Coleção pessoal de HermesFernandes

61 - 80 do total de 553 pensamentos na coleção de HermesFernandes

Onde houver muitas certezas, pouco espaço restará para surpresas.

Loucuras por amor

Que loucura tu farias por amor?
Que aventura viverias?
O que tu arriscarias?
Quanto que permitirias?
Como te explicarias?

Até onde tu irias por amor?
Quantas voltas tu darias?
O que desperdiçarias?
Que pressão aguentarias?
Que vergonha passarias?

De quê abririas mão por amor?
O que renunciarias?
O que denunciarias?
Que promessas cumpririas?
Quantas que tu quebrarias?

A que ponto chegarias por amor?
Que lágrimas derramarias?
Quantas que enxugarias?
Que sorriso estamparias?
Que alegria provocarias?

Quanta dor suportarias por amor?
Que humildade expressarias?
Quanto orgulho engolirias?
O que tu revelarias?
O que tu esconderias?

Que salto tu darias por amor?
Que palavra tu dirias?
Que silêncio tu farias?
Que sonho sonharias?
De que sono acordarias?

Que dogma questionarias por amor?
Que teorias contestarias?
Que interesses feririas?
Que perigo enfrentarias?
Que coragem exibirias?

O que tu perdoarias por amor?
Que pecado confessarias?
Que vida levarias?
Que morte morrerias?
A que sobreviverias?

Que canção tu comporias por amor?
Que poema escreverias?
Que preço pagarias?
Que riqueza desprezarias?
Que ordem subverterias?

Em que mar navegarias por amor?
Que rincões desbravarias?
Quantos céus tu riscarias?
Que pedido negarias?
Que desejo atenderias?

O amor está acima de regras e códigos.
Dentre outros sentimentos, se destaca entre os pródigos.
Abre vias e caminhos, nos coloca além dos pórticos.
Como rosas entre espinhos, se esconde nos acrósticos.
Depõe deuses do Olimpo, sejam gregos, sejam nórdicos.
Feito ouro no garimpo, desafia os agnósticos.

O amor é indomável, quando quer insiste, teima
É capaz do improvável, tanto arde quanto queima
Nossa vida é um vapor, dura tanto quanto a chama,
Mas sua luz e seu calor eternizam o que se ama.

Tudo o que eu quero

Tudo o que eu quero é ser
Surpreendido pelo amor
Pois sei que assim aonde eu for
Para trás deixarei a minha dor

Quero sair por aí
E encontrar o meu lugar
Em que vale a pena existir
Onde eu deseje sempre estar

Se alguém me ama
E se importa
Então, me acode
Pois sei que pode
Dar-me motivo
Pra que eu ria
E ser motivo
Pra que eu não chore
Por amor

Que este alguém desperte assim
O melhor que há em mim
Que eu lhe pertença como quis
Minha recompensa é lhe fazer feliz

Se alguém me ama
E por mim vive
Dê-me carinho
Seja meu ninho
Dê-me motivo
E me revigore
Faz-me cativo
Sem que eu implore
Por amor

Sinfonia de Afinidades

Há quem pareça tão afinado
com o nosso diapasão,
que fica a impressão de
que fomos criados
ara tocar a mesma sinfonia.

Alguns chegam a nos desafiar
a subir uma oitavada,
ultrapassando nossos limites.
Outros, apesar das afinidades,
nos empurram uma oitava abaixo.
E há os que parecem
destoar completamente.
Não que haja algo errado neles. Simplesmente estão afinados
por outro diapasão,
e, portanto, preparados
para outra sinfonia.

Quando se faz sol,
estes dão ré.
Se partimos para lá,
estes não abrem mão de si.
Para evitar o mi-mi-mi,
é melhor ficar com dó.

Ponho-me a pensar:
Que tal encontrar um ponto de convergência entre os acordes?
Se quem faz tanta questão do sol
puder ao menos arriscar um sustenido, bastará que o que tanto deseja lá, disponha-se a fazer um bemol.
Afinal, o sustenido do sol
é o bemol do lá.
O sustenido do dó
é o bemol do ré.

Então, pra quê brigar?
Talvez esteja na hora de acordar,
e assim tocarmos juntos
a mesma sinfonia da existência.

Mais importante que
a afinação e as afinidades
é reconhecer que o regente
desta orquestra é o amor.

Ensina-me a dançar
Vida, ensina-me a dançar
Toma-me pelas mãos
e corrija-me o passo

Tenho alma dançarina
Mas meu corpo insiste
em atravessar o compasso

Às vezes, acelero
Noutras, atraso
Às vezes, quero
Noutras, crio caso
Às vezes tropeço
Noutras, me afasto
Às vezes despeço
Noutras, me arrasto

Temo que a música termine
sem que eu tenha me ajustado
à sua cadência

Temo que alguém imagine
que eu tenha descartado
a minha essência

Não sei que ritmo seguir
Se o que toca no salão
Ou o que brota do meu coração

Pois o que minh’alma sente
nem sempre meu corpo consente
E o que o corpo implora
Nem sempre na alma aflora

Prazer, este sou eu

Sincero, mas não a ponto de lhe ofender
Apaixonado por tudo o que é belo, justo e bom
Gentil, porém firme em minhas convicções
Idealista, sonhando um dia lhe surpreender
Tolerante, busco no outro enxergar algum dom
Autêntico, sem dar a mínima pra convenções
Resolvido, mas nem tanto assim quanto pareço
Intenso, me envolvo naquilo em que me reconheço
Obcecado pelo que acredito, não importa o preço

Prazer, este sou eu!
Só me resta saber quem é você
Viu? nem doeu!
Permita-me também lhe conhecer

Deixe-me saber de seus sonhos mais floridos
Não precisa me esconder o seu lado mais sombrio
Pois assim como você, sou humano, sou ambíguo
Posso tentar decifrar os sinais já emitidos
Mas vai ter que me contar, se estou quente ou estou frio
Faço tudo no afã de tornar-me seu amigo

Contagem Regressiva

Eu que pensei ter todo tempo do mundo
Quanto sonho adiei, vivendo num poço sem fundo

Viagens que não passaram de planos
Deixados pra lá no decorrer dos anos

Livros empoeirados na estante
Que jurei que leria depois
De tão ansioso perdi o instante
E pus a carroça na frente dos bois

Quantos dias chuvosos em que eu não dancei
Momentos ociosos que eu não aproveitei

E o pôr-do-sol, o maior dos espetáculos
Distraído perdi, inventando obstáculos

Conformado em ver filme dublado
No Idioma que eu nunca aprendi
Pra o teatro estou sempre ocupado
No piano jamais insisti

Montanhas de neve nas quais não esquiei
Museus repletos de acervos que não visitei

Quantas conversas fiadas entre bons amigos
Dar boas gargalhadas, rir até dos perigos

Rios de águas tão cristalinas
repletos de peixes de toda cor
Perdido estava entre tantas piscinas
E dei meu mergulho na própria dor

Sabores que não provei, odores que não inalei
Beijos apaixonados que não roubei

Abraços apertados que afrouxei
Noites de lua cheia em que não namorei

Noites insones foram preenchidas
pela solidão que veio me assombrar
Juras de amor que já foram esquecidas
E o meu coração sempre a me sabotar

Sinto muito dizer, mas um único dia
Não dá para viver o que se pretender
Quem sabe este será o primeiro dia
Do resto de vida que ainda vou viver

Disposto a gastar até tudo que tenho
pra comprar memórias que venham render
melhores histórias, o resto eu desdenho
sem desperdiçar chances que eu venha ter

Beleza Estonteante

Não deu pra passar despercebida sua beleza estonteante...

Não me refiro à simetria em seus traços fisionômicos,
mas a flagrante harmonia entre sua mente e seu coração
revelada na maneira como expressa sem rodeios
seus sentimentos e opinião.

Não deu pra passar despercebida sua beleza estonteante...

Não foram as curvas do seu corpo que me chamaram a atenção,
mas a curva do seu sorriso, sua integridade e retidão.
Não foi o balanço de seus quadris, mas a cadência dos seus gestos.
Não foi a maciez ou a cor de sua pele, mas a brandura e transparência de sua alma.
Não foram os seus olhos que me seduziram, mas a ternura de seu olhar.
Nem os seus lábios convidativos, mas o amor destilado em seu jeito de falar.

Não deu pra passar despercebida sua beleza estonteante...

Pouco importa se seus cabelos estão lisos ou caracolados, naturais ou tingidos...
Quero-os soltos ao sabor do vento ou molhados após um banho de chuva.
Pouco importa o que diz a balança ou o espelho...
Sua imagem perfeita é a refletida no brilho do olhar quem lhe ama.

Desperdício

Eu podia estar rimando
Compondo meus poemas
Mas me vejo aqui tramando
Pra desconstruir esquemas
Ops, rimei.

Desculpe-me o deslize.
É difícil me conter...rs

Ficou com a pulga atrás da orelha?
Por que tua cara está tão rubra?
Diga-me em quem você se inspira?
Será que ainda há uma faísca?

Percebeu a artimanha?
Quantas rimas desperdicei?
Pra não perder a manha:
Eu bem que te avisei!

Gosto de brincar com as palavras...
Trocar “rubra” por “vermelha”
“se inspira” por “se espelha”
“Faísca” por “centelha”
E pronto... garanti minhas rimas.

Enfeitei minha poesia.
Mas deixei a pulga no mesmo lugar.
Que estripulia!
O que não gosto é de com sentimentos brincar...
De fazer malabarismo com corações alheios
Iludir os outros com os meus devaneios
Confundir aventuras com meros passeios.

No princípio era o verbo, no fim, o adjetivo.
Mas entre um e outro, o mistério subjetivo

Fazer o bem pela recompensa do céu é como acusar Deus de suborno, Fazer o bem por medo do inferno é como acusá-lo de chantagem.

GARUPA

O que é que está esperando?
Sobe logo na minha garupa
Bora sair mundo afora...

Por que ficar protelando?
Aquilo com que se preocupa
Esquecido será na aurora

Quero apreciar a paisagem
Refletida em seus olhos castanhos
Ver o vento bagunçar seus cabelos

Quero testar sua coragem
Percorrendo caminhos estranhos
Provocar arrepio em seus pelos

Quero acender a fogueira
Cantar versos que eu mesmo compus
Ao som do velho violão

Vou te deixar bem faceira
Dançando à vontade a meia luz
Celebrando a nossa paixão

Quero deitar a relento
Contar cada estrela cadente
Imaginar outros mundos distantes

Quero viver o momento
Decidir pra onde ir, de repente
Viajantes errantes, amantes

Dispensar GPS ou mapa
Abrir trilhas em seu coração
Saciar-me direto da fonte

Da estrada do amor quem escapa?
Quantas milhas até a razão?
Não há placas que o norte aponte

Colher flores à beira da estrada
Mergulhar no primeiro riacho
Lambuzar-se com frutas do pé

Ver as cores de cada alvorada
Se me perco, em você eu me acho
E sem pressa, caminhamos a pé

Do Oiapoque ao Chuí
Do Pantanal ao Havaí
De Paris à Veneza
De Recife à Fortaleza
De Machu Picchu a Patagônia
Do sertão à Amazônia
Do Caribe às ilhas gregas
Dos Andes às Agulhas Negras

Ao final, o que importa
Não é o destino ou a jornada
Mas a companhia de quem
quer amar e ser amada

A Anatomia de um Abraço

Para quê tanto espaço
entre gente que se ama?
Vem cá, me dá um abraço
Deixe de fazer drama!

Seja ao luar no terraço
Ou ao sol deitado à grama
Não vai tirar nenhum pedaço
Vem pros meus braços
e se esparrama

Se lhe causo embaraço
Então, por que você me chama?
Tudo bem, eu me refaço
Pra manter viva esta chama

Não vale aqui queda de braço
Se desistir, você reclama
Se quer saber, também pirraço
Você conhece a minha fama...

Isso seria um erro crasso
Como atirar-se em mar de lama
Não vou vencer pelo cansaço
Prefiro amar como se ama

Nem um quadro de Picasso
Retrataria com primor
A anatomia de um abraço
A geometria de um amor

Dizem que isso está escasso
É no deserto encontrar flor
Posso provar-lhe passo a passo
Isso não passa de rumor

O que se faz com um abraço
Não tira só os pés do chão
Põe as batidas no compasso
E faz dos dois um coração

360 graus

Por entre as frestas da gaiola
Enxergo num raio de trezentos e sessenta graus
Meu canto é como festa de vitrola
Trilha sonora de amores contados em saraus

Lá fora aventuras, perigos... Frajola!
Mas cá dentro estou seguro destes elementos maus
Além de alimento garantido num cardápio de esmola
Ao menos sou poupado da fúria desse caos

De que me servem as asas
se privado sou de explorar o mundo à minha volta?
Estas grades me são travas
Não percebe que o meu canto é um pranto de revolta?

Deixaram a porta aberta...
Talvez por um descuido ou até para me testar
Agradeço pela oferta
É a chance com a qual sempre estive a sonhar

Ao abrir as minhas asas
Ensaiando meu mergulho céu afora
Sofro apenas quedas rasas
Fraturando meu orgulho de outrora

Dou-me conta de que nada adianta
dizer sim a esta oportunidade
Se o espanto que secou minha garganta
foi notar que as asas me foram cortadas
Nada mais nesta vida me acalanta
De que serve esta tal de liberdade?

Mas as asas um dia voltam a crescer
foi o que um anjo sem asas me garantiu
Fez a chama da esperança reacender
Minha alma de alegria até sorriu

Não se pode conjugar o verbo amar no passado. Quem ama, ama para sempre, pois torna eterno o objeto de seu amor.

Talvez o seu presente não seja
o futuro com que você um dia
sonhou. Mas quem sabe ele
poderá ser um dia o passado
de um futuro promissor?

Quem te ama deseja mais a tua felicidade do que a tua companhia.

Ato falho

Ei! Não adianta mais disfarçar
Finalmente descobri quem você é
Ou você acha que ainda me engana?
Que perda de tempo argumentar
Testar meus limites, minha boa fé
Sua máscara é feita de porcelana

Não me venha com um sorriso sem graça de quem acaba de ser exposto
Nem me importo com o que diga ou faça Basta olhar a expressão do seu rosto

Ato falho! Um a um, fui percebendo
os sinais que você emitia
Que trabalho foi dar zoom e acabar vendo que você não era aquilo que dizia

E eu pensando que você era apenas uma pessoa de bom coração
Cada peça num quebra-cabeça de cenas foi desfazendo a minha ilusão

Abri a porta estreita da minha vida
Pra lhe oferecer hospedagem
Sem a menor suspeita, dei-lhe guarida
por pura empatia e, camaradagem

Chega de conversa! A casa caiu!
Então, confessa! Por que me sorriu?
Quem bolou todo este arranjo
Pra esconder de mim que você não passava de...Um anjo.
Como esperar que mentes tão rasas saibam identificar um anjo sem asas?

Infância Violada

Não passava de criança
Que sonhava ser herói
O que trago na lembrança
Eu que sei o quanto dói

Era só uma menina
Que sonhava ser princesa
Mas que teve a triste sina
de ser pega indefesa

Foi tão feio, tão nojento e tão vil
Erguer meus olhos puros e infantis
Mirar na cara do meu algoz senil
Ultrajado em seus míseros ardis
Enojado de seu semblante imbecil
Laçado feito um passarinho infeliz

Lá se foi minha pureza
Antes nunca que tão cedo
Quem saiu em minha defesa?
Só restaram culpa e medo
A vergonha e a tristeza
Hoje moldam meu enredo

Não havia a quem contar
Ninguém me daria ouvido
Com quem mais posso contar
se até eu de mim duvido?

E se eu quisesse evitar
Não teria acontecido?
Haveria culpa em mim
Por tão funesta atitude?
Se houver, diga que sim
faz de conta que me ilude
Sem flores em meu jardim
Espinhos me fizeram rude
Minha sede não tem fim
Faltou água em meu açude
Quem sabe mesmo assim
Num lampejo de virtude
Antes de chegar o fim
algo acorra e tudo mude?
E se perceba até que enfim
Que eu resisti o quanto pude

Jet Lag - 26/05/2016

Esperando a torre liberar a pista
Ansioso pra poder desembarcar Turbulências noutros céus enfrentei Finalmente, estou pronto a pousar

Cada voo para mim é uma conquista Liberdade é poder os céus cruzar Reticências vida afora eu desejei
Vez por vez meus destinos celebrar

Muito acima de aonde chega o alpinista Sem lugar para fincar minha bandeira
Sou piloto, o comandante, não turista
Entre as nuvens deixo um rastro poeira

Mas no chão já não sou o mesmo artista Sofro agruras que qualquer mortal carregue
Sigo sendo um sonhador, idealista
Sempre vítima do efeito jet lag

Meu relógio segue à risca outro tempo
Não se atrasa, nem querendo se adianta
O que importa é estar sempre atento
Mesmo quando o almoço vira janta

Quem suporta viver em tantos fusos
Troca o dia pela noite, troca noite pelo dia Seus sentidos se tornaram tão confusos
O crepúsculo vira aurora, e um novo dia se inicia

Déjà vu

Que cores são estas que tingem o entardecer?
Que doce nostalgia inspira este dégradé?

Uma estranha impressão brota do íntimo Algo que alguns chamam Déjà vu
Não há como não se sentir ínfimo
Quando o universo abre seu baú

Apesar de minúsculos
Não somos apenas grãos de poeira
Para além de ossos e músculos
Somos alma e peneira

O cosmos inteiro é a mina
Da qual a consciência é o garimpeiro
Cada estrela examina
Em busca do mistério derradeiro

Mas quem nunca sentiu
Como se já não houvesse tido a lição? Quem nem ao menos previu
Qual seria a próxima sensação?

Quem sabe seria esta a mais preciosa pepita?
Perceber que na vida nada é estreia
Que embora graciosa e finita
De retornos infinitos é a nossa odisseia

Assim, cada encontro é um reencontro
E dizer “eu te conheço de algum lugar”
não é uma mera cantada

Cada conto reforça um ponto
E até desencontros nos levam ao mesmo lugar
ainda quando se altera a estrada

Não seremos outros jamais
Nossa essência permanece
Nem seremos os mesmos nunca mais Nossa existência esvanece

Não se trata de remake ou recapitulação Cada cena, cada take, celebramos a ação

Mesmo graduados pra além do tempo e do espaço
Estamos destinados a viver no grande abraço

Cada afeto vivido no mundo
Cada teto chamado de lar
Em contato com um ser que é fecundo
Para sempre o acompanhará