é na corda-bamba que se enxerga melhor o abismo!
Pois bem, cuidado com a corda bamba: quando alguém só falou mentira da pessoa que descartou, todos ao seu redor acreditarão.
Mas, quando esta pessoa, contou ao descartado, podres (ou não, vai saber né), de todos os seus ouvintes, só precisa que um deles saia da posição de fiel.
E olha que este mundo é pequeno demais e hoje eu confidenciei a um deles tudo o que você contava dos outros.
A pessoa riu de mim: ela também já sabia do teu abismo. E contou que muitos deles também já sabiam...
Segue o baile...
O Cinema é uma forma de arte tecnológica. Dependemos da câmera para contar histórias. No passado, tínhamos câmeras analógicas; hoje, temos câmeras digitais. No futuro, talvez tenhamos pixels gerados por prompts.
Não se entristeça com essas mudanças. Antes do cinema, contávamos histórias pelo rádio. Antes do rádio, pelos livros. Antes dos livros, pelo teatro. Antes do teatro, pela fala. E antes da fala, por meio de desenhos em cavernas. Adivinha? Tudo isso ainda existe. E uma coisa permanecerá eternamente em nós: nossas histórias.
O POMBO E O GATO SELVAGEM
Quando as nuvens negras envolvem o sol
as pétalas das flores perdem o brilho
e os passarinhos deixam de cantar.
Ao som do murmúrio monótono das águas da cachoeira
a noite estende seu manto negro sobre o último raio de luz.
Os bichos se escondem em suas tocas,
os pássaros se ajeitam em seus ninhos,
no silencia da mata ouve-se o arrulhar de um pombo
assustado, Imobilizado no galho de uma frondosa figueira.
Tomado de pavor, o mesmo percebe o gato selvagem que se
aproxima quebrando as folhas secas derrubadas pelo vento
da última tempestade.
O felino se vai. O lobo se aproxima
uivando para a lua que se exibe numa janela aberta no céu.
Como miragem noturna o canídio desaparece entre as
sombras e o pavor se rende ao sono.
Instintivamente os pássaros esperam por um novo raio de
luz no alvorecer de mais uma manhã de primavera.
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(Do livro, "Contos e Prosas 2023, de Laércio J Carvalho".
Site de Vendas: https://agbook.com.br/book/523000--CONTOS_E_PROSAS_223
Senhor Clomb
Esse conto começa com uma cartinha de uma menina de 6 anos para o seu vizinho......
“Prezado Senhor Clomb, como o senhor está? Não é novidade que o senhor já sabe que a casa da direita é nossa, quer dizer da minha mãe e minha. Mas, o fato é que o senhor continua jogando entulho no quintal aqui da casa. O que tem na cabeça? O que pensa que está fazendo? Não sabe que a nossa casa é o nosso lar e é sagrado? Poderíamos jogar todos os lixos que temos, mais o que o senhor envia pra gente na sua casa. Mas, não vamos fazer isto. Não somos iguais. Toda a terça recolhemos os lixos e mandamos para a reciclagem levar e o resto para o caminhão de limpeza levar. Mas, fico aqui pensando, será que o senhor quer ajuda para descartar seu lixo? Não consegue, e é por isso que fica descartando seu lixo em minha casa. A minha mãe e eu moramos somente nós duas naquela casa e não temos outra pessoa para ajudar na limpeza da casa, por isso, pego todo o lixo e refaço o serviço, que o senhor nos dá extra para que não fique o entulho na nossa porta. Mas, eu pergunto, por que? Porque o senhor não gosta da gente? Precisa de algo? Posso ir na sua casa ajuda-lo com seu lixo uma vez por semana. Mas, ficar jogando lixo na minha casa, é um absurdo. Se quiser minha ajuda, posso ajudar. Posso e não vou cobrar nada do senhor. Minha mãe me ensinou que devemos amar o próximo e ajuda-lo. Embora, eu tenha 6 anos, como bem, brinco, ajudo em casa e ainda posso auxiliá-lo nas suas tarefas de casa”. O senhor Clomb, sem saber que dizer, nunca mais jogou lixo na casa da menininha, que tímida e doce cativou o coração de pedra do senhor Clomb. Depois desta carta, também o senhor Clomb escreveu uma cartinha para a menininha, que por sinal, se chama Olívia e estava escrito assim:
“Cara menininha, não há nenhum problema entre nós, poderia vir até a minha casa com sua mãe tomar um chá?”
Olívia, muito feliz pediu sua mãe para acompanha-la a casa do senhor Clomb e ela foi. Chegando lá, recebeu um belo sorriso, chá e bolachas. Senhor Clomb pediu desculpas por ter feito essas maldades com as duas e a partir daquele dia, ficaram bons amigos, até o dia do falecimento do senhor Clomb, que foi um dia muito triste.
Olivia, hoje está com 18 anos e olha altiva para a casa do lado e pensa como foi feliz com o vizinho. Boas recordações. Olívia não guarda mágoas, seu coração só tem espaço para coisas doces e alegres. Sua mãe a chama da cozinha e ela se vira e fala: --- já vou mamãe. E assim termina esse conto.
Cida Vitório,
Conto de Fadas
Se ela vai crescer e procurar um príncipe para viver um "Conto de Fadas"???!!!
Eu n sei...
O q sei é que fui criada como "princesa" por um "rei" e uma "rainha" e não esperaria encontrar menos que um príncipe...
Que me tratasse com respeito, dignidade, amor...
E é isso que tento passar para os meus filhos e, principalmente, a não aceitarem migalhas...
Se a metade do mundo é de monstros e tristeza existe uma outra que é só magia e alegria... Tudo depende do ponto de vista e às vezes, da vista de um ponto... É preciso ser feliz!!!
Harmonia de Almas: A Dança dos Dois Universos
Entre a névoa dos dias, dois seres se encontram,
Em um universo de pensamentos que se entrelaçam.
Um verso e uma rima, dois corações em sintonia,
Comportamentos que se assemelham, numa dança de harmonia.
Um é como a brisa suave que acaricia a pele,
O outro, como o rio que flui, constante e fiel.
Juntos, formam um oceano de sonhos e desejos,
Em cada gesto, cada olhar, revelam seus ensejos.
Como o sol e a lua, em eterno ciclo a girar,
Complementam-se na escuridão, na luz a brilhar.
Um é a chama ardente, que queima com intensidade,
O outro, a serenidade que acalma em tempestade.
Na dança da vida, são como pássaros em voo,
Cada batida de asa, um elo entre os dois.
Em cada silêncio, um segredo a compartilhar,
Numa linguagem própria, que só eles podem decifrar.
Como duas estrelas, num vasto céu a brilhar,
Guiam-se pelos mesmos sonhos, sem se cansar.
E assim seguem juntos, num eterno compasso,
Duas almas afins, num universo em abraço.
Que se entrelaçam e se confundem, num só ser,
Onde o amor é a meta, o caminho a percorrer.
Em cada gesto, em cada pensamento, uma verdade,
Duas metades que se completam, na eterna dualidade.
BRUXA SEDA BRANCA
Era um dia normal, acordei tomei meu banho, fui trabalhar voltei para casa rotina de sempre, mas às 19:30 começou a ansiedade de meus pensamentos coração batendo forte. Fui tomar mais um banho para ver se amenizava a ansiedade, e ansioso para ansiedade terminar, fui me deitar, dormi rápido o que não era de costume, mas aí que as coisas começaram a ficar estranhas, fora do meu controle, senti algo andando na minha cama, mas relevei até porque tem uma coelha e ela sempre sobe na cama para dormir comigo, mas quando abrir meus olhos, e vi nos meus pés, sentada tão serena, calma me olhando linda, bela, rosto angelical, com um lindo véu, de seda Mulberry, pensei que era um anjo. Até o seu rosto se cobrir com o véu, que vinha de trás dos seus cabelos, aquela face horrenda apareceu, ela ria e andava em volta da minha cama, voava toda noite, dentro do meu quarto e no meu sonhos, ela parecia e me perseguia em meus sonhos, parecia cão e gato, um desespero só. Quando eu acordava ela estava na beira da cama, como se dissesse eu ainda estou aqui! O desespero, agonia e a ansiedade aumentavam, lá estava ela me esperando.
Bruxa seda branca.
LUZ ALÉM DAS NUVENS
"Naquele dia, nuvens tensas encobriam o sol, mas nem assim impediam seus intensos raios de romper. O viajante, até então desesperançoso, ergueu os olhos e com um sorriso concluiu: as nuvens assemelham-se aos meus problemas, mas que são eles diante da luz eterna que é meu Deus!"
Eu sempre pulei na frente das flechas para salvar as pessoas, mas no meio daquele caos ele me empurrou para suas costas e manteve o olha fixo na tormenta que se aproximava. Pela primeira vez alguém quis me proteger, pela primeira vez alguém ficou em um momento que todos fugiriam, pela primeira vez eu me apaixonei. Em meio a todas as ameaças e distúrbios eu só ouvia o som de sua voz, cantando hinos de vitória. Ele disse que tudo ia ficar bem e mesmo no meio da tempestade seus pés não saíram do lugar. Eu que sempre pulava na frente do perigo enquanto todos me abandonavam, mas naquele momento eu o vi ancorado pela sua inabalável determinação. Desde aquele dia nos tornamos porto e farol um do outro. Para ele uma forte amizade, para mim um intenso amor, para nós uma irmandade. Muitos achariam doloroso ter um amor não correspondido, para mim, a verdadeira dor é não ter amor algum. Nós amamos da maneira que podemos. Ele me ama como um irmão e eu como um devoto fiel. Podemos nos amar de formas diferentes, mas ainda sim é amor e eu seguirei essa luz até onde seus pés nos levarem. Até quando? Não sei! Sou um arauto do amanhã e ele um herdeiro da esperança, não seguimos caminhos diferentes em nenhum futuro que eu conheça.
(Diario do arauto do amanhã: I fragmento)
Título: A Dança das Cicatrizes e da Lua
Na cidade de pedra onde os relógios governavam os passos, Amara tecia planos meticulosos como um ourives. Ela moldava dias em agendas de ferro, acreditando que a perfeição era uma escada para alcançar o céu de suas ambições. Até que um inverno, o fio de suas certezas se rompeu: o projeto que a consumira por anos desmoronou como castelo de areia sob um temporal. A rejeição veio em forma de carta seca, e Amara, ferida, fugiu para a floresta onde os lobos uivavam histórias antigas.
Parte 1: A Árvore que Guardava Segredos
Na primeira noite, sob um céu cortado por galhos retorcidos, Amara encontrou uma árvore cujo tronco era um mapa de cicatrizes. Cada sulco contava uma história, rachaduras de raios, marcas de machados, queimaduras de fogos passados. "Como você ainda está de pé?", sussurrou, tocando a casca áspera. Uma voz ecoou, rouca como vento entre folhas mortas: "As feridas não são fracassos, filha. São raízes visíveis." Era a Senhora do Carvalho, anciã cujos olhos brilhavam como musgo sob luar. "Venha. A floresta tem perguntas para suas respostas."
Parte 2: O Rio que Não se Domestica
A anciã a levou a um rio turbulento. "Faça-o parar", desafiou. Amara ergueu barreiras com pedras, tentando canalizar a correnteza. Quanto mais lutava, mais a água arrancava seus muros, inundando-lhe os pés. "Você quer controlar o que só sabe fluir", riu a Senhora, enquanto mergulhava nas águas escuras. "A frustração é um remédio amargo: mostra onde você insiste em nadar contra a maré." Amara, exausta, deixou-se levar pela corrente. Pela primeira vez, entendeu o sabor do descontrole era salgado, como lágrimas, mas trazia sementes de algo que poderia germinar.
Parte 3: A Alcateia que Dançava na Lua Cheia
Na terceira noite, lobos cercaram Amara. Ela esperava um ataque, mas em vez de dentes, viram convites: um lobo mancando exibia orgulhoso uma pata deformada; uma fêmea velha, sem um olho, liderava a caçada. "Nós caímos, caçamos, falhamos. E ainda assim dançamos", rosnou a líder, enquanto o grupo girava sob a lua. Amara juntou-se à dança, tropeçando, rindo de seus próprios tropeços. A alcateia não a julgou sua vulnerabilidade era um canto ancestral, não uma fraqueza.
Parte 4: O Fogo que Comeu as Máscaras
Na cabana da Senhora do Carvalho, Amara queimou os papéis de seus planos falidos. Cada chama consumia uma expectativa rígida. "A lua", contou a anciã, "já foi inteira, mas um dia se partiu em mil fragmentos. Em vez de se esconder, ela aprendeu a brilhar com suas próprias sombras." Amara olhou para as próprias mãos marcadas por quedas, mas ainda capazes de acender fogueiras. Entendeu: suas cicatrizes não eram fracassos, eram testemunhas de que sobrevivera aos próprios incêndios.
Epílogo: A Volta para a Cidade que Aprendeu a Respirar
Amara retornou à cidade, mas agora carregava a floresta em seu passo. Quando projetos desmoronavam, ela ouvia o rio rir em seu peito. Quando errava, imaginava os lobos uivando: "Dança, irmã!". E nas noites de lua cheia, ela subia ao telhado e mostrava suas cicatrizes ao céu não como troféus, mas como promessas. A cidade, aos poucos, começou a sussurrar histórias sobre uma mulher que ensinava os relógios a bater mais devagar, e as crianças a colecionarem pedras imperfeitas como joias.
Nota da Senhora do Carvalho:
"Nenhum fruto nasce sem que a flor se despedace. Nenhuma loba lidera sem antes ter perdido uma caçada. E nenhum ser quebra sem deixar rachaduras por onde a luz entra para que, um dia, possa também sair."
Um Dia Todos Seremos Memórias!
Autor: Igidio Garra®
Era uma manhã de outono, daquelas em que o vento sussurra segredos entre as folhas douradas e o sol parece hesitar antes de aquecer a terra. Clarilda, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos que carregavam o peso de muitas histórias, sentou-se no banco de madeira no quintal.
Em suas mãos, um álbum de fotos amarelado, cujas bordas denunciavam o passar dos anos.
Ela o abriu com cuidado, como quem manuseia um tesouro frágil, e deixou que as lembranças a envolvessem.
A primeira foto mostrava um piquenique à beira do rio.
Lá estavam ela, ainda jovem, rindo ao lado de Pedrusko, seu marido, enquanto os filhos, Ania e Jony, corriam atrás de uma bola desajeitada.
O cheiro de grama molhada e o som das gargalhadas pareciam saltar da imagem, tão vivos que Clarilda quase podia tocá-los.
"Éramos tão felizes", murmurou, um sorriso tímido desenhando-se em seu rosto enrugado.
Folheou mais algumas páginas. Havia o dia do casamento de Ania, com seu vestido branco esvoaçante, e a formatura de Jony, o orgulho estampado em seu olhar.
Mas também havia silêncios nas fotos que não estavam ali: os dias de despedida, as lágrimas que não foram capturadas, os momentos em que a vida insistiu em seguir, mesmo quando o coração pedia uma pausa.
Clarilda fechou o álbum e olhou para o horizonte.
O vento trouxe o aroma das flores que plantara com Pedrusko, décadas atrás.
Ele se fora há dez anos, mas as flores continuavam a brotar, teimosas, como se carregassem um pedaço dele. Ania e Jony, agora adultos, viviam suas próprias vidas, distantes, com filhos que mal conheciam a avó.
E Clarilda sabia: um dia, ela também seria apenas uma memória, uma foto desbotada em um álbum que alguém, talvez, abriria com o mesmo carinho.
Levantou-se devagar, apoiando-se na bengala, e caminhou até a árvore onde Pedrusko gravara suas iniciais 70 anos antes.
Passou os dedos sobre as letras tortas – "C & P" – e sentiu uma paz estranha.
"Um dia", pensou, "todos seremos memórias. Mas, enquanto houver alguém para lembrar, ainda estaremos aqui."
O sol finalmente venceu a timidez e banhou o quintal em luz.
Clarilda voltou para casa, o álbum sob o braço, carregando o peso e a beleza de saber que a vida, no fim, é feita de instantes que ecoam além de nós em nossas memórias e de quem nos suceder!
Cara Clara,
conte à vida como anda o coração —
reclame dos amores errados, passageiros, atordoantes.
Relate o que houve com aqueles que quase deram certo,
mas que não eram pra ser.
Fale dos seus romances de contos de bruxas.
Pergunte pelos anjos negros:
ficaram loucos? Ficaram cegos?
As flechas foram lançadas — mais de uma, algumas,
mas não se fixaram, só feriram.
É, porém... pensando bem, querida Clara,
senhora do insano,
quem pode permanecer em meio ao caos?
Você é o caos, dona do desvario!
Aturde, espanta seus príncipes —
a culpa é sua!
Admita.
Conte isso à vida também.
"O Rei do Espelho Quebrado"
Havia um rei que reinava sobre um castelo de espelhos. Todos os espelhos refletiam apenas a sua imagem — bela, imponente, inatingível. Quem ousava dizer o contrário era expulso do reino.
Mas numa madrugada chuvosa, um trovão caiu e rachou o maior espelho da sala do trono. Pela primeira vez, o rei viu outra imagem: um menino pequeno, de joelhos, segurando uma coroa muito maior que sua cabeça.
Aterrorizado, ordenou que cobrissem todos os espelhos com panos dourados. Mas à noite, em seus sonhos, o menino voltava — e chorava, silenciosamente, por não ter sido visto.
*A Espada na Boca*
Havia uma mulher que nascera com uma espada presa na boca. Desde pequena, toda vez que falava, cortava. Era o que aprendera: quem fala mais alto sobrevive.
Cresceu entre muros altos e vozes que não escutavam. Então aprendeu a gritar.
Quando os outros sangravam por suas palavras, ela se orgulhava: “Pelo menos, ninguém vai me calar.”
Mas, certa noite, sonhou que tinha um jardim na garganta. Flores queriam crescer, mas a lâmina impedia. Acordou com gosto de ferro e silêncio.
Começou a falar menos. A ouvir mais. A espada ainda estava lá, mas, pouco a pouco, foi deixando de ser arma — e virou ferramenta.
Porque aprendeu que verdade sem ternura vira corte. E a coragem não está em falar tudo, mas em acolher o que o outro não diz.
Encanto
Enquanto canto encanto tantos com o conto que eu conto quando canto
E quando canto cada canto que encanta em todo cantoeu me encanto
E em todo canto em que eu canto busco tanto uns quantos contos pra ter canto;
Mas nenhum conto com meu canto eu encontro para um canto e desencanto...
E sem um conto e sem um canto e sem encanto por todo canto ainda canto
Pois quando canto, me encanto e então eu canto um lindo conto enquanto canto
Por todo canto eu conto tantos que se encantam vezes sem conto com o meu canto
E nem mil contos, e nem mil cantos contam tanto o quanto eu sinto enquanto canto!
Entre o silêncio eo segredo
Ela sempre o observou de longe, com um desejo silencioso que se enraizava a cada olhar furtivo. Anos passaram, e aquele homem que parecia inalcançável virou uma presença constante na sua mente, um segredo guardado no silêncio do coração.
O destino, porém, tem suas artimanhas. Um dia, ele se tornou seu personal trainer. A proximidade diária fez crescer algo que ia além do físico: uma conexão intensa, uma química impossível de negar. Aos poucos, os encontros profissionais deram lugar a encontros secretos — eles se tornaram amantes, escondidos do mundo.
Na penumbra desse relacionamento proibido, eles se encaixavam perfeitamente. Cada toque, cada sussurro era uma explosão de desejo e cumplicidade. Mas para ela, o que era apenas prazer se transformou em amor. E com o amor veio a necessidade de honestidade.
Decidiu então acabar com os encontros às escondidas. O término foi difícil, mas necessário para preservar o que sentia de verdade.
Com o tempo, encontraram um novo equilíbrio: a amizade. Continuavam trocando ideias, conversas cheias de intimidade e respeito. Porém, quando se viam, algo inexplicável pairava no ar — uma faísca sempre acendia a possibilidade do reencontro dos corpos e desejos.
Eles eram amigos, confidentes e talvez algo mais — um segredo guardado entre sorrisos e olhares que falavam tudo sem precisar dizer.
Aqueles olhos fulminavam. Quem quer que seja, entregava de bandeja seu desejo. Eram penetrantes, fulminantes, iam até o fundo da alma. No entanto, eles pediam, imploravam, perdiam a calma. Eram olhos de lince, vasculhavam , enraizavam, procuravam os detalhes mais escondidos. Eram olhos apaixonados, que diziam uma frase inteira num piscar. Eram olhos tristes, passarinhos sem alpistes, porém sem medo de voar. Eram olhos do futuro, acima de qualquer muro, jorravam lágrimas de amor. Eram olhos amendoados, quase atordoados, clamando minha atenção. Eram olhos juvenis, adultos por um triz, que me faziam feliz. Eram seus olhos que me viam como eu realmente era. Éramos um para o outro, o outro parava o um e um levava o outro!
"Há uma ponte meio quebrada e muito velha sobre o rio que se avista da minha janela e foi dali que joguei uma pequena pedra sobre as águas. Formou-se um círculo seguido de outro maior e muitos outros sendo que o último atingiu a margem oposta. Agora sei que o meu gesto pode alcançar distâncias muito maiores do que a minha força".
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