Carta a um Amigo Especial
CARECA DE SAUDADE
Há pouco esmero nesse texto. Há pouco ele cresceu. Crespos, lisos, ondulados: tantos são os caminhos para a saudade. Trançados em raiz, espetados, penteados em et ceteras. E, mesmo em caminhos calvos, é algo que cresce, aumenta, cai. Tal vez, saudade. Cabelo, talvez. Arrepia e embaraça. Saudade é capaz conceber sentimentos de arrepiar e embaraçar qualquer sensatez. Há quem peleje ao pentear os fios desse tempo com o credo latente de que a saudade irá passar. Esforços em vão. Cabelo se corta, saudade também. Saudade logo cresce. O cabelo? Também!
PÃO DE ILUSÃO
"Dona Maria vai à mesma padaria há 43 anos e alguns dias. Essa data traz a agonia inventada pela espontaneidade da vetustez. Alguns móveis da padaria, ao longo da modernidade, foram trocados por mármore gelado e mogno lustroso. Os donos do estabelecimento ainda não foram trocados. O padeiro continua com um semblante frio - tanto quanto o mármore - e a balconista, com a sua pele lustrada pela temperatura dos pães, estende dedos grossos para devolver o troco. Em todos esses anos, os formais comprimentos nunca foram trocados por nenhuma amizade com túnica mais interna. Dona Maria é apenas mais uma velha assídua que sempre compra o mesmo bolo de trigo. Os que estão na padaria, também são apenas os mesmos, apenas são, sem muitas túnicas internas, são superficialmente apenas duas almas sem recheio que Dona Maria vê ao longo de seus 43 anos. Por casualidade, há muitos calendários, Dona Maria vê os mesmos rostos, os mesmos objetos, come as mesmas comidas, veste os mesmos vestidos que cheiram a naftalina. Diga-nos, Dona Maria, diga como era o sol naquela década. Diga-nos, diga com dignidade como as pessoas se trajavam, nos diga sobre os programas televisivos, diga-nos se os corpos eram em preto e branco, diga se havia medo de ter esperança. Conte-nos, conte sobre hoje, conte sobre excesso de cores. Conte-nos como contas as moedas do cofre que guardas em cima da geladeira, qual valor tem a mudança. Para Dona Maria, a dinâmica do tempo não lhe foi muito generosa. Dona Maria aguarda, no cume de sua demência, que nada possa mudar, pois envelhecer é um fenômeno agudo, que esculpe pés de galinha e rugas sem muita cortesia estética. E ela inventa todos os dias mais um dia de monotonia, para que não alcance o desespero de um dia ter de que se reinventar. Dona Maria sabe que a eternidade não se vende em nenhuma padaria, mas que a alegria da ilusão lhe traz a sensação de poder ter desenhar a vida que se quer levar."
PÉTALA POR PÉTALA
"Aprendi a andar sobre à vida sem as mãos, sem nenhum apego ou reflexo de segurança mediante ao perigo. Em minha riqueza de aptidões, a que mais contemplam é a terrível maneira como os cadarços se comportam. Os que se importam: sintam-se importantes. Equilíbrios aos equilibristas. Pra eu que tanto me dou bem e mal - pétala por pétala - sob o papel de malabarista, resta rogar habilidade na dinâmica das instabilidades."
AMAR - ATO I
"Desde que se tornou verdade, todo medo era apenas mentira, sem parcimônia de sentir a ausência do cais que me era, da imensidão de sorrisos igualmente divididos. Com aqueles braços - que atravessavam-me sutilmente os poros - tod'alma fluía, vestida de lençóis translúcidos, delicados, mas hígidos o suficiente a passar por qualquer espinho sem nem causar ferida, partos e partidas. Partilhas comigo a razão das mais belas canções e da cólera incurável, da falta do ar. Desde que se tornou verdade, tudo se torna...transforma no ato de amar".
O MENINO QUE O VALE LEVA
"Você nunca volta pelos mesmos caminhos. Você, o pequeno menino do vale, também é o grande adulto que leva. E se hoje vai embora - cheio de lentidão na marcha - é porque nunca perdeu o medo de voltar. Sempre soube que, o soluço, é o veredito pujante do perdão digerido. E eu, teimoso como sou, dou conversa ao desespero. Tenho calos por ainda ter cordas, na cabeça, para me pendurar em suas fugas. Corra ligeiro, na cidade que há em mim, com todas as suas coisas que vão perdendo o cheiro, exalando o melhor perfume da sua falta. Vale-me muito esse menino. Valei-me...volte! Pois as placas não têm nomes e, as ruas, não têm saídas. Nos fios da barba, há cama para a sua insônia. Riso também é choro. Cacto também se rega. Amor, não se nega".
[DESAPONTADO]
.O mundo acabará da luz que emana dos rios e mares que, juntos, se fazem represa dentro de lâmpadas. Muitas. Lâmpadas, muito acima da nuca, próximas ao nunca, leva ao útero a luz. Luz que amarela o caminho das minhas reticências, das ciências. Eis a minha fria preferência aos pontos finais. Pontos finais são amarrados, feito laço bonito, pelos dedos mais bonitos que jamais vi. Bonitos dedos entrelaçados, perfumados por alcalinos terrosos como se, estes, tivessem bonito cheiro. Cheiro veste todo o corpo de agulha e carne, carne fluida de sangue cor dos fins de tardes. Do céu cai chuvas e chaves – e nenhuma de fenda – que pra eu apertar o balé dos meus parafusos que dançam livres e soltos no eixo do desleixo da minha cabeça. Cabeça, cesto fundo para guardar os nexos sujos, todos carcomidos de repetição, sem nenhuma palavra nova, pois – tal como as lâmpadas – na minha cabeça o mundo acaba em luz – e não em pontos finais.
"Meu amor, eu estou tão solitária. Recorro aos anjos para que me enviem seu amor eterno. Sou como a virgem diante de ti, mas a carência me corrói por dentro. Porque me olhas tanto? Não vê que o fogo da paixão percorre os meus olhos com rapidez. Passos lentos, eu estou sentindo o perfume das flores. Sentindo a tua falta por demais até.
Penso que percorro as mãos em tua nuca, os meus lábios o mais doces que tu beijaste. Eu estou delirando agora, nunca estive tão feliz.
Ilusão minha, passagem idiota.
Quando mais tarde me levar ao quarto, a cama terá lençóis frios, brancos e limpos. No outro dia me abandonará dormindo mais tarde. Esquecerei o teu nome, a vida é assim.
FRUSTRAÇÃO
Não esperar muito;
esperar pouco ou
quase nada?
Quanto mais se espera
maior pode ser a sua
frustração.
Quanto menos se espera
menor pode ser a sua
paixão.
Prefiro mil vezes a dor de
me frustrar ao viver sem
me apaixonar.
Vou me frustrar todos os dias
da minha breve vida, mas não
viverei um só deles sem que
meu coração se apaixone.
Se apaixonar pela espera;
esperar pela paixão.
Se frustrar esperando;
esperar se frustrando.
Se apaixonar frustrado;
frustrar o apaixonado.
Seja qual for a escolha,
esperar, apaixonar ou
frustrar: sofrerás
sempre calado.
Nada custa, mas cria muito.
Enriquece os recebedores, sem empobrecer os doadores.
Dura apenas um segundo, mas, muita vez, a memória o
guarda para sempre.
Ninguém é tão rico que possa ir adiante sem ele, e ninguém
é tão pobre que não fique mais rico com seus benefícios.
Traz a felicidade ao lar, alimenta a boa vontade nos negócios
e é a senha dos amigos.
E repouso para o fatigado, incentivo para o desanimado,
alegria para o triste, e o melhor antídoto da Natureza para o
mau humor.
Não pode ser comprado, mendigado, emprestado ou roubado,
pois é alguma coisa que não é artigo de valor para ninguém
senão quando dado naturalmente.
Se no último minuto de confusão das compras de Natal
algum dos nossos vendedores estiver tão cansado que não lhe dê
um sorriso, poderemos nós pedir-lhe para deixar-nos um dos
seus?
Pois ninguém necessita mais de um sorriso do que os que
nada têm para dar!
Um de nós
Vai sentir a falta de um de nós
Cada um, numa noite alta vai sofrer
Vou te ver, abraçar o vento com alguém
Que te faça bem
Vou sorrir, mas nesse momento eu vou chorar
Por sentir na carne a dor que dá
Quando alguém ocupa o seu lugar
Que não é somente um lugar
Foi um sonho que acabou...
PEDRAS NA VESÍCULA
"Eram tantos os suplícios para que cessassem o arremessar das pedras, eram tantos...Muitos! Tantos tontos ouvirão ecos sem economias. Pedros, pardos e perdidos. Perdidos entre pedras. Tantas pedras prediletas, com valoração, seixos com matizes. Eram tontos os que buscavam a pedra sem peso. Pedras não são como penas. Pena de vida, não há morte pior. Tantas pedras amorfas formam desfiladeiros íngremes, subidas delgadas, caminhos de campos calvos e calminhos cavam. A pena dos pássaros está na liberdade. Tantas pedras mofadas, sem uso, formam desafios íngremes, subidas às degoladas, pedras na vesícula, pedras atiradas."
(...) Sabe numa dessas noites em que estamos com o farol baixo?
Apenas vagando a procura de migalhas?
Quando olhamos em volta e percebemos que estamos sozinhos...
Quando bebemos ao ponto de esquecer quem somos?
É.. foi numa dessas noites estreladas, com uma pequena chuva fina
Na companhia dos ventos do minuano
em que o Diabo cruzou meu caminho
Ele apareceu Vestido em um terno alinhado, cigarro a orelha
e em sua mão um whisky 1955, roubado dos campos dos vietnamitas
Olhou em meus olhos e me perguntou se tinha fogo
logo saquei do que me alimenta e ele sorriu
singelo como um anjo me convidou para um trago"
__________Qual é o seu norte?
Para onde você aponta?
Quais os seus sentidos?
Quantas vezes já se perdeu?
Lembrou de olhar no mapa?
Rever suas escolhas?
Definir suas metas?
Reforçar seus objetivos?
Se você andou sempre certo
e reto, desculpe, foi errado.
Na vida, perdemos mais do que ganhamos.
Procuramos mais do que achamos.
Temos menos do que queremos.
Viver está nessa diferença.
Viva isso.
Bom dia, HOJE e SEMPRE.
BEM-ME-QUER(O)
De todos os pesares
O mais leve é saber
Que equilibro soluço e canto
Enquanto despenteio flores
bem-me-quer, mal-me-quer
bem-me-quer, mal-me-quer
De todos os panos
Torço e contorço os fios
Para que escorram em minha pálpebra
Encantos de mais uma história
bem-me-quer, mal-me-quer
bem-me-quer, mal-me-quer
Como posso despentear flores
Se em minhas palmas
Cheia de mapas desertos
Eu tenho é dente-de-leão?
bem-me-quer, mal-me-quer
bem-me-quer, mal-me-quer
Se bem me queres
Mal consegues saber
Que bem lhe peço
Ao orixá que tu tanto rogas
Que lhe perdoe
Por ser mais pedra
Do que mar
bem-me-quer, mal-me-quer
bem-me-quer, mal-me-quer
E as minhas pétalas
Que caem tanto quanto os teus fios
Mordem os endereços de nossos abraços
Desertando panos e lençóis de algodão
E as pedras são as mesmas
Ainda que vento só sopre o nunca e nucas
Só se basta o que foi bastante
Seguro em minhas aspas e grito:
bem-lhe-queira, bem-me-quero
bem-me-queira, bem-lhe-quero
CIDADES ONÍRICAS
"Gosto de tudo o que sou, enquanto caminho para o sono, naquele instante de repouso em que sou apenas mais um tom de vulto. Sou bom em ouvir vento varrendo ruas, em pensar na turbulência dos acasos e em fugir de insônias autorais. Refaço as costuras dos panos que me embrulham, em pensamentos desajuizados, desenfreados. Quando, por fim, durmo, acordo em cidades oníricas e tomo café da manhã com a minha bendita inconsciência."
LER-ME É LEI
"Leia-me!
Leia-me, me lê.
Lê aqui...e aqui.
Agora, aqui.
Cursivo,
Bem grafado,
Devidamente acentuado.
Todavia, gramaticalmente
Despenteado.
Leia-me!
Leia-me, me lê.
Lê aqui...e aqui.
Agora, aqui
E agora, consegue?
Não conseguiu.
Tá amuado,
Sabe que até um desvairado vê,
E idem o pobre iletrado.
Deixe-me chegar mais perto...
Fique parado!
Não afrouxe as córneas,
Não pule palavras.
Minha couraça em páginas...
Leia lauda por lauda.
Ainda não consegues?
Fiquemos bem!
É tudo esboço,
Se tá turvo,
Não tá borrado.
Tobogãs venosos
Escorrem ´liquid paper´.
Omiti ou tá apagado.
Leia-me!
Leia-me, me lê.
Lê aqui...e aqui.
Agora, aqui.
Há muita luz em mim,
Não sou de fins,
Muito pouco de abismo.
Se não consegues me ler,
É miopa - ou astigmatismo."
TIMBRE DOS VENTOS
"Quando o vento der timbre às portas e janelas: é hora de acordar. Desperta-te mansinho, como cada fio de uma nuca que se insinua. Olhai as molduras que sol pendura em paredes cruas. Escute os meus uivos - qu'esses, aprendi com os ventos. Num abraço coube todo clarão do dia. É nas manhãs dos teus beijos qu'eu me rein(vento)."
ELAS POR ELAS
Das mulheres que se perdem
Em teus lençóis,
Eis, em teu colo,
A única que lhe faz
Cama, chão e torpor
A mulher em teu colo,
Pede com sede,
Cada janela dos teus olhos,
Elas são elos,
Mas, só uma,
Geme sem dor
A mulher em teu colo
Cruza ventos e suspiros
Para ter os teus ósculos;
Ela sabe a rua do ir e do voltar
É sujeito de seu próprio verbo,
Sujeitando-se ao delírio e
à doidice
De comprar horas
Pra te amar
GOELA
GOELA
"Os meus braços balançavam.
Como um pêndulo,
Os meus braços balançavam.
Remando em antagonismos,
Meus barcos não iam,
Nem voltavam.
Meus olhos vasculhavam:
Do embrulho no estômago
Aos mares das pálpebras.
E o meu cais virava caos,
Revirava todo o chão do mundo
Até achar sementes,
Raízes, ramas ou, somente,
As palavras enterradas
A sete palmos
Em minha goela."
O CARNAVAL DA CAPITAL
"Vista sua fantasia, saia de sua Satélite, procure uma vaga próxima para estacionar. Olha o selfie! - quanta alegria. O Carnaval de Brasília vai começar. Não economize no purpurina meu bem, pois, de mixarias, nesta folia é o que mais tem. Ainda tem o vizinho, amigo de escola, inimigo de Facebook, o ex-professor e você – que, de longe, os avistou e apenas pensou. Não quis a ninguém cumprimentar. Afinal, se ébrio está, é melhor se controlar, tal como o limite dos decibéis que só ecoam com um alvará. Abram vossas rodas de amigos e grupelhos típicos, caros brasilienses. Vamos lá! Abram espaço, a ala da AGEFIS vai passar. A marchinha do relógio não é lenta. Pontualmente, à meia noite, o som vira hiato, a luz se apaga, a serpentina acaba e temos de ir a outro lugar. 'Entrepassando' pelos foliões, ouve-se a nítido e claro som: “se fosse em Salvador...”. A fantasia não é para tanto. Entre prantos e poucos beijos, eis o Carnaval da capital – o bonito é se encaretar."
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