Um Estranho Impar Poesia
Atentado violento ao amor”
Qualquer atentado ao amor, forte ou leve,
qualquer ato que o afronte,
já é por si só, muito violento!
Pois o ferimento e a dor não ficam na pele,
ataca-se nossa principal fonte,
o nosso mais puro alimento!
Quando o amor se manifesta, ele se espalha.
Interrompê-lo é uma grave ofensa,
não é admitido sequer a tentativa!
Quem ama protege e permanece na batalha
para não deixar sua eficácia suspensa,
o amor é a única norma progressiva!
Então, não cabe interferência no direito de amar,
o amor não se restringe ao indiferente,
dele que o verdadeiro Poder vem emanar.
Por isso é crime hediondo impedir o amor de prosperar.
E como pena, o agressor automaticamente
se aplica a pior das sanções, o não-amar.
Procedimento jurídico amoroso
Se eu virar Lei,
você me respeita.
Se eu virar Doutrina,
você me argumenta.
Se eu virar Jurisprudência,
você me alimenta.
Se eu virar Analogia,
você me interpreta.
Se eu virar Costume,
você me aguenta.
Se eu virar Decreto,
você me disciplina.
Se eu virar Portaria,
você me determina.
Se eu virar Denúncia,
você me incrimina.
Se eu virar Inquérito,
você me investiga.
Se eu virar Processo,
você me advoga.
Se eu virar Concessão
você me outorga.
Se eu virar Licença,
você me concede.
Se eu virar Autorização,
você me cede.
Se eu virar Mandado,
você me cumpre.
Mas se eu virar seu Amor,
você me assume!
Notas sobre uma Estudante de Direito
Ela é advogada,
promotora,
delegada
em construção.
Ela é o que quiser
no seu sonho
não tem revogação.
Notas sobre uma Estudante de Direito
Ela se apaixonou
tão fácil.
Mas foi o Direito
que a conquistou.
Ela já era Poesia
e o Direito a completou.
DIA DOS AVÓS
Vovô e vovó, seu dia
Hoje o dia é de amor dobrado
É colo de infinita sabedoria
Nos nossos dengos parceria
Vovô e vovó, aqui destacado
Eles, pelo amor tudo renuncia
Ao inteiro dispor do neto amado
Queridos de um afeto açucarado
Em nossas vidas, acolhedora alegria
Como pode ter tanto amor guardado
Neste duplo coração, uno, de magia
Que levamos na lembrança amainado
Vovós, na proteção duplicada, folia
No seu reino o netinho faz reinado
Deste amor geminado com garantia
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Aluga-se 1 kitnet com discos do Blur, Ramones e The Cure;
Livros e recortes de Foucault, Kant, Nietzsche e Schopenhauer;
Pinturas impressionistas, poemas simbolistas e manifestos iluministas
CONFISSÃO
Perdoa, pelos tantos erros perpetrado
Pela omissão que em mim acaso calei
A confissão que na falta não confessei
Num tal medo do ser réu no ser culpado
Perdão, se dos enganos eu pouco falei
Quando o silêncio tinha de ser quebrado
E a confidência na confiança ter selado
Mas, na insegurança a coragem hesitei
Na utopia do outro que era equivocado
Levei a ilusão de que ser manhoso é rei
E que num novo dia novo renascia o fado
Se, cedo ou tarde, confesso que errei
Às tantas palavras, se foram desagrado
Perdoa, a nímia mácula que eu causei
Luciano Spagnol
Julho, final, 2016
Cerrado goiano
SONETO EM DESPEDIDA
Até logo! Aqui ficam férteis momentos
do meu viver. Na lágrima levo a aurora
na bagagem o mundo, vou-me embora
o abrigo que cá havia, agora lamentos
Na memória a saudade em penhora
se foi inglória, porque tive detrimentos
e é nas perdas que tem ensinamentos
e vitórias na vida, basta, é hora agora
Nesta mais uma passagem, portentos
vim com amor, e vou com amor afora
tento no coração bons sacramento
Sigo, para trás fica o tempo outrora
o céu claro são alvos adiantamentos
Goiás, despeço-me, a gratidão chora
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
ALVORADA NO CERRADO (outono)
O vento árido contorna o cerrado
Entre tortos galhos e a seca folha
Cascalhado, assim, o chão assolha
No horizonte o sol nasce alvorado
Corado o céu põe a treva na encolha
Os buritis se retorcem de lado a lado
Qual aceno no talo por eles ofertado
Em reverência a estação da desfolha
Canta o João de barro no seu telhado
É o amanhecer pelo sertão anunciado
Em um bordão de gratidão ao outono
A noite desmaia no dia despertado
Acorda a vida do leito consagrado
É a alvorada do cerrado no seu trono
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
[MORADA]
Diga que me ama.
E só não diga,
Mostre.
Se não souber
Como mostrar,
Solte-me.
Deixe-me ir
Quantas vezes
Eu quiser.
Eu sou morada
De amores fortes.
Solte-me.
Eu vou ficar.
E, se eu for,
Se for forte,
Irei voltar.
Sempre serei -morada-
de amores fortes.
Os rios deixaram de correr,
A morte veio me visitar ontem à noite.
Os sonhos se despedaçaram;
Como paredes de vidro.
A morte me visitou hoje pela manhã.
Acordei com um imenso gosto de sangue na boca;
Os lábios ressecaram e a saudade penetrou-me o coração,
Como se fosse uma lança.
A morte me visitará hoje à noite..
SONETO "MEA CULPA"
Você que sempre foi especial, errei
Então, no meu erro, desculpa peço
É difícil perdoar! Sei! Árduo regresso
Eu confesso: -com remorso fiquei!
E nesta "mea culpa", algo lhe direi
Se o coração escuta, é progresso
Não é fácil arrepender sem acesso
Tão pouco indulto de quem o fazei
Então, com um afeto lhano modesto
No nada é impossível, o meu gesto
De contrição... Na minha incorreção
Nem tudo na vida nos é tão funesto
Pra que seja no amigo ato molesto
E neste soneto de amor: -Perdão!
Luciano Spagnol
27, agosto de 2016
Cerrado goiano
Da janela da imperfeição
Observo o frenesi da multidão.
os braços são, o método
De Locomoção.
O deboche é o estralo,
Que açoita sem se ver.
A bengala deixa nítido o quadro
Que foi pintado e emoldurado.
Sinais são bem mais úteis
Que cordas vocais.
Beethoven também sabia
Que era capaz!
Ondas sonoras fazem do nada tudo;
E o tudo supera barreiras.
As fronteiras são quebradas,
Quando as libras são ensinadas e incentivadas.
Lunáticos são aqueles, que creem na verdade absoluta
Quando ela é na realidade, uma fraude mal sucedida.
O preconceito têm uma só face; mesmo que em várias formas.
Os sãs fingem não ver, a realidade exposta.
Liberdade e respeito para todos
Liberdade e respeito para o meu povo
Sofrido, que tanto vive na miséria
Liberdade e respeito para o meu povo
Esquecido pelos tiranos
Do plenário.
Liberdade para os poetas, escritores,
Cantores, jornalistas,
Liberdade de expresão,
Liberdade para poder
Reivindicar, liberdade
Para o povo, liberdade
Para todos.
Liberdade e respeito as
Classes trabalhistas,
Respeito aos alunos e professores
Das escolas públicas,
Justiça para as injustiças,
Chega de exterminarem
As crianças e jovens.
Chega de enganarem
O povo, chega de alienação
Nos meios de comunicação
Liberdade e respeito para
Todos.
AGONIA.....
Pare de me olhar, pare de me olhar
Não quero mais pessoas a me criticar,
Não quero mais alguém que possa me machucar,
Quero viver, quero amar,
Quero viver, quero sonhar.
Pare de me olhar, Pare de me olhar
Sou somente alguém a chorar,
Sou somente alguém a procura de um lar,
Quero ir, quero voltar,
Quero jogar, quero ganhar.
Pare de me olhar, pare de me olhar
Você perturba minha alma,
Você macula meu lar
Vou fugir desse lugar
Vou fugir pra onde eu possa gritar
Pare de me olhar, pare de me olhar
Você disse que ia me amar
Você conseguiu, e conseguiu me machucar
Você me fez chorar
Então não toque a ferida até ela cicatrizar
Pare de me olhar, Pare de me olhar
Seu erro eu não posso perdoar
Pare de sonhar, não quero te machucar
Pare de inventar, estou tentando te odiar
Um novo lugar, um novo amor eu vou procurar
Então pare de me olhar,
Porque minha felicidade
Vai te machucar
Pare de me olhar
Porque as vezes ainda penso em te amar....
“Às vezes eu amo-te
Às vezes eu não,
E quando não amo-te
Sou escuridão,
Às vezes dolorida,
Às vezes só desilusão,
É quando perco a vida
Num segundo vão,
Às vezes almejo a morte,
Às vezes mansidão,
Quando peço sorte
Para a imensidão,
Às vezes apenas preciso,
Às vezes, na solidão
Poder alimentar meu vício
De amar-te até quando eu não.”
A CAIXA
Dor...
Fique bem aqui, guardada
Dentro desta caixa
A caixa é escura e grande:
Grande o bastante para estar tão vazia;
Negra o bastante para o medo do escuro;
Silenciosa o bastante quando fechada.
Quando aberta é fatal!
Os gritos começam,
Provocando tamanha lástima.
Sempre a mesma música ao abri-la.
Aquela melodia chorada
Cada vez aberta, lágrimas
Rasgando a ferida.
Dor...
Não vá embora
Fique bem aqui, guardada
Dentro desta caixa
Ou quando abrirem-na
Não haverá mais nada.
GRITOS EM "ÉTUDES ET PRELUDES"
Teus olhos azuis sob pálpebras nebulosas
Escondem o clarão de vagos enganos.
O aroma violento e ardiloso destas rosas
Inebriam como vinho em que jazem venenos.
Na hora em que os vaga lumes dançam cegos.
Hora em que brilham aos olhos o desejo urgente
Tu me repete em vão as palavras de afago:
Eu te amo e te odeio - abominavelmente.
Algumas pessoas são como cometas,
trazem em si aquele brilho mágico
que hipnotiza todos os olhares por onde passa,
e que enche o mundo de alegria, de esperança e poesia.
Astros errantes, vagando inconsequentemente rumo ao Sol,
e assim vão derretendo, se dissolvendo,
até que invariavelmente explodem,
se consomem, chocam-se fatalmente em alguma superfície,
ou simplesmente desaparecem, completamente. Para sempre...
Você certamente já viu algum por aí,
e sorriu e se encantou enquanto ele passava,
pois, sim, algumas pessoas são como cometas,
daqueles que enchem o mundo de alegria,
de esperança e poesia.
Sem fim. E para sempre.
Máquina da desinvenção
[J.W.Papa]
Desinventei a amizade, desinventei o namoro, desinventei a cidade
desinventei tudo que fora inventado, e antes que fosse tarde
me revoltei com o sistema, chutei o balde
desinventei a velha máxima de que adolescente é tudo rebelde
e assim segui pela vida... desinventando as invenções existentes.
Desinventei minha infância, abandonei os livros, os amigos, a escola...
Senti-me como se fosse um adulto temporão
no pleito dessa minha nova desinvenção fui trabalhar nas férias:
- vendendo picolé, carpindo lotes, acompanhando e cuidando de idosos -
Logo alguém viu a merda que fiz e cismou de desinventá-la por mim.
Então, tive de me adaptar! Uma vez que, barriga vazia não para de roncar.
Sem querer inventei o fórceps!
Assim que nasci, desinventei o parto normal
e foi essa, a minha primeira desinvenção que deu o que falar.
Tornei-me logo cedo um grande desinventor
- marginalizado por minhas ideias revolucionárias de desinvenção.
Desinventei a guerra, desinventei a fome, desinventei a miséria
desinventei tudo que havia de ser desinventado
segui em frente desinventando tudo que pude sem olhar para trás
até que um dia cismei de inventar uma máquina que desinventasse as desinvenções
e assim tudo cessou de ser desinventado por mim.
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