Murilo Melo
O único pesar que jamais será curado é que a minha agenda de endereços de amigos, vizinhos e parentes está emagrecendo. O passar do tempo tem isso, sabe?! Você vai perdendo muita gente. Às vezes quando menos se espera. E olha que eu ainda nem cheguei aos 30.
Sinto muita falta, saudade e um nó estranho no estômago que antes não acontecia. Mas tem uma vozinha dentro de mim, de intuição, me dizendo que devo seguir em frente, não posso voltar atrás, porque já deu e o meu destino agora é esse. Não posso e nem devo tentar mudá-lo.
E então, meio que desesperado, encerro a ligação o mais rápido que posso porque tenho medo de falar umas besteiras. Porque eu não sei se você me espera da mesma forma como eu espero você.
Fui mudando pequenas coisas em mim nos últimos tempos, que quando me dei conta, eu já enxergava outra pessoa em mim. Desencanei de alguns erros e já não me exijo tanto. Houve um tempo que eu lamentava muito pelas coisas, hoje eu não sofro mais por besteira nenhuma.
Fiquei. Mesmo sabendo que era errado, eu fiquei. Fiquei e ficaria em todas as oportunidades que houvesse.
(...) E quando volto a pensar nisso, vejo as cicatrizes enormes que ficaram. Uma mais profunda que a outra. As piores são aquelas estagnadas na alma.
Às vezes passa um pouquinho. Tento respirar devagar, deito a cabeça no travesseiro e durmo pra tentar esquecer. Quando acordo, volta três vezes maior. Então vejo que ainda não passou. Não passou e acho que não passa nunca.
Fica tranquilo. Não foi nada. Juro. Deu saudade, vontade de ter por perto, de abraçar até não aguentar mais, só isso. Que agora bateu tanta saudade.
Só gostaria, sinceramente, de vê-lo feliz. Gostaria que ele desse certo com alguém, apesar de todos os trancos que me fez passar nos últimos tempos.
Para com essa mania de pedir ajuda. Ninguém ouve seus gritos, ninguém te ama a ponto de te salvar, ninguém enxerga tua alma. Ô maluco, entenda de uma vez que teus medos são só teus.
Uma vozinha simpática, bem lá no fundo da minha cabeça, continua sussurrando: "não desista, o que é teu ainda está por vir".
A visão é embaçada com as lágrimas quentes. A garganta se fecha em poucos segundos e o coração é abraçado por uma dor que não tem fim. As cores mudam paralelamente à confusão. Você luta contra, respira fundo diversas vezes e tenta encontrar uma solução rápida, mas ela não existe. Chega uma hora que você se entrega facilmente, numa submissão ridícula. E por fim se torna refém da própria dor.
Não falei nenhum desaforo, não quis criar clima, não fechei a cara e nem o procurei para pedir explicação. Admito que não fiquei feliz, que sofri um bocado, que cheguei a chorar por uns dias. Mas também entendi que não era para dar certo, não era para ser. Então não forcei a barra e resolvi seguir em frente.
Aí você volta com essa cara lavada querendo chamar minha atenção, cheio de conversinha fiada. Volta, porque rodou por aí, conferiu, e não encontrou ninguém mais bonito, mais alto, mais forte, mais inteligente e gostoso do que eu. Volta, porque ninguém nesse mundo aguenta suas crises, seus gostos, suas manias. A verdade é que ninguém te atura.
E eu não paro de olhar aquela foto no Facebook. Aquela em que você está bêbado, com um sorriso aberto, do lado esquerdo dos seus amigos. Parece que enquanto eu desabo no quarto às três da madrugada, você leva a vida muito bem sem mim.
Então não me leia. Só sei escrever sobre melancolia, histórias que não deram certo, saudade e solidão. Só sei escrever sobre mim.