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VIDA
A viola e o caipira,
Uma viola caipira.
A guitarra e o roqueiro,
Faísca de isqueiro.
A sorte e a morte,
Uma faca que corte.
Há honra, ira
E o corpo que irá.
Coração caipira
No meu coração caipira de estuque
Olho a vida e abraço com a tradição
Conto causos, estórias com emoção
Pois sou o cheiro caipira deste chão
Assim vou, assim sou, sou mineirão
Caboclo apreciador de moda de viola
Que não vive sua alma presa em gaiola
Se esbalda no cerrado e na fazendola
Troca o sapato pela botina meia sola
Coração caipira, gabola, sem truque...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
É o cheiro de folhas molhadas na mata depois da chuva, a simplicidade da conversa de um homem caipira na roda de Tereré, uma estrada de chão batido, a lida atrás de um boi perdido, um campo florido, um fogão à lenha com um cuzido, é o doce de leite com queijo e da morena, quem sabe um beijo?
É a simples vida no campo, é isso que gosto é isso que amo.
Nos tempos em que quadrilha era só uma dança.
Quando eu tinha uns quinze anos, no mês de junho não se falava em outra coisa a não ser nas festas caipira.
Santo Antônio, São Pedro e São João.
Quermesses, barracas de comidas, dança de quadrilha, faziam com que a gente se aconchegasse numa fogueira, comesse pipoca, pinhão, milho cozido, caldo verde e um sem número de outros quitutes, quase sempre à beira de uma fogueira e olhando os balões que coloriam o céu.Alguns mais ousados tentavam escalar o pau-de-sebo e todo mundo usava fantasia, ou pelo menos algo que estilizasse o tema, como remendos coloridos nas calças de barras viradas e nas saias rendadas. Camisas xadrez, lenços no pescoço, chapéu de palha e botas eram imprescindíveis.
As meninas mais bonitas se fantasiavam de noiva, usavam grandes tranças e espalhafatosa maquiagem vermelha, tudo cobrindo totalmente o corpo, mal se vendo as mãos. O ápice da festa era o casamento caipira.
Não havia celulares, whatsapp, twitter nem Facebook e o negócio era mesmo o correio elegante, com recados inocentes e promessa de beijos que na maioria das vezes não passavam da imaginação.
A dança era a das quadrilhas, sempre bem ensaiadas e nada parecidas com as de agora, que têm uma corrupção que sempre existiu, mas se comparada à do bandidão da época, o Adhemar de Barros e a atual do Lula, poderíamos dizer que ele foi um trombadinha aprendiz do grande ladrão.
As festas terminavam sempre com uma grande queima de fogos de artifício que ou eram mais seguros, ou o pessoal mais cuidadoso, porque pouco me lembro de acidentes com rojões, queimaduras de bombas ou incêndios provocados por balões.
Quem não tem saudades dos seus quinze anos?
►Pequena Roça
Sobre o sol um calor sem igual
Acima da estrada de terra, sobre o céu o grande farol
Os carros de bois seguem com uma trilha sonora
Os garotos estão ali, dando banho as hortas
O homem batalhando para o crescer de sua pequena roça
Reparando os portões de ferro enferrujados, com sua antiga solda
Sua esposa torna-se companheira de dança da enxada
E lá de longe pode ser ouvido a serenata da cigarra
Os vaga-lumes brilham nas noites mais claras.
O suor desce como lágrimas do Nordeste
E os corpos respiram com aquelas brisas leves
O campo rural floresce, e a santa Mãe as vozes agradecem
E aqueles humildes portões prevalecem
O tempo machuca os pais daquela terra,
E os filhos então tornam-se herdeiros dela.
Em meio ao trabalho árduo, um prestígio
Lá naquela casinha de madeira encontra-se um abrigo
Um lugarzinho quentinho, para fugir do frio
A pequena roça muitas vezes passa por momentos terríveis
O homem, com um palito em sua boca, sabe dos perigos
E na mata espreita animais que se tornam inimigos.
Viver sobre o solo arranhado não é difícil, disse um dos filhos
Difícil é racionalizar a força ao segurar o garfo
Pois o corpo se torna mecanizado, acostumado com o trabalho pesado
Ele acordou junto ao cacarejo do galo,
E fechou os olhos ao nascer da noite, com os dedos calejados
A vida no campo possui seus pontos altos e baixos
Seus pontos fortes e fracos,
Mas aquela família sempre estará pronta para o trabalho.
Zé Macambúzio...
No auge de suas 78 primaveras
Bem delineadas pelo nome a que faz jus
Zé Macambúzio, era homem de fé quebrantada
Sitiante de parca leitura e boas prosas e tiradas
Tinha em vida poucos desejos e paixões
Cigarro de palha e uma rede na varanda
Rosinha “roçadeira” era seu grande amor
Mulher inculta, mas de fibra e imenso valor
Zé Macambúzio, jamais se deu à lida
Não se dava bem com ferramentas
Arados, enxadas, foices e plantios
Fez da languidez sua arte de viver
Na chegada dos reveses da seca
Decidiu deixar de se perdurar
E toda a redondeza o visitou
No intento de convencê-lo a reagir
Zé Macambúzio estava decidido
Encomendou sua urna e mortalha
Agendou a data de seu funeral
Convidou carpideiras e vizinhança
Tentaram removê-lo dessa sandice
Mas a ideia de passar a eternidade
Na horizontal, sem infortúnios
Sem incômodos, sem mendicidade
Chegou enfim o dia da despedida
Seguiu-se o cortejo e ouviu-se um a voz
“Zé, desiste disso que te dou um saco de arroz”
E Zé respondeu: “Com casca ou sem casca?”
De pronto, ouviu-se a resposta:
“É arroz com casca, Zé”
Sem pestanejar, Zé Macambúzio ordenou
“Meu povo, toca lá pro cemitério!”
NOIS É CAIPIRA MAIS É ISPERTO
Uai, sô!
Dirma achô,
Que minero era borocoxô.
Mais inganô.
Nem com o vento,
A subida implacô.
No quarto ficô,
Na eleição qui disputô.
Um Pimenter tamem tentô,
Mais longi ficô.
Tamem num implacô.
Agora, com a cumadi Dirma,
Vai fazê companhia pro vovô.
Mais teve um que ficô,
Sr. Neves por poco iscapô.
Essa eleição muito insinô.
Pulitico, tome rumo, faiz um favô.
Respeita nois. Num se brinca com o eleitô.
Um tar Zema feiz bunito,
Na surdina e sem grito.
Anastasia ficô pra trais,
Num aprendeu como se faiz.
Agora é só us dois,
Com muito feijão com arroiz.
A genti dexa pra dispois,
Pra escoiê o miô dus dois.
Élcio José Martins
SONETO CAIPIRA
Fogão de lenha na poesia a poetar
Panela a chiar, vastidão pela janela
Cheiro da noite no negror sem tramela
Desprendendo olor na roça aformosear
O entardecer se tingindo de canela
No céu estrelas soturnas a navegar
Em uma sensação de paz, de amar
Amassando jeito matuto na gamela
É só silêncio, cigarro de palha a pitar
Saudade esfumaçada na luz de vela
Arando sensos num canoro devanear
Depois, uma pitada de solidão donzela
Acalentando as lembranças a revigorar
Ah, gostoso a vida caipira na sua tutela
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
Jeitinho caipira..
Antão lá vem...
O Sor naceu
Devagarzin...
Preguiçoso qui dá dó,
Mi oiando vim ou só,
Inté ele tá com fri,
Aqui chegô pra castigá,
Tô inté cumedo de giá ,
Tá custuso levatá,
Tô aqui iscrevendo,
O dia passando,
Eu sem coragem di cumeçá,
Mas vamo lá,
Num pode pará,
Um café quentin,
Chá de foias,
Um pão do quejo quanti ,
Tô precisando dum toicin,
Aques de arrepiá,
Uma poesia bonita,
Pra invorta tu fogo recairá,
Animá a genti,
Torná o coração quenti,
E bão dimais,
Friozin nunca é dimais,
Inté quero muito mais,
Paz,
Um Deus..
Muita luis ,
Mutivo pra si esquentá.
Devaneios de Um Caipira
Ah de haver o tempo
Tempo necessário
Necessário para viver
Viver meu sonho
Sonho simples em ser
Ser o homem que me dou feito
Feito no barro.
Do rio atrás da casa "humilde" de meus pais
Ah de haver o tempo
Tempo necessário.
Para aquela dor suave, mágica e imensa em ser criança
Em minha rua
Em minha escola
Com meus amigos de infância
Com meu amor de infancia
Com meus Padrinhos
Enfim, as cores que me forjaram
Ah de haver o tempo
Do sonho em novamente ser criança
Não qualquer criança, mas aquela criança que ainda sou.
Ivan Madeira
JAN2021
O caipirinha
Ocê mi dá um abraçu
Só um tiquim
E um beijim
Pamode ieu matá a vontadi
Ocê nu sabi o quanto sunhei cum issu
Ti prometu qui só é um tiquim
Um nini beijim
Mi dá?
Ricardo Melo
O Poeta que Voa
CHÃO CAIPIRA, CERRADO
Calmo, entre os arbustos, num éden
Em lufadas de silencioso espavento
O cerrado, do horizonte passa além
Cantos sussurrante, pássaros ao vento
Quimeras sobre o chão aqui tem
As flores em um divino advento
O sertão é periódico, também,
É vida em regular renascimento
Ardes, em uma secura tão bravia
E da ternura o verão é clemente
É terra de gente da roça, caipira
Mas deste povo só se tem valeria
Cantoria que já vem na semente
De muita fé, desfastio e pouca ira
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17 de março de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Flor do Silêncio
Ocê passou púraqui e deixô
Aquilu quinú pôdi ser ditu
Muito menos iscrituai
Pumodiqui é semeadu Nuoiá.
Nu Fundo a Menina Ama
Silenciosa Incanta
Disperta desejos
E continua Sardadi
La Flaca Madalena
A seriedade enferruja a face
Derrama os olhos
Constrói arrimos problemas
Não seja escravo da beleza
Não exija a pureza
modiqui só si vive
quem arrisca a ser uqui sié
Formosa Rapunzel
Saltou no Firmamento
Enlaçou Alma
Era Você explodindu Flores
Habita tão forti quiú Tempo Desconheci
Modiqui
A razão essencial di Vivê
É conjugá Uamor.
Minina Preta
Eu sou aquilu quíu pensamentu nú vê
Eu Sou a Minina Preta qui mora nu fundinhu du Zóio
qui todo Mundo hospeda em casa.
Flor di mel
Uamor é a eterna lua di mel
Seja amanti infinitu isi distancie du véu du
passadu e du disconhecidu futuru
Seja somenti abismu nu presenti.
Tormenta
Uamor é como flor qui só disabrocha na intimidadi
É como gota quiscurrega na bainha du vento
É como onda qui suspira na saia du mar
É a sinfonia mais pura du Zóio da Alma
Despidida
Meninu
Nuá segredo escondidu
Quando si tem pouco a ser dituai
Silencie púrum instanti...
Agora iscuti...
- É o coração!
Lembri-si o incontru é sempre nu Véu Duoiá
Avuou
Uamor quê ser visto pra pudê ser reconhecido
Uamor quê ser dado para pudê ser compartilhado
Nú tenha Medo Sô!
Modiqui ele é como Pólvora
Tem Chama Infinita
Primeiro acendi
Depois é semeado
Si espáia nu vento Duoiá
Como suspiro Suspenso
Feito bola di Sabão
Alumia
Dizer teu nome em vão
É profaná Uamor
É dispedaçá a flor
Modiqui é dentro quiá natureza Salta!
Capinando o Zóio
Meninu qui cê tá fazendo?
- Capinando o Zóio uai.
Mai pra quê homi de Deus?
- Pra nascê Flor!
- É pumodiqui em todo Zóio siscondi uma Flor
E toda flor tem qui ser regada
Assim como o Amor
