As vezes Tinha que ser assim
No rádio antigamente
Eu ouvia minha canção
Tinha que sintonizar
Numa certa estação
Preparava o toca-fita
Pra gravar a mais bonita
Música de emoção
Costumava desejar que aquilo tudo nunca tinha acontecido e que crescera em uma família onde todos sorriam uns para os outros, conversaram, uma família que não fosse marcada pela ausência.
"Quando não dizemos o que sentimos, o outro pode ir embora sem saber que tinha motivos para ficar."
Já ouvi "não sinto mais nada por você",
quando eu tinha certeza que seria para sempre.
Não que eu prefira o incerto,
mas a certeza às vezes engana.
GENTE GRANDE
Em minha velha infância eu queria ser gente grande
Quando eu tinha tempo para olhar o céu
Quando ficava de bem com o amiguinho entrelaçando os dedos
Quando dormia cedo para chegar logo o dia seguinte
No tempo em que as águas da chuva levavam meus barquinhos de papel
No tempo em que subir em árvores era tão normal quanto um sorriso ao comer chocolate
Mal sabia eu...
Naquela época é que eu era grande.
Não tinha o habito de pegar meus escritos e ler sobre eles.
Aliás não sei nicas do que escrevo!
Mas, recordo por ventura alguém indagar me certa vez:
Porque escreves teus poemas de gênero oposto?
Essa foi então a primeira vez que comecei a pensar sobre o fato!
Então respondi:
Não sei horas, digas tu oque pensas?
Como poderia responde lo de outra forma,
algo que nunca havia pensado ou analisado antes!
Mas confesso que senti um certo acalento com tal questionamento.
Talvez seja o fato de lembrar que ainda estou na ciências dos porquês.
O TEMPO QUE ME SUPRIME
Eu não tinha tempo, mas inventei.
Eu não tinha ideia, mas eu criei.
Não me era oportuno. Aproveitei.
O tempo de que disponho
É do tamanho a que me proponho.
O tempo que me falta agora
Não me impede de viver sem demora,
Porque o tempo não me define,
Mas o que tiro dele me suprime.
Nara Minervino
ÁLCOOL
Ela bebia, tinha vida social,
muitas ligações, convites e opções.
Ela era progressista,
antirracista e feminista.
Por um segundo quase eterno
pairou um silêncio de espanto
assim que ela me perguntou
se eu havia bebido ou bebia.
Pra ela foi choque, talvez a sentença:
eu não tinha essa compatibilidade
e talvez pra ela fosse muito importante.
Não sei, mas sinto que as coisas mudaram
e eu gostaria de saber
em que parte eu tenho dificuldades
de aceitar que ela não me quer.
Talvez encontrando motivos
que nem sequer existem
ou encontrando valores que
nem ela declarou ter.
Será que o álcool nos separa?
Foi a pergunta que comecei a fazer.
É estranho, mas não deveria ser.
As vezes eu me pergunto, como pude ser tão tola, em acreditar que ele tinha mudado, em acreditar que comigo fosse diferente, que as promessas de amor infinito seriam verdades.
O tipo de loucura que eu tinha era diferente. Esra quieta e muito, muito perigosa. Era uma loucura feita para me manter sã.
Eu queria que tudo ficasse como estava. Eu tinha mais medo da verdade do que da mentira. A verdade mudaria as circunstâncias da minha vida. A mentira era estática. A mentira era pacífica. Eu era feliz com a mentira.
Ele tinha um carisma
em cada poema
que, com doçura escrevia,
que me envolvia
de tal maneira, que sentia-me entre nuvens de algodão, em castelos de areia,
a beira mar
fitando o seu meigo olhar.
***
Quando o tempo não tinha mais tempo, quando a esperança já estava sepultada, quando minha mente estava há muito deteriorada, quando eu não mais precisava, vocês roubaram palavras da parte de suas línguas que se salvava, a parte em que nunca antes haviam tocado, roubaram palavras e as despejaram frente aos meus olhos, esperando que me ajoelhasse em sinal de gratidão. Mas vocês nunca estiveram lá por mim, nunca quiseram me ouvir dizer que pra mim bastava.
Era quando meu corpo entrava em colapso e meus olhos se afogavam, quando meus pulmões se tornavam pequenos demais, quando meu coração ultrapassava a velocidade de um guepardo, era nestas catástrofes internas que eu ainda podia ver a luz. Mas a vocês só interessava o riso advindo do choro, a piada pontual a não ser perdida; comentários em série encontraram ali sua chance de glória, e bastou, em desespero, expor minha carne ao mundo que o coro ao redor se colocou a gargalhar e reduzir à própria miséria a garota da pele rachada.
Lembranças se esparramaram em minhas veias e minha mente foi transportada aos sofridos dias de um ano passado e com toda a proteção armada, com todo o peito fechado eu digo, digo que doeu.
Nada se fez, nada se faz. A saúde de um aluno só interessa aos bolsos cheios ao final do mês. De nada adiantou tentar se importar com toda aquela história de hospital, a ligação só chegou quando eu já saia de lá.
É apenas o mundo cão a mostrar que até para sofrer é imprescindível chorar. Suas palavras quando ditas não valiam nada; naquele momento eu já não mais precisava escutá-las, pois elas somente eram necessárias quando suas salivas eram desperdiçadas dizendo que era Gillete quem me patrocinava.
PORTA FECHADA
Você bateu e não ouviu resposta alguma, até procurou mas na porta chave não tinha, você tentou de todas as maneiras encontrar uma jeito de entrar em minha vida, mas infelizmente nenhuma brecha encontrou e nem ajuda para entrar te foi oferecida.
Sei que não existe uma justificativa para esse erro terrível e que talvez nem tenha uma solução, mas a única coisa que posso hoje dizer é que mais uma vez eu te magoei e te feri, mas saiba, fazer sofrer quem eu amo jamais foi minha intenção.
Quero viver uma vida ao seu lado sem me esquecer das promessas do passado, caminhar contigo, segurar tuas mãos, te proteger dos perigos e te amar, então quero que saiba, a porta já está aberta e prometo que para você ela jamais irá se fechar.
Você tinha ido embora há muito tempo. Quando o silêncio se instalava pela casa e duas pessoas estavam dentro dela. Quando o coração não acelerava mais ao me ver e as conversas se tornaram curtas pela falta de assunto. Quando era mais confortável assistir um filme sozinha do que ao meu lado. Quando a rotina se tornou cansativa e a convivência se tornou monótona. Quando você preferiu se aquecer com o cobertor ao invés de me abraçar no meio da noite, logo você, que sempre me acordava na madrugada dizendo que estava com frio e eu, por minha vez, te colocava sobre meu colo e te fazia um cafuné até você voltar a dormir. Quando conversávamos sobre os planos, viagens… E sua empolgação não era a mesma de antes. Quando as declarações que antes eram enormes, se tornaram frases de duas ou três linhas. E, consequentemente, faltava animação em datas comemorativas. Quando não fazia sentido dizer o que sentia, pois tudo já estava perdido. É nessa parte que eu fico me questionando: onde nos perdemos? O que eu não fiz e deveria ter feito? E se eu fizesse, você ficaria? Tais questionamentos que faço todos os dias e sei que você nunca vai me responder. Justamente porque quando deixou de ser laço e virou nó, eu não pude segurar, era tarde demais e quanto mais eu segurasse, maiores danos seriam causados. Você tinha ido embora há muito tempo. Fui eu que não percebi.
