Vida e Morte
Seres humanos
Não tem como saber qual é o limite de cada um, o limite entre a vida preciosa e frágil e a morte obscura e súbita. É impossível saber quanto tempo de vida nós temos, só o que podemos saber é que tudo se perde... Tudo perde a beleza, perde o sentido, perde a vontade e sinceramente, perde o prazer. Absolutamente nada importa, nós só estamos aqui, vivos, esperando a morte chegar.
Nós não somos seres superior, não somos mais importantes ou significantes que a terra que nos cobre quando morremos.
Slá, só mais um café.
Meu eterno fardo
Sinto a dor de uma mãe ao perder um filho
Sinto o amor de um pai pelo seu bebê recém-nascido.
Sinto o desespero dos judeus no campo de concentração
Sinto o preconceito é o desprezo em todo e qualquer coração.
Sinto o vento soprando nos bosques floridos
Sinto o sol se pondo e a lua surgindo.
Sinto por milhas de distância a morte chegando
Sinto o tempo do mundo inteiro acabando.
Slá, só mais um café.
É no desenvolvimento de nossas relações que se manifesta o poder que há em nós de trazer vida ou morte"
Cada dia e quanto mais eu tenho certeza e consciência de que tá chegando a hora e que eu vou morrer, que vou deixar esse mundo lindo e trágico, mas sinto amor e uma saudades antecipada por ele e por tudo. Para morte, só nos resta a mais suprema humildade, de que vamos despojados de nós mesmos e com as mãos vazias. Não vou poder levar nada nem ninguém, vou sozinha, do pó ao pó. E para a vida que me resta, o que resta a fazer, é absorve-la, ama-la em cada canto, em cada momento, em cada detalhe, muito e fazer dela e de mim algo significativo, que valha a pena. Algo que eu deixe como contribuição e gratidão e que faça lembrar: Eu estive aqui. Eu fui. Eu existi.
Quando alguém define religião "religare" como a união entre os humanos, deturpa o sentido pelo qual se tentou cunhar a palavra.
INJUSTIFICADO LIMPADOR DE PARA-BRISA*
Chovia mansinho. Ainda demoraríamos uns 20 minutos para chegar ao nosso destino. O limpador de para-brisa, em seu vai e vem vagaroso, embalava nossas conversas sobre a vida, amores, família, filhos, trabalho e feminices. Avistei a placa daquele quebra-molas e desacelerei o carro para ultrapassar suavemente o obstáculo arredondado.
Naquele momento, desacelerou também a nossa conversa frouxa. Dei conta daquele instante raro de silêncio entre nós, irmãs tagarelas, e vi ali a oportunidade de fazer uma pergunta polêmica, complexa e profunda, que andava borbulhando na minha cabeça nos últimos dias.
– Mana, preciso te perguntar algo – era o sinal para que ela já se preparasse para o “chumbo grosso”. – Sabe aquele tipo de pergunta que todo mundo tem até vontade, mas não tem coragem suficiente para fazer? Que todo mundo diz que é pecado, e se perguntarmos isso alguma vez na vida… Vamos direto para o Inferno?
– Pergunte – disse franzindo a testa.
– Desde pequenas nossos pais nos educaram dentro de Igrejas. Fomos motivadas a ler a Bíblia por completo várias vezes; foram infinitos os domingos em que nos dedicávamos a conhecer as Escrituras, os milagres de Jesus, do Gênese ao Apocalipse. Sabemos tudo de “cor e salteado” e fomos orientadas a viver uma vida baseada nos Dez Mandamentos, a não nos distanciarmos de Deus e evitar o Pecado a todo custo, a orar agradecendo pelo alimento, pelo dia e pela saúde… Conhecemos também o Mal, o Diabo e o Inferno… E todo o Lado Negro da Força. Sabemos sobre o Livre Arbítrio e que todas as coisas são permitidas, mas nem todas nos convêm. No fim de tudo isso, se formos bem boazinhas aqui na Terra, receberemos o nosso “Galardão” nos Céus…
– Tá, mas cadê a pergunta? – Bufou, já ansiosa.
– Calma, deixa eu terminar o raciocínio – retruquei. – Então, se obedecermos às Sagradas Escrituras e aceitarmos Jesus como nosso Salvador teremos um lugar nos Céus, com anjinhos batendo suas asas ao nosso lado, e, dependendo de nossas Boas Obras, poderemos morar em um grande palácio ou passar as noites em bancos de madeiras rústicas nas praças do Céu…
– Isso, você fez um bom resumo, – ela completou. – Nós aprendemos essas coisas em nossa infância e adolescência. Depois disso, cada uma de nós, da sua forma, foi pesquisar e aprofundar o que mais havia além disso. Nós duas somos muito curiosas e acabamos por entender outras vertentes, outras interpretações, outras crenças e religiões. Mas ainda não sei qual é a pergunta. Desembucha!
– Então… A sua fé faz com que você acredite que, quando você “bater as botas”, já que foi uma boa pessoa, vai ser recrutada para ir para o Céu, etc., etc. Tá, mas… E se você morrer e “perceber” que não tem nada disso? Que tudo isso foi construído pura e simplesmente para trazer uma Ordem Natural às sociedades, para vivermos uma Matrix equilibrada, sem fazermos muita m* o tempo todo? Que tudo isso não passa de uma grande ilusão? Tipo… Morreu e vira só um saquinho de lixo preto com ossos, só matéria, sem Espírito, Alma nem nada que não se possa provar.
– Hum… Eu tenho uma resposta, mas é bem pessoal. – Disse piscando rapidamente os seus olhos verdes.
– Antes de responder, não me julgue por isso. Nos últimos anos o meu apego à Ciência aumentou assustadoramente, e essa coisa de estudar demais apura o nosso senso crítico, e começamos a questionar sobre coisas que antes nós entendíamos como verdades absolutas, inargumentáveis… – Disse, já meio arrependida.
– Eu sei como é, maninha, não me importo e você está certa em sempre questionar, sendo a pessoa racional que você é, já me acostumei. Mas olha, minha resposta é simples. Se eu morrer e virar só um saquinho preto de ossos, e “descobrir” depois que nada disso é verdade, paciência. Mas pensa: Se eu morrer e tudo isso for verdade e eu for totalmente pega de surpresa? Se tudo o que aprendemos a vida toda for real e eu estiver despreparada? Quero morar em banco de praça não… Muito menos quero ficar voltando um monte de vezes aqui na Terra até meu Espírito evoluir a ponto de eu merecer morar mais próximo de Deus… Pensa que chatice? Que perda absurda de tempo? Prefiro ser mais estratégica. E pensar que existe um “além túmulo” me deixa mais feliz. Pronto.
Pensativa, concluí, já aliviando a tensão da conversa: – Então vamos combinar assim. Quem morrer primeiro vai dar um jeito de avisar para a outra; vai fazer um esforço absurdo para aparecer e contar tudo o que está acontecendo. O que acha? E olha, se eu aparecer bem linda, maquiada, perfumada, magra, purpurinada e de roupa branca em seu sonho tentando falar com você, faça-me o favor de levar a sério, não surtar e prestar bastante atenção, ok?
– Lá vem você com essas suas conversas idiotas. Você vai morrer com 125 anos como combinamos. E se morrer antes, arruma um jeito de não voltar, a direção é para cima, e não para baixo! Vai caçar o que fazer por lá, vai! Bruxa! Fantasma! – Esbravejou, com uma expressão que misturava raiva e a sua graça peculiar.
Explodimos as duas em gargalhadas, até verter água dos nossos olhos. Nesse momento, desliguei o agora injustificado limpador de para-brisa para admirarmos melhor o brilhante sol poente e aquele festival de cores sublimes que ele produzia, junto às nuvens, lá no horizonte… Até o nosso destino.
* Se você não entendeu o título, eu explico: Somente a chuva, que as vezes impede a nossa visão, justifica o uso do limpador de para-brisa para seguirmos bem e com segurança. Se a chuva cessa, nada deveria nos impedir de olhar o que tem de bonito no horizonte. Assim também são as nossas verdades absolutas. Elas são os nossos limpadores de para-brisas em dias de sol: servem simplesmente para atrapalhar ou impedir que enxerguemos melhor o mundo, o Universo e as riquíssimas concepções diferentes das nossas.
Tô pirando ou já pirei?
Tô sofrendo ou é ressaca?
Tá passando ou nem chegou?
É a vida ou é o limbo?
É a morte ou é o repouso?
►Há Demônios Em Minha Mente
Minha mente está inquieta
Escuto vozes que não reconheço
Dizendo para eu matar minhas palavras prediletas
E, cada vez mais eu me enlouqueço
Não consigo mais distinguir a escolha certa
Em um calabouço de más ideias eu me perco
Já não me lembro de nenhuma meta
Essas vozes estão me corroendo
Não há escapatória, não há janelas
Meus pensamentos humanos estão se dissolvendo
Estou me destruindo, peça por peça.
Ódio, dor, sem amor próprio
Raiva sem motivo, nada mais é relativo
Uma ferida no peito é um remédio ótimo.
No escuro as vozes querem que eu odeie todo mundo
Na solidão não há necessidade de calor em meu coração
Saudade e felicidade estão morrendo em minha memória
Meu anjo da guarda tirou uma eternidade de folga
Estou desfiando em fios a minha sorte
Querem que eu destrua meus líricos como esporte
Sem mencionar minha saúde, que se contorce
Minha diretriz está em total desordem
Meus pensamentos querem a minha morte.
Não possuo mais o controle
Minha salvação está fora de alcance
Sem receber ligações ao telefone
Sozinho ficarei totalmente louco
Logo darei meu último sopro
Logo não aguentarei o peso de meus ombros.
Os que são pobres de espírito, sempre orgulhosos de si mesmos, apregoam aos quatro cantos suas ricas vidas infinitas. Como se assim fosse a verdade. Enquanto as verdadeiras mentes brilhantes lamentam sua anunciada morte próxima. E nós...apenas observamos.
Todos nós somos dispensáveis. Sobretudo os que se acham insubstituíveis. É só consultar as leis da natureza para confirmar.
Ás vezes, anseio partir...
Eu queria poder viajar
para longe deste lugar (aqui),
onde os amores nos deixam
e os amigos se afastam...
ir para além das realidades
que am mim se encrostam,
como se fossem
criaturas minhas.
►Mamãe Me Disse
Mamãe me disse que eu jamais deveria ter nascido
Mamãe também me disse que eu deveria ter morrido
Ela disse algo sobre métodos contraceptivos,
Que resultaram em um erro desenvolvido,
Que eu não sou seu filho
Acho que mamãe está brava comigo
Ela me mandou ir brincar lá fora,
Mas quando voltei, já havia escurecido
Mamãe havia me deixado sem blusa,
Eu estava morrendo de frio.
Gosto muito da minha mamãe
Ela sempre me deixa comer aquele pão macio
Deve ser por que ainda sou um bebê, deve ser isso
Mamãe já me deixou brincando por horas no celeiro,
Mas quando eu choro, ela não vem correndo
Penso que ela talvez esteja ocupada, ou atrasada
Mas, eu continuo gostando muito dela
Quando me bate, eu peço desculpas a ela,
Pois não quero vê-la zangada, por isso eu fico fora de casa.
Papai não mora mais com a gente
Ela me culpa, mas sei que não é de coração
Ela me disse uma vez que, quando eu nasci,
Destruí a união
Não sei se mamãe está brava, ou assustada
Agora ela está insistindo para que eu coma o pão
Perguntei o que é o pó branco sobre ele,
Ela só disse que é açúcar e segurou minha mão
Mamãe me ama, eu sabia, quando e crescer,
Vou dar a ela uma mansão.
A vida foi feita para que cada um possa escrever a sua história, mas se não aproveitar o tempo dado, não dá nem para deixar um curto bilhete de recado.
O bebê que estava na barriga foi colocado ao berço.
Ele saltou do ao chão e saiu engatinhando de quatro e segurando-se pelas paredes dando os seus primeiros passos. Ele foi até a porta saiu para brincar com os amigos, depois da escola e logo voltou ao trabalho. Dobrou a esquina e trouxe consigo a primeira namorada, que tornou-se sua esposa. Voltou e bateu a porta ao lado de seus dois filhos. Já com seus cabelos prateados, segurava já um de seus netos tão amados. Segurando aquela criança percebeu que a vida foge tão rápida quanto uma piscada, e passa apressada que dá para ser contada em poucas palavras.
Não há nada mais cruel que o relógio da existência.
Ele dura pouco e quando ele para não tem jeito, tudo está acabado.
Sua mais cruel característica, é que seus ponteiros não voltam, o que passou já se foi e não há como retorna o tempo. Cabe aos que dele dependem aproveitar cada minuto em quando o seu ponteiro gira. Não se esquecendo de uma coisa, o que vale é o tempo presente, pois, a próximo bater do ponteiro pode não mais existir.
