Soneto 12
SONETO DA ILUSÃO
Essa ilusão, moteja, e assim guedelha
Que a má sorte do fado se assemelha
Quanta vez procurava a minha desdita
Se fazendo doce, quando era maldita
Essa ilusão com expectativa e avidez
De uma, duas, três, outra e outra vez
Onde a minha esperança se saciava
Tornou da ventura, a dor... escrava!
Essa ilusão, regateira e vil mentirosa
Que desabrocha espinho e não rosa
Fez ao coração da tristura a sua lei
Agora, triste, choro e padeço, quando
Vejo o infortúnio assim esboroando
Os sonhos que um dia eu sonhei...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
AMANHECER (soneto)
O sol do cerrado, hoje nasceu no cantinho
da página do horizonte, e o vento friorento
opaco, a chiar na fresta, com olhar sedento
abraçando o dia e, brindado com remoinho
E no cantinho da pauta do céu, momento
dum novo alvorecer, engrunhado, mansinho
encimando o inverno no sertão torvelinho
num ritmo trêmulo, mas cheio de elemento
E o coração na janela d'alma observando
suspenso nos pensamentos, devaneando
enquanto o tempo tingia o olhar de magia
Neste amanhecer da vida de sol brando
que nasce ali no cantinho, dia formando
meus sonhos vão sonhando em romaria...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2017, junho – Cerrado goiano
A UM AMOR PERDIDO (soneto)
Quando a primeira vez se perde o amor
Que do leito acordou, ali gemendo e só
Dentro do peito a tristeza se faz em nó
E desabrocha a flor de lágrima e suor
A vida sente os olhos mareados, forrobodó
Sobe-lhe um amargo, e o primeiro ardor
Do queixume, do pesar, de um pecador
Tal a rosa, de perfume e espinhos, dá dó
Então a alma se traveste de desventura
Numa torpeza de paixão e de mágoa
Onde o sonhador é bravo sem bravura
Assim neste pranto em verso de bágua
Teu cheiro é açoite sem doce candura
E tua lembrança nos arde em frágua...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/10/2019, 23’47”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CERRADO (soneto 2)
O cerrado é como um soneto
arbustivo, tortuoso, melódico
chora a sua aridez, é talódico
diversos como verso irrequieto
Fala do diferente, do exótico
contrastante e muito concreto
vai além de apenas indiscreto
exuberante e também retórico
É prosa narrada é céu sem teto
o cerrado é um insano imódico
e a sua melancolia vira adjeto
É tão sequioso no teu periódico
ádvenas flores, frutos, de ti objeto
d'amor que te quero, és rapsódico
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 de julho, 2016 – Cerrado goiano
SONETO DA ALMA GÊMEA
Nós num só eu, na presença dividida
Por duas existências, as duas numa
Que do plural ao singular, se resuma
Numa só pessoa, conjugando a vida
Eu e tu, tu e eu, somos nós, em suma
Dois num, juntos, numa quimera repartida
Somando essência, na afeição nascida
Evolucionando, e que o amor assuma
Num duplo coração, em uma una batida
De fidelidade ímpar, sem ilusão alguma
Acendendo chama diversa e desmedida
E neste amor onipotente, não haja bruma
E se houver, que a batalha seja vencida
Num amor de alma gêmea, ao amor ruma
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Junho de 2016 – Cerrado goiano
SONETO AMORÁVEL
Eu disse a mim mesmo que viveria sem você
Ledo engano, o meu coração não me obedece
Não sou forte o bastante, como se quisesse
Ser. Repito a cada instante, mereço? Por quê?
Às vezes o tempo fica sem o dia, ali vazio
E a obscuridão da noite me traz a solidão
Nada digo, nada tenho, eterna imensidão
Sem você, o querer escorre pelo beiral frio
Não sei mais ser forte, no horizonte a alma
E eu aqui perdido num labirinto de trauma
Quanto mais tento sair, mais a desarmonia
Eu menti para mim mesmo, até machucar
Que eu saberia poetar sem poder te amar
Aqui eu, ainda, lhe poetando amor na poesia...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 de novembro de 2019 – Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
SONETO DO FAZ DE CONTA
Agora vou fazer de conta que sou poeta
Hoje a melancolia, não terá a rima certa
O céu alvoreceu poético e com harmonia
E em meu dia tudo será somente poesia
A minha existência não é mais só o eu
Cada verso trará o laço, o meu e o seu
O que outrora era somente ociosidade
Agora, o som da vida, é pura realidade
O silêncio deixei na solidão, no canto
Não sabia onde estava, para onde ia
Eu só queria um sentido, algum valor
E na busca de um pouco de acalanto
Parecia que o fado, gargalhava e ria
Até tu chegar, com o generoso amor...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
11 de novembro de 2019 – Cerrado goiano
SONETO PARADOXAL
Como quisesse poeta ser, deixando
O estro romântico, espaço em fora
O amor, ao reconhecer sem demora
A seleta face, abriu o ser venerando
Encontros e desencontros, cortando
Caminhos e trilhas, percorri: e agora
Que nasce a poesia, o poema chora
E chora, a rima passada, recordando
Ó, estranha sensação despropositada
Tão saudosa como se fosse “In Glória”
Invade o poetar sem ter um comando
Assim por larga zanga aqui pousada
Me vejo perdido, triste nesta oratória
Quando poderia êxito estar versando
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04 de dezembro de 2019 – Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO MALFERIDO
Foste a quimera maior da minha vida
ou talvez a irreal... Evidente e ausente
contigo o amor foi no ter vorazmente
contigo, também, a alma foi repartida
Partiste, e a trova não mais te ouvida:
arde-me a inspiração, lota o presente
no cerrado agoniado fica o sol poete
num amargor da memória malferida
Amor extremo, minha perda e ganho
penitência e regozijo, dor sussurrante
um anacoreta de sentimento estranho
Sinto-me vazio, e na noite te escuto
delirante anseio, sentir sem tamanho
na vastidão do suspiro de um minuto...
© Luciano Spagnol- poeta do cerrado
Cerrado goiano, 08 de dezembro, 2019
SONETO EM CONFISSÃO
És do meu viver, o romantismo belo
Cobiçado desejo, a todo tempo, jura
Que desperta uma doce tal ternura
Onde a emoção e a paixão: - velo!
Amo-te assim, no olhar de candura
Da minh’alma, num desejo singelo
O clangor do querer mais que belo
O agridoce da saudade, a doçura!
Amo o teu viço amante, o teu cheiro
De brisa numa nublada madrugada
Amo-te no teu singular, por inteiro
A voz do âmago, ao ouvir: “te amo!”
Que o destino trouxe a sua chegada
E no coração, amor, assim te chamo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/12/2019, 05’30” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
TRAIÇÃO (soneto)
Sobre o meu ser, como sobre o poetar
Tirano fado, cai o senhor brutal engano
Como numa tarde de outono a desfolhar
Tomba a decepção num recital ao piano
Oh! dor do falto no silêncio a embalar
Solitário, tão sem sonho, no abandono
Minha trova, no pesar põe-se a chorar
A perfídia, acordando o inquieto sono
Oh! lastimar aqui neste meu ensejo
Que me vejo, nesta madrugada fria
Ter a alma como uma fé sem oração
Deixando a paixão sem amor e desejo
Tristonha, cabisbaixa, desiludida, vazia
Aos desmandos da desatinada traição...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22 de janeiro de 2020, 04’55”
Cerrado goiano - Olavobilaquiando
- quem nunca!
DÚVIDA (soneto)
E.… uma dúvida que me atormenta
A divisão que no amor em que ando
Padeço e sofro, num vazio, quando
O perdão e culpa, a qual me alimenta
Silêncio e traição sufoquei amando
Na ânsia de querer-te sem tormenta
Ah! Como dói este olhar que ausenta
Pois, o desejar no coração não mando
Tenho o dia estonteado e sem atitude
Choro, e com que ardor eu quisera
O afeto, agora confuso e sem virtude
Sinto que prodiguei a paixão sincera
Se sofro, porque invadir-te não pude
E nas incertezas, difícil é essa espera...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23 de janeiro de 2020, -Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VENDAVAL NO CERRADO (soneto)
Áspero, entre os uivos, em lufadas nos buritis
De um constante sussurrar de uma ladainha
Prelado em prece, bailam nos galhos os saguis
Na imensidão, quando a tempestade avizinha
Rezas sobre a melancolia, agitam os pequis
Sobre o cerrado, badala o sino da igrejinha
E, em refrega, no céu, desenha o arco-íris
Grassando poeira tal qual a erva daninha
Bufa, num redemoinho em tal longura
Que abres no horizonte em chiar bravio
Gemendo o sertão num suspiro funeral
E invade, como guerreiro, toda a secura
Do chão, num comando do seu assobio
Avança atroz no planalto... o vendaval
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/01/2020, Cerrado goiano
POR QUE (soneto)
Por que me vens, com o mesmo olhar
Por que me vens, com a mesma sina
Dos dias tão vividos vens me lembrar
Se outrora a ventura dobrou a esquina
O que não vive mais, deixai repousar
Por que o angustiante sossego rapina?
Por que, acordar o que quer silenciar?
Se o coração já está inerte na resina
Ah! deixai como está, esqueçamos
Que fomos um, e no nós, eu fui teu
Largue na poesia que nos amamos!
Deixemo-lo sem beijos e sem pranto
O cobiçado amor já não é mais meu
Pois, no querer, já quis tanto... tanto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/01/2020, 14’47” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MUDAR O RUMO (soneto)
Muda-se o ontem, o hoje outras vontades
Muda-se o rumo, outra é a tal esperança:
E neste andejar, o destino é de mudança
E no ser e ter, nas tralhas: as dualidades
Se nas histórias permanecem as saudades
Em cada linha traçada, tem a criada aliança
Também, afinal o bom é ter boa lembrança
Fugaz, pois o viver não é só de felicidades
Mudam-se as verdades, e o encanto
Do mal as mágoas numa tristura fria
E a poesia num eterno agridoce canto
E assim neste mudar tanto no dia a dia
Já não há espanto no diverso recanto
Portanto, é bom afazer-se com tal folia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/01/2020, 05’55” - Cerrado goiano
paráfrase Luiz Vaz de Camões
CAMINHANTE (soneto)
Há no tempo um momento de grandeza
que é o de espera e de um saber bendito
tudo passa, e a alma não mais fica presa
voa, e o sentimento regressa ao infinito
Um tal mistério do viver e de surpresa
estala a felicidade, do outrora tão aflito
rasga-se o amanhecer em ventura acesa
e da dor sentida, esvaem-se em um grito
Há no amor outra chance aos amantes
cada dia é mais um dia a um novo dia
e a sensação de perda se torna em vão
porque, entre desencontros soluçantes
terá aquele olhar tão cheio de harmonia
que irá trazer o esquecimento ao coração...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/01/2020 – Cerrado goiano
ESPERANÇA (soneto)
Saudades de ti, me vem com ternura
Teu nome, ao amor, não é indiferente
Entre o poetar, e nos versos murmura
Recordação, nos suspiros, de repente!
Longe de ti, o pranto, mísero, tortura
Essa solidão, que geme tristemente
Mas, as alegrias vividas, porventura
Abalança o tormento, tão presente
Nesse amargo sofrer, o teu nome
A florescer na secura do cerrado
No peito o saudosar, me consome
Ao evocá-lo... agridoce atmosfera
Que no desejo é mais que desejado
E, na inspiração... ainda te espera!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31/01/2020, 07’03” – Cerrado goiano
Olavobilaquiando
DÚBIO (soneto)
Falei tanto de tristura!... de solidão
Silêncio, tortura, nas rimas negaça
Ou ninharia fugaz, que vem e passa
Na brisa breve que veio, duma ilusão
O verdadeiro valor, é cheio de graça
Simplicidade, afago, farto de emoção
Todos lavrados e vindos do coração:
O abraço certeiro, passeio na praça
Falei tanto de melancolia! baixinho
Ou até mesmo em um alto vozeirão
Se bom era poetar somente carinho
E nas tais rimas de delírio e barulho
Só sofreguidão, me fiz pequenininho
Na poesia infeliz, sem amor e orgulho...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31 de janeiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
GRILHÃO DO AMOR (soneto)
Tenho saudade e ardo em lembranças
Dum amor que me endoida e me abate
Quem há de me tirar destas esperanças?
Quem há de os nós, quebre, me mate?
Não sei que certeira e desiguais danças
Me cravou no peito, dores deste quilate
Sem que eu sentisse, as tais mudanças
Do sossego. E agora neste vil combate...
O amor adentrou tão cauto, silencioso
Que eu nem me preocupei que estava
Apenas vivi, um ser no haver amoroso
E os lábios a sorrir e olhos cheios d’água
Como dói viver, sentindo, estreita trava
E chorar na solidão e trovar com mágoa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
INSPIRAÇÃO (soneto)
Foste a prosa melhor do meu poetar
Ou talvez a desejada... sonho e agrado
Contigo a inspiração me fez apaixonado
Contigo o amor pôde a paixão rascunhar
Chegaste, e o meu querer foi só amar
Queima-me o pensar, tão enamorado
Faz de meus versos um estilo dourado
E da escrita, suspiros, de essencial ar
Poema maior, meu prêmio e alegria
Obra divina, de firmamento delirante
É do teu gosto que alimento a poesia
Sinto-te em cada estrofe, que escuto
Está presente em mim a cada instante
Na criação, na alma, és poético fruto...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
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