Com o Tempo a Gente
Há quanto tempo
a gente não se vê
Trouxe meus
Versos Intimistas
e uma muda de Ipê
lá da amada Bahia
de presente para você.
Depois de um tempo a gente pode esquecer.
Ontem alguém me parou na rua, abriu seus braços e com um sorriso no rosto “gritou”:
_ Jane! Quanto tempo! Como vai?
Como queria reencontrar você! Que alegria!
Com um sorriso amarelo e abraço frouxo respondi:
_ Eu estou bem e você o que me conta?
Naquele momento, eu não consegui lembrar quem era aquela pessoa que apesar do tempo parecia ainda gostar tanto de mim.
Com o tempo a gente descobre que o coração, na verdade é bem maior do que aparenta ser. Nele cabe uma vida toda, as emoções que sentimos, a felicidade que vivemos, as pessoas queridas que encontramos no caminho. Nesse coração pequenino, cabe fé, esperança, perdão, solidariedade e muito amor.
Cabe nele também, os sonhos realizados, os amores vividos e os filhos criados.
Nesse coração sonhador, além de caber tudo que eu vivi, cabe ainda o que está por vir. A única coisa que não cabe nele é o mal, a inveja e a ingratidão, pois esses sentimentos eu não permito que faça morada em mim.
Com o tempo a gente percebe que nos tornarmos imunes a algumas dores e maldades e resistente a outras. E segue como rosa se adaptando aos espinhos sem perder a delicadeza, a beleza e o prazer indescritível que é viver.
Com o tempo a gente adquire a sabedoria dos rios e assim como eles passamos a aceitar e contornar com inteligência tudo que não podemos mudar.
Com o tempo, a gente acaba virando artista e ao mesmo tempo a própria arte. Se cada vez que quebrarem nosso coração, deixarmos os cacos no chão, chega uma hora que não sobra nada da gente. Por isso, aprendemos a recolher os cacos, remendar daqui, dali e construir um mosaíco lindo com o que sobra de nós depois de cada decepção.
Com o tempo a gente aprende que plantar bem não depende única e exclusivamente da nossa habilidade de preparar a terra e selecionar as sementes, mas sobretudo, da nossa capacidade de escolher com sabedoria exatamente o que queremos colher.
Com o tempo a gente descobre que quando se trata de sentimento as palavras são volúveis. "Pra sempre" pode terminar em um instante e num instante "nunca mais" também pode acabar.
Com o tempo a gente muda o olhar, revê conceitos, redefine ideias, reorganiza o pensamento e prioriza a única e real riqueza dessa vida: saúde, paz e a companhia de quem amamos.
Com o tempo a gente para de procurar a felicidade, não porque desistiu dela, mas porque passa a entender que a real felicidade é ter paz. E quando a gente entende isso, é a paz que a gente começa a buscar.
Somente com o tempo a gente descobre que a luz no fim do túnel está em nós mesmo, está no lume que trazemos nos olhos e como dois faróis benditos nos iluminam na escuridão.
Com o tempo a gente para de perder tempo desatando nós de ligações com pessoas que não nos levam a lugar algum e começa a criar laços lindos com outras que com leveza escolhem estar ao nosso lado, escolhem caminhar ao nosso lado.
Com o tempo a gente descobre que tanto a felicidade quanto a infelicidade não são frutos de uma causa específica, de um acontecimento momentâneo, mas de uma somatória de coisas que o nosso próprio consciente desconhece.
Depois de um certo tempo, a gente para de se impressionar com a beleza das palavras e começa a valorizar gestos e atitudes.
Somente com o tempo a gente aprende que vida não é aquilo que passa com o tempo, é aquilo que faz o tempo parar aqui dentro e dá movimento à vida.
Somente com tempo
Com o tempo a gente aprende que não é necessário ofuscar alguém para que a gente possa brilhar;
Que não é necessário derrubar alguém para que a gente possa chegar;
Que não é necessário diminuir alguém para que a gente possa aumentar;
Que não é necessário pisar em alguém para que a gente possa crescer;
Que não é necessário gritar com alguém para que a gente se faça ouvir;
Que não é necessário trazer dor a alguém para que a gente tenha prazer;
Que não é necessário derrubar a lágrima de alguém para que a gente possa ser riso;
Que não é necessário que alguém perca, para que a gente possa ganhar;
Que não é necessário menosprezar alguém para que a gente possa se valorizar;
Que não é necessário odiar alguém para que a gente possa se amar;
Com o tempo, somente com tempo é que a gente aprende que tudo que custa a felicidade, a integridade e os sonhos de alguém é caro demais para que a gente possa pagar.
Com o tempo a gente descobre que mais importante que os outros gostarem da gente, é a gente aceitar-se como é e gostar de si mesma.
Somente com o tempo a gente aprende que somos argila fresca nas mãos do tempo e que é ele que nos molda da forma que bem quiser e nós nada podemos fazer sobre isso, a não ser aprender a conviver em paz com o que não temos o poder de mudar.