Solidão

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REFLEXÕES DE UM ADEUS

Agora, sentado,
ouvindo apenas o ruído do silêncio,
parado,
eu penso em nós.
Vem vindo do fundo, gritante,
alarmante,
a ansiedade do tempo passado
preenchendo do nada
o vazio de dois mundos.
Somos duas pontas de flexas,
disparadas do infinito,
que não se encontrarão.
Um grito de alarme
cresce na garganta
e espanta
no vôo, a felicidade
que em vão tenta o pouso
em minha alma angustiada.
Somos dois que
marcham ao longo,
sem cruzamentos,
nem encontros.
Tontos,
procuramos nos dar as mãos
através o nevoeiro do tempo.
Ilusão temerária de sermos um,
quando seremos, eternamente
dois.
Pois,
não percebes?
Teu mundo é formado
de outras cores.
Consulto o silêncio,
tal fora o relógio da vida,
e vejo nos ponteiros
que não se tocam
nossa própria tentativa
do ser uno.
Nessa ilusão míope não vemos
que passamos
um pelo outro,
sem nos tocarmos,
como os ponteiros
que marcam a vida,
perdida.

Não! Eu não estou bem. Definitivamente. Sinto um vazio constante dentro de mim e um desejo incontrolável de preenchê-lo.

PARTIDA

E meu trem partiu.
Foi naquele momento,
exatamente,
que ele partiu.

Tremeu, apitou
e, gemendo,
sumiu entre névoa
que ficou na noite,
ao redor de tudo.
Partiu sozinho
como eu,
num trilho infinito,
tremendo, aflito,
já bem longe, deixando
apenas a névoa.
Contornos imprecisos
de uma cor acinzentada,
lentamente se apagando.

Na estação,
dentro da noite,
não ficaram acenos,
nem lágrimas;
talvez uma recordação,
talvez nem isso.
Mas, submisso,
preso ao trilho
de seu destino,
foi que meu trem partiu.
Ninguém viu
nem compreendeu
que ele partia
definitivamente.

RECORDAÇÕES (perdidas)

No espelho da vida
revi mil rostos,
velhos, cansados, perdidos
em passado já distante.
Em meu espanto percebi
quem fui, pois,
na luz que refletia
finalmente eu via
o tempo que passara:
rápido, irônico, implacável.
Pedaços de mim
eram outras fisionomias,
que não eram mais
como um dia foram.
Lutei por descobrir
vestígios de outrora:
em vão!
Pois eram apenas traços,
fugazes traços.
Lembranças de rostos,
sorrisos, abraços,
carinhos, beijos.
Tempos passados,
passadas vidas,
uma palavra, um adeus.
Pensamentos decompostos
de imagens tão queridas.
São presente.
São feridas
que ficaram
na Alma.

Por quê?

De repente o vazio
Traz o som do nada,
E no silêncio que crio
Vem a ausência de tudo.
Parado, incrédulo, mudo
Não quero sentir a falta
Que cresce no corpo
E na alma, e maltrata
O coração vacilante
Com as incertezas
De amante,
De tristezas.
Por que ir adiante
Na ilusão fugaz
Do amor vivido?
O amargor que vem à boca
É a perda sentida,
E lívido
Busco compreender o partir
Sem adeus, sem porquê.

Canção do Adeus

Mais uma vez,
lábios se abriram
e me disseram
adeus!

Um duro olhar viu
meu sim silencioso,
cheio de surpresa
e desapontamento.
Lábios que antes úmidos,
prometiam beijos,
secos e crispados
recusavam o amor.
E meu corpo tremeu
apertando a garganta.
E, engraçado, nada
havia mudado.
Nunca houve amor,
apenas farsa,
ilusão e dúvida.

Sua imagem
ressurgiu das sombras,
me acusando
os erros de outrora.
Sua boca, em outros lábios
me apontavam.
O destino por mim próprio
construído era, enfim,
a sua forma de vingança.
Todo amor
que desprezei um dia,
foi consumido
ao fogo do arrependimento.
Mas, creia que já não luto
e compreendo agora
que tenho de sofrer
o que lhe fiz.

Embora por outros lábios,
outras vozes e gestos
diferentes.
Tudo é você,
tudo é seu
e me condena.

A vida é tão sombria quanto a morte.

A dor do poeta

O poeta é triste
por natureza,
mas na poesia
encontra o conforto
como o navio que
chega ao porto
levado ao sabor
da correnteza.
E se da vida
sente a tristeza
de um amor que
já está morto,
cultiva a flor
de um mais belo horto
onde a poesia reina
com beleza.
Encontra a vida
na bela forma
da rima fértil
do verso apaixonado
e, com a tristeza da vida
se conforma.
Não sente mais
o fel de seu passado
até que a vida
de novo o transforma
num homem só
amargurado…

ENGANOS

Mergulhei no passado tentando
compreender o presente de uma vida
e descobrir em tantos enganos
a verdade escondida nas mentiras.
Em que dobra do tempo vivido
ela ficou perdida; oculta nas sombras,
tantas vezes negada ou transformada.
O tempo partilhado com o nada.
O prazer sofrido, sem o gozo
do ideal imaginado; perdido.
A mudança rápida de amores,
deixou a mágoa do vazio;
e, por não ser o amor verdade,
fiquei sozinho, sem compreender
o destino cruel que nos leva
a viver tudo o que não é.

Ter depressão é como morrer mil vezes por dia. Mas ninguém nunca sabe, ninguém nunca vai saber.

BUSCA

Cansado, nem forças tenho p’ra chorar,
pois sofrendo vaguei a procura de um bem
sem jamais um só amor eu encontrar,
sem sentir jamais o afeto de ninguém.

Nunca cruzaram os meus um só olhar,
que me dessem a esperança de também
neste mundo ter o direito de amar
e ser amado neste mundo por alguém.

Há os que nascem destinados
a viver sempre só, abandonados,
vivendo, mas da vida esquecidos.

E entre esses assim perdidos
sofrendo amores não correspondidos,
vou seguindo a sina dos não afortunados.

TREVAS

Como é triste a noite sem luar,
tudo imerso nas trevas, sem cor
e como é triste também ficar
na vida desiludido do amor

Procurando sempre sem achar
alguém, um só carinho que for.
Sentir na vida um vazio, amar
e só, da solidão sentir horror.

Ainda sigo procurando a minha lua
que posso achar aqui ou talvez na rua,
ou nunca achar e continuar no escuro.

Porque faz tanto tempo que procuro
e nessa busca infeliz eu não me curo
nem consigo esquecer aquela imagem tua

VOCÊ

De repente, você está fora
de qualquer razão,
de qualquer entendimento.
Você deixa de ser, de ocupar
um lugar. É um não!
Você é um enorme nada,
vazio.

Ser anti-social, desgarrada
criatura errante
na jangal dos homens,
(ou serão feras?),
desde antigas eras
amalgamadas.

Na agitação dos passos
que varrem as ruas
perdem-se suas
mais íntimas confissões,
de um homem só.
Vida marcada no compasso
da solidão e do desencontro.

Na terceira década
de sua existência,
você é um aborto,
morto!
Avança rápido na direção
do espaço infinito,
longínquo,
transcendental.
Ser espiritual
em sonhos envolvido,
perdido na irrealidade
de uma fuga patológica,
ilógica,
irreal.

Arquiteto prodigioso
de ruínas,
você é um colosso,
em tristes fantasias.
O poder, a beleza, o amor,
em rápidas braçadas
são alcançados,
ultrapassados,
no ardor freudiano
de suas compensações,
emocionais.

Este não é seu mundo,
aqui não há correspondência
para sua vida, nem clemência
para suas súplicas.
Mergulhe profundamente
em seus sonhos azuis
e esqueça.
Talvez assim, um dia,
você cresça
e se torne um homem.

A espera

Fiquei sentado,
esperando
a campainha
(que não tocou).

Afinal o que sou?
Um pobre coitado,
um incompreendido,
um mal amado?
Olho figuras que passam,
cavalgando na mente
estórias não realizadas.
De repente,
estou só,
a ruminar
em meu estábulo
dourado,
sentado,
esperando a campainha
(que não tocou).

Por que não grita,
meu Deus,
esta máquina infernal
que me revela
a triste lembrança
de um nada?

Brinquedo de criança
em ruas desertas
de minha meninice,
em desabaladas carreiras,
liberto.
Risos apertados,
traquinices,
de um – quem é?
perdido no vazio.

Mas, eu agora
já não rio,
sentado,
esperando,
esperando,
no meu estábulo dourado,
ruminando,
a dor,
a descrença,
a solidão.

Seja o que for,
que me faz alheio,
apartado de tudo
e de todos,
sentado,
esperando a campainha
(que não tocou).
(1968)

Ela: Tá triste por quê?
Ele: Tô quase desistindo de algumas coisas...
Ela: Posso te dar um conselho?
Ele: Claro...
Ela: Nunca desistas de nada que te faça feliz...
Ele: É por isso que eu ainda não desisti de você...

Posso ocupar uma sala ou apenas um coração. Outros podem me ter, mas não posso ser dividido.
O que eu sou?
A solidão!

Solitário é aquele que pensa só em si.
A sua dor é maior, porque é dele só.
A sua alegria é menor, porque não é acrescida pela alegria dos outros.

Passo a noite sem companhia,
sem afagos,
sem ninguém.
Ainda não entendo por que estas noites;
sinuosas e misteriosas,
insistem em ser tão vazias,
frias e sombrias.
Olho para os lados.
Um vácuo, um vago;
no meio das luzes apagadas
que me rodeiam.
De repente, sinto vultos,
espíritos, passando sobre mim.
Ouço vozes.
Quem sabe essas idéias não me perseguem?
Poderia ser psicológico,
ou até mesmo,
realidades que tento escondê-las,
mascará-las,
em minha cabeça leviana.
A noite,
cada momento passa rastado,
demorado.
Sensações e prazeres me satisfazem
n'um segundo repentino.
Um sorriso falso,
forçado,
é, automaticamente;
estampado em minha face.
Queria poder sorrir de verdade.
Sorrir com o Coração.
Sorrir com a Alma.
Mas algo mais forte dentro de mim,
consegue dominar-me,
não deixando com que esse sorriso
flore naturalmente em meus lábios.
Encontro-me durante a Noite,
na Madrugada;
como um morcego voando na escuridão
rumo ao infinito.
Entre tristezas,
choros,
e lágrimas,
me entrego as dores
que me consolam.
Me desespero quando penso na Vida
maldita que me espera lá fora.
A Solidão me acompanha mais uma vez.
Sinto medo.
Estou sozinha,
escondida num canto escuro
de meu quarto.

Como eu prefiro sentir-me vigiado do que sozinho, eu prefiro me sentir criticado do que largado pela indiferença

Porquê meus convites desapareceram? Porquê coloquei meu coração em cada maldita letra? É minha festa e eu vou chorar se quiser, vou chorar até as velas queimarem este lugar