Coleção pessoal de RosangelaCalza

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⁠É o que resta

Louco temporal
no céu negras nuvens...
um vento frio que entra pelas frestas...
voam folhas de árvores e envolvem as pessoas...
sombrinhas que se dobram ao vento...
água fria que escorre pelos corpos.

Frio que engole o calor do dia.
Frio que leva embora toda a alegria.

Riscam raios o céu.
Pedras de gelo quebram vidraças.
carros amassam.

Roupas no varal voam, se contorcem.
pássaros nos ninhos se escodem
procuram proteção...
negra poesia nesse dia.

Sombrio.
Frio que não passa.

Tristeza sacode a manhã.

Era pra ser um dia de festa...
agora, ao se irem o vento e a chuva na direção do mar que logo ali está, restabelecer a ordem que a tempestade causou...
é o que nos resta.

⁠Esperança

Meus passos na areia...
Desaparecem pouco a pouco...
Na vida... tudo é o tempo de um sopro.
No vai e vem das ondas...

O mar num eterno ir e vir...
Impressão: seu movimento é eterno... o fim nunca irá atingir.

Será?
Malabaristas que somos.
Pra onde exatamente vamos?

Iludimo-nos a cada dia que nasce...
Uma esperança louca que em nós renasce.

Intrusa hostil.
Sentimento infantil...
Esperança... sim, não passa de coisa de criança.

Mas... como sem ela viver?
Iríamos muito mais rápido apodrecer.

⁠Dessa dor

Um mar de sentimentos.
Um passado que não cansa de retornar...
E eu que só no presente queria ficar.
Minha vida se transformou num castelo intransitável.

Fantasmas descalços vêm ao meu encalço...
Fecho os olhos pra não os ver...
Mas o frio que com eles chega me faz estremecer.
Vivo como se espinhos tivesse cravados na alma.

Foi-se pra um lugar inatingível toda a minha calma.
Sofro... essa dor intrusa e hostil...
Fe em mim sua morada... fez-me presa do seu covil.

Por que vives a falar de amor?

Porque o amor nunca sai de moda...
Porque o amor nunca nada nem ninguém incomoda...
Porque o amor dá vontade de repartir...
Porque o amor só te sabe fazer sorrir.

Porque no amor há o apoio, a solidariedade...
Porque no amor há o aconchego do lar...
Porque no amor há a humanidade
cumprindo a sua mais sublime missão: a de sequenciar.

Porque o amor é a soma de tudo...
Porque o amor respeita a individualidade...
Porque no amor não existe 'contudo'...
Porque do amor surgiu a humanidade.

Então, não achas tu, que devo viver a falar de amor...
em vez de falar de dor? 😉

⁠Esgotada

Já esgotei todas as palavras de amor.
Hoje meu dizer diz apenas da dor.
Tristeza destes dias tão maus.
Foi-se pro fundo do mar minha nau.
Navego nesse oceano sem fim.
As estrelas do céu, alguém as roubou de mim.
O tempo passa... leva junto nossos momentos.
Tem deixado em seu lugar apenas sofrimento.
Miro o céu... que azul tão bonito.
A claridade do dia desanuvia meus pensamentos.
Singro os mares...
Velejo a favor do vento... nos dias alegres, suaves, claros e bons.
Me empurra ao contrário a noite com sua escuridão.
Abrumasse de novo meu coração.

⁠Em câmera lenta

Olho na distância o tempo que se esvai...
Queria um mundo mais lento... pausado...
Queria que meu andar fosse um andar arrastado.
Mas corro.
Não posso me demorar.
As belezas ao meu redor nem consigo aproveitar.
Nasce o dia...
Nova correria...
Morre o dia.
O tempo que se foi numa total afobação.
Nesse grande afã... onde vamos parar?
Podemos parar?
Olho no espelho.
Vejo o reflexo do que um dia fui.
Meus olhos verdes estão amarelando...
Busco a essência dentro de mim.
Um grito perdido ecoa... ecoa...
O tempo voa.
Uma ânsia de ver em câmera lenta o tempo passar.

⁠Paz na noite

Raios multicores de manhãzinha vêm colorir o dia que nasce.
Esperança que se renova...
Toda tristeza e consternação desaparecem.
O sol que desponta nos dá o calor, nos dá força e energia... a todos fortalece.

Passa o dia.
Que alegria!

A noite que chega... cobrindo o dia com um escuro véu.
Estrelas bruxuleiam por todo céu.
O que é a noite se não o descanso do dia?

Recolhe-te.
Repousa corpo e alma.

A noite com sua paz...
é uma ausência de luz que tudo acalma.
Se estás em paz com tua alma...

⁠Mão poderosa

Esqueço.
Pereço.
Nesta escuridão que me cerca meus olhos doem...
Sofrendo desesperanças...
Nada do que busco minha mão alcança.

Falta-me discernimento?
A mim mesma me atormento?
Poderia ser mais fácil...
se eu por um momento na esperança acreditasse?
Mas meu coração está tão fechado.
É um eterno desconsolado.

Não sei se por minha própria vontade...
Ou se o destino é quem manda em tudo de verdade...

Queria ter nas mãos o controle.
O caminho por conta própria desenhando...
Pela estrada andando...
Meus próprios pés decidindo onde pisar...
Fugindo do que me atrapalha...
Não indo por vias tortas...
Um caminho completamente aplainado...
Um andar em que nada desse errado.

Queria...
Ser dona de mim.
Queria...
Minha vontade sempre prevalecendo.
Queria...
Viver, e viver...
Acabar sempre vencendo.

Queria...
Mas sei que assim não é.

Há uma mão poderosa que comanda onde coloco meu pé.

⁠Do belo

O belo vejo por aí.
Tantas coisas lindas estão por aqui.
Em cada rosto que paro pra decifrar
Em cada um deles, tantas belezas consigo encontrar.

Em frases contidas...
Em frases mil vezes repetidas...
No pranto que ouço alguém prantear...
No sorriso que tantos estão a nos presentear.

A beleza está em quem sabe amar.
Está naquele que sabe se doar...
Vejo o belo na constante luta do dia a dia...
Na labuta constante beleza há...

Beleza encontro naquele que ri da própria má sorte... e dela consegue alegria tirar.
A beleza está nos versos do poeta...
Que encontra nas mais lindas palavras a beleza que nelas que há...
Escreve e escreve...
Quer com sua arte o mundo mais leve deixar.

Vejo o belo nas mãos que ajudam... vejo-a também naquele que ajuda sabe pedir e aceitar.
O belo está naquele que de tudo faz pro peso da vida de alguém aliviar.
O belo está naquele que encontrou seu lugar.
No meio de tanto e de tantos soube se ajustar...
O belo está naquele que do outro não tira espaço...
mas sabe ceder tudo o que pode pro outro conseguir continuar seu caminhar.

⁠Obrigada, Senhor...

Pois...

Hoje eu vi o sol nascer... tantos não tiveram mais essa graça.

Hoje o alimento gostoso em minha mesa me deu forças e energia pra enfrentar o dia... tantos sentiram a fome corroendo dentro de si, não tiveram sequer um pedacinho de pão pra comer... viram seus filhos com olhar de fome... e sentiram o desespero de nada poder fazer.

Hoje eu tive trabalho pra fazer... meu corpo se ocupou em deixar a casa organizada... em tudo limpar... minha mente se concentrou em digitar versos, textos e agora esse pequeno agradecimento por ter recebido do Senhor, ó Pai, a capacidade de fazer algo... de ter algo pra fazer.

Hoje eu vi a chuva cair e regar as plantas; molhar a terra que fará nascer e crescer o alimento de que todos nós precisamos.

Hoje eu sorri.

Hoje eu li... eu me distraí conversando com família e amigos.

Hoje eu fiz planos pro futuro... porque o Senhor me possibilita a fazer.

Hoje eu sonhei... e sonho.

Hoje eu tenho uma cama limpa e quentinha me esperando pra ter um sono reparador...
e amanhã começar tudo de novo... se assim o Senhor quiser.

Muito obrigada de coração.

Sua filha

⁠Passos

Meus passos...
Compasso.
Descompasso.
Um som solitário.

Desencontros.
Sem abraços.
Ficou um vazio.
Procuro uma paz...
Que nada nem ninguém de me trazer é capaz.

No passo, passo.
Do sonho à loucura.
Numa eterna procura...

O dia que nasce.
Nova esperança com ele parece que renasce.
A força da porta aberta.
Do meu âmago novos sonhos desperta.
Fonte de louca inspiração.

Respiro a magia...
Com o nascer de um novo dia.
Acalma-se meu coração.

O tempo passa.
O sol pelo céu passa.
O mundo reaparece: mais da metade é só desgraça.

Sim, a mesma paisagem.
O mesmo ar a nos rodear...
Flores... as mesmas pelo caminho continuo a encontrar.

Mas há tantas pedras...
No fim do dia só penso um mundo poderia rodar mais leve... mais devagar...

Mais amor poderiam os homens do seu coração tirar.

⁠Poeta

Um mar estrelado, seus olhos olham abismado.
É tanta luz, é tanta beleza...
Quer colocar tudo em versos, com certeza.
Um murmúrio de águas cristalinas.

Perfeição da vida.
Caminhos que se cruzam.
Vida que encontra vida.
O poeta olha com seus olhos sensíveis...

Coração a tudo perscrutar.
Quantas maravilhas pra ele em versos colocar.
Um mar imenso de água tão salgada.
Um infinito que se perde... parece no nada.

As ondas que não param um instante sequer... a areia vem molhar... depois voltam pro infinito mar...
Vem e vão num bailado cuja música a brisa está sempre a tocar.

Poeta que tudo vê.
Toca com os olhos do coração.
A perfeita natureza a florescer,
O dia que morre na noite... que vê todo dia nascer,

Que se passa na alma do poeta?
Quanta sensibilidade nela há...

Em poucos versos toda a maravilha do mundo consegue ele poetar.
No seu âmago busca esperança.
Vê dias maus... vê sim...
Aceita a dor e cada uma do seu jeito.
Dentro do peito ajeita cada uma de um jeito.

⁠Aqui não é só o ensaio

O silêncio da noite se dispersou.
O silêncio silenciou.
O dia amanheceu.
O sol apareceu.

Todas as formas aparecem nitidamente com essa claridade que inunda este lado de cá do globo.
A cidade mansamente acorda.
O cheiro do café.
Os passos apressados.
Coisas a se fazer de novo.
Porque ontem foi tudo igual...
Um dia normal.

O sol passeou sobre o céu.
Os pássaros cantaram.
As ondas do mar foram e vieram.
As plantinhas cresceram um pouquinho mais.
Frutas amadureceram nos quintais.

Nuvens grossas cobriram o céu.
Vento forte por aqui passou.
Água do céu desaguou.
As ruas da cidade lavou.
Dos telhados o pó tirou.
Depois... depois a chuva foi chover em outro lugar.

Toda a terra precisa florescer.
A água do céu parece isso nunca esquecer.
Pra que essa mania de tanto se preocupar.
Cada coisa sabe exatamente a hora de estar em seu lugar.
Vamos viver e aproveitar.

⁠Minha paz

O sol nasce bem cedinho.
Meus olhos brilham e se encantam.
Pássaros cantam por todo canto...
Um novo dia começa a nascer...
Quanta coisa linda nos espera pra acontecer.
Meu coração se enternece.
Minha mente se despolui da escuridão da noite...
Não há mais fantasmas a me perseguir.
Um novo dia vem aí pra me fazer sorrir.
Minha alma paira em uma dimensão em que há só amor e paz... empatia e colaboração.
Sinto as mãos que me amparam.
Sinto quem quer tirar a dor do meu coração.
Minha esperança renasce.
Meus olhos percorrem todos os recantos.
Vejo a cidade mansamente acordar...
Minha paz quero com todos compartilhar.

⁠Continua sendo intolerável viver.
Não entendo por que se comemora tanto o nascer.
Nasce-se e começa-se a morrer.
Que graça há nisso?
E se fala em esperança...
Que ironia.
Toda noite sucede o dia...
Luzes... depois sombras.
Momentos de paz, sim...
Mas há tantos mais de agonia.
Somos solitários...
Embora as pessoas se iludam que o estar rodeadas de gente é estar em companhia.
Seguimos na nossa tristeza.
Colocamos máscaras.
Não nos desvendamos totalmente...
Expomos só o que nos convém.
Escondemos o que aos outros mostra que não estamos bem.
Envolvidos em trapos...
Farrapos...
Há sempre algo de demente no viver.
Dormir e acordar.
Tudo é uma luta inútil.
Tudo tanto faz.
E eu?
Bem, eu sigo triste e amargurado...
Descalço, por este mundo de pedras e espinhos pra todo lado

⁠Intolerável

O céu amanheceu pálido... o dia nasceu tão triste, desconsolado.
A desesperança toma conta de mim.
Não queria que fosse assim.
Há uma tristeza imensa absorvendo tudo o que há de bom em mim.

Desolados meus pés continuam a caminhada.
É longa e deserta esta estrada.
Minha existência também é solitária e vazia.
Não entendo por que tenho de viver o dia.

Esgotada está toda a alegria.
Meu olhar busca por aquilo tudo de bom que foi um dia...
Já não encontra emoção.
Não há beleza nenhuma e me rodear.
Até o sol passa pelo céu cinzento ... sem nada clarear.

Às vezes o viver se torna tão intolerável.
E intolerável também é na indiferença permanecer.
Minha mente tudo isso a lembrar...
E eu... eu que só queria tudo esquecer.

⁠Neblina

Espero a neblina passar...
Passa ela tão devagar!
Isso faz meus olhos com o tudo nublado se acostumarem...
Chegará o momento em que verei todas as coisas mudarem?
Coisas vão mudar!
Cores irão de novo tudo colorir.
Outras coisas ficarão exatamente como são...
Temos de admitir.
As coisas não mudam assim num passe de mágica.
Continuará a haver injustiças.
Continuará a haver egos inflamados.
Continuará a haver corrupção.
Mas, queira Deus que num ponto qualquer aí na frente:
Haja mais gente no caminho contrário.
Que a balança penda pro lado do bem....
Ou, no mínimo, vejamos um país um pouco mais equilibrado...
E... que a cada dia se conserte, pelo menos, 0,000000001% do que vemos de errado.
Pronto! Isso é mais que o suficiente.... vamos começar a olhar pra frente...

⁠Mais devagar

Se eu soubesse...
Que a vida passa tão rápido...
Que amizades vêm e vão...
Que amores são fugazes...
Que a morte chega...
Se eu soubesse...
Teria vivido mais devagar.
Teria olhado intensamente pro tempo...
Pedido a ele: vai mais devagar.

⁠Por que veio?

Lamentos lacônicos.
Momentos nada icônicos.
Passionalmente traída.
Uma vida desistida.

Estrada destruída.
Sempre em frente! Que coisa mais sem sentido.
Nunca queria ter sido.

Mas foi... é.
Não há como voltar atrás...
Ao mundo veio...

Sem fazer ideia nenhuma de a que veio... nem por que veio.

⁠Um peso morto

O frio da madrugada gela meu corpo.
Inerte estou à beira do mar...
Minha mente a divagar...
Como um barquinho perdido no mar.

Abandonada emocionalmente
Tento colocar minhas coisas no lugar...
No meio de tanta bagunça louca... tenho a impressão de que vou ficar...
Do mar vem o conforto
Entro devagar... o corpo mais frio começa a ficar...

Boio nas águas salgadas...
Deixo as ondas me levar...
A boiar... a boiar...

O sol nasce no horizonte.
O calor de volta traz.
Volto pra areia silenciosamente...
Minha dor no fundo do mar...

Novo dia.
Esperança.
Alegrias?

Deixará meu caminho de ser torto?
Deixarei eu de ser pro mundo um peso morto?