Textos de Amor Passado
COLÍRIO
madrugada é uma estrada tão distante pro passado,
sono é estágio pra morte,
eu tenho sorte,
eu tenho o olhar
num outro trópico, num outro signo ...
meu verso é um mendigo,
indigno de jornais ou revistas...
eu quero entender sargitario
e entender por que qualquer otário
pensa que é o “bicho”
cancer e capricórnio não são mais que carrapichos
não sei dizer te amo, todos sabem disso
queria entender Cristo, todos sabem...
queria durar tanto quanto Matusalém,
queria pertencer a tribo de Araquém ,
a madrugada ´´e uma estrada tão solitária
meus lábios suplicam ósculos
meus olhos suplicam óculos
tua figura é um colírio pros meus olhos
como deixar de ser poeta???
NOTRE-DAME
Mentira do passado... aquela ansiedade, a taquicardia, a pressão, as mãos frias, as pessoas passando e rindo de mim, naquele minuto que você se atrasava... o trem me atropelava lá na estação com aquele barulho e o seu brilho de prata, como uma espada afiadíssima e os meus pedaços se espalhavam até que você aparecia e eu renascia como uma fênix... o que era aquilo? Aquela dependência... eu voava até as montanhas de Nova Iguaçu, até o pote de ouro que guardava o brilho de todas as estrelas, ali eu guardava as luzes daquele sentimento, até que nossas mãos se encontravam e o mundo voltava a ser meu; o sol só se punha quando você dizia as palavras mágicas...então o quasímodo subia na torre da igreja e badalava todos os sinos como uma homenagem à paixão como em Notre-Dame... mentira; a ilusão é fantasiosa e Nova Iguaçu tem seus limites... o Sena da minha imaginação afogou meus delírios e hoje diante do espelho eu me vejo um quasímodo sem nenhuma catedral.
"Xinjiang Uyghur"
Onde o presente tem
reinventado o capítulo
mais cruel do passado,
Todo e qualquer cuidado
é sempre muito pouco,
e ter esperança também;
Campos de concentração
em Xinjiang os pérfidos
fingem que nunca veem.
Querem cordilheiras além
das plantações cordiais
de algodão e de lavanda
para o seu próprio bem.
As cercas elétricas gritam
devastação cultural e étnica,
demoliram os sinais de fé
e incineraram toda a poética.
Querem aquilo que não
se pode ao autoritarismo dar:
o silêncio como palanque
para a voz da História se calar.
A nossa América do Sul cedo ou tarde
há de ressurgir plurinacional,
Passado o Dia
da Dignidade Nacional,
Ainda não se sabe a data,
a hora e quando
Virá a liberdade da tropa
e do General;
Padece enfermo
o Capitão-de-Navio,
Permanecem os mesmos erros,
(e tudo está do mesmo jeito).
No alto a serra,
o passado
não querem
que a encerra.
Temem a liberta
porque cedo ou
tarde o poder
irá escapulir
das mãos
de quem pensa
que a governa.
Na ponta da
lança ela está
sofrendo todo
o tipo de cruel
perseguição,
e suportando
muito além
da rendição;
e clamando
com canto
e poética
para evoluir
a consciência
em convivência.
Os heróis
de Palmares
me concedam
a clemência
porque se é para
ser quilombo,
e resistência,
vou até a última
consequência.
Porque eu que
vivo escapando
todos os dias
das prisões
e fazendo
revoluções,
prefiro muito
estar mais sob
a proteção
memória
e honra
de Dandara.
Camboriú Originária
De volta ao passado
quando teus carijós
não tinham sido
escravizados mergulhei
na camba do Rio Camboriú
(e me deixei levar
pelas correntezas
até desembocar no mar
emBalneário Camboriú);
No teu Rio Peroba
a inspiração de sobra
é distribuída sem conta
e sem hora marcada.
A Mata Atlântica
leva a alma romântica
a aspirar à viver tudo
o quê não vivemos
e a ver o nosso mundo.
(No teu Rio Pequeno
saúdo as heranças
do nosso tempo
e as nossas esperanças).
Camboriú Originária,
minha terra adorada,
para sempre e sempre,
por mim eternamente
será adorada e louvada
No Rio do Braço lembro
do beijo que foi roubado,
e deixou o coração
ainda mais apaixonado.
O calendário ao teu
lado sempre fez
a minha vida ficar
diferente e querer
não olhar para fora.
No Rio dos Macacos
escrevo por destino
o quê irá nos levar
ao auge desta vida:
só ali para inspirar.
No Rio Canoas bem
na camba nunca
me esqueci que foi
por ti que cheguei aqui.
No Rio do Meio, filho
do Rio Itajaí-Açú,
por toda generosidade
honro os nossos ancestrais
que lutaram por liberdade.
Gravatal
Fiz neste instante uma
breve viagem ao passado,
O teu povo originário
foi por mim lembrado.
A tua terra plana,
ondulada e montanhosa
faz a alma jubilosa
e teu escudo cristalino
me faz fascinada.
O teu povo imigrante
veio para ficar e um
novo capítulo escrever
no sul catarinense.
O teu povo nadando
contra as correntezas
ergueu Pátria Brasileira
por dois tratados esta
reserva da Princesa.
Só sei que a tua gente
fez cidade com virtude,
luta, festa e sabor,
Gravatal poética és
merecedora de mais
de um poema de amor.
Com a garrafa equilibrando
na cabeça lembrando
da garrafa de canjinjim
do passado que um dia
nunca mais se repita,
Fui dançar com as moças
da cidade a Dança do Chorado,
Você passou na minha frente
distraído e permaneci
com o coração calado,
Porque quando você
passar de novo e estivermos lado
você não vai responder por você,
eu não vou responder mim
e vamos responder por nós
dois aos beijos mais apaixonados.
Você é bem-vindo
com o seu passado,
Você não deve
satisfação para mim
e para ninguém.
Se porventura você
deseja contar,
eu vou te escutar
sem te criticar.
A sua paz deve guardar,
e você não deve abalar.
Porque no final cada
um tem uma vida
e a sua própria conta.
Seguem o baile,
o fluxo, a vida e o limite.
O ditado "Ninguém é
melhor do que ninguém"
continua atualizado.
(Não existe ninguém perfeito
e cada um tem o seu pecado).
Se for para viver de passado
volto os meus olhos
para os sete mares dos povos
antigos onde posso
buscar inspirações como escudo
para ser e para não ser
num mundo que opta
por projeções perigosas
que desenham para si ideias falsas,
Para mim e para você quero
tudo aquilo que nos leve
a navegar por águas tranquilas,
ver o amor florescer e se renovar
imensamente todos os dias
num pacto de fidelidade com a vida.
Poesia Fônica do Vale Europeu
Os sons do passado, o jeito
de falar e o canto dos pássaros
nutrem de maneira sinfônica
a Poesia Fônica do Vale Europeu,
E eu como a Poetisa desta Rodeio
não nego que em mim a cada
dia cresce o único sintoma
do qual não quero me livrar:
Viver todo os dias para exaltar
o Vale Europeu e para sempre amar.
Quando sabemos quem
somos e o tamanhos
dos nossos sonhos
o passado não preocupa
e nem mais nos ocupa,
Porque no final só é
a gente ou a gente,
andar para frente olhando
para o Alto torna-se
o imperativo de sobrevivência
num mundo que optou-se
abandonar a própria consciência.
"Para seguir a plenitude do caminho,
É preciso deixar o passado adormecido,
E dar um novo significadoao que foi vivido!
Assim, haveremos de renovar a confiança
Nos planos do Deus Altíssimo,
Que sempre nos ampara
E abre novos caminhospara aquele que crê!"
(Do Livro: O Aleph, a Poesia de José de Deus)
Não dá para fingir
que o nosso presente
ainda parece repetir
os vícios do passado,
Se renova o voto diário
de camélia do jardim
espiritual da Abolição
ainda que pague o preço
ordinário da incompreensão.
(Resquícios de outrora pedem
renovação de tipos de rebelião).
LEMBRANÇAS PASSADAS
Na palma das mãos, o passado, o presente e um futuro incerto.
Símbolos de sonhos, de lutas, de esperas. Nos olhos, a esperança.
Nos lábios, um sorriso esperançoso. Uma vida vivida.
Uma espera. Um lugar desconhecido, sonhos e mágicos momentos.
Um amontoado de ferro nas mãos. Entre os dedos trêmulos, uma espera
Uma luta vencida. Um recomeço. Uma vida nova. Um despertar.
No esquecimento, apenas o passado vivido.
Nos meus pensamentos, você. Momentos desconhecidos.
Minhas mãos frias de um inverno rigoroso
Ainda conseguem segurar o passado.
Olho pausadamente e nada restou para lembrar.
Apenas a máscara pendurada no chaveiro.
IMORTAL ATÉ MORRER
O tempo é uma tampa sobre o passado. Ninguém nunca retorna dessa rampa eterna. Sequer acampa sobre o presente, pois esse logo não é. Vira passado, e o presente já é outro. Somente o futuro continua lá; sempre lá, desafiando nossa caminhada.
Uma vida é simplesmente o joio por entre o trigo, no campo das vivências que a cada dia nos impõe. Cá comigo, afirmo que a mesma é joia rara. Se acaso nos causa uns arranhões, alguns graves, morrer não ganha minha questão. Não tem como ganhar.
É que o mundo é franco. Preto no branco. Mas muitas vezes dá um branco em meu preto e não resta fundo. Mesmo assim vou à frente, porque o tempo não pode me tampar. Tomei a decisão de apostar na imortalidade que o sonho empresta.
No fim das contas, nossa imortalidade é provisória. Por isso temos que aproveitá-la e não morrer enquanto a morte não chega.
RUA MORTA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Minha poça me diz que se tem o momento,
que o passado está fora da linha dos olhos,
pois o vento não volta; só abre caminho
para ventos futuros; eventos recentes...
É de praxe avançar, concluir fase a fase
ou teremos crateras por todo o percurso;
voltaremos do quase pra ponto nenhum
do luar esquecido numa rua morta...
Foi preciso crescer, alcançar minha idade
sobre cada saudade; lembrança; memória ;
cada glória e tropeço que tive até já...
Esta hora se mostra como agora e só;
há um nó que se fecha no retrovisor;
fui criança na infância; não serei agora...
PETER PAN
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um menino passado a lutar contra os anos,
uma vida enguiçada em balneário impróprio,
sob as perdas e os danos que o tempo confirma
sem acesso aos apelos do mundo irreal...
A criança que teima num corpo de adulto
é um vulto esquecido numa solitária;
um assombro que brinca de brincar de fato;
um retrato que pensa que pensa e que vive...
Tenho dó do menino que jamais cresceu,
distorceu a passagem do tempo na pele
sobre a gasta estrutura de puro tamanho...
Perguntar não constrange, se faço ao meu fundo;
em que rua do mundo acabou a saída;
a que horas da vida ele vai acordar...
PASSADO EM BRANCO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Meu olhar frente ao seu direto ao vazio;
rompe o crânio, se livra e não tem nostalgia;
não encontra magia e não revive um tempo
que perdeu em miragens de felicidade...
Sua boca não diz, quando fala comigo;
tão apenas relata o necessário e pronto;
bate o ponto certeiro do assunto formal;
nunca bate com nada que meu pulso marca...
Eu a culpo do mal de não sentir saudade
a não ser da saudade que podia ter
se você se restasse de quem foi outrora...
Dói demais não sentir a mais longínqua dor
pelas cores e os traços que o tempo esvaiu
num amor transformado nesta folha em branco...
AOS QUE APEDREJAM EM NOME DE DEUS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
No passado, quando a igreja católica instaurou a inquisição, ela não o fez por ser a igreja católica, e sim, por estar no poder, ser absoluta e composta por seres humanos. O ser humano é assim: faz do poder que tem em mãos uma arma de opressão ao próximo, visando a manutenção da própria supremacia e o domínio de seus conceitos, pensamentos, ideias e filosofias. Quem comunga é amigo; aliado; parceiro; irmão. Quem não o faz, é inimigo; representa o perigo iminente; tem que ser extirpado e virar exemplo para que mais ninguém discorde.
Qualquer denominação religiosa que tivesse o mesmo poder político e o domínio absoluto, naqueles tempos de ignorância também absoluta ou quase, faria igual. Dominaria pelo medo, a força, o castigo, a tortura e a morte. E para justificar as atrocidades, faria tudo em nome de Deus e com a fantasia do combate ao diabo. Às forças do mal. Com tais artifícios a igreja, católica ou não, sempre teve nações ao seu lado; multidões enfurecidas dispostas a tudo para defender a santidade ostensiva e truculenta de suas greis.
Hoje, pelo menos no Brasil, vemos a tentativa do retorno à inquisição, pelos evangélicos fanáticos. E quem são os evangélicos fanáticos? Não há como classificar por denominação, pois são muitas as denominações evangélicas, e corremos o risco de ser injustos, mas pode-se dizer que se trata de um grupo cada vez maior. Que avança vertiginosamente.
Nesse passo, existe o risco de tal grupo crescer tanto, a ponto de alcançar a supremacia, o poder absoluto, via trâmites políticos. Afinal, sabemos que a política vai onde a multidão está. O poder público, para sua manutenção, sempre se deixará dobrar pelos que representam mais votos; mais poder. E os religiosos que visam a supremacia dispensam escrúpulos, esquecem a ética e não medem atos nem esforços para conseguirem dominar... e a cada dia,esses grupos têm mais líderes e fiéis enfiados nos palácios dos poderes, com o único fim de se fortalecerem corporativamente.
Apedrejar umbandistas nas ruas já é inquisição. Tanto quanto ofender, segregar, fazer piadas, prejudicar... e quando os líderes religiosos martelam incessantemente nos templos, que os umbandistas são do diabo; que as testemunhas de Jeová, os budistas, espíritas e outros mais também são do diabo, incitam a intolerância; o ódio; a ignorância que gera tudo contra o que toda religião deveria pregar. E pregaria, se fizesse o certo. Se não distorcesse os ensinamentos originais.
Aonde andam os seres humanos de boa vontade? Sem eles, cadê a paz que deveria estar na terra? Quem ensinou a jogar pedra no próximo? Cristo? Buda? Kardec? Maomé? Deus? Quem? Religiões ou seitas (para mim não há diferença, senão pelo preconceito) deveriam ensinar amor, compreensão, respeito às diferenças e ao arbítrio, que é livre; não pode ser forçado por pedras, xingamentos, intimidação.
Não me sinto em um país com liberdade de culto. De religião. Muito menos com liberdade para não ter religião, como é meu caso. Às vezes, de alguma forma, também me sinto apedrejado por muitos religiosos; entre os quais, alguns amigos e familiares. Tomara que nunca seja também, de fato, apedrejado, e torço para que as pessoas hoje apedrejadas por causa de suas crenças ou orientações de fé deixem de sê-lo.
Vejam quanta ironia: um não religioso pedindo paz aos religiosos. Um "perdido" pedindo aos "salvos" que amem o próximo. Um homem "sem Deus no coração" pregando a união, o bem viver e a comunhão humana, esperançoso de que os "ungidos" se conscientizem dessa necessidade.
Precisava dizer tudo isto. Que me perdoem os que se julgam ou são de fato melhores do que eu... e se não for possível, que alguém me atire a última pedra... só assim não restará mais nenhuma para ser atirada, inclusive, nesse alguém.
