Texto Pontos Autor Luis Fernando Verissimo

Cerca de 7786 frases e pensamentos: Texto Pontos Autor Luis Fernando Verissimo

Falar sobre arte é falar de vida
A mais arteira de todas as artes.
Sentir a arte é sentir a existência
Em seus aspectos mais sublimes,
mas também em seus detalhes mais sombrios e sórdidos;
Afinal de contas, não é das alegrias e tragédias da vida
que se originam as esperanças e os sonhos,
expressos na arte em suas mais variadas
e diversificadas formas?

Sentir a arte é sentir a própria vida
- girando como uma roda do tempo sob os eixos da Eternidade!
Porque a arte é pura imaginação, sentidos e sentimentos
(Guerras, desventuras d'amor, paixões perdidas,
sonhos desencontrados, esperanças renascidas quais fênix...)...
Tudo é expresso na arte, do profano ao sagrado,
do que nos fascina ao que nos amedronta,
Do que nos encoraja ao que nos acovarda,
Do que nos ilumina ao que nos torna negros...

Eu poderia ser um estranho muito estranho,
Mas sou apenas um ser confuso e perdido.
Eu poderia ser um anjo, mas sou apenas um réu;
Poderia ser um monstro, mas sou apenas um homem
Buscando as palavras certas e a inspiração mais serena...
Mas na arte tudo isso pé tolice,
Porque a arte é espontânea e sem vãs exigências;
Porque a arte está em tudo e não exige de nós
nada mais que observação e plenitude no uso de nossos sentidos.
Ela está no paladar, no olfato, na audição, no tato, no prazer de um beijo
e até mesmo no desprezo que machuca e martiriza o coração apaixonado...
Mas é na visão que tudo se completa e seu show tem início
(Mas não tem fim, porque a arte não é apenas atemporal,
Ela é também imune ao pesadelo da morte).

Eu sinto a arte em meu pulsar, em minha respiração...
Eu sinto a arte em tudo ao meu redor.
Mas é no silêncio - quando absorto em minha solidão -
Eu posso enfim tentar entender a origem de tudo.
O artista é um ser privilegiado em seu dom de criar.
Mas é num pôr do sol, num alvorecer,
na brisa que acaricia a face do ancião em sua jornada morredoura,
Que o artista pára a refletir na arte exuberante à sua volta.

E então ele não consegue evitar o brilho de satisfação exclamando em seu perene olhar,
após um sorriso quase púbere de deslumbre diante da noção que se faz:
"Que arte poderia ser mais bela, complexa e imponente que a vida?"
Nos derretemos diante da arte e nos emocionamos diante de seu impacto.
Mas nós, seres humanos, somos a mais bela e perfeita de todas as artes,
Obras do maior de todos os artistas: Deus!
Mas nem sempre paramos para refletir sobre isso ou para contemplar
a paz do silêncio na penumbra.

Inserida por nyllmergello

Andaluz

Teus olhos , junção de eclipse lunar,
Com fragmentos estelar.
Luz incandescente, de brilho reluzente
a me incendiar.

Eu, solitário, solidário com resquícios
de uma ilusão.
Sobrevivo contemplando-te diante
da imensidão.

Balsamo raro, cura eu, cura voce
Livrando-nos de nos perder.

Vida e cruz, caminho de luz.
Reluz andaluz!

Inserida por ClaudioFrancisco

Carro de Boi

No quadro, um retrato do se foi.
Vejo crianças e um carro de boi.

Creio que muito ele rodou, gente
e histórias por ele passou.

Até contos de Alibaba, e de pessoas
que conheceram o mar.

Ah interior, cheio de miscelâneas,
imunes ao que se vê.
Anciões e sábios,
sem saber ler e escrever.

Inserida por ClaudioFrancisco

Anexado

Arquivo anexado,
e-mail enviado.

Destinatário espera carente,
eu sabendo,fiz questão de borrifar,
energias positivas, antes de enviar.

Já não envio cartas, tenho um tal
de computador.
Hoje em dia, ele ameniza a dor,
de quem suspira com saudades,
do seu amor.

O perfume que dava o toque final,
após os balbucios e sorrisos,
já não é mais igual.

Em tempos de nudes,
o romantismo está em escassez.

Novo e-mail!
O que será dessa vez!?

Inserida por ClaudioFrancisco

Bandas do Sertão

Não importa se é noite ou dia,
ela chega e me enche de alegria.

Um faniquito no meu coração,
É tal de Dona Paixão.

Apruma o corpo menino,
ta parecendo badalo de sino.

Eu gosto mesmo é de tambor,
pulsa que nem o amor.

Tiquim daqui, cadim de lá,
To com vontade de viajar.

Sumir la pras bandas do sertão,
Vai eu e o violão, eita trem bão!

Inserida por ClaudioFrancisco

Culpado

“Tu que tens o dom da escrita
E traduz em palavras o sentimento
mais profundo que na alma silenciou,
és culpado por tais mistérios revelados
e pelos corações que cativou.
Tua sentença por despertar
de silêncios ensurdecedores o grito
é a eternidade na leitura dos teus escritos.”

Viviane Andrade

Inserida por VivianeAndradeSantos

Ao se ler um poema se estando triste, uma grande nuvem escura paira sobre vossa cabeça, Mas se o ler em uma alegria tamanha, um belo sol irá raiar na mesma. O poema só lhe é agradável dependendo de seu estado de espírito. Há quem diga que o poema só se torna maravilhoso sob a influência da sofrencia do autor.
Então é isso meu caro leitor.

Inserida por VERINHALT

Encontro

Mal saíra do Hotel Meridien, onde seus amigos paulistas o convidaram para uma caipirinha. Quase uma da tarde. Nada demais, apenas o fato de ele não tomar caipirinha. Mas era uma amizade que vinha de longe, e não seriam algumas doses que iriam separá-los. Deglutira galhardamente três doses com alguns salgados e, após ouvir as indefectíveis piadas cuja validade havia expirado, despediu-se dos casais amigos e decidiu andar um pouco.
Colhido pelo bafo quente, olhou para a direita e viu o mar indecentemente azul, que em algum ponto lon¬gínquo engolia um céu de um azul mais claro, apenas manchado de algumas nuvens esparsas de algodão de um branco duvidoso. Andar um pouco pela Avenida Atlântica e olhar as beldades em uniformes de conquista não eram o ideal naquele momento. Tinha dei¬xado trabalho no escritório e, apesar de o celular não reclamar nenhuma atenção, no momento, sabia dis¬por de menos de meia hora antes de enfrentar o mundo além túnel.
Além do túnel, acaba a Cidade Maravilhosa, era o seu bordão predileto. As malditas doses haviam tor¬nado seu andar ligeiramente menos decidido que de costume. Na verdade, não sabia como matar a meia hora. Lá longe o Posto Seis e o Forte pareciam chamá-lo. Resistiu ao apelo e, muito a contragosto, decidiu andar um pouco pela Gustavo Sampaio. Um pouco de sombra, já que os prédios projetavam suas silhuetas no asfalto e lá também havia gente, muita gente andando sem muita pressa, com o ar tranquilo e um “xacomigo” zombeteiro estampado no rosto.
Relembrou a sessão de piadas. Achava que deveria haver algum dispositivo legal, ou pelo menos um acordo, que determinasse prazos além dos quais as anedotas seriam arquivadas e frequentariam somente as páginas das coletâneas ditas humorísticas. Ter de dar risadas ao ouvir pela centésima vez a mesma piada, ou variações sobre o mesmo tema, poderia ser perigoso para a paciência dos ouvintes, ou reverter em agressão física em detrimento de um contador desatualizado. Até que seria uma boa ideia colocar avisos nesse sentido. Ou, então, seguindo o exemplo das churrascarias rodízio, introduzir o cartão de dupla face, a verde autorizando a continuação e a vermelha decretando o final da sessão. Muito compli¬cado. Como fazer no caso de divergência? Decidir por maioria simples. Ou, devido à importância do assun¬to, haveria de ter a concordância de pelo menos dois terços dos ouvintes? Os desempates seriam decididos pelo voto de Minerva do criminoso, isto é, do conta¬dor. E se houvesse daltônicos na platéia?
Será que há exame médico para garçons de rodízio, eliminando os daltônicos?
Mas, na falta de regulamentação, como resistir à sanha do contador de “causos”? Não dar risada? Interromper? Contar a sua versão? Esses expedientes eram ainda piores. Olhar a paisagem do terraço, sim, e acompanhar a gargalhada dos outros foi a solução encontrada. Providencialmente. A regulamentação ficaria adiada, procrastinada, decidiu com uma risa¬dinha interior.
E tem aquela do português que chega em casa... E aquela outra da freira que... Ah, a melhor de todas, acabaram de me contar: o Joãozinho pergunta para a professora...
Afinal, era um bom passatempo, com a vantagem de observar fisionomias alegres. As reações eram muitas vezes mais engraçadas que as piadas.
Será que eles também conheciam TODAS aquelas anedotas, ou somente algumas?
Esbarrou num transeunte, balbuciou uma desculpa qualquer e teve direito a um bem humorado:
– Ô meu, olha só, estou na preferencial!
O peso pesado já estava se afastando e as ideias voltando a se agrupar depois da desordem causada pelo baque.
A ligeira dor de cabeça pedia uma parada numa farmácia. E farmácia era o que não faltava na rua.
Entrou e aguardou que a balconista o notasse. Entre ser notado e a pergunta:
– O que deseja? se passaram alguns intermináveis segundos.
– Duas passagens para Paris em classe executiva. E ante o misto de espanto e divertimento da moça, completou:
– Bom, já que não tem, qualquer coisa para a dor de cabeça. Poderia tomar aqui mesmo? Tomou o analgésico, agradeceu e, instantes mais tarde, estava de volta à calçada esburacada.
Olhou para o Leme Palace e resolveu voltar cami-nhando pela Atlântica.
Evitou o segundo esbarrão da meia hora de folga.
Em frações de segundos, os olhares se cruzaram. Era uma beldade, outonal, mas, apreciador de Vivaldi, as quatro estações são arrebatadoras, pensou.
O andar sinuoso, os pequenos sulcos rodeando os olhos, carimbos ainda piedosos no passaporte da vida, cabelos cortados Chanel, ombros e decote plena¬mente apresentáveis e não apenas um tributo pago ao calor daquele verão, pernas bonitas, e medidas ten¬dendo à exuberância. O rosto comum, tinha o olhar faiscante a valorizá-lo.
Naquele instante, o tempo parou, não o suficiente, porém, para que, da extrema timidez dele, brotasse algo mais inteligente do que um sorriso vagamente encorajador. “Pergunte algo, as horas, o caminho para algum lugar, o nome da rua, qualquer coisa”, rebelou-se dentro dele uma voz indignada por jamais ter sido ouvida no passado.
Continuou, como que petrificado, enquanto, sem deixar de olhá-lo, ela passou por ele longe o suficiente para não tocá-lo, e perto o bastante para deixa-lo sentir o perfume discreto que a envolvia.
Ele continuou imóvel e virou a cabeça, contemplando a desconhecida, que continuava andando, afastando-se aos poucos. Alguns passos depois, ela virou a cabeça e o olhar, mesmo àquela distância, lançou um convite mudo ou, pelo menos, assim pa-recia.
Sem reação, ele a acompanhou com o olhar. Ela deu mais alguns passos e novamente olhou para trás. A voz interior estava se desesperando. Ele mesmo não entendia o porquê da sua imobilidade. A desconhe¬cida estava se afastando cada vez mais, confundia-se no oceano de cabeças e, mesmo assim, pareceu-lhe que lá longe uma cabeça estava se virando uma última vez para trás.
Era um adeus. Sentiu que o que se afastava não era uma desconhecida. Era um pedaço de si mesmo, de uma juventude da qual não havia sabido desfrutar e agora lhe acenava de longe, mergulhada num misto de lembranças e saudade.

Inserida por celsocolunista

Toda linda

Toda linda.
Desejo de ti? Tornar-me a sombra preferida.
E; com a mesma intensidade?
Desejar o amor, espalhando-se em folhas.
Em volta de uma grande flor.
Por tanto tempo escondida.
E permitir-me,
expressar-me enquanto noite.
Mas, nunca desejei assustar.
Apenas abraçar meu cravo.
Que cravado em meu coração.
Realizaria todas as noites.
A dança da Vida.
A dança do Amor.
Aonde me realizei para encontrar.

Marcos fereS

Inserida por marcosviniciusfereS

Invadiu-me a casa, o pensamento, a vida e lá fez sua morada...Invadiu-me o quarto, o canto, minhas cores e transbordou tudo.Invadiu-me o tom, o tato, o dorso, a pele, virou-me o mundo ao contrário. Invadiu-me sem hora e nem lugar, entrou pela janela, tomou-me de assalto. Deitou-se no meu destino, riu-se do meu espanto... Foi assim sem tempo, num segundo de desatenção
Que desembarcaste em mim paixão.

Inserida por jo_nogueira

Momentos de uma noite agitada, ou não... Onde musicas mal cantadas se tornam risadas e o papo cabeça nada mais é que uma brisa, aí é que vem a diversão..
No chão de terra, na noite, no calor do fogo, cada olhar uma tradução, e eu só consigo enxergar o céu, estrelado, com a lua e nossa imensidão...
Nem sempre nossa mente está no mesmo lugar que o corpo, ainda bem... viajo tanto sem sair de onde estou, e nem me dou conta de quando quero voltar.. aliás, eu não quero voltar, onde o céu estiver acompanhado da lua, será o meu lugar.
O simples sempre será mais, taí a explicação do porquê muita coisa hoje tanto faz.

Inserida por GustavoLeal

Senhor Sabe Tudo

Senhor Sabe Tudo se achava tão talentoso, tão predestinado, tão inteligente. Senhor Sabe Tudo só era amigo daqueles que ele considerava bons o suficiente para ele. Senhor Sabe Tudo usava suas piadas como uma maneira de dizer aos outros que eles não eram bons o suficiente. Oh Senhor Sabe Tudo, tão gentil e amoroso com seus amigos, mas tão arrogante e desprezível com aqueles que ele considerava indignos.

Senhor Sabe Tudo queria mostrar a todos o quão feliz ele era, o quanto sua vida era maravilhosa, o quanto ele amava seu trabalho, o quão bem sucedido ele era. Todo mundo parabenizava Senhor Sabe Tudo por coisas que na verdade ele nunca alcançou. Ninguém jamais poderia saber a verdade por trás de suas redes sociais. Ele começou a acreditar em suas próprias mentiras, a verdade era pesada demais para sua mente mimada.

Senhor Sabe Tudo estava tão alienado em sua própria bolha, tão consumido por sua própria arrogância que ele se tornou prisioneiro numa cela que ele mesmo construiu.

Oh Senhor Sabe Tudo, você não sabe nada.

Inserida por natashavic

"A beleza imaculada de um segredo espoleta rasga-se como um véu se violada a castidade.

Ela o escondia a sete chaves, sobre embaraço e nomes incomuns. Orgulhava-se em apartá-lo de si para dar a outrem, numa tentativa parva de encobrir-lhe a verdadeira face.

No entanto, não conseguia negar que era seu melhor talento, amava-o com zelo extraordinário, mas gozava-se ao dizê-lo filtrado em voz alta.

Porém, um dia, as lágrimas pesaram em seus olhos e ela percebeu que a pessoa em que mais confiava havia lhe traído.

E seu doce segredo, agora não somente seu, azedava e amargava-lhe o peito."

Inserida por FPLenaChristine

Estamos para o futuro como os símios estiveram para a transição
com os primitivos neandertais, evoluindo, iniciando os primeiros avanços,
serão necessários dezenas de milhares de anos para o homem dominar o tempo,
os elementos, o mundo em sua grandeza microscópica e macroscópica
e compreender sobre a manipulação das leis da física a favor do universo.

Inserida por juliodsn

Eu gosto mesmo é dos excluídos.
Interessantíssimo descobrir quem não se mostra.
Conquistar a confiança dos desconfiados...
Enxergar além da máscara de seriedade.
Intrigante.
Gosto mesmo é das minorias,
Dos envergonhados,
Gosto daqueles que ficam sozinhos,
Escondem dentro de si imaginações surpreendentes,
Entendo aqueles que não se acham,
E aos perdidos, sofridos,
Que eu possa ajudar encontrar o caminho,
Ser abrigo.
Por isso que eu vivo.
Na fé daquEle que me achou assim,
Cansada,
Caída,
Desiludida da vida,
Mas que hoje respira e vê,
Crê,
Não se abala,
Mas ama.
E dentro de mim uma chama,
De salvar a quem sozinho clama,
A encontrar a paz que encontrei,
Se eu sei?
Conheço toda dor do mundo,
Pra me livrar fiz de tudo,
E como saí?
O Cristo eu atendi.

Inserida por LeticiaDelRio1987

Há uma coisa que aprendi da vida em relação ao temor, ao que se tem medo é que quando criamos uma crença sobre algo ela se torna nossa verdade. Seja boa ou ruim.
Isso ocorre por que acreditamos que aquele medo é real. Não existe um mostro debaixo da cama, mas, de tanto acreditar, ainda olhamos embaixo dela pra ter certeza que não há. Nossa crença nos afeta diretamente.

Inserida por alexandrechagas

Por que o que eu não quero acontece e o que quero não acontece? Pelo mesmo motivo que acreditamos que a verdade absoluta está em temer o que não quer e reverenciar o medo, quando acredito que isso me afetará.
Então, minha crença está mais em temer o que não quero, do que acreditar que o que quero possa acontecer. As energias gastas estão focadas no ponto negativo. Não querer que algo aconteça por que tenho medo, tenho temor delas.

Inserida por alexandrechagas

Solitude

Você já caminhou nesta noite escura,
Deixou-me aqui, escondido por timidez,
Levou-se meu sorriso que ilumina,
O caminho para o extasio do amor.

Só de saudade nesta vida, quase ausente,
Sem teus beijos, sem ternura, sem seu amor...
Frente a este amor pareço-me a chama do fogo,
Mas que não brilhará.

Inserida por AlineLizzi

Bisou Hibiscos


Este beijo de amor estouvado,
Unindo os delírios de seus lábios com a minha boca.
Tal qual como ligação,
Este beijo apaixonado,
Que morde você os lábios,
Que acesso sua boca pintada com vermelho sangue
Este beijo mitigado,
Que induz, de sugestão e por vezes tirano.

Inserida por AlineLizzi

IRONIA CRIATIVA

Hoje a Paulinha amanheceu “louca varrida” e implorou para eu falar dela aqui.

Paulinha é o nome de batismo para uma voz que fala com certa freqüência no meu ouvido direito, desde a minha infância. Ela é extremamente inconveniente. A sua voz esganiçada aparece como se estivesse lendo um texto escrito, chego a perceber as pausas das vírgulas e as ênfases nas partes mais importantes. A dita cuja não existe, mas, do nada, começa a “ler os textos” enquanto eu estou no chuveiro, dirigindo, tentando dormir, assistindo alguma série... No meio de reuniões importantes do trabalho ou quando, na sala de aula, dou um tempo para os alunos fazerem alguma atividade. Na verdade, a maluca lê textos AINDA NÃO ESCRITOS, e aí está a questão. ELA LÊ PARA QUE EU ESCREVA! O meu processo criativo é assim descrito.

A Paulinha tem um apetite fora do comum e gosto bem peculiar. Vive faminta! A mocinha é alimentada por cores de flores, cheiro de chão molhado pela chuva, pelo abrir dos olhos depois de um saboroso beijo de amor... Pelo sorriso da minha filha, por um momento de chateação, um longo gole de um bom vinho, uma nova paisagem durante uma viagem, pelo gosto forte de um café, pela minha TPM... E por tudo o que gere alguma forte emoção.

Mesmo bem alimentada, a moleca às vezes some por dias, semanas... E ela é bem desobediente, nunca vem quando eu preciso ou chamo (ou quando estou participando de algum concurso de contos ou tenho algum texto encomendado, por exemplo).

Minha memória é terrível, fato, então para transcrever o que ela dita, tenho sempre à mão o gravador do celular, um papel para anotação, um bloco de notas... Já documentei as leituras dela em guardanapos no meio de uma DR ou já interrompi conversas importantes para registrá-las, pois a garota já tinha “me feito o favor” de me desconectar dali, depois de tanta tagarelice. Posso recordar que, na adolescência, eu escrevia ditados da monstra usando batom em espelhos de banheiros alheios, e poemas inteiros nas camisas dos colegas, em final de período letivo.

Essa fantasma surge frequentemente no meio da madrugada, entre um pestanejo e outro (a diaba é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes motivos das minhas noites de insônia). O problema é que, escrava dessas leituras da garota, se eu não anotar... A “coisa toda” some em um piscar de olhos, evaporando no ar... Para nunca mais. São leituras textuais individuais, únicas, exclusivas e que não permitem replay.

Será um dom? Um cárcere? Um delírio? Insanidade? Um mistério ou feitiço? Acho que se resume na verdade em uma grande ironia criativa.

Obs.: A Paulinha nesse momento está aqui se revirando em gargalhadas. Ela já estava cansada de só observar eu levando o mérito e recebendo elogios, sendo que a grande artista na verdade é ela.

Inserida por nivea_almeida